quarta-feira, 12 de maio de 2021

 



Turismo e economia local

 COMPARAR, PONDERAR, APRENDER

António Rebelo

Já aqui citei antes a frase de Einstein "loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar obter resultados diferentes". Volto a ela, pois a atuação camarária na área do turismo entristece-me bastante. Com a aproximação das eleições, tem sido uma azáfama a anunciar medidas, todas de duvidosa eficácia a médio-longo prazo, mas muito boas para iludir os eleitores menos atentos, que são quase todos.
Em menos de um mês, tivemos direito a um site turístico interativo, (que necessita de três meses para atingir plena eficiência), uma campanha promocional com designação à americana, Check-in, uma ação de formação para capacitar agentes turísticos, e agora um guia turístico com o original título Tomar Templária:
Peço desculpa pelo pessimismo, eventualmente excessivo, mas trata-se de dinheiro no meu entender mal gasto, num país que para tornar sustentáveis as suas finanças públicas deveria implementar desde já uma de duas dolorosas opções: aumentar os impostos diretos em 22%, ou reduzir a despesa pública em 19,5%.
A conclusão não é minha. É de um estudo encomendado pela Gulbenkian e citado por J.M Júdice no Expresso. Num ano eleitoral, só se o governo pretendesse suicidar-se iria por aí, bem sei. O que também é válido para a Câmara de Tomar. Mas fica aqui o aviso. Para quem vier a seguir.
Sustento que as ações supra, anunciadas e pagas pela autarquia, são praticamente irrelevantes a médio-longo prazo, baseado numa comparação ponderada. Que é a seguinte: Ambas situadas no interior-centro do país, Ourém e Tomar têm taxas migratórias bem diferentes. Quase 9% para Tomar, menos de 6% para Ourém. Porquê?
As sumidades nabantinas formadas em tudologia garantem que é por causa de Fátima. Ou seja, Tomar tem hospital, politécnico, regimento e caminho de ferro dentro da cidade, tudo coisas que não existem em Ourém. E no entanto os nossos vizinhos já nos ultrapassaram em número de habitantes. Será apenas porque têm Fátima e o castelo de Ourém? Mas nós temos o Convento de Cristo, o Nabão, a Albufeira e os Tabuleiros. Que nos falta então?
Falta-nos a humildade necessária para aprender a aprender. Para aprender observando e comparando. Assim procedendo, depressa se conclui que a  grande diferença não é Fátima, são as infraestruturas lá existentes. Não só por causa da capelinha das aparições. Sobretudo porque souberam adaptar-se em tempo oportuno às exigências do turismo moderno.
Têm estacionamento próximo e confortável para centenas de autocarros e milhares de automóveis, sanitários públicos para dezenas de pessoas em simultâneo, sinalização eficaz, escola hoteleira e preços convidativos. Tudo coisas que não existem em Tomar, nem há vontade de que venham a existir. Só vinham incomodar os incapazes. Mais turismo é igual a mais desenvolvimento e por conseguinte a mais trabalho. Quem quer trabalhar mais pelo mesmo vencimento, uma vez que estamos numa terra de funcionários sentados?
Um bom plano local de turismo é cada vez mais indispensável, mas não está ao alcance de qualquer teórico iluminado. Necessita humildade, experiência no terreno, estudo aprofundado, noções de história, de geografia, de urbanismo...e de turismo enquanto indústria.
Pode ser que um dia os tomarenses acordem. Até lá, vamos continuar a ouvir os lamentos do costume: Só vão ao Convento, não descem à cidade; ficam muito pouco tempo; gastam pouco; há cada vez mais turismo de pé descalço...
Você que também tem alma de viajante, sente-se bem onde não há boas estruturas de acolhimento? Onde o tratam menos bem? Onde quase tudo é mais caro? Onde falta organização?
Pois é. E com cada vez menos receitas, a câmara vai aumentando a despesa. Pode até acontecer que consigam o 3º mandato. Mas não por mérito próprio. Por manifesta incapacidade do PSD. Tal como em 2013 e 2017. Loucura é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes

Sem comentários:

Enviar um comentário