segunda-feira, 31 de maio de 2021

 



Leitorado deste blogue

Devagarinho, mesmo com crónicas agrestes, 
Tomar a dianteira vai conquistando leitores

É verdade. Apesar da evidente aversão de muitos conterrâneos ditos de esquerda, que preferem notícias agradáveis, mesmo que não sejam verdadeiras ou não abordem os problemas importantes, o leitorado de Tomar a dianteira vai aumentando. Este mês houve 6.424 vizualizações, contra 4.874 em Abril. Pouca coisa, quando se compara com as dezenas de milhares do Facebook. Mas o que conta é a quantidade ou a qualidade?
Se estão aguardando o tradicional agradecimento, pensem noutra coisa. Não tenho que agradecer, tal como quem me lê tão pouco tem de fazê-lo. Numa sociedade livre, cada qual age de acordo com  a sua cabeça, devendo preocupar-se com a indispensável participação cívica. Assim tenho vindo a fazer e assim tenciono continuar.
Votos de boa saúde, boa disposição e boas leituras.

 

En Finlande, les petits déjeuners de la première ministre Sanna Marin deviennent une affaire politique
L’« aamiaisgate », le scandale des frais de petit déjeuner, est une tempête dans un verre d’eau vue de l’étranger, mais parasite la campagne des municipales finlandaise.
Par 
Publié aujourd’hui à 16h51, mis à jour à 17h33 
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Lecture 2 min.

Atenção, conteúdo desagradável. Se prefere jornalismo emoliente, por favor não prossiga. Obrigado.

A FINLÂNDIA, TOMAR E AS DESPESAS DE REPRESENTAÇÃO

António Rebelo

Segundo o Le Monde, uma das bíblias do jornalismo estilo europeu,  os pequenos almoços da primeira-ministra da Finlândia transformaram-se num caso político.
O escândalo das despesas com o pequeno almoço é uma tempestade num copo de água, quando visto do estrangeiro, mas parasita a campanha eleitoral autárquica.

Estes escandinavos são levados da breca. Ainda mais rigorosos que aquele holandês das "putas e vinho verde". Recordam-se? Neste caso dos pequenos almoços da primeira ministra, uma soma mensal entre 300 e 850 euros, indevidamente pagos pelo erário público, está em causa um abuso evidente. A lei finlandesa atribui ao cargo de primeiro-ministro um alojamento de função, "com limpeza, manutenção, água, luz e aquecimento", mas nada de alimentação. Por isso os órgãos de informação finlandeses queram agora tudo muito bem explicadinho, para que conste.
Em Portugal e em Tomar, a situação é bem diferente. A presidente da Câmara tem direito a viatura de função, mas não a alojamento ou alimentação. Beneficia porém de um quantitativo mensal para despesas de apresentação e representação, que naturalmente utiliza e do qual, segundo julgo saber, não paga IRS. Mas devia pagar, uma vez que recebe uma retribuição.
Outro aspecto que merecia esclarecimento, caso em Tomar as coisas funcionassem como nos países escandinavos, é um pouco mais delicado. Todos os eleitos com cargos a tempo inteiro, bem como quadros superiores da autarquia (todos ou grande parte) recebem um subsídio mensal da ordem dos 300/400 euros, para despesas de representação. Até aqui tudo bem. Está em conformidade com a lei, creio eu. O problema é que, a dada altura, antes da actual maioria socialista, se adoptou o hábito de apresentar depois as facturas na secretaria, para reembolso integral. Um abuso evidente, porque cobertas pelos tais subsídios para despesas de representação.
A minha pergunta, sem grande esperança na resposta, é esta: Essa prática do reembolso sistemático das facturas de despesas pessoais de eleitos e funcionários superiores municipais ainda se mantém?


 




Informação e satisfação

Cinco séculos mais tarde 
continua a prevalecer em Tomar a mentalidade Inês Pereira

