quarta-feira, 29 de novembro de 2023




Urbanismo saloio

O Flecheiro de salgalhada em salgalhada

O MIRANTE | Atraso na empreitada do Flecheiro em Tomar não é preocupante

TOMAR – Câmara fez última proposta para chegar a acordo para ficar com terreno junto ao Flecheiro… Expropriação continua em cima da mesa | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

Começa-se com dois esclarecimentos, tornados indispensáveis pelo leitorado ao qual se destinam. Primeiro, o termo SALGALHADA não é "gralha" nem erro de digitação. Está correcto. É costume as pessoas de mais fraca cultura usarem SALGANHADA, mas trata-se de uma corruptela do vocábulo original.
Em segundo lugar, esta crónica, desagradável para alguns, tal como as anteriores, porque a quase totalidade dos políticos locais, e muitos eleitores, convivem mal com a verdade nua  e crua, não nasceu do nada. Tem como origem a notícia que pode ser lida/ouvida nos links supra.
Podia-se começar pelo fundo do poço da história local. Os anos setenta do século passado, quando acamparam junto à praça de toiros, do lado oposto da Rua de Coimbra, alguns ciganos nómadas, com carroças e animais. Mas para quê? Para esclarecer que, sendo nómadas, deviam ter sido expulsos passados oito dias, em conformidade com as normas da época?
Tal não foi feito e, pelo contrário, mais tarde, quando um honrado cidadãos local comprou a então quinta de Santo André e pediu ao seu amigo presidente da Câmara, o socialista Luís Bonet, que lhe arranjasse uma solução para "aquela gente", o autarca nem hesitou. Disse que podiam instalar-se nos terrenos do Flecheiro, a título precário.
Só passados mais de trinta anos, outra Câmara socialista teve coragem para resolver o problema dos ciganos do Flecheiro. É a coroa de glória da maioria presidida por Anabela Freitas, apesar de lamentavelmente não haver para tanto. Por falta de adequado debate prévio, as sucessivas soluções encontradas em termos de realojamento, têm sido outras tantas salgalhadas sociais. Avolumam-se os problemas e as reclamações, havendo mesmo um caso -o bairro calé- que é ilegal perante as directivas comunitárias, o que implica que se encontre outra saída quanto antes.
Indo na onda dos técnicos superiores da autarquia, que poderão ser dos melhores do país, mas pertencem a um modelo ultrapassado, repetiu-se o erro da falta de debate, quando se tratou de reaproveitar os terrenos antes ocupados pelo  acampamento calé. A população não foi ouvida, nem foram tidas em conta as diversas achegas provenientes da oposição e da informação local.
Tal como na Várzea grande,  a senhora presidente decidiu e ficou decidido. Um terreno ajardinado para passear os cãezinhos, mais um equipamento amovível para crianças, que poucos vão  utilizar, porque de dia não há sombras e de noite é um bocado ermo. E lá se vão mais três milhões.
Acrescentaram umas boas dezenas de toneladas de terra, para relevo artificial, à moda da Disneylândia em Paris, esquecendo-se para o efeito que tudo aquilo é leito de cheia, pelo que, em caso de enxurrada, lá se vão umas centenas de carradas de terra. Com o pessoal admirado por haver quem mande instalar relevo onde é plano, e terraplanar onde há relevo. Será só para tentar justificar o preço da empreitada?
É  algo estranha, essa situação do leito de cheia, que não permite construção, uma vez que, no caso do logradouro do Convento de Santa Iria, também em leito de cheia, foi possível projectar, aprovar e edificar uma piscina, mais uma dezenas de quartos e outras dependências na margem do Nabão. Outro valores falaram mais alto que o leito de cheia, certamente.
Com tanta pressa para fazer as obras do Flecheiro, vem agora a saber-se que afinal há pendências que podem condicionar fortemente a conclusão das mesmas. As herdeiras da serração e da fábrica de mosaicos, ambas na extremidade sul, não perecem nada interessadas em negociar com a Câmara a cedência dos terrenos pretendidos, indispensáveis para a conclusão do "arranjo paisagístico" do Flecheiro, para usar a linguagem da casa.
Tudo isto era em grande parte escusado, se logo no início todas as pessoas sentadas à volta de uma mesa tivessem tido conhecimento de que o Flecheiro foi, até meados do século XIX, parte integrante da Várzea grande ou Rossio da vila, onde acamparam as tropas de D. João I e de Nun'Álvares Pereira, antes de partirem rumo a Aljubarrota, há 638 anos.
Quem diz Rossio da vila, diz campo da feira, como acontece ainda hoje Alentejo fora. E terá de voltar a acontecer um dia em Tomar, uma vez ultrapassada a era dos técnicos superiores e dos autarcas surdos, pouco sabedores ou respeitadores das tradições locais. Até porque a Quinta de Marmelais, que também é municipal, fica logo na outra margem. Mas ainda ninguém da autarquia reparou nesse detalhe, que pode mudar tudo com uma pequena ponte. Oxalá!




