terça-feira, 31 de outubro de 2017

Gato escondido com o rabo de fora

Administrador de Tomar na rede, o jornalista e amigo José Gaio tem o excelente hábito de publicar as ordens de trabalhos das sucessivas reuniões do executivo municipal tomarense. Ainda bem. Embora à primeira vista possa parecer que se trata de coisas rebarbativas e de fraco interesse, uma leitura atenta mostra detalhes de grande importância.
Dado que sou um aselha em informática, por nunca ter seguido qualquer curso nessa área, não consegui transferir o que pretendia, pelo que fui forçado a copiar manualmente:

"Nº 06 - EMPREITADA PARA REPARAÇÃO DOS PAVIMENTOS DA ZONA NORTE DO CONVENTO DE CRISTO - REVISÃO DE PREÇOS
... ... ... ...
PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO: Aprovar o cálculo da revisão de preços... ...no valor de 697,16€; mandar liquidar a Construções J.J.R.& Filhos, SA o referido valor, acrescido do IVA à taxa legal."

"Nº 13 - TRANSPORTES URBANOS DE TOMAR - RESULTADOS OPERACIONAIS DO ANO DE 2017
Proposta da presidente da Câmara, referente à informação nº 4826/2017, do Departamento de Obras Municipais, submetendo ao Executivo Municipal os resultados operacionais dos Transportes Urbanos de Tomar, no período de 01 de Maio  31 de Julho do corrente ano.
Proposta: Tomar conhecimento."

"Nº 21 - UTILIZAÇÃO DO AUTOCARRO DO MUNICÍPIO NO ANO LECTIVO 2017/2018, NO ÂMBITO DE PROJECTOS MUNICIPAIS DIRIGIDOS AOS ESTABELECIMENTOS DE EDUCAÇÃO E ENSINO E À UNIVERSIDADE SÉNIOR."


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Claro que os visados vão alegar, como habitualmente, que se trata de meras ocorrências fortuitas. Os tais acasos convenientes. Em qualquer caso, evidente, mesmo evidente, é a dualidade de critérios. No ponto nº 06, quem ler a ordem de trabalhos tem direito a todos os detalhes. Até à soma a pagar, realmente digna de registo: 697,16€. Mais ou menos 20% do vencimento bruto de um dos numerosos chefes de divisão e outros técnicos superiores da autarquia.
Já no ponto nº 13 que, como se sabe, é azarento, a falta de sorte imperou mais uma vez. Logo a abrir, o título é enganador, como se descobre depois. Na verdade, não se trata de "resultados operacionais do ano de 2017", mas tão só de resultados operacionais do trimestre Maio-Julho de 2017. Segue-se que, a julgar pela autoria da informação referida, em Tomar os transportes urbanos municipais funcionam na dependência do Departamento de obras municipais.  Deve ser por se tratar de uma bela obra do PS local. Seguindo tal lógica, um dia destes ainda vamos ter o Nabão na dependência dos Mercados e cemitérios, que ignoro em que departamento ou divisão estão integrados.
Como se os aspectos anteriores não bastassem, segue-se que, quanto a conteúdo, há que contentar-se com um lacónico "Tomar conhecimento". Nada de números, que são sempre perigosos. Prejuizos avultados? Veículos em fim de vida? Afluência extremamente fraca? Pertinência em termos de custos/benefícios?  São questões técnicas, só para quem sabe da poda. Os contribuintes não têm nada que andar a meter o nariz onde não são chamados. Sobretudo em início de mandato, quando as próximas eleições ainda estão bem longe. Importante mesmo é não dar o corpo à curva, que os comentadores querem é conversa.
A culminar tudo isto, uma verdadeira pérola, para mais oriunda dos pelouros do senhor vice-presidente, que fora da política é professor, vem fazendo um excelente trabalho e tem sentido de humor. Lendo com atenção o ponto nº 21 toma-se conhecimento de que há os "estabelecimentos de educação e ensino" e, além deles, "a Universidade sénior". Que por conseguinte não é um estabelecimento de educação e ensino, apesar de lá ter muitos e bons professores. Eu já desconfiava...

ADENDA

De acordo com esta reportagem em directo, afinal de contas o executivo apenas se ocupou, nesta sua reunião extraordinária, dos cinco primeiros pontos de uma ordem de trabalhos com 21. Por assim ter acontecido, nenhum dos assuntos acima focados foi ainda discutido.  

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Até no sertão cearense...


Mostra a imagem supra que até em pleno sertão cearense, mais precisamente em Acopiara, cidade de 55 mil habitantes, a 283 quilómetros de Fortaleza, há sinalização adequada. E que sinalização!
Para Tomar, é meu entendimento que seriam muito úteis dois painéis deste mesmo estilo, tendo em conta que a autarquia, além de não tencionar baixar as taxas exorbitantes que oneram o preço da água dos SMAS, em vez de mandar fazer instalações sanitárias, insiste em fechar as existentes, decerto para evitar que os visitantes caguem em Tomar.
O primeiro painel a colocar em cada entrada da cidade poderia ser assim: "Seja bem-vindo a Tomar, antiga capital templária". O outro, a colocar ao lado daquele, ficaria muito adequado assim: "Venha de banho tomado e já aliviado, que cá água é cara e não há instalações sanitárias públicas."  Um terceiro painel, a recomendar "Cague na sua terra como nós cagamos na nossa", também não estaria nada mal. Mas nesse caso a estrutura de suporte ficaria algo sobrecarregada. E com merda a mais, o que é sempre de evitar, por causa do cheiro e das moscas, que mudaram há pouco.

Presidente da República em Tomar e Alviobeira?


Mesmo no hemisfério sul, Tomar a dianteira 3 segue atentamente a vida tomarense e de alguns tomarenses. Neste caso, o jornalista António Freitas confraternizando com o Presidente Marcelo, no avião militar de regresso dos Açores:


Na sua recente visita aos Açores o presidente da República foi “caçado” pelo fotojornalista do Expresso, em amena cavaqueira com António Freitas, durante a viagem de regresso no avião militar C 295 da Força Aérea.  Para além de ser um dos fotojornalistas da comitiva, Tomar a  dianteira 3 sabe que António Freitas  aproveitou a oportunidade para questionar o Presidente sobre uma eventual visita presidencial oficial a TOMAR. Marcelo respondeu que estava dentro das suas visitas a agendar. 
Mas Tomar a dianteira 3 pode desde já acrescentar que o maior sonho de António Freitas será levar o presidente de todos os portugueses a dar um salto a Alviobeira, para assistir a  uma actuação do Rancho Folclórico e Etnográfico local. Nem que seja à última hora e extra visita oficial a Tomar 
Se o vier a conseguir, será o seu grande orgulho como tomarense  da freguesia de Alviobeira, conforme gosta de se apresentar.