António Rebelo

Nos reinados de D. Manuel I e D. João III, quando Tomar teve grande importância no país, por ser a Casa sede da Ordem de Cristo, senhora dos novos territórios descobertos (ou invadidos, segundo o ponto de vista dos indígenas que já lá estavam), houve no vale do Nabão muita cultura, durante as longas estadas da corte, que então era itinerante.
Numa dessas ocasiões, Gil Vicente, pai do teatro português, desafiado a apresentar obra nova, escreveu e mandou representar o Auto de Inês Pereira, lá em cima, não se sabe se no convento velho (o mais provável) ou no convento novo.
Inês Pereira, jovem tomarense em idade de casar, é confrontada com uma escolha difícil. Seus país tinham encarregado uma alcoviteira de lhe procurar noivo, numa época em que o pai da nubente devia pagar um avultado dote, se tivesse meios para tanto.
A alcoviteira conseguiu dois candidatos. Um jovem e esbelto escudeiro, com alguns meios, e um proprietário abastado, com idade para ser pai da noiva. Contra o que seria de esperar vindo de uma moça nova, Inês Pereira preferiu o proprietário idoso, o que naturalmente escandalizou a vizinhança, já então com bastante mau feitio (convém nunca esquecer que o primeiro tribunal português do Santo Ofício da Inquisição, funcionou em Tomar, mais precisamente nas agora chamadas salas das cortes, do lado poente do claustro da Micha).
Pressionada no sentido de justificar a sua escolha, Inês Pereira não teve dúvidas. "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube" disse ela.
Cinco séculos mais tarde, os tomarenses continuam a pensar da mesma forma: Entre informação deficiente mas agradável e boa informação mas agreste ou desagradável, escolhem a deficiente. Entre uma candidatura com projecto e capacidade, e uma outra fraca mas boa na compra de votos e na realização de eventos à borla, escolhem a candidatura fraca, porque é mais agradável.
A mentalidade Inês Pereira parece estar de tal forma entranhada no vale nabantino, que já quase ninguém nota. É a norma local. Um leitor assíduo comentava no Tomar na rede que leu "noutro blogue" um texto sobre informação estilo americano e estilo europeu, mas chamou-lhe discurso e absteve-se de identificar o Tomar a dianteira, decerto por ser um blogue que ousa publicar coisas agrestes, duras e desagradáveis, sendo por isso um blogue maldito, não convindo fazer publicidade nem fazer constar que se lê. Antes notícias que me levem, que crónicas  que me derrubem.
Se eu tivesse menos 20 anos e almejasse candidatar-me a algum lugar bem pago, é provável que Tomar a dianteira pudesse muito bem ser mais macio. Não sendo o caso, magoa por ser agreste, mas como é escrito sobretudo para memória futura, tanto faz que seja muito ou pouco lido ou comentado. Já no final do século XV os reis católicos, Fernando de Aragão e Isabel de Castela, adoptaram como divisa uma canga, com a legenda tanto monta/monta tanto. Tanto faz assim como assado.

domingo, 30 de maio de 2021


Tradução para português: Beijo a sua mão, minha senhora

Imprensa local e regional

QUE RICA INFORMAÇÃO
QUE OS TOMARENSES TÊM !

António Rebelo

Vivendo em Fortaleza - Ceará - Brasil, a`mais de 7 mil quilómetros de Tomar, desde há duas semanas que chegou ao meu conhecimento que a Assembleia Municipal de Mação também chumbou a transferência do fundo de compensação de erros de gestão para a Tejo Ambiente. Já são portanto dois sócios em 6, cujos parlamentos municipais não estão pelos ajustes.
Apesar do tempo já decorrido, nenhum órgão de informação tomarense ou da região noticiou ainda a dita votação, com a notável excepção da crónica de Bruno Graça, n'O Templário desta semana. 
Blogues, rádios e semanários, que até noticiam em geral o que acontece tão longe como Sertã, Nazaré, Santarém ou Vila Franca de Xira, por exemplo, de Mação nada disseram sobre a Tejo Ambiente. Porquê? Querem melhor exemplo da censura à informação que existe de facto em Tomar? Autocensura? Concerteza. Mas porquê? Quais as suas causas reais?
É muito fácil acusar o Tomar a dianteira de má língua e outras coisas piores. Bem mais difícil é ter arcaboiço intelectual para conceder aos outros inteira liberdade de crítica, naturalmente num quadro de mútuo respeito cívico.
Sem querer de forma alguma ofender, sou contudo forçado pelas circunstâncias a apodar de sabujos alguns responsáveis pelos órgãos de informação local, concordando que tal imprensa, tal gente, tal eleitorado. Estava era longe de supor que, quase meio século após Abril, estivéssemos em Tomar de regresso à época da conhecida marca inglesa de discos His master's voice - A voz do dono, neste caso da dona, cujo logótipo é um cão a ouvir atentamente um gramofone. 
Simplesmente lamentável em 2021, a poucos meses das autárquicas

 Estilo Correio da Manhã

HÁ MUITO MAIS MUNDO 
PARA LÁ DO VALE DO NABÃO

António Rebelo

Outras maneiras de ver, de pensar, de estar, de falar, de ouvir, de ler. Ora leia:

"Quem não tá contente comigo tem Lula em 2022."

Presidente Jair Bolsonaro, respondendo irritado a uma apoiante.

"Olha senador Eduardo Girão, vossa excelência é um oportunista pequeno ... ...Desde o primeiro momento toda a sociedade brasileira que tem inteligência sabe que vossa excelência está aqui com um único objetivo: É que a gente não investigue  porque a gente não comprou vacina. E vossa excelência, que não entende patavina de saúde, quer impor a cloroquina na cabeça da população."

Senador Omar Aziz, presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid

"Muita gente achou que eu tava morto e enterrado e eu dizia: Vocês não  conhecem o PT, vocês não me conhecem. Quando eu era criança e faltava comida, minha mãe sempre dizia: Hoje não tem, mas amanhã vai ter.
E eu esse período todo eu carreguei essa frase comigo: Amanhã vai ter."

Ex-presidente Lula da Silva, comentando a possibilidade de se recandidatar.

"Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração."

Papa Francisco, que é argentino e portanto vizinho do Brasil, em tom brincalhão, respondendo a um crente que lhe pediu que rezasse pelos brasileiros.

"Não adianta falar de feminismo para ganhar likes nas redes sociais. Feminismo é acompanhar a outra até ao hospital, ou até à esquadra da polícia."

Neide Santos, maratonista

(Excertos do jornal O POVO - Fortaleza - Brasil, de 30/05/2021, páginas 4 e 5)

 

Manifestação de funcionários municipais em Tomar...do Geru, Sergipe, Brasil. Observe-se que no Brasil, país federal,  os funcionários são servidores públicos, ou municipais. Tem a sua importância, em termos de mentalidade. Combate a arrogância, por exemplo.