 

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Política e políticos 

Narrativa inquietante

Presidente da câmara goza com hoquistas do Porto | Tomar na Rede

Vão longe os idos de Maio de 68, quando surgiram nas ruas do quartier latin jovens universitários parisienses revoltados, usando uma linguagem original, da qual nos ficaram expressões como "É proibido proibir", "sob a calçada a areia da praia" "não aos mandarins" ou "governo e patrões mesmo combate". Isto e muito mais, gritado com alguma elegância no tom de voz, por jovens burgueses em grande parte dissidentes do Partido comunista francês, citando à mistura o "Petit livre rouge", do camarada Mao Tsé Tung, ou o "O homem unidimensional", do americano Herbert Marcuse. Sete anos antes do "verão quente" português. E eu estava lá.
Onde isso já vai! Agora, no centro do cantinho mais ocidental da Europa, um jovem autarca simpático mas pouco tolerante resolveu assediar, de forma claramente discriminatória, os atletas de uma equipa visitante, e um órgão local de informação cumpriu a sua obrigação, denunciando a inaceitável e deselegante atitude de um representante eleito da urbe. Simples questão de bom senso, de boas maneiras, de protocolo.  
Inesperadamente, mas nem tanto, surgiram logo no citado jornal electrónico dois comentadores, pelo estilo elementos da guarda pretoriana do partido em causa, defendendo o autarca com nítida falta de polimento, e atacando implicitamente o jornalista autor da notícia, publicada como "opinião", porque o seu autor conhece bem o peculiar microcosmo em que vive e escreve.
O primeiro dos tais guardiões do templo foi assaz sibilino. Limitou-se a escrever que ainda faltam dois anos para as próximas autárquicas, mas já começaram os fait-divers, assim mesmo, no idioma de Voltaire, porém com o significado implícito, dado o contexto, de fait-divers = boatos = calúnias = má-língua. Esperteza saloia. Dar a entender que o jornalista é que não presta, sendo o autarca excelente.
O outro comentador, que pelo estilo parece ser uma velha e bem conhecida raposa política local, foi bem mais longe. Escreveu que não houve qualquer ofensa ou inconveniência por parte do presidente, porque os visados pelo assédio não eram visitantes, mas simples jogadores de hóquei em patins a cumprir calendário. Curiosa visão das coisas. Acrescentou depois que, numa terra virada para o turismo, há forçosamente uma mentalidade servil, onde o velho conceito do respeitinho é muito bonito ainda não desapareceu de certas cabeças. Como se fosse algo nefasto e portanto pouco recomendável, denunciar as patacoadas dos eleitos.
Em resumo, para os dois comentadores citados, o autarca menos educado esteve bem. O jornalista é que prevaricou, ao publicar o que não devia. Situação similar à que ocorre agora em Lisboa com o governo socialista. Tudo boa gente, acima de qualquer suspeita, apesar dos euros escondidos em livros e etc. A PGR e o PR é que estiveram mal e deviam apresentar a demissão. Assim, sem mais. "É tudo uma questão da narrativa", diria o Sócrates, na sequência da sua breve passagem por Sciences-Po Paris, onde sempre aprendeu qualquer coisinha.
Tudo isto é inquietante. Duzentos e dois anos após a extinção do Tribunal do Santa Ofício da Inquisição em Portugal, que mandou torturar e queimar nas fogueiras tantos desgraçados que nem perceberam porque pecaram, e 49 anos após Abril, estamos a voltar à estaca zero. Quem não respeita a linguagem alinhada com as normas do poder, não passa de um reles e indigno prevaricador. Que só não arde na fogueira purificadora porque isso já não se usa, dado que destoaria na Europa a que pertencemos e que nos mantém. Há contudo outras formas de condenação mais subtis, mas quase tão eficazes.
Ainda ontem tive ocasião de ler, no Facebook, um longo e muito bem redigido libelo acusatório, estilo santa inquisição, contra Carlos Moedas, o autarca de Lisboa, subscrito por um capitão de Abril, o qual me deixou arrepiado. Entre outros factores, porque ambos os intervenientes, acusador e acusado, são filhos de militares. Um deles até frequentou o CNA, quando o paí estava colocado no QG de Tomar. Dada a diferença de idade entre ambos, como é possível tanto ódio? Decerto simples tarefa partidária.
Isto é que vai uma crise! Agora até há galinhas doidas, que passam o dia a dar cabeçadas nas vedações do galinheiro, para à noite dormirem com muitos galos.