UM QUADRO ASSUSTADOR

Disse anteriormente nestas linhas estar convencido de que, por falta de informação adequada, a senhora presidente continua a insistir em duas vertentes que só podem vir a causar elevados prejuízos a Tomar. Acrescentei que essas duas vertentes são A -  As obras úteis mas não prioritárias; B - As obras que não são úteis nem prioritárias, sendo que todas acarretam elevados encargos para a autarquia, sem quaisquer contrapartidas financeiras, excepto o inicial financiamento de Bruxelas. Donde resulta forçosamente que, mais tarde ou mais cedo, serão os contribuintes tomarenses a assumir esses encargos.
É do domínio público que uma das decisões da senhora presidente, logo na primeira parte do mandato, foi a adopção das 35 horas semanais para todos os funcionários municipais, medida que, tendo em conta as complicadas finanças da autarquia, poderá ter sido tudo menos prudente. Quiçá ter-lhe-à facilitado a reeleição, que os funcionários sabem agradecer a quem os protege. Mas coloca-a agora perante uma situação deveras complicada, para a qual manifestamente não dispõe de solução adequada: Há excesso de pessoal nalguns nichos, mas falta em sectores essenciais e não há disponibilidade orçamental para contratar mais funcionários.
Para quem ainda possa duvidar de que, ao contrário do proclamado durante a recente campanha eleitoral, Tomar está no rumo errado, o quadro seguinte é assaz elucidativo e até assustador:

ELEITORES INSCRITOS NOS CADERNOS ELEITORAIS

Elaborado com dados oficiais do Ministério da Administração Interna, o resumo supra permite uma série de conclusões. Eis as principais:
1 - O argumento segundo o qual Tomar perde população porque está no interior do país não passa afinal de uma balela, sem consistência alguma. Há concelhos muito mais interiores, como Ponte de Sor ou Elvas, que apesar disso perderam percentualmente menos população que Tomar, entre 2009 e 2017: -7,44% em Ponte de Sor e - 5,14% em Elvas, para -10,09% em Tomar. Porquê?
2 - A situação torna-se ainda mais preocupante se considerarmos só o último mandato, 2013 - 2017: Com uma perda de -6,68%, Tomar encabeça de longe os sete concelhos constantes do quadro e todos do interior. Só Abrantes, há vários mandatos gerido pelo PS, se aproxima, com -5,16%. Porquê?
3 - Em termos de aumento brusco da hemorragia populacional, temos o exemplo de Pombal que, com mais população que Tomar (55 mil eleitores contra 35 mil), perdeu 2.946 eleitores entre 2013 e 2017, o que contrasta com apenas -279 entre 2009 e 2013. Apesar disso, o PSD continua a governar, tal como o PS em Tomar.
Ignoro quais sejam as causas do problema demográfico em Pombal. Palpita-me contudo que serão praticamente as mesmas de Tomar: erros de gestão autárquica, provocados por deficiente informação e nítida falta de adaptação aos novos tempos.
Erros de gestão porque, ao beneficiarem sobretudo funcionários, pensionistas e outros assistidos, os autarcas responsáveis criam, sem disso porventura se darem conta, condições para que os eleitores não dependentes do erário público resolvam adoptar o velho dito popular segundo o qual, quem não está bem, muda-se. E em Tomar não se está comparativamente muito bem, porque o custo de vida nabantino é mais gravoso que nos concelhos vizinhos. Basta comparar no mercado ou no custo da água...
Antigamente, devido à carência de transportes e de informação, com a concomitante mobilidade muito reduzida, os munícipes estavam obrigados a aceitar o bom e o mau, residindo e consumindo na localidade onde exerciam profissionalmente. Actualmente tudo isso mudou. Há transporte individual, há boas estradas e há informação abundante, embora nem sempre de qualidade. Donde resulta que, ao constatar que as condições de vida são melhores noutro concelho qualquer, o cidadão não hesita e dá corda aos sapatos, indo comprar ou mesmo residir alhures.
Tendo em conta o que antecede, uma de duas: Ou a senhora presidente não conhecia estes aspectos do problema e por isso ignorava as consequências da sua gestão, pouco adequada aos tempos que correm, na hemorragia populacional; ou já sabia tudo isto, mas continua convencida de que está no rumo certo, aumentando os encargos financeiros do município, por considerar que não existe qualquer relação entre a sua gestão autárquica e o êxodo da população, que em Tomar tem vindo a acentuar-se. De tal forma que já ocupa o primeiro lugar destacado na região.  No primeiro caso, ainda há esperança que as coisas mudem. Basta conseguir boa assessoria e ter a coragem de mudar para melhor. No outro, o futuro de Tomar é negro.
A continuar a tendência actual, (e tudo indica que assim vai ser), dentro de dois mandatos o concelho contará menos de 30 mil eleitores. Como não pode haver despedimentos na função pública, continuará a autarquia com 520 funcionários, Um funcionário municipal por cada 58 habitantes. Como no Alentejo profundo, onde as autarquias são os principais empregadores e o declínio da economia local é evidente. Nessa altura, se ainda por cá andar, lá terei de recorrer ao velho dito popular A cadela não pode com tanto cão
Ao que se chegou. Pobre terra. Pobre gente.

Sei bem que o texto supra é muito desagradável para quem foi eleito para gerir capazmente o município. Sobretudo porque só diz verdades e avança factos verificáveis. É claro que não me agrada nada apontar erros a eleitos pelo partido do qual me sinto mais próximo. Mas, como escreveu o poeta e militante socialista da primeira hora:

Mesmo na noite mais triste
Em tempo de solidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não

Manuel Alegre, Trova do vento que passa (adaptado)

domingo, 29 de outubro de 2017

Outra vez a Várzea grande

Acabo de saber pela Rádio Hertz que o projecto referente à Várzea grande vai de novo à reunião do executivo, após a qual estará em discussão pública durante 15 dias. Uma vez que  reunião é já amanhã, segunda-feira, resta-me reiterar o que já aqui foi referido anteriormente.
1 - O anunciado período de discussão pública é, a julgar por casos anteriores, apenas para cumprir calendário e obedecer às normas europeias. Na realidade, poucos se interessam pela questão, e quando tentam consultar o processo constatam que há sempre umas partes mais sensíveis que, por razões independentes da vontade do executivo, nunca estão acessíveis ao comum dos mortais. Naqueles Paços do concelho há caminhos muito tortuosos.
2 - Creio que por falta de adequada informação, (assunto que será desenvolvido no próximo escrito), a senhora presidente continua a insistir em duas vertentes que só podem vir a causar elevados prejuízos a Tomar. Refiro-me em primeiro lugar às obras úteis mas não prioritárias, como por exemplo os arranjos de parte da Estrada do Prado, de parte da Estrada da Serra e das Avenidas Nun'Álvares e Torres Pinheiro, que não são prioritárias por para elas não haver depois verbas para assegurar a respectiva manutenção. Tal como já vem acontecendo com a envolvência da Ponte do Flecheiro, da Avenida Marquês de Tomar ou da Avenida Vieira Guimarães (estrada do Convento). O que poderá vir a implicar alterações gravosas na fiscalidade local. Porque o dinheiro tem de vir de algum lado, a população vai diminuindo, e até agora a senhora presidente só tem revelado capacidades na área dos novos encargos.

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Foto mediotejo.net

3 -Vêm a seguir as obras que nem são úteis nem prioritárias, como por exemplo a requalificação da Várzea grande ou o agora anunciado "museu de Sellium". No que toca à Várzea grande, o projecto que tive ocasião de consultar à pressa, parece-me tipicamente "estilo manuelino": embeleza, ornamenta, complica, mas nada acrescenta de útil em termos práticos. Pelo contrário. Limita drasticamente a capacidade de estacionamento, e implica muito mais manutenção, quando se devia procurar exactamente o contrário. Acresce que, quando se vier a implementar um plano local de turismo, inevitável a médio/longo prazo, a Várzea grande e espaços anexos ao Convento de S. Francisco terão forçosamente  de albergar um grande parque de estacionamento subterrâneo e de superfície, com os respectivos serviços de apoio. Nessa altura, as obras agora projectadas e em discussão pública serão destruídas, na totalidade ou em grande parte, posto que não adequadas. Por conseguinte, parece-me que a  melhor solução é meter o actual projecto na gaveta, a aguardar melhores dias. Antes que seja demasiado tarde.