Informação local

NOTICIAR E INFORMAR

António Rebelo

É do domínio público o estado da liberdade de informação em Tomar, que não é bom. De todo. Com as notáveis excepções do Tomar na rede e do Tomar a dianteira 3, todos os outros órgãos locais estão assaz condicionados pelo seu relacionamento com a actual maioria socialista na autarquia. Basta de resto ler e ouvir, para constatar que nenhum deles ousa abordar acontecimentos que possam de algum modo desagradar ao poder instalado. A vida custa a todos.
Perante isto, Tomar na rede vai fazendo o que pode, dentro dos limitados meios de que dispõe, sendo mesmo assim considerado hostil pela actual maioria autárquica. Outro tanto acontece com Tomar a dianteira 3, geralmente acusado, por quem está no poder e respectivos servidores, de ser "só má-língua".
Há contudo uma diferença importante entre o blogue de José Gaio e este que está lendo. O administrador de Tomar na rede é jornalista credenciado, tendo-se licenciado nessa área, num bom estabelecimento de ensino superior.
Pratica em geral o chamado "jornalismo estilo americano", em que basicamente qualquer texto publicado deve referir a fonte e responder às três perguntas clássicas: O que aconteceu? Onde aconteceu? Quando aconteceu? Foi isto mesmo o que fez hoje, ao publicar esta notícia: 
Ao contrário do habitual, que é  o silèncio sepulcral, o leitor José Caldas comentou e foi contundente. Escreveu que Tomar na rede publica notícias, mas não faculta informação, assim denotando ser adepto do jornalismo estilo europeu, em detrimento da "informação americana" do Tomar na rede. O "estilo Correio da Manhã".
Pouco habituados a tais minudências, os leitores perguntarão qual a diferença entre uma e outra. É pouca, mas substantiva. Os adeptos do modelo americano consideram que basta a resposta às já aludidas três perguntas clássicas (O quê? Quando? Onde?). Já os que praticam o modelo europeu acrescentam em geral outras três perguntas: Quem? Como? Porquê?.
O que dá, no caso da notícia sobre os funcionários ao serviço da autarquia, algo como isto:
Segundo elementos colhidos junto dos serviços de pessoal da CMT, o município tomarense tem agora ao seu serviço um total de 616 funcionários, dos quais 568  pertencem aos quadros, 59 são eventuais e  15 são destacados. Este total é o mais alto de sempre, representando um aumento superior a 80 funcionários desde 2013, início da actual maioria. 
616 funcionários municipais, dá a bonita média de um funcionário municipal para 56 eleitores Cabe no entanto informar que o quadro de pessoal do Município de Tomar tem 676 lugares, havendo portanto nesta altura 60 lugares vagos. A tal mania das grandezas.
Em termos de custos,  os 616 representam uma despesa certa e permanente ligeiramente superior a 40% do orçamento municipal, segundo elementos constantes do anuário dos Revisores oficiais de contas, o que coloca o município nabantino entre os dez que a nível nacional mais gastam com vencimentos.
Há números difíceis de explicar, (se esse fosse o estilo da maioria PS), como por exemplo os 6 arquitectos na DGT, ou os 11 engenheiros no DOM, numa terra em que as obras particulares e as municipais têm sido aquilo que está à vista de todos.
De resto, a própria maioria socialista parece já se ter dado conta de que tem falta de pessoal e ao mesmo tempo funcionários a mais. Excesso de sentados, falta de trabalhadores. Embora nunca tenha fornecido informação detalhada sobre esta e outras matérias, é do conhecimento público que já lançou uma oferta generosa de aposentação antecipada, com a possibilidade de qualquer funcionário municipal com um mínimo de 17 anos de serviço poder ir-se embora com uma pensão equivalente a 70% do vencimento, menos o subsídio de almoço e de transporte.
Ao que consta, apesar desse gesto de evidente boa vontade, a aceitação terá sido muito limitada, pelo que o problema se mantém, agravado pelo desmantelamento dos SMAS, cujos funcionários puderam optar pelo quadro do município, mesmo sem funções atribuídas (46 funcionários).
Na verdade, 616 funcionários técnicos e administrativos integram Tomar no grupo de municípios "tipo alentejano", muito semelhante ao que existia nos países do leste europeu, antes da queda do muro de Berlim. O município faculta emprego, mas não pode atribuir tarefas práticas a todos, por nítida falta de disponibilidade. Quase tudo o que em tempos eram atribuições "dos empregados da câmara" -luz, água, esgotos, estradas, lixo, limpeza urbana, jardins, projectos, trabalho jurídico, cobranças diversas- está agora entregue por concessão a outras entidades, que depois as subcontratam a privados. Restam o mercado, a feira e os cemitérios, porque ainda não apareceu a nível nacional qualquer entidade privada para lhes pegar. Mas não tardará muito, pois o Estado paga sempre e paga bem.
Seria portanto assim uma notícia sobre os funcionários municipais tomarenses, em estilo europeu. Muito diferente do estilo americano? Nem tanto. Os grandes jornais, como o New York Times ou o Washington Post, também praticam o jornalismo de investigação. Quando o fazem, são muito semelhantes ao Le Monde, Le Figaro, Le Soir, El Pais,  Corriere della sera ou  o Guardian. No jornalismo como em quase tudo o resto, só pode dar passos largos quem tem as pernas grandes.