ADENDA

Entretanto o autarca nabantino suprimiu o seu comentário litigioso, decerto por reconhecer que exagerara. Nem tudo está perdido.


segunda-feira, 27 de novembro de 2023


Aspecto da praia dos Crush, um sector da Praia de Iracema, em Fortaleza, vendo-se o espigão que cobre o emissário de efluentes pluviais, um dos vários existentes na beira-mar.

Ambiente e poluição

Praia de Iracema e Nabão de ir esperando

Poluição mancha cartão postal de Fortaleza (uol.com.br)

As obras de alargamento do calçadão, e remodelação da rede de saneamento no bairro Praia de Iracema, em Fortaleza, (2,5 milhões de habitantes), onde mora o escriba destas linhas, implicaram o fecho do emissário de esgotos pluviais durante algumas horas, o que em princípio não constituía qualquer perigo, dado que a chuva em Fortaleza é rara e em fraca quantidade. Foi por isso uma enorme e desagradável surpresa quando, após a reabertura do emissário,  surgiu uma grande mancha acastanhada, e com mau cheiro persistente, na chamada "praia dos Crush" popular troço balnear da Praia de Iracema. (ver link supra).
Alertadas as autoridades, com elas veio também o pessoal da CAGECE, empresa municipal de saneamento de Fortaleza. Foram recolhidas amostras para análise, e poucas horas depois já se sabia, pela comunicação social, que se tratava de poluição por dejectos humanos, com abundância de coliformes fecais. Imediatamente, a empresa de saneamento mandou proceder  a um rastreio do emissário por meio de um robot telecomandado com imagem, o qual identificou cerca de trezentas ligações clandestinas de ramais domésticos ao emissário pluvial.
Agora, os quase trezentos proprietários prevaricadores, boa parte dos quais ignoravam a irregularidade, estão a ser notificados, para procederem com urgência a regularização da situação, o que não vai ser fácil, pois implica abrir valas nas ruas, para ligar ao emissário doméstico os ramais até agora ligados ao das águas pluviais, alguns dos quais correspondendo a dezenas e dezenas de apartamentos.
Dada a complexidade do problema, sempre são quase 300 alterações, em contextos muito variados, a porta-voz da prefeitura (equivalente da nossa câmara municipal), disse não poder indicar ainda uma data para a reabertura a banhos da zona afectada da Praia de Iracema, acrescentando que tal ocorrerá logo que possível.
Mais sorte têm os tomarenses, decerto por estarem na Europa e não no terceiro mundo, como o Brasil. Questionado pela Rádio Hertz sobre a poluição do Nabão, o presidente Cristóvão não anunciou qualquer rastreio por robot telecomandado com imagem, que até podia revelar algum imóvel hoteleiro municipal a poluir o Nabão. Mas garantiu que a  poluição do rio é um problema com décadas e quem disser que pode ser resolvido de um momento para o outro, está a mentir, apesar de se tratar de poluição orgânica. Tal como na Praia de Iracema.
Concluindo, os dois casos de poluição são afinal semelhantes, apesar de separados por sete mil quilómetros. Em Fortaleza temos a praia de Iracema e em Tomar o Nabão de ir esperando. Deve ser por causa do aquecimento global. O cheiro torna-se mais intenso com o calor. Donde a rapidez do dignóstico em Fortaleza, e a habitual lentidão no vale nabantino. Com o frio, o pivete aguenta-se bem.



