domingo, 20 de fevereiro de 2022

 


Informação local - Tomar a dianteira 3

Paragem para pensar melhor

Não vá dar-se o caso de alguns raros leitores ficarem tristes, e outros, bem mais numerosos, irem já comprar foguetes, ou uma garrafa de tintol para celebrar, começo por esclarecer que estou bem de saúde. E continuo a dormir as minhas oito horas por noite. Além de uma curta sesta, inferior a uma hora.
Sucede que, olhando o bairro de pescadores à beira da água, mesmo aqui debaixo da varanda, os barcos de pesca um pouco mais ao longe, a capitania do porto, do lado esquerdo, e a longa fiada de arranha-céus da beira-mar, (ver imagem supra) dei comigo a matutar, a pensar na vida e no hemisfério de cima, o do norte.
Dois temas centrais -a nova situação política no país e o leitorado de Tomar a dianteira 3 . Sobre a política nacional, só não fiquei agoniado com  a atitude do camarada António Costa porque me considero tolerante. Ainda assim, tenho de manifestar o meu repúdio pela atitude do actual e futuro primeiro-ministro, ao receber e ouvir todos os partidos com assento parlamentar, excepto o Chega. Porque sou eleitor deste partido? Claro que não! Apenas porque, encurtando argumentos, se até a polícia aceita negociar com criminosos quando há reféns, em que se apoia Costa para recusar conversar com Ventura e os seus quase 400 mil eleitores-reféns? Os eleitores do Chega não são portugueses como os outros? Com a extrema direita não se conversa? Luta-se à paulada, a tiro e à facada, se for preciso? E eu a pensar que o PS era a esquerda moderada, como no tempo do meu falecido amigo Mário Soares...
O outro tema é este blogue. Tenho constatado, graças ao Google, que o leitorado diminui drasticamente, sempre e quando escrevo de forma mais agreste sobre a actual maioria socialista local. O que tende a mostrar que há algo de menos ponderado da parte dos leitores, ao considerarem injusto o que vou alinhavando, mal ou bem. Uma espécie de fervor religioso para com os detentores do poder, que os leva a deixar de ler para proteger os "santinhos". Como bem sabemos, questões de fé não se devem discutir. Ou se acredita ou não. E os tomarenses sempre foram crentes. Intolerantes, porque crentes.
Há depois a própria distribuição geográfica dos leitores de TAD 3. Só 65% residem em Portugal. Os restantes 35% repartem-se entre os Estados-Unidos (11%), Brasil (8%), Alemanha (7%), Bélgica (3%), Inglaterra (2%). É pena que a contagem google disponibilizada não permita localizar os 65% residentes em Portugal. Com alguma sorte, ainda era capaz de se concluir que a maioria vive longe de Tomar. Há naturalmente o maior respeito pelos tomarenses migrantes, da parte de quem também já foi emigrante. Mas a principal função deste blogue não devia ser essa, de elo de ligação entre os migrantes e a sua terra natal, antes um areópago para o debate sereno dos problemas locais. Infelizmente, tal não é o caso, como se constata.
Com uma ou outra notável excepção, ninguém assume que lê Tomar a dianteira 3, certamente por temer represálias. 
De  tudo isto resulta que o autor deste blogue é, ao que parece, persona non grata em Tomar, a sua própria terra natal. A menos que se cale. "Que meta a viola no saco", para usar a expressão dos seguidores da actual maioria. No tempo da santa inquisição, essa nobre instituição católica que tão bons resultados facultou, e que começou em Tomar, já teria ardido na fogueira purificadora. Na era de Salazar e da sua PIDE, outra nobre instituição, já estaria no forte de Peniche, com os pés na água fresquinha do Atlântico.
Tudo isto com o apoio, pelo menos tácito, dos tomarenses em geral, todos alegando excelentes razões para assim procederem. Os meus queridos conterrâneos, quanto mais mudam, mais estão na mesma. Embora vão procurando esconder, com pouco êxito. De forma que, peço licença para algum tempo de ponderação. O que ainda não evoluiu em Tomar, quase meio século após Abril, é agora muito pouco provável que venha a evoluir. E nessas condições, não estou interessado em continuar a pregar no deserto, e mesmo assim incomodar os da situação. Se até nem estou mal de todo na vida, vivendo à beira-mar, no hemisfério sul, com calor durante todo o ano, para que hei-de andar  a arranjar inimigos e a cansar-me em prol dos outros, nalguns casos pobres de espírito e mal agradecidos?

sábado, 19 de fevereiro de 2022



Política local - Urbanismo

Finalmente uma luz ao fundo do túnel?

Os leitores terão lido e passado adiante o link aqui publicado anteriormente:
https://www.mediotejo.net/tomar-planos-em-elaboracao-ou-revisao-para-serem-instrumentos-de-gestao-de-territorio-exequiveis/
Compreende-se. Para quem por cá anda já há  uns tempos, a época não está para esperanças, mas para o desalento. Recordemos essas declarações do sr. vereador Cristóvão. É naturalmente positivo, e inculca esperança de que melhores dias poderão estar para vir, um membro da maioria PS dizer que há "planos em elaboração ou revisão para serem instrumentos de gestão do território exequíveis."
Vem porém logo a seguir a constatação de que levou nove longos anos para chegar a tal conclusão. Sendo certo que mais vale tarde que nunca, até prova em contrário são apenas declarações que valem o que valem. Quem nos garante que dentro de alguns anos não vão alterar de novo os tais "instrumentos de gestão do território" em sentido inverso, com o mesmo argumento, ou outro semelhante?
Afinal, estamos numa terra cuja autarquia precisou de cinco anos para modernizar uns simples sanitários. Pior ainda: Uma autarquia que há mais de dez anos se recusa a fazer o óbvio e inevitável. Proceder ao realargamento de curtos troços da estrada do Convento, que ficaram demasiado estreitos para o cruzamento de dois autocarros, devido a erros nas obras pagas pela Câmara. Estão à espera de quê?
A ideia que fica, para os comentadores mais atentos, é que continua em curso um braço de ferro entre a maioria PS e alguns quadros superiores da autarquia, que se consideram donos da casa, onde não passam afinal de servidores públicos, embora a designação lhes possa desagradar. Simples exagero? Pois demonstrem na prática que assim é. "Que bem prega Frei Tomás! Façam o que ele diz; não olhem para o que ele faz!"
Ou ainda, para os mais saudosistas, a conhecida tirada do velho Botas de Santa Comba: "Na política, o que parece é!" E neste caso o que parece é que alguns autarcas e quadros superiores da autarquia continuam a brincar com os munícipes, que infelizmente disso se não dão conta, por manifesta carência cabeçal. As coisas são o que são. Mesmo em época de Carnaval, as máscaras não conseguem esconder tudo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