sábado, 29 de maio de 2021

 Política cultural

Em Fortaleza cai
Em Tomar não há

António Rebelo

Caiu uma parte do telhado do Teatro da praia, situado aqui na Praia de Iracema, a dois passos do centro cultural Dragão do mar. Trata-se de uma colectividade particular e sem subsídios, que vive graças a um amante do teatro, tipo  Carlos Carvalheiro de Fortaleza.
O POVO, um dos dois diários da cidade capital do Ceará, dedicou-lhe este texto, na secção POLÍTICA:


Temos assim que em Fortaleza um teatro popular privado desabou. Em Tomar não pode desabar aquilo que não existe. O FATIAS DE CÁ tem uma sede, mas não tem local adequado para espectáculos, nem para guardar adereços e guarda-roupa.
Há no Convento de S. Francisco um claustro em ruínas que seria o ideal, mas pertence à irmandade franciscana, que não o manda restaurar por falta de recursos. Não seria possível um entendimento prévio Irmandade-Câmara-Fatias de cá?
No Brasil é o terceiro mundo, a América latina. Há o Bolsonaro que é extremista e pouco inteligente, e por aí adiante. Mas Tomar é a Europa, o primeiro mundo. E temos o Marcelo, um moderado que é também uma simpatia e um adiantado mental. E há também uma câmara PS, que subsidia largamente as colectividades culturais e desportivas. Há filhos e enteados? Não? Então  estão à espera de quê?

 



Várzea grande recinto desportivo

Como é que eu não pensei nisso antes ??!!

António Rebelo

Pois é. Como acaba de constatar, os tomarenses vão ter basquetebol, (mais precisamente mini-básquete), na Várzea Grande. Como é que eu deixei escapar uma ideia tão luminosa, que até cega? Em vez de insistir e insistir que as obras trimilionárias do antigo rossio, campo da feira e vasto estacionamento, transformaram aquilo numa inutilidade, não era melhor uma ideia assim, tão oportuna quanto adequada? 
É que se estava mesmo a  ver. Boas sombras, excelentes instalações sanitárias, belos balneários, confortáveis bancadas, sólidas tabelas, piso bom e desinfectado para todas as modalidades, temos ali uma flagrante alternativa para os vários pavilhões desportivos existentes na cidade. E até para o Mouchão ou a Mata, para a realização dos numerosos e já anunciados eventos musicais filipinos. Então não é a "nova centralidade", segundo quem sabe, pode e manda?
Não está aqui em causa a dedicação e o empenhamento cívico dos vários intervenientes, com destaque para Célia Bonet e Alcino Gonçalves. A única falha que se lhes pode apontar é a de não terem contestado a escolha do local, pedindo uma explicação convincente. Porque me parece evidente que não se gastaram ali três milhões de euros, para agora tentar transformar aquilo num recinto desportivo, por enquanto sem qualquer aptidão ou equipamento para tanto.
Resulta por isso evidente que tão estranha escolha só possa ter vindo de quem, embora não o diga, gosta na sua prática diária de parafrasear  Luis XIV, que terá dito  "L' état c'est moi". Mais de três séculos depois, há em Tomar quem pense "A Câmara sou eu", e aja em conformidade. As sucessivas asneiras, cada vez mais frequentes, mas nunca admitidas, aí estão a confirmar que assim acontece de facto. É uma pena. tratando-se de uma pessoa tão simpática.
Mas se os tomarenses gostam do modelo, que havemos de fazer? A democracia também tem destes inconvenientes.

ADENDA
Os incondicionais da senhora, que também os há e não são poucos, (chegarão para alcançar o 3º mandato?), poderão alegar que realmente na Várzea grande não há bancadas, nem balneários, nem instalações sanitárias, nem, nem, mas a Câmara vai providenciar tudo isso. Pois se assim for, ainda bem. Mas não fica nada barato. E impõe a pergunta: Para quê tanta despesa, havendo vários recintos desportivos já equipados na cidade? Porquê a Várzea Grande? Para lhe dar algum préstimo, quando é visível tratar-se de uma caríssima inutilidade prática?

ADENDA 2
O MIRANTE online de hoje dá grande destaque à inauguração da Várzea grande, que teve lugar ontem. Leu bem. Inauguração da Várzea grande. Com a presença de uma ministra e tudo! Um rossio multi-secular, lá  acabou finalmente por ser inaugurado, justamente quando já não serve para nada. Não seria mais apropriado e decente referir apenas "inauguração da ornamentação da Várzea grande"? É que assim, a srª ministra deve ter ido embora a pensar "Mas que raio vim eu inaugurar afinal?" E lá ficamos nós tomarenses outra vez com fama de "patos bravos", na má acepção da expressão. Gente sem bom-senso nem bom-gosto, que não se sabe comportar. Gente que não sabe estar, quanto mais agora ser.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

 