Minudências nefastas

No curto espaço de alguns dias, Tomar na rede e Tomar TV publicaram isto, que encontraram nessa descomunal lixeira chamada Facebook:


Tratando-se de dois dos mais modernos e prestigiados órgãos de informação local e regional, fui levado a matutar no assunto, uma vez que se trata afinal de algo corrente. Uma ementa de uma casa de pasto com refeições completas a 7 euros, dificilmente poderia ser uma obra asseada em termos ortográficos.
No caso, as discrepâncias são até bastante correntes, com duas excepções. Noutros termos, são erros comuns, que os especialistas classificam como "falhas de homofonia", as quais muito raramente afectam a compreensão da mensagem.
Açado por assado, musse por mousse, aseite por azeite, e assim sucessivamente, revelam apenas falta de agilidade prática no uso da língua escrita, sem afectar o entendimento da mensagem. Na ementa em questão só dois erros são menos triviais. As doradas grelhas revelam que a autora estava com tanta pressa ao escrever que inconscientemente eliminou uma sílaba. 
Já o caso da musse de orrew, (ou será orreu?) é mais curioso. Quem escreveu, usou a marca comercial de bolos forrados a chocolate ORÉO, à venda em qualquer supermercado, como um nome comum da língua portuguesa. Ninguém consegue parar o progresso. É cada vez mais comum comprar o produto por causa da marca. No fundo, comprar a marca, confundida com o produto. Você usa um telemóvel ou um iphone? Uma esferográfica ou uma Bic?
Explicado que está o conteúdo, falta abordar a questão do destaque que lhe foi dado, injustificado quanto a mim. Sem qualquer intuito de criticar, apenas e só procurando compreender em termos antropológicos, creio tratar-se de uma síndrome tomarense herdada. Dar importância a minudências, a meros detalhes, ser coca-bichinhos, sem disso se aperceber, devido à educação e à envolvência sociológica. Um conhecido e respeitado jornalista tomarense, há muito falecido, disse o mesmo de forma involuntária. Questionado sobre o facto de não ter publicado determinada notícia, foi lesto na resposta: -Se eu publicasse isso, com que cara é que entrava depois no Paraíso? (Refería-se ao Café Paraíso, naquela altura o poiso diário da crème de la crème local.)
Procurando ser mais claro, parece-me que a informação tomarense, sobretudo a mais moderna, tende a privilegiar o acessório, ignorando o fundamental. Nuns casos, por manifesta e conveniente auto-censura. Noutros, por implícita censura prévia externa. Noutros ainda, devido à acima mencionada síndrome.
Os resultados aí estão. O autor destas linhas, que nunca foi, não é, nem pretende vir a ser jornalista, foi o primeiro a abordar, em termos noticiosos, gritantes chagas urbanas, com destaque para a carência de casas de banho (recorda-se da célebre "reportagem de merda"?) ou a constante falta de limpeza.
Dito de forma mais singela, o jornalismo local é bem capaz de publicar uma bela peça sobre o caso de uma mosca coxa no lombo de uma égua, mas abstém-se de dizer o óbvio -que a égua está com a mosca. Em sentido próprio, que no figurado pode ainda não estar.

sábado, 28 de outubro de 2017

É preciso ter lata!

Esclarecimento

Esta crónica chega mais tarde devido a uma das características dos países em tempos designados como "terceiro mundo". Uma pessoa levanta-se de manhã e nunca sabe se os serviços básicos estão operacionais. Vivencia-se assim um certo suspense, sem necessidade de ir ao cinema ou ver a tv.
Esta manhã não havia Net. Quando se procurou informação, soube-se que afinal era porque não havia electricidade aqui na zona. Apesar de a COELCE ser uma empresa pública.
Aqui no prédio, o gerador a gasóleo funcionou durante horas, para garantir um elevador em funcionamento, porque subir 17 andares pelas escadas é um bocadito puxado. Mas internet e TV, era bom era, só que não havia.
Resolvido o problema no que concerne à Net, que a tv continua sem sinal, segue  mais um aguaceiro crítico, porque há por aí muita gente que anda mesmo a pedir chuva.

O problema são os custos

A Câmara de Tomar é geralmente conhecida por não facultar atempadamente informações que lhe são solicitadas. É também useira e vezeira em escamotear informação fundamental, ao não enviar as respectivas notas aos órgãos de informação. O caso mais recente é a compra do terreno nas traseiras dos bombeiros, com a respectiva fundamentação, que, decorridos quase dois meses, ainda não vi noticiada em qualquer media. Devo andar distraído.
Contrastando com a usual opacidade informativa, agora que os SMAS obtiveram dois prémios, outorgados por uma entidade até agora para mim desconhecida, o executivo providenciou imediatamente a respectiva difusão, que a Hertz noticia aqui. Pois parabéns aos contemplados. Que lhes faça bom proveito. Conforme diz o povo, "gaba-te cesto que vais para as vindimas!"
Acontece que em Tomar, que eu saiba, ninguém se queixa da qualidade da água ou do saneamento, onde ele existe e está normalizado, o que não acontece até mesmo num sector da cidade antiga. Queixam-se, isso sim, dos custos elevados, provocados por uma fiscalidade municipal exagerada, por sua vez resultante de manifesta má gestão. Assim sendo, não se esqueçam de difundir na hora qualquer prémio que os SMAS venham eventualmente a receber por fornecerem água e saneamento aos preços mais baixos do país. Fico desde já sentado à espera.
Na política é como na antiga latoaria, é preciso ter muita lata!

Actualização
João Franco, director da Rádio Hertz, teve a amabilidade, que agradeço, de me enviar algumas peças informativas, antes difundidas naquele posto. Fiquei assim a saber que a autarquia comprou o terreno nas traseiras do quartel dos bombeiros por 250 mil euros, que vai pagar a prestações. Segundo entrevista da senhora presidente, no terreno vai ser feito um museu, com 85% de comparticipação europeia, caso a DGPC emita previamente parecer favorável, o qual já foi solicitado.
O problema, acrescento eu, é que depois a U.E. não vai subsidiar o funcionamento nem a manutenção do agora pretendido museu, para o qual a autarquia também não dispõe de recursos. Como já está a acontecer no complexo da Levada, literalmente às moscas, mais de 4 anos após a conclusão das obras.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Esclarecimento

Seguidores de Tomar a dianteira 3


Uma anomalia técnica, identificada como "error 502", forçou a retirada do quadro com os 56 seguidores de Tomar a dianteira, a quem agradeço uma vez mais a coragem cidadã que demonstraram ao apoiar-me. Não se tratou portanto de uma opção minha. Apenas uma questão técnica da Google.
Aproveito para deixar o meu obrigado a todos os que, seguidores ou não, continuam a ter pachorra suficiente para ir digerindo aquilo que vou escrevinhando.
Contrariando alguns cidadãos e cidadãs mais azedos, mantenho que Tomar a dianteira é um espaço onde qualquer um pode publicar as suas opiniões. Basta que cumpra uma de duas formalidades. Ou usa o seu próprio nome, como eu sempre faço. Ou se identifica cabalmente e informa para anfrarebelo@gmail.com que vai usar o pseudónimo X ou Y.
Anónimos não! Fiquei farto de feijão frade (ciclistas com atum) durante a guerra em Angola. Para os menos versados nas coisas da vida, apoda-se de feijão frade quem tem duas caras.