 


Política local - Gestão do território

Realmente muito estranho, mas estamos em Tomar

Um amável leitor enviou para Tomar a dianteira 3 um link que deve merecer toda a atenção dos leitores tomarenses. Sobretudo dos mais directamente interessados, que são muitos. Eis essa ligação:
https://www.mediotejo.net/tomar-planos-em-elaboracao-ou-revisao-para-serem-instrumentos-de-gestao-de-territorio-exequiveis/
No mesmo mail, o conterrâneo lastima-se, estranhando que a informação local nada publique sobre estes assuntos de interesse colectivo. Partilho dessa opinião e parece-me suspeito tal silêncio. Mas será só porque a informação local está quase toda controlada de facto pela actual maioria autárquica? Não haverá também alguma incompetência e falta de recursos humanos à mistura?
Há depois uma outra faceta, que o amável leitor não abordou, mas que considero igualmente muito estranha. Procurando abreviar, resumo-a  em duas perguntas: Porque será que só agora, no 9º ano de governação PS, onde vai sempre tudo muito bem, começa a haver coragem e disponibilidade para modificar os evangelhos da paróquia dos sentados? Precisão a quanto obrigas?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

 

Ruínas da ponte romana, em S. Lourenço

Ruinas ditas do fórum de Sellium - Obras municipais

Que tal fazer as coisas "by the book"?

Na sua magnanimidade, a actual maioria camarária, apoiada pela oposição PSD, dá mostras de pensar que basta querer para assim ser.  Abreviando, estão a ser feitas, ou já previstas, obras camarárias num montante global superior a um milhão de euros, para musealizar uns pobres alicerces, apelidados de "ruínas do fórum de Sellium". O que coloca um triplo problema. Em primeiro lugar não há, que se saiba, quaisquer provas incontroversas de que aquilo seja romano. Pode ser, como pode não ser. Tanto quanto se sabe, nunca houve sequer testes de carbono 14 para estabelecer datações. Porquê? Medo dos resultados?
Em segundo lugar, mesmo concedendo que possam ser restos de construções romanas, quem garante que pertenceram ao centro cívico de Sellium? Apareceu alguma inscrição nesse sentido? Algum marco miliário, ou outro elemento arquitectónico nobre? Em que se basearam afinal para baptizar as ruínas? Porque teve a Câmara o cuidado de antes das obras solicitar e obter a desclassificação das ruínas romanas ditas da Nabância, dois quilómetros mais abaixo, nuns terrenos que até lhe pertencem, pelo menos em parte?
Em terceiro lugar, dando de barato que sejam ruínas romanas e restos do centro cívico de Sellium, é evidente que não têm qualquer interesse para o turismo. Quem já acompanhou muitos grupos no Convento de Cristo não ignora que até aí por vezes há visitantes que murmuram no final da visita "É só pedras!". Agora imagine-se o que dirão sobre as alegadas "ruínas do fórum de Sellium", que não têm nada de notável, ou monumental. Vai ser um fiasco e dos grandes!
Se a srª presidente e os seus seguidores estivessem realmente interessados no passado romano tomarense, em vez de encomendarem um relatório para apoiar a desclassificação das ruínas da Nabância, monumento nacional desde 1910, teriam ido noutra direcção. Sabendo-se que há uma ponte romana em S. Lourenço, haverá decerto também restos de  calçada romana de cada um dos lados. Uma vez que o terreno do lado nascente ainda está livre de construções, que tal encomendar o seu mapeamento, com recurso a um drone equipado de geo-radar? Assim se chegaria de novo às ruinas da Nabância -que o arqueólogo Batata afirma, num relatório pago pela Câmara,  não ter conseguido localizar- e se poderia concluir se são ou não ruínas de Sellium. Era uma bronca e das grandes, não era? Mas poupava-se muito dinheiro e muitos aborrecimentos futuros.
Porque, de qualquer modo, a história não acaba aqui. Segundo o velho provérbio, "dá tempo ao tempo, e o tempo dá-te todas as respostas".

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

 

Imagem 1 -  googlemaps2021

Imagem 2 - Itinerários de Antonino, ou Antonino Augusto (Séc III) na Península Ibérica. Como se vê, de Sellium, nem sinais. No itinerário XIV/XVI apenas constam Olisipo, Scallabis, Conimbríga e Bracara


Alegadas ruínas do fórum de Sellium

Por favor esclareçam os leigos na matéria

Numa altura em que decorrem as obras de edificação do futuro centro de interpretação daquilo que a autora do achado chama "Ruínas do fórum de Sellium", causou algum impacto a crónica anterior. Vários leitores confessaram-se surpreendidos, o que não deixa de ser estranho, quando se sabe que a polémica sobre as alegadas ruínas dura há mais de três décadas. Ainda assim, procurando esclarecer na medida do possível, junta-se uma imagem de satélite da googlemaps, a qual permite uma ideia mais precisa da zona em causa.
Após anos e anos cobertas de vegetação, começadas as obras, a Câmara e o empreiteiro têm sido extremamente cautelosos. Está tudo vedado,  e entrar ou sequer espreitar, nem pensar. A tal ponto que, conforme também já aqui foi referido, a jornalista Isabel Miliciano, directora do Templário, já pediu publicamente à Câmara acesso às obras de S. João e às do pretenso "fórum romano de Sellium".
Enquanto tal não acontece, caso venha mesmo a acontecer, a imagem um supra mostra o que via o satélite, antes de começadas as obras. Que é afinal muito pouca coisa. Do lado esquerdo, no sentido norte sul, o que parece ser o alicerce de um longo e espesso muro, entrecortado por dois outros transversais, bastante mais pequenos.  Mais para a direita, orientado sudoeste-nordeste, um outro alicerce, semelhante a um M com a perna esquerda partida. Há também, esparsos na imagem, vários alicerces em forma de L deitado.
Na ausência de outros elementos de arquitectura (cantarias, colunas, pavimentos, paredes, mosaicos, etc.) Seria de toda a conveniência que a srª arqueóloga autora do alegado achado viesse explicar aos leigos na matéria, entre os quais o autor destas linhas, de preferência por escrito, porque palavras leva-as o vento, o que se vê realmente na imagem de satélite, e como é que a partir daí chegou à conclusão de se tratar das ruínas do fórum de Sellium.
Seria um belo contributo para a história local, uma vez que, no estado actual dos conhecimentos, ninguém sabe em bom rigor onde se situa ou situava Sellium, um opidum romano que estará mencionado num dos itinerários de Antonino, quanto mais agora o seu centro cívico. Aquilo a que a srª arqueóloga resolveu apelidar de fórum, logo desde do início, apesar de inexistirem provas factuais de existência de um tribunal, resultado de um foro = fórum em latim, no caso a competência para aplicar o direito consuetudinário.
Vamos ter finalmente direito às almejadas explicações técnicas detalhadas? Ficará para aquando ou depois da inauguração do centro de interpretação? Que tencionam mostrar ao público nesse tal centro? Imagens de realidade virtual, tipo Ben Hur, Os dez mandamentos, Quo vadis, ou A queda do império romano? 