Imagem de toiro a investir e a ser espetado com duas garrochas

Política local

DESNORTE E 
PROPAGANDA MALICIOSA

António Rebelo

Compreende-se a situação pouco ou nada confortável da actual maioria socialista na autarquia. Em 2013 ganharam por poucochinho (menos de 400 votos de diferença), e ainda não entenderam como nem porquê. Em 2017 conseguiram um triunfo um pouco mais folgado, graças a um arranjinho de última hora, propiciado pela eutanásia dos IpT, e também ainda não entenderam porquê.
Este ano o contexto é bem mais complexo. As obras feitas não abonam nada, antes pelo contrário. Não se prevê qualquer eutanásia partidária, e em vez das seis formações candidatas (PS, PSD, BE, PCP, CDS e PTP) de 2017, desta vez já vamos nas sete. Temos mais o CHEGA e o VOLT, duas estreias absolutas, que ninguém sabe no que vão dar.
Se a tudo isto juntarmos as consequências da pandemia, bem como a modestíssima contribuição negativa deste blogue, que alegadamente não vale nada, mas incomoda muito quem assim alega, temos realmente um quadro bem sombrio, como nunca houve antes, capaz de levar ao desnorte mesmo os mais sensatos.
Com acesso à caixa, os exageros promocionais da equipa socialista nabantina, a tal compra de votos,  começaram logo na elaboração do orçamento para este ano. Mais de meio milhão para subsídios às colectividades e 750 mil euros para promoção turística, são enormidades apenas toleráveis num concelho cujos eleitores não são propriamente muito reivindicativos, ou sequer participativos. Parece estarem-se nas tintas, como se o dinheiro não fosse dos impostos de todos nós. Santa ignorância.
Sabedores disso, alguns assessores exteriores, bem pagos via ajustes directos, aconselharam fortemente o lançamento de campanhas promocionais, no quadro do apoio ao comércio, muito prejudicado pela pandemia. Matar dois coelhos com a mesma cajadada. Ajudar os comerciantes e sacar-lhes os votos. Toma lá dá cá.
Dados os anunciados bons resultados da campanha natalícia em 2020, que também ajudou à propagação do virus, a autarquia resolveu lançar nesta primavera o programa turístico promocional "Tomar Check-in". É um título pretensioso,  numa terra que nem aeroporto tem, num raio de 100 quilómetros, e que está na origem da aparente notícia mais abaixo, afinal apenas propaganda política disfarçada, que nem sequer respeita a verdade factual:

"TOMAR CHECK IN" ESTÁ A SER UM SUCESSO"

"A campanha  "Tomar Check in" está a ter resultados positivos; as unidades hoteleiras da cidade estão praticamente lotadas e os turistas estão a investir no comércio local. Autarcas estudam a possibilidade de prolongar a campanha por mais tempo." 
O MIRANTE on line, Sociedade, 27/05/2021
https://omirante.pt/sociedade/2021-05-27-Tomar-Check-in-esta-a-ser-um-sucesso-87e59601

Procurando evitar, na medida do possível, algum mal entendido, esclareço que considero O MIRANTE um semanário sério e bem feito, no qual JAE infelizmente não pode editar tudo, que a idade não perdoa e o tempo não é elástico.
No caso do texto reproduzido, excluindo a última frase, mesmo assim com uma redundância desnecessária (prolongar a campanha, terá de ser inevitavelmente por mais tempo), tudo o resto é apenas conversa para entreter, tipo rebéubéu, pardais ao ninho. Querem ver?
"Tomar check in está a ter resultados positivos." De que maneira uma campanha de distribuição gratuita de euros, tipo "sopa dos ricos", poderia ter resultados negativos? Se não aparecesse ninguém para receber a esmola? Que se entende afinal por "resultados positivos" em relação aos 300 mil euros para as esmolas aos ricos? Qual o retorno efectivo, devidamente quantificado?
"As unidades hoteleiras da cidade estão praticamente lotadas." É falso. Foram contactdas três unidades ao acaso, e a opinião foi praticamente unânime: "Lotados? Era bom era! Houve uma melhoriazita, devido ao amainar da pandemia,  e alguma ajuda da câmara, mas nada de triunfalismos. São mais as vozes que as nozes. Se calhar nem compensa gastar assim tanto dinheiro que depois vai faltar noutros lados."
"Os turistas estão a investir no comércio local." Investir é um verbo muito traiçoeiro, que pode ser intransitivo, transitivo e até pronominal. Traiçoeiro porque, nas suas três principais serventias, a mais nobre é pouco usada (Marcelo Rebelo de Sousa foi ontem investido na sua alta função), a segundo é tauromáquica (era um toiro nobre, investiu com denodo até ao fim) e a terceira meramente empresarial (a Câmara já investiu mais de um milhão de euros na compra disfarçada de votos).
Conclusão, turista gasta. Não investe. E tão pouco investe pelo estabelecimento adentro, como um toiro na arena. Era o que faltava! Por conseguinte, tenham a bondade de futuramente arranjarem quem saiba servir-se mais adequadamente da língua materna. É o mínimo.
Quanto ao conteúdo em geral, peço desculpa mas vou ter de insistir na conhecida quadra do Aleixo:

Prá mentira ser segura
E atingir profundidade
Deve trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade

Nesta notícia, a verdade é pouca e a profundidade atingida praticamente nenhuma. Acontece aos melhores, em tempo de stress. Sai-lhes o tiro pela culatra. 
Olhó passarinho!!!

quinta-feira, 27 de maio de 2021

 