Preocupante

Segundo a informação local, a recente reunião do executivo municipal, com "antes da ordem do dia" e 20 pontos na ordem de trabalhos, durou 15 minutos. Leu bem. Foi tudo despachado num curto quarto de hora. O que constitui o primeiro sinal claro e inequívoco de que a maioria absoluta obtida num contexto feliz já está a causar estragos entre os eleitos socialistas que dela beneficiam. Para além de questões de imagem e de respeito pelas normas, não se lembraram, ou consideraram sem importância que, na língua portuguesa existem duas frases, ambas cruéis, para qualificar situações dessas. Diz uma que "Depressa e bem, não faz ninguém." E, francamente, 15 minutos para 21 assuntos diferentes, dá que pensar, lá isso dá. Reza a outra que "Quem pouco sabe, depressa o canta." O que significa que, mesmo vindo todos já muito bem afinadinhos pelo diapasão da chefe, denotaram evidente falta de respeito pela oposição e pela assistência. Não por mero acaso, um jornalista já escreveu que se sentiram frustrados porque se esperava "mais conteúdo". Está longe de ser um bom sinal, para quem ainda não tenha desistido de pensar um bocadinho.
Afirmou a senhora presidente, no seu discurso de tomada de posse, que tenciona apoiar-se nas organizações internacionais, para lograr o desenvolvimento da cidade e do concelho. Aplaudo a ideia. Duvido contudo que possa conseguir algum sucesso.  Ao tomarem conhecimento de que uma reunião camarária tomarense, com uma ordem de trabalhos de 20 pontos diferentes, mais "antes da ordem do dia", durou apenas 15 escassos minutos, os outros participantes ficarão naturalmente de pé atrás. Reuniões formais assim só acontecem geralmente em regimes autoritários, onde os eleitos ou se abstêm, ou se limitam a dar o amem às decisões antes tomadas pelo chefe. Neste caso A chefe, o que nos países do sul da Europa ainda agrava mais a questão. Infelizmente, mas é o que temos.
Uma vez que a sra. Dª Anabela Freitas já demonstrou sobejamente que não dá o braço a torcer, por uma questão de orgulho, fica aqui este escrito, exclusivamente para memória futura. Para poder dizer mais tarde uma de duas: ou um sincero "enganei-me e peço desculpa", (de longe a minha preferência) ou um singelo "eu bem vos avisei em tempo oportuno, mas não me quiseram crer." Em todo o caso, em conformidade com o que antevejo, julgo ser oportuno citar, para uso da oposição e dos eleitores tomarenses, o conselho de Guterres, quando ainda dirigia o PS -Habituem-se!

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

De longe e de baixo

Peço desculpa. A esta hora (7H30 de Fortaleza, 11H30 de Tomar) mais de 100 leitores fiéis já fizeram o favor de visitar Tomar a dianteira 3 e não encontraram o habitual texto matinal. É que entretanto o avião da TAP já percorreu mais uma vez os quase sete mil quilómetros que separam as duas cidades, desta vez comigo lá dentro. De forma que por aqui estou de novo, na margem do Atlântico sul, onde conto ficar até Maio próximo, vendo as coisas de longe e de baixo (no mapa, bem entendido). É outro clima, que o meu reumatismo prefere de longe ao de Tomar.
Com o velho senil, rabugento e intrometido longe da terra gualdina, alguns concidadãos, com destaque para meia dúzia de funcionários superiores da autarquia, um ou outro eleito, uma ou outra beata, um ou outro beato falso, ficaram todos satisfeitos e a partir de agora passam a dormir melhor. É aproveitar pessoal, que as coisas nunca foram nem são bem como as senhoras e os senhores as vêem. E hoje em dia, com a Net, quase se "vê" melhor a Corredoura a partir daqui, que da Praça da República.
Estando os senhores autarcas em início de mandato, há que deixá-los trabalhar em prol da cidade e do concelho, caso seja essa a sua intenção, começando por lhes desejar felicidades e facilidades. Dito isto, há para já dois assuntos que me atazanam o juízo (o pouco que ainda me resta). Um é sobre os SMAS, outro sobre aquele terreno nas traseiras do quartel dos bombeiros.
Dos SMAS é quase como dos hospitais, raramente vêm boas notícias. Desta vez, fonte credível e em geral bem informada, garantiu a Tomar a dianteira que a água terá forçosamente de aumentar a curto/médio prazo, nomeadamente devido aos elevados custos com o tratamento de esgotos. Segundo a mesma fonte, esses custos agravam-se singularmente no inverno, porque a respectiva estação de tratamento também processa à mistura muita água da chuva, que a EPAL contabiliza, esfregando os seus administradores as mãos de contentes. O que nos poderá valer nesse aspecto é que o inverno seja pouco chuvoso. Ao que se chegou!
Sobre o terreno onde está aquela coisa a que chamam "ruínas de Sellium", nas traseiras do quartel dos bombeiros, só agora soube que a câmara resolveu comprá-lo, pouco antes do início da campanha eleitoral, pela módica quantia de 300 mil euros. Uma evidente ninharia, para uma autarquia cujo défice é de apenas 24 milhões de euros. (Ler actualização aqui.)
Com tal compra, que a informação tomarense que temos nunca noticiou (o que não é bom sinal), tudo parece indicar que a nova maioria tenciona avançar com o propalado museu da romanização naquele local. Caso consigam as sempre desejadas e abençoadas verbas europeias, teremos então mais um elefante branco, como o do complexo da Levada. Com uma única diferença: terá uma só cabeça, ao contrário do outro que têm três -fundição, electricidade e moagem. Mas com o mesmo problema de base. Uma vez concluído, não haverá verbas suficientes nem para contratar técnicos, nem para a indispensável manutenção, nem para assegurar o respectivo funcionamento com um mínimo de dignidade.
Basta meditar no caso da Levada. Concluído há anos, aguardam o quê para corrigir as numerosas mazelas já detectadas e pôr aquilo a funcionar? Conversa fiada é uma coisa, trabalho sério e transparente outra bem diferente.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Cuidado com as aparências

O dito popular é bem conhecido, tornou-se até uma frase feita  -"As aparências iludem". Apesar desta prevenção implícita, mesmo alguns com larga experiência de vida caem na esparrela. Um leitor deste blogue (e meu amigo de há muito) aconselhou-me no café a não escrever de noite, porque gostava mais do meu estilo durante o dia.
De regresso a casa, matutei no assunto e acabei por detectar o logro. O amável leitor, já com uma longa vida bem vivida, deixou-se levar pela aparência. Aceitou com boa a hora indicada no final de cada postagem. O problema é que o meu desmazelo fez com que não tenha "actualizado" a hora. Por conseguinte, continuando o computador pela hora de Fortaleza, convém acrescentar quatro horas para saber a que horas são escritos os textos publicados.
Quanto ao estilo e qualidade da escrita, creio que nada têm a ver com as horas. Julgo eu! Resultam sobretudo do contexto. Uma vez que sempre fui e continuo muito reactivo (mas não reaccionário!) o caso das recentes tragédias e sobretudo a situação tomarense tendem a tornar-me bastante mais pessimista. Eu, que já não era nada optimista, porque o passado deixa sempre sulcos profundos.
As minhas desculpas aos leitores que, por desleixo, induzi em erro nessa questão das horas.

Todos amigos, todos da mesma freguesia, mas a política local torna-nos inimigos

Crónica de António Freitas

Confesso que tenho saudades dos idos de 1983, quando tomei assento pela primeira vez numa Assembleia de freguesia. Foi em Alviobeira e depois repeti sete vezes. Naquele tempo não se dava tanta importância às forças partidárias saídas do voto. O presidente escolhia o seu secretário, ou o seu tesoureiro. Falava-se, votava-se, por vezes impunha-se este ou aquele, mesmo contra a sua vontade. Olhando à aptidão para o cargo. "Olhe que este tem melhor caligrafia, sabe fazer atestados, redige bem, é bom em contas e tem vagar. Olhe que aquele é melhor para presidente da Assembleia. Sabe conduzir uma reunião, é culto, sabe de leis e lê muito..." Depois, feitas as escolhas, todos confraternizávamos no Café do Alberto, com um copo à frente.
Era a nossa querida terra e era a defesa dela que estava acima de tudo. Com o passar dos anos, a coisa começou a deteriorar-se. De Tomar, as Comissões políticas, o pior veneno para as freguesias, começaram a ditar ordens e a dar instruções. Para eles não interessam os valores. Interessa se o partido A, B ou C tem X ou Y eleitos e em que cargos estão. "Ganhámos a presidência da junta aqui, o secretário da junta alí, o presidente da assembleia acolá." Que intromissão!


