Informação local - Tomar a dianteira 3
Paragem para pensar melhor
Não vá dar-se o caso de alguns raros leitores ficarem tristes, e outros, bem mais numerosos, irem já comprar foguetes, ou uma garrafa de tintol para celebrar, começo por esclarecer que estou bem de saúde. E continuo a dormir as minhas oito horas por noite. Além de uma curta sesta, inferior a uma hora.
Sucede que, olhando o bairro de pescadores à beira da água, mesmo aqui debaixo da varanda, os barcos de pesca um pouco mais ao longe, a capitania do porto, do lado esquerdo, e a longa fiada de arranha-céus da beira-mar, (ver imagem supra) dei comigo a matutar, a pensar na vida e no hemisfério de cima, o do norte.
Dois temas centrais -a nova situação política no país e o leitorado de Tomar a dianteira 3 . Sobre a política nacional, só não fiquei agoniado com a atitude do camarada António Costa porque me considero tolerante. Ainda assim, tenho de manifestar o meu repúdio pela atitude do actual e futuro primeiro-ministro, ao receber e ouvir todos os partidos com assento parlamentar, excepto o Chega. Porque sou eleitor deste partido? Claro que não! Apenas porque, encurtando argumentos, se até a polícia aceita negociar com criminosos quando há reféns, em que se apoia Costa para recusar conversar com Ventura e os seus quase 400 mil eleitores-reféns? Os eleitores do Chega não são portugueses como os outros? Com a extrema direita não se conversa? Luta-se à paulada, a tiro e à facada, se for preciso? E eu a pensar que o PS era a esquerda moderada, como no tempo do meu falecido amigo Mário Soares...
O outro tema é este blogue. Tenho constatado, graças ao Google, que o leitorado diminui drasticamente, sempre e quando escrevo de forma mais agreste sobre a actual maioria socialista local. O que tende a mostrar que há algo de menos ponderado da parte dos leitores, ao considerarem injusto o que vou alinhavando, mal ou bem. Uma espécie de fervor religioso para com os detentores do poder, que os leva a deixar de ler para proteger os "santinhos". Como bem sabemos, questões de fé não se devem discutir. Ou se acredita ou não. E os tomarenses sempre foram crentes. Intolerantes, porque crentes.
Há depois a própria distribuição geográfica dos leitores de TAD 3. Só 65% residem em Portugal. Os restantes 35% repartem-se entre os Estados-Unidos (11%), Brasil (8%), Alemanha (7%), Bélgica (3%), Inglaterra (2%). É pena que a contagem google disponibilizada não permita localizar os 65% residentes em Portugal. Com alguma sorte, ainda era capaz de se concluir que a maioria vive longe de Tomar. Há naturalmente o maior respeito pelos tomarenses migrantes, da parte de quem também já foi emigrante. Mas a principal função deste blogue não devia ser essa, de elo de ligação entre os migrantes e a sua terra natal, antes um areópago para o debate sereno dos problemas locais. Infelizmente, tal não é o caso, como se constata.
Com uma ou outra notável excepção, ninguém assume que lê Tomar a dianteira 3, certamente por temer represálias.
De tudo isto resulta que o autor deste blogue é, ao que parece, persona non grata em Tomar, a sua própria terra natal. A menos que se cale. "Que meta a viola no saco", para usar a expressão dos seguidores da actual maioria. No tempo da santa inquisição, essa nobre instituição católica que tão bons resultados facultou, e que começou em Tomar, já teria ardido na fogueira purificadora. Na era de Salazar e da sua PIDE, outra nobre instituição, já estaria no forte de Peniche, com os pés na água fresquinha do Atlântico.
Tudo isto com o apoio, pelo menos tácito, dos tomarenses em geral, todos alegando excelentes razões para assim procederem. Os meus queridos conterrâneos, quanto mais mudam, mais estão na mesma. Embora vão procurando esconder, com pouco êxito. De forma que, peço licença para algum tempo de ponderação. O que ainda não evoluiu em Tomar, quase meio século após Abril, é agora muito pouco provável que venha a evoluir. E nessas condições, não estou interessado em continuar a pregar no deserto, e mesmo assim incomodar os da situação. Se até nem estou mal de todo na vida, vivendo à beira-mar, no hemisfério sul, com calor durante todo o ano, para que hei-de andar a arranjar inimigos e a cansar-me em prol dos outros, nalguns casos pobres de espírito e mal agradecidos?