sábado, 25 de novembro de 2023




Legislativas de Março 2024

Se não os consegues vencer, contrata-os

Segundo o Observador de ontem, nas vésperas do congresso laranja em Almada, o líder do PSD declarou que, perante a nega da IL para formar uma coligação pré-eleitoral,  os social-democratas vão enveredar pela inclusão de independentes nas suas listas, nas próximas legislativas de Março de 2024. Exactamente a solução aqui apontada em crónicas anteriores, tanto para o PSD como para o Chega, uma vez que o PS local não precisa. Controla a estrutura socialista distrital, e já tem um deputado tomarense na AR, podendo eventualmente acrescentar outro.
Os dois quadros seguintes permitem visualizar a evolução dos resultados eleitorais do PSD e do PS, a nível distrital e local:

RESULTADOS  EM %  NO CÍRCULO ELEITORAL DE SANTARÉM

Anos--------------------PSD------------------------PS

2009------------26,97% - 30,54%--------33,70% - 31,99%

2011------------37,85% - 40,88%--------25,85% - 26,66%

2015-----------35,82% - 38,71%--------32,91% - 32,49%

2019----------25,20% - 27,04%---------37,13% - 38,23%

2022---------26,87% - 27,70%----------41,12% - 42,01%

Dados oficiais das eleições legislativas nas datas indicadas. Para cada partido, à esquerda as percentagens distritais de Santarém, à direita as percentagens no concelho de Tomar.

A primeira observação  é que tendencialmente ambos os partidos têm melhor percentagem a nível local que distrital, excepto PS em 2009, sendo os resultados mais nítidos no PSD. Segue-se que, após uma quebra em 2009, os social-democratas recuperaram e suplantaram os socialistas no distrito em 2011 e 2015, (com o tomarense Relvas no governo), mas a partir de então tem sido só derrotas. E em política, oito anos são uma eternidade. O PS que o diga.

RESULTADOS EM % NAS SUCESSIVAS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

TOMAR------------2009----------2013--------2017----------2021

PSD----------------34,96%-------26,14%-----34,39%-------34,60%

PS------------------26,19%-------27,59%-----40,22%-------39,70%

O PSD ainda conseguiu vencer em 2009, graças aos IpT, mas ferido de asa pela candidatura PS com um dissidente PSD à cabeça (Becerra Vitorino), veio a perder em 2013 por uma unha negra, em contraciclo, e a partir de então sem apelo nem agravo. Donde resulta inexoravelmente que, ou mudam de modus operandi, ou estão condenados a uma apagada e vil tristeza, como diria Camões. Conforme se pode ler no quadro supra, nos últimos 12 anos (2009/2021), o PS Tomar progrediu de 26,19% para 39,70%, um incremento de 13,51%, enquanto PSD se manteve nos 34%, o que mostra que algo não está a funcionar bem na casa laranja.
Que fazer e como fazer então? Encontrar e incluir nas listas, em lugares elegíveis, conforme propõe Montenegro, candidatos independentes. No caso de Tomar, esses candidatos devem ser, além disso, de preferência e se possível, ex-PS o mais conhecidos possível . Por razões evidentes. Seguir a conhecida frase popular, se não os consegues vencer, junta-te a eles.
Uma vez que não é isso que se pretende, mas antes enfraquecer o PS, para mais tarde os poder derrotar, adopte-se então a frase do título: Se não os consegues vencer, contrata-os. Como se faz no futebol e no desporto em geral. É arriscado? Não. Apenas pode prejudicar os militantes tradicionais em termos de expectativa de carreira. Dará resultado? Dá sim senhor. O PS tentou em 2009, com o ex-militante PSD José Becerra Vitorino como cabeça de lista. Perderam, devido à natureza fracturante dos IPT - Independentes por Tomar, que averbaram metade dos votos socialistas e conseguiram igual número de vereadores, dois cada. Mas venceram em 2013, em pleno ciclo PPC-Relvas,  e têm conseguido desde então manter o PSD arredado do poder tomarense, apesar da evidente falta de nível da actual maioria autárquica. Os outros ainda são piores, dizem eles, e a população vai votando como lhes convém..
Nestas condições, tanto o PSD como o CHEGA têm agora pela frente dois caminhos possíveis:
A - Incluir nas listas para as legislativas, e depois para as europeias, pelo menos um candidato de Tomar em lugar elegível, de preferência socialista ex-militante conhecido, como forma de robustecer as candidaturas de 2024, e a  autárquica em 2025;
B - Manter a posição usual de exclusão de independentes locais, e sujeitar-se às consequências. Conforme resulta dos dados antes publicados, só boa vontade e boas intenções não bastam para conseguir mais votos, e assim ter alguma influência na vida política local, regional e nacional. Tal como no futebol, na política os resultados é que contam.
Depois não venham dizer que ninguém vos avisou atempadamente. Está aqui a prova, para memória futura.