Depois há uns espertos que querem "tacho" e até uns míseros 300 euros mensais na junta lhes fazem jeito, mesmo não fazendo a ponta de um corno em termos práticos. Sou do tempo em que o desempenho de funções autárquicas era gratuito. Apenas e só serviço público puro e duro. Hoje em dia, não se elege para cargos nas Assembleias de freguesia olhando aos valores, às capacidades de cada um. Olha-se para a cor do partido que representa.
Na recente tomada de posse da Assembleia de freguesia de Casais-Alviobeira, a cara dos presentes era de velório! (ver foto) Um ambiente de cortar à faca. Uma revolta. Não foi para isso que se instituiu o poder local democrático. O povo escolhe, vota, o método de Hondt dá a representatividade, mas há que olhar acima de tudo aos interesses da terra e às aptidões dos que foram eleitos. E depois dar o braço, dar a mão, dialogar, deixar a campanha eleitoral lá fora e pensar que "somos todos da mesma terra" e que aconteça o que acontecer nunca mais teremos outra.
Se eu podia formar uma equipa ainda melhor, porque tenho de me sujeitar ao ditames das concelhias, ou dos profissionais da política, que se estão marimbando para as freguesias, que até agregaram ou extinguiram?

Texto editado por Tomar a dianteira

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Feira aquilo?!?

Terminaram a sua actuação algumas atracções ambulantes, rodeadas por um amontoado de barracas, tudo sem grandes condições. E, perdida na entrada noroeste, a Feira das passas, ou o que dela resta ao cabo de cinco séculos. A Feira nacional dos frutos secos é agora em Torres Novas. Aqui, continuamos a chamar-lhe feira por hábito e sobretudo porque, pobres coitados, muitos de nós nunca estiveram numa feira a sério. Não há piores ignorantes do que aqueles que ignoram a sua própria ignorância.
Este ano, aquela coisa inestética, insalubre e barulhenta foi programada para dez dias. Semana e meia! Não se vislumbra porquê, uma vez que, desde há mais de quarenta anos, vem encolhendo em termos de espaço, de feirantes e de afluência. Trata-se de compensar no tempo o evidente definhamento no espaço e no interesse do público?
Bem vistas as coisas, tal terra tal feira. Ambas estão cada vez pior, mas o pessoal parece gostar. Continuam todos satisfeitos. Aplaudem quando solicitados. Detestam quem critica. São conformistas empedernidos. Se soubessem elaborar raciocínios mais complexos, diriam decerto que a situação não é boa, mas podia ser bem pior. Nomeadamente se os adversários políticos estivessem nos poleiros. Prova disso é a atitude da informação local que temos. Regra geral, debates, comentários, análises, crónicas, tomadas de posição, que é isso? Sobre a "feira", que disseram?
Apenas o nosso colega Tomar na rede que, apesar da sua evidente prudência, é, para muitos, mais um "mau da fita", que nem sequer pode alegar a "idade avançada" em sua defesa, tomou até agora a iniciativa de escrever algumas considerações críticas sobre o pindérico evento que acaba de encerrar. Que disse? Falou de mazelas. Tão evidentes que é preciso ser-se tomarense, nado e criado em Tomar, e com muitos anos de prática citadina, para as não ver. Para achar que está tudo bem, como vem sucedendo. "Não tá bem, mas podia estar  pior", parece ser o implícito pensamento dominante. Até o próprio administrador do Tomar na rede vai nesse barco. Teve a coragem de escrever que "são muitos os aspectos a melhorar nesta feira", porém só depois de, por prudência, também ter afirmado que "de uma maneira geral, os vendedores estão satisfeitos." Uma no cravo, outra na ferradura. Para não descontentar ninguém.
E no entanto é indesmentível que, como habitualmente: Faltou planeamento atempado, faltou organização geral, faltou organização no terreno, faltou  sinalização, faltaram condições sanitárias, faltou limpeza, faltou recolha de resíduos sólidos, faltou informação, faltaram  condições de segurança, faltou  respeito pelos residentes confinantes, faltaram ideias, faltou capacidade, faltou empenhamento, faltou vergonha na cara. Mas houve como sempre esbanjamento.  Espectáculos à borla e gambiarras acesas durante o dia, só nesta terra abençoada, onde depois os contribuintes pagam tudo sem refilar.
Para o ano há mais. Nas mesmas lamentáveis condições. No mesmo sítio ou logo ao lado, no Flecheiro. Tanto faz. A merda será praticamente a mesma. Talvez com outras moscas. Se as houver. Porque aquela coisa até para as moscas deve ser uma estopada de todo o tamanho. Sempre a mesma comida, também cansa!

















segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Agreste, dizem eles...

Aos leitores que propalam a ideia de que o administrador de Tomar a dianteira é demasiado agreste, dedica-se este excerto da entrevista de Pêpê Rapazote ao EXPRESSO:
“Este é um problema crónico e eterno do povo português. Não percebe que tem direito à vida e que depois tem obrigações e que, só depois de cumprir muitas delas, tem de novo direitos. Não há direitos — os direitos, as liberdades e garantias vêm depois de muita obrigação. Este é um problema de abuso do laxismo e de abuso de valores que vieram depois do 25 de Abril e que estão cada vez mais enraizados. Vivemos verdadeiramente a tirania do politicamente correto. A tirania das minorias. A tirania dos direitos, do eu tenho direitos. Não!”
Rapazote insurge-se contra os brandos costumes, contra a apatia de um país onde as pessoas não se mexem e têm medo de dar a cara. “O corporativismo e os sindicatos dão um jeito enorme para a malta se esconder atrás do tipo da frente, o testa de ferro e o interlocutor que vai falar com o patrão. É o Zé Povinho, o velho manguito, o ninguém diz nada, país de cobardes!”
As declarações podem ser lidas aqui na totalidade. Para os mais corajosos, há também esta bela peça de Alberto Gonçalves, que escreve todos os sábados.
Boas leituras. Agreste eu, não é ?!


domingo, 22 de outubro de 2017

Percebo mas não aceito

Não aceito porque me dói e me tira  o sono. Ontem houve tomada de posse dos eleitos em Tomar para o próximo quadriénio. Foi uma cerimónia alegre, com pompa e circunstância. A tal ponto  que me senti deslocado. Ainda fui até à porta, porém nada  a fazer. Senti-me mal entre tantas gravatas, rodeado de tanta alegria. Regressei a casa melancólico.
Também ontem houve em Lisboa uma manifestação para protestar contra a gritante incapacidade para governar de forma capaz. Para chorar e lembrar os mais de cem desaparecidos, vítimas da incompetência que por aí campeia.
Em Tomar, já o disse anteriormente, felizmente não desapareceu ninguém queimado nos incêndios. Mas mostram os cadernos eleitorais que, nos últimos quatro anos, desapareceram do concelho de Tomar exactamente 2.496 eleitores. 625 por por ano! E os tomarenses que ainda restam não reagem. Acham natural. Preferem engravatar-se para ir bater palmas a alguns daqueles que são os culpados pela preocupante hemorragia populacional que nos assola.
Tem razão Alberto Gonçalves, no seu estilo excessivo. Somos mesmo uma apatia. Pode o mundo desabar à nossa volta que continuaremos agarrados ao "osso", impávidos e serenos.
Citando o referido comentador "Não faz sentido que esta apatia com fronteiras se suponha um concelho."
Mas é o que há e assim temos de viver. Mal!