ADENDA, às 11H19 de 16/02/2022

Para mais informação, estilo neutro, como os leitores tomarenses tanto gostam, recomenda-se esta peça da mediotejo.net, datada de 1 de Março de 2021.
 Aí se podem ler estas afirmações de Anabela Freitas: "Na primeira fase... ...vão ser criados percursos para visitação através de passadiços. Na segunda fase será tratada a fase de musealização com criação de conteúdos."
Confirma-se assim que aqueles alicerces não têm nada que valha a pena visitar. Prova disso é que vão ser "criados percursos para visitação", e depois "musealização com criação de conteúdos." Realidade virtual, em suma.
Se gosta de comparar com os vizinhos, basta digitar ruínas villa cardilio torres novas, onde não impera a megalomania nabantina
Boa leitura!.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

 Autarquia - Património

Não é bonito enganar o pagode pagante

Imagem 1 - Fórum romano e Palatino - Roma - Itália

Imagem 2 - Praça oval do fórum romano de Jerash - Jordânia

Imagem 3 - Aspecto do Fórum romano de Efeso - Turquia

Imagem 4 - Ruinas do fórum romano de Volubilis - Marrocos

Imagem 5 - Espectáculo nas ruinas  do teatro romano que integra o fórum de Mérida - Espanha

Imagem 6 - Templo romano nas ruinas do fórum de Balbek - Líbano

Imagem 7 - Ruinas das Arenas de Lutece, parte do fórum romano de Paris


Imagem 8 - Ruinas do fórum romano de Douga - Tunísia

Imagem 9 - Anfiteatro romano de Nimes - França que integrava o fórum da cidade romana de Nemausus


Imagem 10 - Aspecto das ruínas romanas de Conímbriga, cujo alegado fórum parece estar na origem do mal-entendido nabantino.

Teve a paciência de ver tudo até aqui? Então faça mais um esforço, respondendo a uma pergunta simples. Com milhares de excelentes vestígios romanos por esse mundo fora, de que estas dez fotos são uma pobre amostra, valerá a pena, fará sequer sentido, gastar perto de um milhão de euros + despesas de manutenção e funcionamento, nuns vestígios alegadamente romanos, que nem para os especialistas são aliciantes? Se era mesmo algo romano, onde estão as bases, fustes, capitéis, cornijas, entablamentos, lintéis, métopes, frontões, aduelas, arcos, ombreiras, mosaicos, estatuária e outros? Evaporaram-se? Somos assim tão ricos, para andar a gastar dinheiro com caprichos fantasistas e mal documentados?
Refiro-me obviamente àquela coisa que está a ser edificada nas traseiras do quartel dos bombeiros, pomposamente, mas sem qualquer base credível,  apodado de "Museu do Fórum romano de Tomar". Ou será antes "centro de interpretação" ?
Cada um arranja os fóruns e os museus que pode. Mas é feio abusar da credulidade alheia



domingo, 13 de fevereiro de 2022

 



Gestão autárquica - museus

Para além do bom senso e do entendimento comum


O acervo do museu municipal João de Castilho, legado João Martins de Azevedo, com muitas obras de Carlos Reis e João Reis, que o município torrejano bem gostaria de ter, por se tratar de conterrâneos seus, foi desmantelado e recolhido durante os mandatos PSD da época António Paiva. Mais de 10 anos passados, continua aparentemente a aguardar melhor local de exposição, uma vez que o  primitivo, no 1º piso do edifício do turismo municipal, continua disponível e praticamente devoluto. Entretanto as telas dormem engavetadas, algures na travessa Gil de Avô. Ou já estarão alhures?
O prometido Museu dos tabuleiros continua na cabeça dos seus mentores, que ainda não terão conseguido arranjar um local, nem estabelecer com rigor o conteúdo de tal espaço expositivo.
O Museu do brinquedo, anunciado desde há mais de 20 anos, e entretanto armazenado no ex-convento de S. Francisco, continua a aguardar melhores dias, enquanto os herdeiros do doador manifestam na Câmara a sua discordância com os termos da doação.
Neste contexto multi-museológico, digamos assim, a srª presidente tem vindo a mencionar algo que no mínimo parece pouco cauteloso. Anunciou que a autarquia subscreveu um protocolo com uma entidade privada, até agora pouco ou nada conhecida em Tomar, nos termos do qual a Câmara cede a essa entidade (gratuitamente? com aluguer mensal? renda anual? a título  definitivo? com que base legal?) o edifício "Casa dos tectos", onde ainda funciona a Escola profissional, propriedade do Município, para nele ser instalado um "museu templário".
De tão insólita decisão resultam consequências várias e graves, que importa esclarecer. Antes de mais, 1 - Qual o acervo do futuro museu templário? 2 - Alguém já garantiu ao Município o valor e a autenticidade do espólio a expor? 3 - Quem vai assegurar financeiramente o funcionamento do museu? 4 - Haverá entradas pagas?
Além de tudo isso, que não é nada pouco, antes pelo contrário, há uma outra questão. O citado protocolo implica a inevitável mudança da Escola profissional, há anos prevista para parte das instalações do antigo Colégio Nun'Álvares. Como se fosse a coisa mais natural deste mundo, Anabela Freitas, no uso das suas competências, já anunciou que o Município terá de contrair um empréstimo bancário para financiar as indispensáveis obras de requalificação, uma vez que não há financiamento europeu disponível para tal fim. Dado o comportamento costumeiro da actual maioria socialista, vai ser coisa para uns milhões de euros, em época de acentuada subida de juros.
E vem mais uma série de perguntas: Porque razão não há fundos europeus disponíveis, tratando-se de re-instalar uma escola de ensino profissional, reconhecida pelo Ministério da Educação? Ao anunciar o empréstimo como indispensável para realizar a obra, e a subsequente transferência da escola, depois de já ter  assinado um protocolo que estabelece a transferência da actuais instalações escolares, em condições ainda por conhecer, não estará a srª presidente a contar  com o ovo no oviduto da galinha? Mesmo dispondo de maioria absoluta no executivo, quem lhe garante que a Assembleia Municipal vai aprovar o empréstimo? É outra vez a chamada "técnica Tejo Ambiente", em que a srª presidente garante que seja como for a Câmara tem de pagar, porque já se comprometeu? E haverá uma maioria de deputados municipais para ir de novo nessa conversa? É só uma pergunta.
Há também uma outra dúvida. Numa autarquia que necessitou de cinco anos para requalificar uns simples sanitários públicos (os da Várzea grande); numa autarquia que já leva mais de três anos para fazer o projecto do parque empresarial da Sabacheira; vai haver tempo para contrair o empréstimo bancário, adaptar as novas instalações, equipá-las,  transferir a escola e instalar o tal museu, ainda durante este mandato? Ou a "encomenda" vai ficar para quem vier a seguir?
Pode ser que tudo isto seja agora boa política e excelente gestão municipal. Endividar-se para instalar um espólio privado que os tomarenses em geral desconhecem e nem sequer sabem de onde virá. Apenas se conseguiu apurar até agora  que o seu actual director é um tal "comendador de Sintra", de uma dessas novas ordens ditas templárias. Pode ser até que seja o almejado tesouro dos templários. Pode ser, mas a mim não me parece. Estarei a ser de novo demasiado agreste?
A fechar por agora, cabe recordar, para os mais distraídos e hipnotizados por certas falácias, que quem terá de pagar o previsto empréstimo e os respectivos juros, são os contribuintes/consumidores tomarenses, que ainda cá residirem. Para instalar um museu particular? Por alma de quem?