   

Gestão turística do património cultural

O Convento de Cristo tão perto e tão longe

Pessoal do Convento de Cristo transferido da DGPC para uma empresa pública | Tomar na Rede

Segundo o Tomar na rede, os 30 funcionários do Convento de Cristo acabam de ser transferidos da DGPC-Direcção-Geral do Património Cultural, para a empresa pública Museus e monumentos de Portugal, EPE. De um sector do Estado, para outro sector do Estado. Porquê e para quê? 
Segundo a justificação oficial, para implementar "práticas de gestão inovadoras que agilizem o cumprimento da missão destes museus, monumentos e palácios, conferindo-lhes maior autonomia funcional, possibilitando a renovação das equipas, a eficiente gestão dos recursos e do património, bem como a valorização do seu elevado potencial cultural, educativo, científico e turístico."
Aquela expressão "agilizem o cumprimento da missão", leva a pensar em militares operacionais, que talvez seja a origem do autor do troço frásico. Mais prosaicamente, usando vocabulário menos bélico, quando há 40 anos o autor destas linhas foi abordado para dirigir o Convento de Cristo, pelo então governador civil eng. José Frazão, a mando do governo socialista, alegou que o monumento nabantino tinha necessidade naquela altura  de dois responsáveis em simultâneo. Um arquitecto, para o património edificado, e um profissional de turismo para a adequada exploração do conjunto monumental.
Não sendo possível naquela circunstância alterar a situação vigente, optou-se pela nomeação de um arquitecto, que veio a favorecer bastante o Convento de Cristo, hoje em dia sem grandes problemas de conservação e restauro, excepto no que concerne ao "Convento velho -Paços do Infante" e ao Aqueduto dos Pegões. 
Quatro décadas passaram entretanto, e estamos por assim dizer na mesma. Evoca-se a necessidade de "práticas de gestão inovadoras", mas opta-se pela simples mudança de tutela do pessoal existente. Fase transitória indispensável? É o que falta saber. Vem no entanto à memória a agora corriqueira frase de Lampedusa "é preciso ir mudando qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma".
Neste caso do Convento de Cristo, pode até vir a ser bem mais grave, se tivermos em conta o princípio de Lavoisier, segundo o qual "as mesmas causas, nas mesmas circunstâncias exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos". Por conseguinte, o mesmo pessoal, no mesmo monumento, com a mesma formação profissional, o mesmo horário semanal e os mesmos vencimentos, só podem continuar a fazer o mesmo que faziam até agora. Adeus práticas de gestão inovadoras? Logo se verá. E não será muito grave. Turista em geral não reclama, porque está de férias e não quer chatices. Além da barreira da língua, quando é o caso A Câmara de Tomar nada diz nestas matérias, porque está cá em baixo e o Convento está a um nível bastante superior, em termos geográficos.
A antiga Casa da Ordem, podendo parecer que não, é o mais complexo monumento português. Edificado sem plano de conjunto ao longo de cinco séculos, engloba construções de cinco épocas diferentes, em quatro pisos distintos, com deficiente articulação. Daqui resultam  problemas de acesso, problemas de entrada, problemas de segurança, problemas de controle, problemas sanitários, problemas de continuidade das visitas, problemas de horário e dias de funcionamento problemas de formação e problemas de direitos dos funcionários. Para não mencionar problemas de estacionamento e de segurança no exterior, da responsabilidade da autarquia.
Num outro país, em Espanha ou França, por exemplo, as duas maiores potências europeias na área turística, perante um tal rol de carências e outras dificuldades, é costume optar-se pelo recurso a pessoas ou entidades credenciadas, no sentido de produzirem relatórios circunstanciados tipo observação > diagnóstico > proposta terapêutica. Em Portugal, infelizmente, (em Tomar nem vale a pena falar), não há essa cultura de recorrer a consultores externos. "A gente cá se desenrasca", "Somos tão bons como os melhores", é quase sempre a ladainha da casa. Não admitem que há problemas internos. Com os resultados que estão à vista, de quem os queira e saiba ver.
Resta portanto aguardar, enquanto se vai observando a implementação da reforma agora iniciada pelo governo na área do património, para depois comparar com os resultados obtidos pela Parques de Sintra Monte da lua, EPE, que há anos vem gerindo os monumentos de Sintra e o Palácio de Queluz, com avaliação três estrelas num conjunto de cinco, pelos órgãos da especialidade e ultimamente alguns conflitos laborais.



sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Hermínio Martinho e Ramalho Eanes, na origem do PRD, em 1985. Imagem Diário de Notícias


Partidos políticos

Um meteoro chamado PRD

Com o CHEGA bem lançado para obter um resultado histórico na legislativas de Março 2024, graças à ajuda involuntária do PSD, do PS e da extrema esquerda, ao demonizarem o partido de André Ventura, parece oportuno demonstrar que a vida partidária pode ser muito traiçoeira, cheia de altos e baixos,  por vezes até muito curta. Um pequeno erro pode ser a morte do artista.  
Em 1985, tinha André Ventura 2 anos de idade, apareceu em Portugal mais um partido político. Patrocinado pelo então presidente da República, general Ramalho Eanes, e tendo como líder no terreno o ribatejano eng. Hermínio Martinho. o PRD - Partido Renovador Democrático, de centro esquerda, conseguiu um êxito estrondoso, logo nas primeiras eleições a que concorreu. Obteve a nível nacional 18,35% dos votos expressos e 45 deputados, o que o colocou  como 3ºmaior partido, mas com muito mais votos que o Chega conseguiu em 2022: 7,18% e apenas 12 deputados, embora seja também a 3ª força partidária na AR. Prudência, portanto.
No concelho de Tomar, tido como conservador, os resultados do PRD em 1985 deixaram muita gente com a cabeça à roda:

Legislativas 1985 - Resultados oficiais no concelho de Tomar

PSD - Partido Social Democrata----------------33,12%.-------------9.172 votos

PRD - Partido Renovador Democrático------24,30%--------------6.730 votos

PS - Partido Socialista---------------------------18,04%--------------4.994 votos

APU - Aliança Povo Unido----------------------7,25%---------------1.341 votos

Naturalmente satisfeitos e entusiasmados com tais resultados, dois anos mais tarde, em 1987, os dirigentes do PRD apresentaram na Assembleia da República uma moção de censura ao governo PSD-CDS, a qual foi aprovada com os votos favoráveis do PRD, do PS e da CDU. Azar dos azares, Mário Soares, que entretanto sucedera a Ramalho Eanes como Presidente da República, recusou dar posse a um governo de coligação PRD-PS-CDU, porque não queria os comunistas no governo. Dissolveu a AR e convocou eleições legislativas antecipadas.
Os resultados foram catastróficos para o PRD, que caiu para apenas 4,91% dos votos e 7 deputados. No concelho de Tomar os resultados foram semelhantes:

Legislativas 1987 - Resultados oficiais no concelho de Tomar

PSD - Partido Social Democrata-------------58,11%-------------15.811 votos

PS - Partido Socialista-------------------------20,51%--------------5.581 votos

PRD - Partido Renovador Democrático-----5,30%-------------1.443 votos

CDU - Coligação Democrática Unitária----4,93%--------------1.341 votos

Fica assim demonstrado que na política portuguesa, mesmo com listas partidárias fechadas, convém ir fazendo tudo da melhor maneira possível, sob pena de trabolhão a curto prazo. Foi o que aconteceu ao PRD nos idos de 80 do século passado, ao ter maior olho que barriga. Deviam ter conversado com o PR, antes de apresentarem a moção de censura, como fez muito mais tarde Costa, antes da geringonça. E tal percalço poderá muito bem vir a acontecer a qualquer outra formação partidária. Basta escorregar. Conforme referiu o republicano francês Gambetta, "A política é a arte do possível, toda feita de execução." De tal forma que, quando é mal interpretada, há desastre. Sic transit gloria mundi. A glória é sempre transitória. 
Cautela e caldos de galinha, nunca fizeram mal a ninguém. Um deputado tomarense na AR  e outro em Estrasburgo, seriam poderosas alavancas para as eleições respectivas, bem como para a candidatura CH à Câmara de Tomar, em 2025, sem as quais, a ver vamos.