sábado, 21 de outubro de 2017

Tomar na rede, cães vadios e comentadores anónimos

Começo por me penitenciar: Nem sempre estive de acordo com o administrador do Tomar na rede, na questão dos comentários anónimos. Peço-lhe desculpa. Reconheço agora que estava a ver mal o problema. Na verdade, esta postagem levou-me a entender a utilidade e a importância dessa atitude do citado  responsável, cuja paciência e tolerância sou levado a apoiar e até a louvar.
Tudo devidamente ponderado, comentários publicados no Tomar na rede, sobretudo os anónimos, constituem um excelente manancial, para análises de gabarito nos campos da sociologia, da antropologia, da psicologia e da ciência política.
Apesar da minha fraca cabeça, consegui chegar a tal conclusão partindo de uma juvenil observação de cães vadios, gravada na minha massa cinzenta desde os anos 50 do século passado. Bem sei que actualmente quase já não há cães vadios em Tomar. Restam os do acampamento do Flecheiro e pouco mais. O que torna ainda mais significativa a minha recordação vivaz, num tempo em que tanta coisa já mudou.
Até às  décadas de 50/60 do século passado, havia um velho matadouro municipal, sem grandes condições, nos terrenos onde agora passa a estrada de acesso à Ponte do Flecheiro. Os seus efluentes iam directamente para o rio e alguns restos orgânicos para a lixeira, que era mesmo ao lado, onde está a ponte pedonal, e a parte norte do acampamento cigano. O "Clã Róflin".
Atraídos pelo olfato, muitos cães vadios rondavam então por ali.  Logo que conseguiam um osso ou algo comestível, tinham todos a mesma reacção. Afastavam-se um bocado e começavam a roer. Quando alguém se aproximava, ou passava perto, punham a pata em cima do petisco, olhavam de soslaio com ar ameaçador e rosnavam. Só deixavam de rosnar e retomavam a refeição quando os importunos humanos os deixavam em paz, afastando-se.

Resultado de imagem para fotos cães vadios

Mais de meio século volvido, alguns leitores/comentadores anónimos do Tomar na rede têm exactamente o mesmo comportamento dos cães vadios do século passado. Se a notícia não lhes agrada, vá de rosnar, sustentando que não tem qualquer interesse, pelo que não se justifica a sua publicação. Se outros comentadores concordam com a mesma, vá de rosnar que  os visados têm razão, uma vez que são eleitos ou funcionários, no exercício das suas funções. Em último caso, rosnam que Tomar é uma cidade linda em que só devia haver "crítica construtiva", conquanto não expliquem o que isso possa ser. Apesar de saberem muito bem o que quer dizer "lamber as botas" ou "culambismo", (na feliz expressão de Miguel Esteves Cardoso), uma vez que são especialistas nisso.
No fundo, o que essa seita de comentadores anónimos faz todos os dias é simples: Imitam os cães vadios de antanho, sabendo muito bem o que estão a fazer. Defendem cada qual o seu "osso" e assim quem lho arranjou, não vá dar-se o caso de a dada altura começar a não haver "ossos" que cheguem para todos. Por isso, quanto menos mudanças melhor. E as notícias ou críticas para eles inoportunas tendem a provocar alterações...
É triste constatar que, em pleno século vinte e um,  algumas pessoas, com cartão de eleitor e tudo, se comportam como os caninos vadios de outrora, pela mesma razão alimentar. Mas se a situação é essa, que se há-de escrever? 
A verdade. Só a verdade. E depois deixar rosnar livremente. Que é como quem diz, não lhes "dar corda". Porque não convém responder a provocadores. Sobretudo quando não identificados.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Até em Rapa nui

É verdade. Até Rapa Nui, com capital em Hanga Roa, e população da ordem dos 6 mil habitantes, tem sinalização turística adequada, daquela como não há em Tomar. Não sabe o que é Rapa Nui, nem onde fica? Peço desculpa. Como os tomarenses em geral, e os eleitos em particular, sabem sempre tudo de tudo, nunca precisando portanto de esclarecimentos, esqueci-me momentaneamente  de seguir o estafado conselho do senhor de Lapalisse -começar pelo princípio. Vamos então a isso.
Rapa Nui é a designação local da Ilha da Páscoa, um pequeno território chileno no Oceano Pacífico, a várias horas de avião de Santiago do Chile:


Apesar de minúscula e muito isolada, trata-se de uma ilha extremamente rica em património, outrora sede de uma hoje misteriosa civilização, cujos principais vestígios são os moais, que se julga serem representações dos antepassados:




 











Pois até na pequena ilha da Páscoa, isolada na imensidão do Oceano Pacífico, há sinalização para turistas, como não existe em Tomar, nem sequer nalgumas praias portuguesas. Apesar de estarmos na União Europeia e no século XXI. Apesar de pagarmos impostos tão pesados e as mais variadas taxas:


A mim incomoda-me e  dá-me que pensar. A si não?

Festa dos tabuleiros em Lisboa?!

António Freitas
O cortejo dos tabuleiros merece respeito

Segundo o site “noticia.pt”

 A Casa do Concelho de Tomar e a Associação de Comerciantes de Alvalade, em conjunto com a Junta de Freguesia de Alvalade, promoveram no passado dia 9 uma Mostra de Produtos Tomarenses em Lisboa:



“Decorreu em Lisboa a apresentação de produtos tomarenses, mel, frutos silvestres e vermelhos, vinhos, doces, fumeiro, e os tradicionais e emblemáticos pares de Tabuleiros, bem representativos da Festa dos Tabuleiros. Foi um dia em que Tomar invadiu a capital com produtos e a sua Festa.
A mostra ocorreu no dia 9 Setembro, integrada na iniciativa “Há Vida no Bairro”, alegrando e enchendo a Avenida de Roma, a Praça de Alvalade, a Avenida da Igreja e as ruas adjacentes daquela zona lisboeta."

Mas que falta de verdade e de rigor. Basta ver as fotos, publicadas por Carlos Piedade Silva no Facebook, para constatar que os produtores de Tomar estiveram lá, mas faltou o público. O evento não foi visto por mais de 50 pessoas, e qual Avenida da Igreja!  Falando com os produtores presentes, concluiu-se que  a desilusão foi total. Nem para a portagem fizeram dinheiro nas vendas! Ou seja,  foi uma perda de tempo e redundante prejuízo
Não estive presente, mas vivendo no Bairro de Alvalade há mais de 30 anos, posso dizer que, tirando a Avenida da Igreja a determinadas horas, e o Mercado de Alvalade, o resto são ruas desertas de muita gente que ali mora, na sua grande maioria idosos, que para sair à rua têm que ter motivos para tal.  E não havia. 
A Casa de Tomar tem pergaminhos históricos, uma tradição, um estatuto, que não deviam permitir “alinhar” em  convites que nenhuma mais valia trazem a  Tomar.  Mas pior que a falta de público nesta mostra, alguém se lembrou, certamente por outras direcções da CASA de TOMAR o terem já feito, de promover um desfile de meia dúzia de tabuleiros, que não faziam o menor sentido, a dois anos da festa grande. E, pior ainda, o desfile tinha à frente uma senhora transportando a “Coroa do Espírito Santo”.
Ao que se chegou!
Jamais alguém o fez, ou teve essa ideia, numa festa que se quer candidatar a Património Imaterial da UNESCO, conjuntamente com Alenquer e os Açores. Levar o “símbolo sagrado da festa” num desfile pelas ruas de Lisboa, nunca mais pode acontecer!
Que se promova a Festa só nos anos em que se realiza. Que se leve aos Açores um tabuleiro e se faça a respectiva montagem, que se desfile com o ícone tomarense em determinados contextos. Mas jamais com “Coroas e pendões do Espírito Santo” que isso tem “palco” – as ruas de Tomar e só em Tomar. Em ano de festa, depois de escolhido pelo povo o mordomo, e a partir do Domingo de Páscoa do ano em que se realiza festa. A tradicional saída solene das Coroas!
Podem estar tabuleiros expostos, como ícones e símbolos bem tomarenses, mas desfiles avulsos, popularuchos, vão matar a festa e impedir uma candidatura vencedora. Não brinquemos!
A Festa Grande tomarense não tem “ donos”. Mas tem, até nova eleição de um mordomo, quem a represente com dignidade.  João Victal, o mordomo das mais recentes edições, que de nada disto soube, apesar de fazer parte da Assembleia Geral desta direcção da Casa de Tomar, eleita e em funções. Nada soube, não foi consultado, pois teria  logo dito – Não! E não lhe chamemos “Velho do Restelo” Há as tradições herdadas e o ter de ser assim, por uma questão de respeito pelos nossos antepassados. 
Para promover os seus produtos regionais em Lisboa, Tomar não necessita destas acções. Bem basta já, nalgumas procissões religiosas pelo concelho, ver os tabuleiros com bolos em vez de pão, e  em procissões irem juntamente com fogaças. Haja rigor! A genuinidade e a tradição devem imperar! Ser popular e festa do povo, não é ser popularucho, e aqui a responsabilidade deve ser pedida ao presidente da Casa de Tomar -Carlos Galinha- e a quantos tiveram a ideia de aceitar um desafio de uma Junta, que queria ser noticia . A  Junta de Alvalade, faz noticia e divulga como um grande evento o que  não passou de uma “fandangada” sem público.
Oxalá os agentes económicos de Tomar, e o que de bom temos, venham a ser melhor promovidos no MERCADO DE ALVALADE, dia 18 de Novembro, como contrapartida ao “logro” de 9 Setembro.