sábado, 12 de fevereiro de 2022

 


Poder local - Liberdade de informação

Ao que isto já chegou

Ouvimos falar  da Venezuela, de Cuba ou da Coreia do Norte, por exemplo, e pensamos para com os nossos botões, que felizmente são surdos e mudos, "Coitada daquela gente toda! Lá tão longe e o que lhes havia de calhar na vida. Felizmente na Europa já nada daquilo é possível."
Não mesmo? Tem a certeza? Ora faça favor de ler este pequeno apelo, publicado esta semana na página 2 d'O Templário e assinado pela sua directora, Isabel Miliciano:

DESAFIO LANÇADO À CÂMARA DE TOMAR

"O Vice-presidente da Câmara de Tomar, Hugo Cristóvão, publicou na sua página do Facebook um conjunto de fotografias das obras de restauro da Igreja de S. João Baptista. O Templário lança o desafio à Câmara de Tomar para que a imprensa tomarense possa realizar uma visita às obras em curso, quer deste monumento, quer do Fórum Romano, para que possamos informar os nossos leitores sobre como estão a decorrer as referidas obras, e fazer um registo fotográfico para memória futura. Afinal, achamos que seria de todo importante este registo e a devida informação ao público.
Não será por uma questão de segurança, até porque temos conhecimento que alunos e professores do Politécnico de Tomar já efectuaram visitas às obras da Igreja de S. João Baptista.
Fica aqui o desafio que lançamos, e aguardamos que o mesmo tenha uma boa recetividade por parte do executivo tomarense." ISABEL MILICIANO

Seja qual for a interpretação de cada leitor, o que daqui resulta é claro como água de rocha: a Câmara de Tomar proibe de facto os jornalistas de exercerem cabalmente a sua profissão, ao negar-lhes acesso às obras municipais em curso. Já se sabia que a actual maioria tem vindo a comprar o silêncio e o apoio da informação local. Acrescenta-se agora que, além disso, impede o acesso dos jornalistas às fontes de informação. Tudo isto num país da União Europeia, e tratando-se de obras financiadas a partir de Bruxelas, cuja Comissão  exige sempre, como lhe compete, o maior rigor e transparência. Só que no caso de Tomar...
Estamos assim perante duas obras polémicas, postas a concurso pela autarquia tomarense. Uma, a da Igreja de S. João, porque não é da responsabilidade da Câmara e sim da DGPC - DGEMN. Falta portanto esclarecer que confusão terá levado o poder local a financiar obras da responsabilidade do poder central. A outra, por se tratar de um empreendimento baseado em fantasias sem suficiente apoio académico ou sequer factual, cujo futuro é por isso muito problemático.
Acresce que estes lamentáveis entraves à liberdade de informação, são praticados por eleitos socialistas, que têm obrigação de conhecer a Constituição da República Portuguesa: "Artigo 37º - Ponto 1 - "Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem, ou por qualquer outro meio, bem como O DIREITO DE INFORMAR, DE SE INFORMAR E DE SER INFORMADO, SEM IMPEDIMENTOS NEM DISCRIMINAÇÕES."
Que uma Câmara Municipal procure silenciar a informação, tanto mediante subsídios como impedindo os jornalistas de acederem às fontes, seria um escândalo e dos grandes, se não estivesse a acontecer em Tomar, cuja população, para usar uma corriqueira frase feita local, "já está e sempre esteve por tudo".
Escrevo sobretudo para memória futura. Para ser lido daqui por 10 ou 20 anos. Neste caso com um pouco mais de empenhamento, porque fui baptizado na Igreja de S. João Baptista, em Agosto do ano já longínquo de 1941.
Incito a directora do Templário a não desistir. Cá por mim, só para confirmar ou não umas suspeitas antigas, gostaria muito de ter acesso aos movimentos de meia dúzia de contas bancárias, que nem sequer são de eleitos. É que há obras cujos projectos são demasiado extravagantes, executadas por empresas cuja competência técnica nem sempre tem estado à altura das circunstâncias. Por conseguinte...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022