Legislativas 2022 - Resultados oficiais no concelho de Tomar

PS - Partido Socialista-------------------42,61% ----------8.240 votos

PSD - Partido Social Democrata-------27,70%----------5.357 votos

CH - Partido Chega------------------------9,86%----------1.907 votos

BE - Bloco de Esquerda-----------------5,12%------------990 votos

CDU - PCP-PEV---------------------------3,68%-------------697 votos



quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Promoção turística no estrangeiro

Contas à moda de Tomar 

ou contas de sumir

A expressão "contas à moda do Porto" é bem conhecida, embora haja duas versões: "à moda do Porto" e "à moda do porto". De qualquer forma em ambas, porto cidade ou porto de atracação, significa o mesmo. Cada um paga aquilo que consumiu. Com os sucessivos adiamentos das contas dos tabuleiros, e agora com um relatório camarário que mão amiga fez chegar a TAD3, parece haver também "contas à moda de Tomar". São contas de sumir, como já se verá mais adiante, e pagam os mesmos de sempre -os contribuintes.
O PSD, que no mandato em curso se tem mostrado mais à altura do seu estatuto de formação líder da oposição, requereu na AM o relatório da ida de uma delegação de Tomar à FITUR -Feira Internacional de Turismo de Madrid, em 2021, 2022 e 2023. Receberam agora os documentos solicitados e ficaram a saber que em 2021 e 2022, não foi ninguém do Município de Tomar à referida feira internacional. Só em 2023, para promover a Festa dos tabuleiros e Tomar cidade templária.
De acordo com o relatório, deslocaram-se à capital espanhola a vereadora do turismo e cultura, a chefe de divisão e maias duas funcionárias, que asseguraram o atendimento no stand de Tomar, embora nenhuma fale castelhano. Além dessa lacuna, impõe-se perguntar o que terão ido fazer, uma vez que também lá estavam o Turismo de Portugal, que tem a seu cargo a promoção do turismo português no estrangeiro, e a Entidade de Turismo do Centro, que promove o turismo da região que engloba Tomar. Mas pronto. A ordem é rica e os frades são cada vez menos, de maneira que vale mais haver três entidades para a mesma tarefa do que não haver nenhuma.
Ainda de acordo com o referido documento, o pequeno stand de 3 X 3 pronto a usar, foi alugado por 7.122 euros e 94 cêntimos, tendo sido distribuído material promocional no valor estimado de .1800 euros. A quem? 11 empresas de turismo e 500 pessoas, entre as quais alunos de turismo da Escola superior de Peniche e alunos e professores do Politécnico de Tomar.
Uma pessoa lê e tem alguma dificuldade em aceitar, porque  "isto é gozar com quem trabalha", como diria o RAP da TV. Usando a ideia de uma frase publicitária à entrada do mercado nabantino, "Para quê ir tão longe se Tomar é mesmo aqui?" 
E chegamos finalmente às tais contas à moda de Tomar, ou contas de sumir. Deslocaram-se a Madrid (Espanha) para a FITUR, uma eleita e três funcionárias, que naturalmente foram abonadas de ajudas de custo, além dos  transportes, alojamento e alimentação, tudo pago pela autarquia, como é usual. Ou seja:
> 4 viagens  Tomar-Madrid-Tomar, via terrestre ou de avião;
> 3 pernoitas x 2 ou x 4 quartos,  num hotel de pelo menos 4 estrelas;
> transportes urbanos, ou taxi, para 4 pessoas ida e volta, em Madrid;
> 3 refeições diárias (PA+A+J) x 4 x3 = 36
Quanto custou tudo isto, mesmo sendo as tarifas espanholas mais abordáveis que em Potugal? Não sabemos. O referido relatório é omisso nessa matéria, para usar linguagem oficial. São as contas à moda de Tomar, ou contas de sumir. 
A oposição vai-se calar? Trata-se de um caso evidente de falta de respeito pelo parlamento municipal, ao fornecer dados intencionalmente incompletos, para assim ocultar despesas sem justificação plausível. Foram a Madrid para aí conversarem sobre o turismo em Tomar com alunos e professores dos Politécnicos de Peniche e de Tomar. Teria sido bem mais prático e barato convidá-los para visitas guiadas à cidade, ao concelho e ao Convento, naturalmente acompanhadas por quem saiba mesmo o que anda  a fazer.
Mandar para Espanha duas funcionárias, hospedeiras na circunstância, que não falam espanhol, não lembrava ao diabo, mas foi o que aconteceu, segundo o relatório em questão. Donde a impressão geral final: facilitismo, falta de rigor, tendência para a bandalheira.