Texto editado por Tomar a dianteira - 3

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Renunciar à arrogância, adoptar a humildade

O primeiro ministro António Costa acaba de sofrer uma das piores humilhações da sua vida política, na sequência do discurso excepcionalmente duro, mas justo, do presidente da República. Disse que não demitia a MAI, mas aceitou a sua demissão. Eximia-se a pedir desculpa, mas acabou por pedir. Falava como se tudo tivesse corrido normalmente, mas acabou por reconhecer que houve falhas graves. Alardeava sobranceria, mas tornou-se mais humilde, pelo menos por agora e na aparência. Poder, a quanto obrigas! É uma evidente mudança de estilo.
Em Tomar, felizmente não houve até agora catástrofes com mortos, e oxalá nunca tal aconteça. Há contudo duas vertentes que convirá ter em conta. A principal, a evidente tendência autoritária da senhora presidente da câmara que, tal como António Costa até ontem, alardeia sobranceria satisfeita e auto-suficiência, mas denota também uma pouco cómoda susceptibilidade exacerbada. Prova disso é  um aspecto que me parece condenável em qualquer político, sobretudo na área do poder local. A sra. Dª Anabela Freitas confunde crítica exclusivamente política com ataques, ou até com ofensas pessoais. Óbvia carência de capacidade de encaixe. Tem todo o direito, bem entendido. Mas dificilmente irá longe na política por tal caminho.

Uma foto do escriba destas linhas na Ilha da Páscoa, em pleno Oceano Pacífico, a cinco horas e meia de avião de Santiago do Chile, a qual permite perceber melhor como consegue ele ver a situação nacional e tomarense de longe. É tudo afinal uma questão de distância e de treino.

A outra vertente é a triste situação em que se encontra o concelho. Apesar da senhora presidente alardear optimismo, garantindo que o primeiro mandato "foi para arrumar  a casa", o concelho e a cidade é que estão a ficar cada vez mais arrumados, no pior sentido do termo. Para disso se convencer, basta ter presente que, entre 2005 e 2009, no tempo do malvado do Paiva, (para usar a linguagem PS), o eleitorado concelhio cresceu 206 inscritos. Entre 2009 e 2013, em plena crise e com os malandros do PSD (novamente linguagem PS), na pior gestão camarária dos últimos tempos, o mesmo eleitorado diminuiu 1.414 inscritos. Finalmente, ultrapassada a crise, no excelente mandato da sra. Dª Anabela Freitas, entre 2013 e 2017, que segundo a própria correu muito bem e serviu "para arrumar a casa", desapareceram 2.496 eleitores. Há portanto qualquer coisa que não bate certo na argumentação da senhora presidente, agora reeleita com maioria absoluta de circunstância. (O que não surpreende, uma vez que Isaltino Morais também venceu em Oeiras. Com maioria absoluta, apesar de tudo.) Ultrapassada a confusão do último mandato do PSD, graças à vitória PS e à subsequente coligação com a CDU, como explicar que durante um mandato que correu bem e já sem crise a nível nacional, tenham desaparecido 2.500 eleitores em Tomar, praticamente o dobro do mandato anterior?
Agora cheia de optimismo e de satisfação, por ter conseguido inesperadamente uma curiosa maioria absoluta, porém sem planos consistentes, nem vontade de os encomendar, como tenciona a sra. Dª Anabela Freitas vir a dar conta do recado? Insistindo no império da palavra? Na conversa fiada para mobilar? A tomada de posse num cine-teatro, não augura nada de bom.
Diz o povo, na sua infinita sabedoria, que "Quando vires as barbas do vizinho a arder..." António Costa não usa barba, bem sei, mas mesmo assim sai bastante chamuscado da catástrofe dos incêndios. E a política da imagem parece ter os dias contados.
Os acólitos da senhora, cuja principal qualidade não parece ser a capacidade analítica objectiva, vão decerto, como é usual, tentar minimizar a questão da perda dos 2.500 eleitores durante o mandato passado. Estarão no seu papel. Bajular dá sempre dividendos. Mas olhem que a coisa é grave. Querem ver?
Considerem, como mera hipótese de trabalho intelectual, que cada um dos 308 concelhos do país, uns muito maiores, mas outros muito mais pequenos que Tomar, perdia em cada mandato autárquico 2.500 eleitores. Dava o bonito total de menos 770 mil eleitores ao fim dos quatro anos. O que implicaria que, 13 mandatos decorridos, não restariam mais eleitores no país (770.000 x 13 = 10 milhões e 10 mil eleitores, um pouco mais que a população do país.). Bela perspectiva, não é? E o concelho de Tomar fica muito bem na fotografia, não fica?
Para aqueles defensores socialistas mais empedernidos, que não conseguem tirar os óculos partidários para passar a ver as coisas como elas são na realidade, publica-se um quadro comparativo de cinco municípios da região, todos geridos por eleitos PS entre 2013 e 2017:


Em Leiria, que pertence a outra categoria, aumentaram os eleitores, porque fica na faixa costeira. Em Ourém, a perda de eleitores (1.197) foi menos de metade de Tomar, porque têm Fátima. 
Nos casos de Abrantes e sobretudo de Torres Novas, ficam onde? Têm o quê?

Tal como no caso dos sanitários, da sinalização turística, da limpeza do Nabão, do saneamento, do custo da água, da ligação ao Convento,  da ausência de planos convincentes,  e por aí adiante, deve ser Tomar a dianteira que está a ver mal. Tal como nas tragédias deste verão, os eleitores tomarenses se calhar dão corda aos sapatos apenas por causa do clima.
É o caso de quem escreve estas linhas, todavia com duas ressalvas importantes: A - Continua a pagar impostos e taxas em Tomar; B - Continua a votar  em Tomar. 

