Faltam pouco mais de 24 horas. Já votou?
PONTO PRÉVIO
Ensina-se nas escolas de jornalismo e alhures, sendo também mero senso comum, que "Os factos são sagrados, a sua interpretação é livre." Tendo como único limite o respeito total pela verdade. Assim, agora que começa a segunda e última semana de campanha eleitoral, surge como importante tarefa cívica, como dever de cidadania, informar os eleitores, emitindo opinião estritamente factual. Quer isto dizer, publicar conteúdo baseado em factos verificáveis e interpretados com rigor.
Daqui resulta que, mostrando os factos o que mostram, as conclusões podem não ser aquelas que agradam a quem escreve ou lê, sendo porém inevitáveis quando se age com coerência. Importa especificar este ponto, como forma de tentar evitar mal entendidos, do tipo "o gajo quer que o partido perca porque...". Na verdade, o que o autor destas linhas deseja é sempre o melhor para Tomar e para os tomarenses. Que isso nem sempre coincida com os interesses de alguns, não passa afinal de uma contingência da história local...
Factos quimeras e atitudes
O ponto da situação sobre a campanha eleitoral no domingo 24 à noite era este: 1 - Tudo a correr dentro da normalidade; 2 - Pequenos partidos convencidos de que vão eleger pelo menos um vereador, com a CDU a falar em dois; 3 - Alguma esperança de vitória nas hostes do PSD; 4 - Optimismo excessivo entre os apoiantes do PS, persuadidos de que Anabela Freitas vai ganhar com maioria absoluta. 5 - Argumentos para justificar tal crença, A - "O Delgado é fraquito"; B - "Anabela é mulher, entre candidatos homens, o que tem muita influência"; C - "O PS local tem obra feita e vai beneficiar do "efeito geringonça".
Como votante sentimental, ex-eleito e ex-dirigente socialista, também gostaria de estar assim tão optimista. O raio dos factos é que não consentem. Vejamos:
Estes são os dados verificáveis. O resto é música para adormecer. Que dizem eles?
I - O PS alcançou mais de sete mil votos nas três primeiras consultas eleitorais, entre 1976 e 1982. Apesar disso perdeu para o PSD/AD em 1979 e 1982;
II - Essas duas derrotas seguidas estiveram na origem da acentuada descida posterior, para apenas pouco mais de quatro mil e quinhentos votos;
III - O meteoro Pedro Marques obteve duas vitórias seguidas, ambas com mais de nove mil votos, sendo que a segunda, em 1993, (há 24 anos!), constitui mesmo o melhor resultado de sempre dos socialistas tomarenses (12.924 votos);
IV - Com o afastamento algo agitado, conquanto justificado, de Pedro Marques, em 1997 o PS entrou manifestamente em crise, a qual se prolongou até à tangencial e inesperada vitória de 2013, com resultados na casa dos cinco mil votos, por vezes até menos;
V - Essa evidente crise do PS propiciou o longo reinado social-democrata em Tomar, que se prolongou entre 1997 e 2013, com evidentes sinais de debilidade na sua parte final.
O que ocorreu nas eleições de 2013 continua por explicar cabalmente, prejudicando a visão das coisas, no que diz respeito a alguns responsáveis socialistas. Olhando para o quadro respectivo, salta à vista que, naquela consulta eleitoral, o PS não ganhou coisa nenhuma. Teve praticamente os mesmos votos de 12 anos antes -5.479 em 2013, 5441 em 2002. Foi o PSD que perdeu, sofrendo a 2ª maior derrota da sua história, só ultrapassada pela de 1976, (4.336 votos), quando os eleitores ainda andavam medrosos, porque íamos soit disant a caminho do socialismo...
Convém ter presente esta situação assaz singular em política: O PS Tomar obteve sucessivamente, a partir de 1993, 6.954 votos, 5.441, 4.236, 4.756 e 5.479. Ou seja, foi praticamente sempre a descer, com uma ligeira subida final, e apesar disso está agora no poder. Comparativamente, durante esse mesmo lapso de tempo, o PSD registou sucessivamente 10.916 votos, 15.163, 9.995, 7.959 e 5.198. Estes números dão bem a ideia do aparatoso colapso social-democrata em 2013. Caiu de quase oito mil para pouco mais de cinco mil votos. Mostram igualmente que a elevada taxa de abstenção bruta então registada, (abstenção + votos brancos + votos nulos), que ultrapassou os 55 em cada 100 eleitores inscritos, foi provocada por eleitores social-democratas desiludidos, uma vez que os eleitores socialistas habituais votaram todos, segundo mostram os números.
Tendo em conta o que antecede, sem fazer previsões arriscadas, não custa deduzir, baseado nos quadros supra, que:
1 - O eleitorado do concelho de Tomar é maioritariamente laranja.
2 - Não há à priori, em circunstâncias normais, razão nenhuma para o PS vencer, apesar da "obra" realizada, de Anabela ser Anabela e de dizer que tem um projecto para Tomar.
3 - Afirmar nesta altura que o PS vai vencer em Tomar com maioria absoluta não passa de um desejo recalcado. Julgo que ninguém está a ver o PS regressar ao resultado de 1993, mesmo tendo em conta o recente reforço de alguns IpT, entretanto queimados por sucessivas derrotas. E todos os resultados socialistas seguintes são insuficientes para vencer, caso o PSD também recupere, como é lógico e se detalha no ponto 4.
4 - O PSD pode ganhar em Tomar, sobretudo caso a abstenção não ultrapasse os 40%, porque quatro anos volvidos sobre a infeliz candidatura Carrão, os candidatos são outros. Junto com o ex-presidente infeliz, desapareceram de facto os motivos que determinaram o tombo de 2013. A mesma água nunca passa duas vezes debaixo da mesma ponte, pelo que os laranjas podem voltar aos oito mil eleitores e/ou mais, de 2009 e eleições anteriores.
Aqui chegado, as leitoras e leitores gostariam de conhecer as previsões cá do escriba? Elas aqui vão:
PSD 3
PS 2
CDU 1
CDS 1
Não é o que eu gostaria. Apenas o que se pode arranjar, atendendo aos artistas em cena, aos dados disponíveis e às circunstâncias. A uma semana do desfecho.
Como usava escrever o socialista Vítor Cunha Rego "As coisas são o que são".