Câmara - ambiente

Os instalados temporários e o ambientalismo

O detalhe saliente nas obras camarárias mais importantes é a inclusão de pistas cicláveis. A Nun'Álvares até tem uma de cada lado.  Ambas calcetadas com paralelopípedos brancos, para dar um ar de antanho e de ruralidade. A falha é a Várzea grande, onde se esqueceram dos ciclistas. Não há por ali qualquer pista ciclável. Acontece...
Ainda assim, fica a ideia que a actual maioria, ou as eminências pardas que a dirigem de facto nos aspectos práticos, pretende defender o ambiente, o que nas presentes circunstâncias implica poupar água e evitar a poluição na medida do possível.
Quanto à poupança de água, foi destruído durante os mandatos de António Paiva (que os seguidores da actual maioria odeiam) o sistema tradicional de rega do Mouchão, utilizando a água da roda e por conseguinte neutro para o ambiente. Uma vez que a roda continua a funcionar, que tal acabar com o actual sistema por aspersão automática, com água da rede pública, que volta e meia até dá uma chuveirada num passante desprevenido? Até se podia alargar à Várzea pequena, bastando para tanto efectuar as obras necessárias. Estão à espera de quê?
Na mesma linha, tendo em vista a defesa do ambiente e do património, vai sendo tempo de elaborar planos que permitam a prazo proibir o acesso de veículos ao Convento e ao Castelo, excepto para os moradores na área, que são poucos. Isto porque, para além da impossibilidade de conseguir estacionamento para tanta afluência, a não ser destruindo irremediavelmente a paisagem, avulta o problema da poluição. São anualmente centenas de milhares de veículos, a gasolina e a gasóleo, cujos fumos de escape vão atingindo paulatinamente as velhas pedras calcáreas do Castelo,  do Convento e da capela da Conceição.
É certo que num futuro mais ou menos próximo os veículos deixarão de queimar combustíveis fósseis. Mas continuarão a usar pneus, óleos vários e placas de travões, cujas poeiras também vão poluíndo, como bem sabe quem vive perto de grandes vias de comunicação.
Só para lembrar aos mais distraídos, como é óbvio só se poderá proibir o acesso motorizado ao Convento-Castelo-Srª da Conceição, depois de terem sido instaladas cá em baixo as indispensáveis condições de estacionamento, informação e acesso, cuja exploração até facultará milhões anualmente.
Tal como no caso da rega tradicional no Mouchão, estão à espera de quê? Já  perdemos a excelente oportunidade da bazuca europeia. Querem perder também as seguintes? São agora bem conhecidos dois provérbios de origem chinesa. O primeiro diz que "Se deres um peixe a um homem, ele alimenta-se uma vez. Se o ensinares a pescar, pode alimentar-se toda a vida." O outro é mais simples: "Quando o dedo aponta a Lua, os idiotas ficam a olhar para o dedo."

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

 


Autarquia - Arruamentos urbanos

Um passadiço para enfeitar e pouco mais

Há mais de dez anos que foram dotadas de passeios e de saneamento capaz as estradas nacionais de entrada em Tomar, conhecidas genericamente como Estrada de Leiria e  Estrada de Coimbra.  Foi o malvado do Paiva que mandou executar aquelas obras, deixando de fora a Estrada de Torres Novas e a Estrada de Lisboa. Só o próprio e os entendidos locais saberão explicar porquê.
Tantos anos volvidos, uma câmara confortada por duas maiorias absolutas, cai no ridículo de anunciar um passadiço do Padrão (de S. Sebastião) ao Padrão (de D. João I). Uma coisa extraordinária para menos de cem metros de extensão.
A evidente falta de oposição e a tradicional passividade dos tomarenses, incluindo os raros que escrevem, dá nisto: Os eleitos da actual maioria não se enxergam, nem falam com quem lhes diga a triste verdade. O tal passadiço é uma vergonha. Uma anedota. Porque embora por ali haja ruínas de uma ponte romana, sabe-se que não é para turistas, nem só para ciclistas. Apenas um triste e pobre remedeio para o bem conhecido estrangulamento e falta de segurança da estrada.
Mas de que serve afinal o dito passadiço? Após a capela de S. Lourenço, a falta de condições mínimas para peões e ciclistas é praticamente a mesma até Santa Cita. A única diferença é que, em último caso, peões e ciclistas podem saltar para as valetas, que nem sequer existem do lado nascente, onde pretendem fazer o passadiço. O problema é que se trata de uma solução que não resolve nada. Tal como aconteceu em tempos com os semáforos. Durante a maior parte do trajecto, e mesmo ali, nem sequer há passadeiras pedonais para quem queira atravessar a estrada. Na freguesia urbana!
Uma vez que parece não haver dinheiro nem vontade para resolver o problema de uma só vez, não seria melhor fazer agora, em vez do passadiço, uma plataforma de alargamento, assente em pilares de betão armado? É que depois já se poderia aproveitar, nas futuras fases inevitáveis da obra.
Quando finalmente concluirem que o passadiço apenas serve para entreter, para gastar dinheiro, para ornamentar e pouco mais. A tal mania de enfeitar, como se Tomar estivesse sempre em festa.
Para quem não sabe nem vê mais longe, Tomar é realmente uma festa...com o dinheiro de todos nós.
Mas como as próprias vítimas do evidente desmazelo se vão calando, que fazer? Nunca convém ser mais papista que o Papa.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

 

"Experimentadores de jogos no parque de aventuras em realidade virtual "Illucity". Criado pelo especialista de tecnologias digitais para cinema "Ymagis", abriu em 28 de Novembro de 2018, no Parque de La Villette, em Paris."

Foto Eric Piermont/AFP

Sabemos bem que em Tomar estamos no rumo certo, a nossa câmara é das melhores do país, e o Politécnico, a bem dizer, pede meças a Harvard. Ainda assim, mais como vício e para ocupar os tempos livres, mantendo a cabeça a trabalhar de forma dinâmica, pareceu útil mais uma tradução do Le Monde, reservada aos assinantes do jornal. 
Que me perdoem todos os que já estão fartos de saber a matéria constante da tradução seguinte, mesmo antes de a terem lido.. É um privilégio nabantino, a antecipação. E nunca o alfobre tomarense contou com tantos génios, infelizmente ignorados fora da urbe. Desculpem a insistência e continuem agarrados ao Face e similares. Bom proveito. Cada um é para o que nasce, diria eu se fosse fatalista.

"Os dirigentes do turismo à procura de novas competências.

Agilidade digital, capacidade para imaginar "experiências" para os clientes, redução do impacto carbono... A Indústria turística procura novos perfis profissionais, para acompanhar a mutação do sector."
Elodie Chermann
Le Monde on line, 09/02/2022, às 17H00, actualizado às 19H34 Leitura 5 minutos

Ficou interessado/a e gostaria de ler toda a crónica? É fácil. Basta enviar o seu nome e o seu @ para anfrarebelo@gmail.com, acrescentando "para receber a crónica do Le Monde" Não se aceitam emails de circunstância, nem nomes supostos.
Começa assim a segunda fase de Tomar a dianteira 3. Escrever só para quem está  mesmo interessado em ler e depois agir em conformidade. Chegou-se à conclusão que é pura perda de tempo andar a dar pérolas a porcos e/ou a atirar cornos às enguias.
Desculpem o vocabulário, que foi o mais adequado que se conseguiu.

Padrão de D. Sebastião, que comemora o alargamento da via.