Autárquicas 2021 natalidade e decadência

Mudar de tema por falta de matéria comentável

António Rebelo

Quarta à tardinha (já noite avançada em Tomar), é dia de ler a imprensa local, e de comentar a usual entrevista de  pré-campanha eleitoral do Cidade de Tomar. Chegou a vez de Luís Santos, candidato do Bloco de Esquerda à Câmara. 
Lidas e relidas as suas  declarações, o meu comentário é que não encontrei matéria para comentar. Sem desprimor para ninguém. Nem jornalistas nem entrevistado. Apenas achei tudo dentro daquilo que esperava, portanto sem pretexto para criticar, sem entrar no domínio da má-fé. Aqui fica o registo, que provavelmente não será filho único. Logo se verá.
Num outro órgão informativo local, o Tomar na rede, li uma notícia sobre a queda da natalidade em Tomar, um outro sintoma da decadência do concelho, que me deixou preocupado. Numa tabela com dados do INE que, ignoro porquê, não inclui Ourém, o concelho que lidera o Médio Tejo em termos de população, verifica-se que desde 2016 o total anual de nascimentos registados de mãe residente no concelho de Tomar tem sido sempre inferior ao de Torres Novas. Situação incómoda, pois Torres Novas é apenas a 3ª cidade do Médio Tejo quanto a população, mas tem vindo a diminuir a diferença ainda favorável a Tomar.
Em 2009, Torres Novas tinha menos 5.878 eleitores inscritos que Tomar, mas em 2020 essa diferença reduziu-se para menos de metade: 2.742 eleitores inscritos. Juntando os vários dados, menos nascimentos, mais emigrantes, mais falecimentos, conclui-se que Tomar está mesmo numa situação cada vez mais crítica.
Oportunidade excelente para as várias candidaturas irem além das habituais frases bonitas e usuais promessas habilidosas, tendo a coragem de anunciar as medidas que julgam necessárias para ultrapassar a crise demográfica, e quando e como tencionam implementá-las. 
Sem isso, o melhor é estarem calados. Convém ter sempre presente que cerca de 50% dos eleitores inscritos já se abstêm ou votam branco e nulo. Mais precisamente 51,99% em 2017, na freguesia urbana, que representa quase metade dos inscritos que votam. Quando os eleitores recusam escolher, pois o voto é sempre uma escolha, é porque consideram que não há candidatos à altura. Uns por isto, outros por aquilo, porém todos aquém do desejado pelos abstencionistas, votos brancos e votos nulos.
Para quando uma mudança substancial do inadequado sistema eleitoral que temos? Faz algum sentido, por exemplo, que os presidentes de junta, que são executivos, tenham assento na Assembleia Municipal, o órgão legislativo e fiscalizador? Ou que o eleitor escolha automaticamente uma lista de 14 cidadãos (sete efectivos e sete suplentes), ao fazer a cruzinha para a Câmara? Uma pessoa nem os cabeças de lista consegue conhecer bem, quanto mais agora um grupo de 14 criaturas. É o chamado voto no escuro. E as pessoas preferem tudo às claras, para evitar equívocos.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

 



Turismo e Hotelaria

É muito estranho, lá isso é

António Rebelo

"Hotel Hilton Garden Inn vai nascer em Évora, num investimento de 21 milhões de euros"
"O Hilton Garden Inn Évora vai ficar localizado junto ao Rossio de S.Brás, e conta com restaurante, ginásio, piscina e uma sala de reuniões com capacidade para 130 pessoas."

OBSERVADOR, 26/05/2021

Conforme resulta do excerto supra, a capital do Alto Alentejo vai contar em breve com mais uma unidade hoteleira, integrada numa cadeira internacional, daquelas que atraem turismo de qualidade, no caso turismo de congressos (sala de reuniões para 130 pessoas).
Entretanto em Tomar, outra cidade muito bem dotada para o turismo, um "elefante branco" chamado ex-Convento de Santa Iria + ex-CNA feminino continua a aguardar gente com coragem e qualidade suficientes para ultrapassar o stato quo, que dura há mais de 20 anos. Caso para dizer Chega, se não fosse o evidente trocadilho.
Muita conversa, muitas visitas, muito boas intenções, algumas promessas, mas quanto a solução final, nicles. De acordo com a mais recente informação da srª presidente, "estava tudo bem encaminhado com o grupo hoteleiro Vila Galé, mas as negociações pararam por causa do covid 19". Porque será? Em Évora não houve pandemia? Alguma maldição do frade Remígio, o alegado assassino da mártir Iria? E logo no nome começa o equívoco. Não é Iria, o condicional, mas o passado, foi mesmo Nabão abaixo, reza a lenda.
Já o escrevi noutras colunas da informação local, mas sou como se constata forçado pelas circunstâncias a voltar à carga. Admitamos que a autarquia tomarense dispõe de excelentes técnicos superiores, honestos até à medula e briosos servidores da causa pública, a chamada República. Constatando-se que, após várias tentativas malogradas, a donzela não consegue encontrar noivo, há decerto algo menos agradável, indigesto até, que obsta ao casamento. De certeza.
A actual maioria PS já procurou, com a ajuda dos seus assessores, conselheiros e funcionários superiores de confiança, saber o que se tem passado? Quais os obstáculos no terreno? Quais os impedimentos legais? Qual a melhor forma de conseguir levar o barco a bom porto? Não é por se esconderem,  esquecerem ou escamotearem os problemas, que eles deixam de existir. Pelo contrário. Vão-se avolumando.
Tal como em relação ao turismo tomarense em geral, tenho um plano para o caso do Convento de Santa Iria, que resulta da minha longa experiência como turista e profissional de turismo, com algum sucesso. Tanto cá dentro como lá fora, onde as coisas são mais competitivas, forçando os menos capazes a reorientar-se. Todavia, tendo em conta a minha experiência mais recente, deduzo que os membros da actual maioria não estão nada interessados em ouvir-me ou ler-me, sobre este assunto e outros, pelo que me abstenho de apresentar qualquer plano geral ou de pormenor. Fica para melhor oportunidade, se vier a acontecer. Tal como ocorre com o meu Plano local de desenvolvimento turístico. Tomar vai definhando cada vez mais, mas ainda aguenta mais uns tempos. Hão-de vir outros autarcas, com outra visão para Tomar.
Caso não surja nova oportunidade mais favorável, perco a hipótese de contribuir para a ultrapassagem pela positiva da actual crise tomarense, mas pessoalmente não me sinto prejudicado.  Aos 80 anos já não sou candidato seja ao que for, salvo a um lugar num cemitério. Que se não for em Tomar, também não terá qualquer importância, pois já cá não estarei para assistir e criticar. Passará então a reinar a paz política na terra nabantina para todos os políticos-sapateiros, que não são poucos. Penso eu de que.
E entretanto até pode acontecer o milagre da recuperação das ruínas do convento de Santa Iria e anexos. Se calhar o melhor é mesmo ir a Fátima rezar umas avé-marias... que devem ser ouvidas com atenção lá em cima, sobretudo após o restauro da igreja de S. João Baptista, indevidamente pago pela autarquia, por uma questão de fé. Não tem nada a ver com compra de votos, não senhor. Nem pensar!