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Para além da conversa fiada

Indo ao osso da questão, a falta de equipamentos turísticos básicos em Tomar nada tem a ver com custos, complexidades ou prejuízos para a paisagem, como é alegado no caso das escadas mecânicas, por exemplo. Resulta apenas da incompetência dos quadros da autarquia e da lamentável auto-suficiência balofa dos eleitos. É verdade que a questão do estacionamento na cidade e do subsequente acesso pedestre rápido ao Convento é complexa e bastante onerosa. Mas há coisas bem mais simples e baratas que a autarquia também ainda não fez, por manifesta incapacidade. A sinalização turística, por exemplo.
Em Tomar, actualmente, só a Mata dos sete montes tem sinalização para pedestres. Não sendo uma maravilha por aí além, também não envergonha. No chamado núcleo histórico não existe qualquer indicação específica para quem ande a pé, excepto as miseráveis chapinhas "Sinagoga", ali na esquina da Rua direita com a Rua nova, que na prática só consegue ver quem já sabe que elas  lá estão. O resto é sinalização para automóveis. Uma vergonha.
Para que se possa comparar, a seguir se publicam fotos com painéis de sinalização na cidade de Toledo. Trata-se de indicações só para pedestres, devidamente diferenciadas por cores. Fundo vermelho ou rosa para monumentos e outras curiosidades turísticas. Fundo verde para ruas e praças. Fundo branco para serviços administrativos, poder local, hotéis e saídas da cidade:









Além disso, há também indicações específicas para cada bairro com interesse turístico:


E indicação de acessibilidades especiais:


Será que tudo isto é assim tão caro ou complexo? É claro que não. Existe em qualquer cidade turística por esse mundo fora.
Em Viena de Áustria, por exemplo, indicando a distância em metros e o eventual transporte a usar:


Na Holanda, com indicação do tempo de cada percurso a pé:



 Ou na Patagónia, com a quilometragem até à capital do país e à extremidade norte do continente:


Instalar uma sinalização turística adequada, só exige funcionários superiores competentes e autarcas com vontade e que percebam bem para que se candidataram. Que não foi de certeza só para dar música ao pessoal. De conversa fiada já estamos todos fartos, pelo menos os que não andamos neste mundo só por ver andar os outros. 




terça-feira, 17 de outubro de 2017

A autarquia e o respeito pelos cidadãos

Esta foto foi obtida na tarde de terça-feira, 17/10/2017 e mostra um aspecto das obras actualmente em curso na Casa Vieira Guimarães, ao fundo da Corredoura:


Trata-se de obras indispensáveis, que consistem basicamente na limpeza e posterior pintura das fachadas. O problema reside na maneira como estão a ser feitas. Mais precisamente no que se refere aos andaimes. 
Se fosse um prédio particular, tinha de haver uma licença de ocupação da via pública e, naturalmente, um obrigatório corredor de circulação para os peões. Porque é óbvio que durante a lavagem e a pintura do prédio, não se pode transitar pela galeria sob os andaimes, que de resto foi vedada, o que está correcto em termos de prevenção.
Tratando-se de uma obra da autarquia, não há corredor de passagem para peões. Dava muito trabalho. Os cidadãos que se desenrasquem, usando a faixa de rodagem dos veículos. Ou atravessando para o lado oposto, obrigatoriamente fora da respectiva passadeira. 
É apenas um detalhe, porém muito elucidativo no que concerne ao respeito pelos direitos dos cidadãos. Se houver um acidente, será apenas mais um azar. Como no caso dos incêndios.
Não se trata obviamente de criticar os eleitos, que não podem ver tudo nem estar em toda a parte. Mas há funcionários para fiscalizar estas coisas, que pelos vistos andam distraídos. Porque será? 

Nunca se sabe...

Portugal é um país de brandos costumes e Tomar uma terra de costumes demasiado brandos em certas áreas. Apesar disso, é de elementar prudência ir sempre pensando que Nunca se sabe.
A peça que segue está muito afastada do âmbito deste blogue. Mesmo assim, pareceu importante publicá-la, entre outras coisas para homenagear todos aqueles que honestamente lutam de forma pacífica por uma informação livre ao serviço da comunidade. Trata-se de uma notícia publicada no LE MONDE online de 16/10/2017, actualizada em 17/10/2017.

"Em Malta, uma blogueira que denunciava casos de corrupção foi assassinada"

"Cronista em vários meios de comunicação, muito conhecida graças ao seu blogue muito popular, Daphne Caruana Galizia morreu ontem na explosão do seu carro de aluguer"

"Uma vez mais, Daphne Caruana Galizia acabava de publicar no seu blogue um artigo sobre um caso de corrupção implicando um político maltês. Na sua habitual escrita rápida e nervosa, expressou mais uma vez o seu profundo pessimismo perante essa epidemia local: "Doravante há vigaristas por todo o lado. A situação é desesperada."
Publicada às 14H35 de 16/10/2017, a frase adquire agora contornos premonitórios. A blogueira sua autora foi assassinada meia hora mais tarde, aquando da violenta explosão do carro de aluguer em que se deslocava. A viatura foi depois encontrada pelos serviços de socorro num terreno agrícola ao lado da estrada, próximo do seu domicílio. A natureza criminosa deste ataque contra uma figura da informação local que tinha muitos inimigos, não oferece quaisquer dúvidas. O primeiro ministro maltês, Joseph Muscat, que era um dos alvos principais de Caruana Galizia, classificou este acto de "bárbaro", acrescentando que "Hoje é um dia negro para a nossa democracia e para a nossa liberdade de expressão." Trata-se do primeiro assassinato político em Malta, desde os anos 80.
A jornalista agora desaparecida, historicamente próxima da oposição, tornara-se especialista na publicação de escândalos comprometedores implicando os políticos locais. O seu blogue em inglês era um dos mais lidos da ilha, frequentemente com mais leitores que os jornais tradicionais, nos quais ela colaborava ocasionalmente, mesmo se a maior parte dos seus rendimentos vinham da sua actividade como editora.

O estado em que ficou o carro conduzido pela jornalista

Publicou designadamente numerosos artigos sobre a implicação de gente próxima do primeiro ministro Muscat nos Panamá papers. O filho de Caruana Galizia, que estava em casa aquando da explosão, trabalha para o Consórcio internacional de jornalistas de investigação (ICIJ), que integra o LE MONDE [e em Portugal o EXPRESSO].
Com 53 anos, esta jornalista corajosa mas controversa tinha recentemente arranjado inimigos no seio do partido da oposição, que no entanto tinha apoiado aquando das eleições legislativas, em Maio. Publicou nomeadamente vários artigos em Agosto sobre o novo lider da oposição, Adrian Della, acusado de ter uma conta na ilha de Jersey, alimentada, segundo ela, por dinheiro proveniente da prostituição londrina. Esses artigos provocaram vários processos por difamação, de que ela fazia colecção, conjuntamente com as ameaças de morte, frequentes numa ilha tão pequena e dividida como Malta.
"Era muito independente na sua maneira de pensar", declarou Arnold Cassola, ex-líder do Partido Verde maltês. "Foi ela que revelou os maiores escândalos de Malta, mesmo se também arranjou muitos inimigos ao escrever por vezes coisas estúpidas."
É verdade que entre as manchetes, Caruana Galizia gostava também de criticar o vestuário dos membros da família dos responsáveis políticos, usando por vezes um vocabulário algo impróprio. No seu penúltimo texto de blogue, criticava a postura corporal de Adrien Della e "o seu pescoço que ultrapassa em 45 graus as omoplatas, como uma tartaruga".
Questionada pelo Le Monde em Maio sobre este tipo de textos de blogue, que muitos malteses consideravam que prejudicavam as suas restantes publicações, defendeu o respectivo estilo: "Penso que é importante, porque os políticos usam a sua imagem e até se servem dos seus filhos menores para fazer campanha."

Chocados, milhares de malteses desceram às ruas na segunda-feira à noite, para homenagear a jornalista e denunciar os bastidores pouco apresentáveis deste país membro da União Europeia desde 2004. O líder da oposição, Adrien Della, disse mesmo que este assassinato é uma "consequência directa do desmoronamento total do Estado de direito no país." "Isto é mais parecido com a Rússia do que com a Europa", confirma o eurodeputado Verde alemão Sven Giegold, que tinha conversado com Caruana Galizia no inverno passado, no âmbito da comissão de inquérito sobre os Panamá papers. "A sua paixão era revelar verdades secretas; mas numa sociedade estreita como Malta é algo muito difícil."
Apesar dos numerosos escândalos revelados por Caruana Galizia, o primeiro-ministro Joseph Muscat foi reeleito com larga maioria nas eleições legislativas de 3 de Junho passado."

Jean-Baptiste Chastand, Le Monde online, 17/10/2017
Tradução e adaptação de António Rebelo, UPARISVIII