Padrão de D. João I, junto da capela de S. Lourenço. O brasão com o escudo real em diagonal, a mostrar que D. João I era filho bastardo de D. Pedro I, não permite dúvidas.

Capela de S. Lourenço, que comemora a junção das forças de D. Nuno Álvares Pereira com as de D. João I, na antevéspera da batalha de Aljubarrota.

Espaço público -Obras municipais

Uma desgraça nunca vem só

Sinceramente, bem gostaria de enfim poder escrever algo optimista. Sem ter de criticar de forma ácida. Uma crónica construtiva, segundo os ilustres apaniguados da situação que está.  Que em termos práticos, na área do progresso, pouco se distingue da que estava em 1973.  Mas vamos aos factos.
Depois das obras ornamentais da Nun'Álvares, de prioridade questionável, e que  incluem duas pistas cicláveis, e após mais uma vaga de protestos contra as miseráveis condições de segurança, ou de falta dela, dos moradores de S. Lourenço, Borda da Estrada, Carvalhos de Figueiredo e por aí adiante, até Santa Cita, em qualquer outro país da UE seguir-se-ia a solução do problema, ou problemas. O melhoramento da estrada nacional 110, principal entrada em Tomar, instalando passeios de ambos os lados e pintando passadeiras pedonais. Bem como, por uma questão de coerência urbanística e de continuidade, duas  pistas cicláveis entre a rotunda do padrão e Santa Cita. Sem o que as da Nun'Álvares carecem de sentido, uma vez que não têm continuidade para sul. Vias para lado nenhum?
Pois parece ser ambição excessiva para a actual maioria PS. Decerto não por falta de verbas europeias, ou carência de capacidade empreendedora, mas por qualquer outro motivo que escapa ao comum mortal que escreve estas linhas, não abençoado pelos deuses locais. Em vez das duas pistas para bicicletas, skates e triotinetes, dos novos passeios, das passadeiras pedonais, e assim, os moradores do sul da freguesia urbana vão ter de se contentar com um triste remedeio. Por agora, o que quer dizer nos próximos 15 ou vinte anos, vão ter apenas um passadiço, naquela parte mais estreita, com muros de suporte de ambos os lados, entre a rotunda do Padrão e a fonte de S. Lourenço.
-Já é bem bom, vão justificar os seguidores do PS local. São maneiras de ver. Curtas de pernas, anãs portanto, mas ainda assim maneiras de ver. Tão fora do comum que até bons jornalistas locais tropeçaram na localização:
 https://radiohertz.pt/tomar-camara-ira-mesmo-avancar-para-a-colocacao-de-um-passadico-em-sao-lourenco-que-ligara-o-padrao-a-capela/  noticia a Rádio Hertz, que conhece bem o local. O problema é que não se lembraram da existência por ali de dois padrões, o sebástico ou de D. Sebastião, junto à rotunda,  e o joanino ou de D. João I, junto à capela, do lado norte.
De tal forma que, guiando-se exclusivamente pelo título da notícia da Hertz, podíamos vir a ter um passadiço entre o padrão joanino e a capela de S. Lourenço, com o extraordinário comprimento de cerca de 5 metros. É mesmo caso para se lamentar com o clássico "Não tenho sorte nenhuma!" Uma desgraça nunca vem só. A Câmara revela mais uma vez falta de coragem, de determinação e de projectos à altura. Os jornalistas até se enganam inadvertidamente, perante uma solução tão minorca. Acontece aos melhores.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

 


Economia política - dependentes - produtores de riqueza

Claramente insustentável a médio-longo prazo

Tanto no país como em Tomar


Um pouco indigesto, o ensaio de Vitor Bento, cuja leitura aqui foi antes recomendada, não é verdade? Duplamente indigesto Primeiro, porque exige algum conhecimento de economia, de sociologia e naturalmente de Português. Depois porque diz coisas pouco agradáveis para alguns. Fez-me até pensar na conhecida tirada de um dos personagens de Molière, o grande teatrólogo francês: "Qu'en des termes charmants ces choses-là sont dites". Ou seja, em tradução livre, maneira refinada de dizer coisas que nem tanto.
1-Que diz Vitor Bento, em forma de demonstração, evitando acusar? Que nos últimos quarenta anos a composição sócio-económica do país mudou bastante.
2-Que devido a essa mudança, ao contrário do que acontecia anteriormente, os dependentes do estado (subsidiados, aposentados, reformados e funcionários públicos) passaram a ser claramente maioritários.
3 Que em termos de emigração, estamos de novo ao nível da vaga migratória dos anos 60, com uma notável diferença. Antes eram migrantes sem qualificação e de meia idade. Agora são jovens qualificados.
4 - Que por causa da nova estratificação sócio-económica, conseguir uma maioria para conquistar o poder, não equivale a ter uma maioria para fazer as reformas indispensáveis.
Destes quatro pontos resulta claramente, sem que Vítor Bento o escreva, que os partidos políticos existentes proclamam belos princípios, ao serviço do país e dos portugueses, mas afinal limitam-se a tudo fazer para obter os votos dos dependentes do Estado. É por isso que, eleição após eleição, os programas partidários são tão parecidos. A tal ponto, evitando alargar, que PS e PSD, por exemplo,  se assemelham a duas tendências da mesma  formação partidária.
Descendo do escalão nacional ao local, tem sido evidente, pelo menos desde 2013, que os sucessivos executivos camarários maioritários tudo têm feito para agradar aos seus potenciais eleitores dependentes do Estado, que no concelho são percentualmente mais numerosos que no país, sem qualquer denúncia ou oposição notável dos parceiros do PSD. Não é uma acusação, apenas uma constatação.
Há dúvidas a respeito? O BE e o PCP perderam desta feita metade do eleitorado em Tomar porquê?
Porque o camarada Costa é muito simpático e habilidoso? Ou sobretudo porque a Câmara tem gasto rios de dinheiro com animação cultural para gente jovem, muito do agrado da esquerda caviar, e praticado uma onerosa política de alojamento social,  bem ao jeito da CDU-PCP?
Tais práticas, seja qual for o julgamento que sobre elas se queira fazer, nada têm de condenável. São da natureza humana, mesmo se não no seu melhor. E então? Então têm um problema insanável -são por natureza insustentáveis a médio-longo prazo.
Por um lado, porque a dada altura não há recursos disponíveis para manter os espectáculos e as festas, a não ser recorrendo ao agravamento fiscal, ou aos bilhetes de preço pouco convidativo, ambos susceptíveis de enxotar os eleitores que pelo contrário se pretendem atrair. Por outro lado, e socialmente mais grave e perigoso, os funcionários públicos, sobretudo os sentados, compreenderam pouco a pouco que podem prevaricar livremente, pois nada lhes pode acontecer. Necessitando do seu voto, nenhuma liderança política ousa instaurar um processo disciplinar ou de averiguações, mesmo quando há sérios indícios de indisciplina, de inadequação ao posto de trabalho, ou até de corrupção.
Daí resulta que, em contraste com os cidadãos de outros países da União Europeia, e mesmo de alguns outros do chamado 3º Mundo, os portugueses são muitas vezes tratados, mesmo os investidores, como gente que só incomoda, por funcionários demasiado seguros da sua impunidade, aconteça o que acontecer. Refiro-me aos serviços de atendimento público, embora reconheça que há honrosas excepções, porém infelizmente cada vez mais raras. Ora pense lá um bocadinho. Quantas vezes já foi atendido de forma menos acolhedora num serviço público? Quantos funcionários públicos conhece que tenham sido inquiridos, repreendidos ou punidos por falta de zelo ou outras falhas  profissionais?
Para concluir, a minha preocupação é o futuro de Tomar, enquanto comunidade humana florescente, por enquanto a definhar. E as perspectivas parecem-me bem sombrias nesta altura. Não porque o executivo municipal esteja deliberadamente a trabalhar mal, ou o novo governo venha a ser uma desgraça. Simplesmente porque, na minha longa vida profissional, já tive ocasião de ver outros filmes semelhantes, que não terminaram da melhor maneira.
Refiro-me aos países do leste europeu, por onde andei nos anos 60 e 70 do século passado. Com quase todos os cidadãos dependentes do Estado, sem oposição, sindicatos, nem imprensa livre, também constava e parecia que ia tudo muito bem. Até que, a partir de dada altura e pouco a pouco, se acentuou a emigração a partir da então RDA e da Hungria. Seguiu-se, pouco depois, a inesperada queda do muro de Berlim e a derrocada geral dos regimes ditos comunistas.
Mas isso foi em 1989 e lá para a Europa Central, dirão alguns. Pois foi. Nada a ver portanto com a actual situação em Portugal. Em 2011, a Troika FMI-BCE-UE veio apenas passear a Lisboa e tomar chá no Estoril. O governo PS não os chamou. O patife do Passos Coelho e o malandro do Relvas, com alguns outros, é que depois estragaram tudo, com a mania da austeridade, só porque sim. Pelo menos segundo o camarada Costa. 
Vamos andando, e mais adiante veremos se foi mesmo assim. Os juros da elevada dívida pública já recomeçaram a subir. Ontem os títulos a dez anos já se negociaram a 1%, quando antes estavam a 0,25% e o BCE informou que vai começar a "fechar a torneira". Parece pouco, mas a diferença representa milhões de euros a pagar. E os contribuintes são praticamente os mesmos de 2011, quando veio a troika.