terça-feira, 25 de maio de 2021

 








Problemas sociais

A OUTRA VERTENTE 
DA DECADÊNCIA TOMARENSE

António Rebelo

Vou ser outra vez desagradável, mas peço que acreditem não ser intencional. É a realidade que não me permite outra hipótese. Eu muito gostaria de "dizer bem", mas de quê?
Antes de mais, aproveito para lembrar que estamos pela primeira vez a ser dirigidos sob a égide dos "filhos do 25 de Abril". Aqueles meninos que só foram para a escola já depois do golpe militar libertador, beneficiando ou sendo prejudicados por todos os facilitismos daí resultantes.
Um desses problemas é a geral e resoluta ancoragem à esquerda, sem que todavia saibam muito bem o que é a esquerda ou a direita, uma vez que a democracia pluralista em que vivemos lhes foi servida de bandeja. Nunca tiveram de lutar por ela. Daí alguma confusão. E uma noção errada das coisas. Como por exemplo o apoio a Cuba, à Venezuela, aos palestinianos e por aí fora, bem como uma entranhada tendência para o assistencialismo aos pobrezinhos, sobretudo aos excluídos. Só aos antigos combatentes vítimas de stress pós-traumático é que nem tanto. Há exemplos em Tomar, como o daquele conterrâneo, ex-combatente em Moçambique, que dormiu durante anos numa retrete pública, sem que os tomarenses se comovessem por aí além. Mesmo com a sede da Caritas praticamente por cima, na Rua de Leiria.
Ainda assim, manda a verdade dizer que em Tomar o PS prometeu resolver o problema dos ciganos e praticamente já cumpriu essa promessa. Com erros, como o bairro Calé, perdão, Centro de acolhimento temporário, mas cumpriu. Donde resulta todo um contexto que de repente saltou para a pouco exigente informação local.
Graças a  uma intervenção, em plena reunião do executivo, da vereadora Célia Bonet, do PSD, que além de eleita e profissional bancária, preside à Caritas tomarense, houve confirmação de problemas com a comunidade local de assistidos. Aqueles  que o vice Cristóvão e os serviços sociais da autarquia designam por carenciados, o que por vezes não é bem o caso. Mas adiante.
Perante essa confirmação, gerou-se um micro-caos. Toda a informação local falou de agressão a uma assistente social da autarquia, que estava acompanhada pelo presidente da Junta urbana, mas nada de nomes, nem de etnias. Nem da agressora, nem da agredida, nem dos agredidos oralmente. Nem causas nem consequências. Porquê? Porque as novas normas societais, iniciadas com a geringonça, assim o exigem. Nada de contribuir para a marginalização dos marginais. Coitadinhos!
E foi o espanto. Com tanto secretismo, (ou será apenas medo de represálias, conforme foi referido na antes citada reunião do executivo ?) dois órgãos de informação situaram a agressão no Bairro da Srª do Anjos, e dois outros no Bairro 1º de Maio. Lindo! Com um deles a acrescentar que são os dois bairros mais problemáticos da cidade. Por enquanto, acrescento eu. Não tarda haverá outros.
Em que me baseio? Numa comparação com outras cidades europeias, bem maiores também é verdade. Mas os sintomas da doença são os mesmos, a exigir tratamento político adequado, e com as entidades oficiais a tentar resolver, limitando-se a despejar dinheiro para cima dos problemas mais gritantes. Sem exigir contrapartidas.
Como tem vindo a ser feito pelo PS em Tomar, o tal êxito antes mencionado. O nó do problema, que é político, é o facto de os assistidos se assumirem pouco a pouco praticamente como micro-comunidades autónomas, só com direitos e sem qualquer obrigação de respeitar os outros ou as leis do país. É desse particularismo exacerbado que provêm as agressões, entre as quais esta de Tomar. Regra geral, essas pessoas aceitam a assistência pública, que lhes dá muito jeito, mas recusam-se a respeitar os direitos alheios, ou sequer as leis do país onde vivem. O medo de represálias faz o resto. É a impunidade total, como de resto acontece com os funcionários autárquicos, por exemplo. Onde e quando houve algum castigado ou sequer inquirido? É tudo gente respeitável, acima de qualquer suspeita.
É também por isso que, quando um pacato cidadão resolve passear no Bairro Srª dos Anjos, no Bairro 1º de Maio, (e mesmo já noutros sectores que me abstenho de mencionar para não envenenar a questão) e aparece logo um sujeito mal encarado a indagar o que anda a fazer por ali, como antes acontecia no Flecheiro, a diferença não é grande em relação aos arrabaldes de Lisboa, do Porto, de Madrid ou de Paris, por exemplo. 
É a outra vertente da decadência tomarense. Os bairros fora da lei, que se calhar levam alguns tomarenses descontentes para a emigração, a primeira causa do definhamento do concelho.
Que fazer então?  Antes de mais, ter a serenidade necessária para ver as coisas como elas são, e agir em conformidade. Todos temos medo, mas convém não abusar como expediente.