ADENDA
Entretanto Vitor Bento, autor do ensaio, publicou um esclarecimento no OBSERVADOR de hoje 08/02/2022, do qual consta o quadro comparativo seguinte, para os mais interessados na matéria:



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

 


Economia política - Criadores de riqueza - Dependentes

Tentar perceber como estamos e para onde caminhamos

A situação tomarense é assaz grave para merecer de cada nabantino o melhor contributo que possa dar para ultrapassar a crise evidente. O pior erro seria continuarmos com palpites e achismos, em vez de opiniões apoiadas em sólida documentação e factos verificáveis. Outro tanto se diga da situação do país, agora que vai começar um mandato de quatro anos do PS com maioria absoluta, que no estado actual das coisas tanto poderá vir a ser a nossa salvação, como um desastre. É só esperar para ver, dirão os cautelosos do costume, com total acerto.
Mas talvez mais importante ainda seja procurar compreender a situação mediante a leitura de documentos incontroversos, tanto a nível nacional como local. Porque, para o bem e para o mal, a querida Tomar faz parte de um velho país, com as fronteiras mais antigas da Europa, na região centro, fronteira geográfica que divide o norte laborioso do sul pachorrento, com a notável excepção algarvia.
Antes de ir mais além, peço que leia até ao fim, apesar de poder ser cansativo, este ensaio do economista Vítor Bento, publicado no OBSERVADOR de ontem:
Amanhã avançarei um pouco mais na análise da situação nacional e tomarense, tendo já em conta o conteúdo do citado texto, complexo e de uma qualidade nitidamente acima da média.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

 


Resultados eleitorais - Comentários

Socialistas eufóricos mas confusos

Contestatários calados


Ainda no rescaldo das eleições de domingo passado, pede-se aos socialistas nabantinos, sempre abespinhados com as crónicas de Tomar a dianteira, que tenham a humildade de ler com calma esta análise do ex-parlamentar socialista Paulo Trigo Pereira:
O ponto 1 explica tudo, tendo em conta que o PS dispõe de maioria absoluta, não só na AR mas também na Câmara de Tomar, desde 2017. Falta-lhes é "forte dinâmica de reflexão interna, grupos de estudos sólidos e produtivos, quadros qualificados e abertura à sociedade civil." E tolerância perante as críticas, acrescenta-se. Fica assim dado o recado. Não é com vinagre que se apanham moscas, atrás de tempo tempo vem, e a  vida política é feita de vitórias e de derrotas.
Que o digam as tradicionais formações políticas de contestação, o BE e a CDU, que julgando poder passar sem problemas da contestação ao compromisso com o governo PS, se espalharam ao comprido. Nas legislativas de 2015, antes da geringonça, obtiveram  no concelho de Tomar 6,21% - 1.320 votos a CDU, 10,90% e 2.318 votos o BE. Após seis anos de compromissos, nas eleições do passado domingo, ficaram reduzidos a metade, praticamente: CDU 3,60% 697 votos, BE 5,12% 990 votos.
-Mas isso foi em eleições nacionais, dirão alguns apaniguados mais ferrenhos. Pois foi. Mas nas locais, as coisas pouco melhor vão. Mesmo sem geringonça, mas com sucessivas posições acomodatícias na AM: Em 2017 a CDU conseguiu 7, 81% 1.548 votos, e o BE 6,02% 1.194 votos. Quatro anos mais tarde a redução foi grande: CDU 5,51% 993 votos, BE 4,74% 874 votos.
Convém ter sempre presentes estes números, e procurar apurar as causas que a eles conduziram. Só com palpites e a insultar quem discorda, nunca mais vamos sair da cepa torta. E Tomar é que perde. Ninguém tem o monopólio da verdade, das ideias corretas, ou sequer da inteligência. Seria de resto estranho, uma vez que tanto o PS, como a CDU ou o BE são contra os monopólios. Ou também já não?

sábado, 5 de fevereiro de 2022

 


População - Emigração - Óbitos

Apesar da basófia, a emigração continua

Está demonstrado na prática que com esta Câmara socialista é como com o governo do mesmo partido. Seja qual for o problema, vai sempre tudo muito bem no melhor dos mundos possíveis, como dizia o Pangloss, logo após o terrível terramoto de Lisboa, em Novembro de 1755, que destruiu quase toda a cidade e provocou milhares e milhares de vítimas. É quase patológico. Ninguém admite erros ou sequer falhas. A culpa é sempre dos outros, e geralmente morre solteira.
No caso da grave crise demográfica, admite-se que tem havido perdas de população, mas apenas devido ao fenómeno da fuga para a faixa costeira. Como se Portugal não fosse todo ele, em relação à Espanha, uma simples faixa costeira. Face a tão inadequada resposta, manifestamente apenas para tentar calar a crítica e manter stato quo, seria proveitoso apurar se o fenómeno migratório prossegue, com mais ou menos intensidade, ou se terminou, para depois ir ao estudo das causas, que terá de incluir forçosamente inquéritos junto dos emigrantes. Porquê? é a pergunta incontornável para se vir a saber algo de concreto. Alegar que as pessoas se vão de Tomar por falta de alojamentos acessíveis, não passa afinal de mais um palpite, sem qualquer fundamentação conhecida. O recente estudo camarário sobre estratégia para a habitação, prova isso mesmo.
Sem meios para ir mais longe, Tomar a dianteira 3 compulsou os resultados eleitorais, publicados pelo MAI - Ministério da administração interna, e conseguiu elaborar este quadro, que dá uma ideia muito precisa da triste situação em Tomar:

INSCRIÇÕES NOS CADERNOS ELEITORAIS ENTRE OS ANOS INDICADOS
Concelho de Tomar 

1999 > 2001 mais 2.807
2001 > 2002 menos 201
2002 > 2005 menos 384
2005 > 2009 menos 104
2009 > 2013 menos 1.331 (Último mandato do PSD-Paiva)
2013 > 2015 menos   983 (Primeiro mandato do PS-Anabela Freitas)
2015 > 2017 menos 1.513          "              "           "         "              "
2017 > 2019 menos   488
2019 > 2021 menos   434
2021 > 2022 menos   191

TOTAIS.........Desde 2013 (maioria PS)  Menos 3.109 eleitores inscritos.
                      Desde 1999 menos 5.629 eleitores inscritos. 
.
Estes são os factos. Desagradáveis, é certo, porém indesmentíveis. Os senhores autarcas estão à espera de quê, para tentar estancar a hemorragia demográfica, bem mais grave em Tomar que nos concelhos vizinhos? Vão aguardando que passe, como a gripe ou a pandemia?

 

Estação de tratamento da água captada no Castelo do bode pela EPAL, na Asseiceira

O preço da água em Tomar e em Lisboa

O Hipólito e a EPAL

O Zé Hipólito foi uma figura típica tomarense, nos anos 60 e seguintes do século passado. Comerciante ambulante, mais tarde proprietário de um restaurante, vendia sandes e pacotes de batatas fritas artesanais, aos alunos do Colégio Nun'Álvares. Ao que constava na época, a comida naquela escola não era muito boa nem em quantidade, de forma que os alunos vinham até à vedação em rede das traseiras (onde está agora a Escola Nun'Álvares Pereira) tentar compensar a penúria. Compravam sandes e batatas fritas. Quando não tinham dinheiro, o Hipólito vendia a crédito, mediante penhores. Ficava com relógios, anéis, canetas, estojos para desenho, blusões, casacos, fios de ouro...
A dada altura, para tentar alargar o negócio, o Hipólito resolveu mandar imprimir, numa tipografia local, umas centenas de impressos, tipo programas de cinema, para fazer publicidade. Tendo perguntado quanto custaria, o Nelson, professor de educação física e filho do dono da tipografia, disse-lhe que o mais caro era a gravura. O resto, papel e impressão era insignificante. -Quanto mais programas mandares fazer, mais barato te fica, rematou. -Porreiro pá! retorquiu o Hipólito. -Faz até que fique de borla, e manda pôr lá em minha casa. 
Décadas volvidas, uma grande empresa que comercializa água, a EPAL, para ser mais preciso, parece seguir o exemplo do Nelson tipógrafo: quanto mais vende, mais barato fica. Segundo declarações recentes de Anabela Freitas, que sabe do que fala, uma vez que presidiu aos SMAS Tomar e à Tejo Ambiente, não é possível reduzir o tarifário local e regional da água, porque o fornecedor "em alta", a EPAL, ou uma das suas subsidiárias, vende a água na região onde a capta a preços três vezes superiores aos praticados na região de Lisboa. Em palavras simples, são os labregos do alto Ribatejo que de facto andam a fornecer e a pagar a água aos alfacinhas.:
https://radiohertz.pt/tomar-psd-pede-explicacoes-sobre-o-preco-da-agua-no-concelho-um-dos-mais-elevados-do-pais-anabela-freitas-assegura-que-tarifa-baixou-com-a-entrada-na-tejo-ambiente/
O assunto não é novo. Na década passada, um eleito da CDU, que integrou o conselho de administração dos SMAS, confirmou a quem escreve estas linhas a existência de um acordo de contornos leoninos, da ordem dos 300%, com a EPAL, fornecedora "em alta", o qual contém até uma cláusula que impede a sua denúncia.
Anos mais tarde, o problema mantém-se. Foi aqui escrito a semana passada que na EPAL as tarifas da água diminuem com a distância. Quanto mais longe da captação, mais barato fica. Curiosamente, ou talvez não, o tema saltou para a grande informação nacional. A CNN até colheu declarações de Anabela Freitas, que se mostrou agastada com a falta de informação sobre o nível da água no Castelo do Bode, e a prevista instalação de sistemas de produção de energia solar.
Mas quanto à enorme diferença tarifária da EPAL entre Tomar e Lisboa, nada disse. E os outros intervenientes também não. Já é azar! Se as próprias vítimas se calam, grande deve ser o poder da empresa visada. É que até a Internacional, o hino dos socialistas do mundo inteiro, incita a dado passo: "De pé ó vítimas da fome!" No caso, já não é da fome, felizmente, mas da EPAL Ou estará a dita empresa, e as suas subsidiárias, acima da lei humana?