 Autarquia

Manias, ornamentações, crítica viva e cultura morta

António Rebelo

Soma e segue. Após a ornamentação, tri-milionária mas com pouca serventia, da Várzea grande e o alindamento da Nun'Álvares, de consonância russa porque só estorva, segue-se o enfeitar da margem esquerda do Nabão, entre a Ponte Nova e a do Flecheiro. Com as inevitáveis ciclovias, que não vêm nem vão a lado algum, por não terem continuidade. E vem aí o já prometido ajardinamento da margem direita, da ponte do Flecheiro ao Padrão.
Tudo isto, que é despropositado porque extemporâneo, enquanto os tomarenses padecem de carências básicas que os seus eleitos ignoram soberanamente. A estrada de Carvalhos de Figueiredo não tem condições para pedestres, e assim vai continuar. A estrada de Paialvo, idem idem.
A menos de cem metros dos Paços do concelho, uma boa parte do núcleo histórico continua com os esgotos da idade média. Incluindo as sarjetas clássicas sem sifão, que exalam aromas maravilhosos, particularmente no verão.
Quem devia mandar, lastima-se que muitos turistas não descem à cidade, mas parece ignorar que há dez anos um erro nas obras camarárias da estrada de acesso, passou a impedir que dois autocarros se cruzem, levando os cérebros da autarquia a proibir que desçam. Só podem subir. Afastar-se do centro portanto. E o erro camarário continua a aguardar reparação.
Faltam sanitários, falta um parque de campismo, falta estacionamento lá em cima junto ao castelo, ou uma solução que o torne inútil, falta sinalização adequada, faltam circuitos pedestres balizados. Falta recuperar tanta coisa na cidade. Até a dignidade perdida.
Mas não. Ornamentar, enfeitar, alindar, animar musicalmente, eis as palavras de ordem, para enganar papalvos. Numa terra cujo poder instalado providenciou aquela badalada pintura de rua, ali no muro do ex-estádio, agora simples campo de treinos: Os velhos do Restelo.
Crítica implícita aos que criticam os senhores do poder, que se julgam saídos da coxa de Júpiter e por isso não sujeitos ao erro, que como se sabe é só humano. Acontece, e convém lembrar, numa terra de vasta cultura como Tomar, onde agora, segundo o competente pelouro, até se "respira cultura viva", que só houve um velho do Restelo, e "com um saber de experiência feito", segundo o seu criador, o imortal Camões.
Conservador sem dúvida alguma, no bom sentido do termo, adversário do mau progresso e da inovação nefasta,  que disse afinal esse ente camoniano, supostamente acarinhado pela actual maioria que manda?
"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça desta vaidade a que chamamos fama!
... ... ... ...
A que novos desastres determinas de levar [esta terra] e esta gente?
..............
Chamam-te fama e glória soberana
Nome com que o povo néscio se engana!

Assim disse o velho do Restelo há cinco séculos. Já tinham lido antes? Em Tomar continua actual, o que não é nada bom sinal. Infelizmente.

ACTUALIZAÇÃO às 14H20 de 25/05/2021

É aquilo a que se pode chamar boa pontaria. Realmente fui atirador nos idos de 60, na guerra em Angola, porém ignorava que mantinha excelente pontaria. Mas é o caso, No mesmo dia em que chamei a atenção para a miséria das estradas de Carvalhos de Figueiredo e de Paialvo, (ver acima), segundo a Rádio Hertz a srª presidente anunciou que a câmara ia assumir a tarefa da entidade governamental responsável, a Infraestruturas de Portugal,  e proceder à requalificação da estrada de Paialvo. Não passa de uma feliz coincidência, claro está. Mesmo assim aqui fica a anotação

segunda-feira, 24 de maio de 2021

 

Carlos Moedas - Imagem Expresso



Autárquicas 2021

UM MODELO A SEGUIR  EM TOMAR

António Rebelo

Carlos Moedas, ex-comissário europeu e candidato do PSD à Câmara de Lisboa, acaba de revelar os nomes dos componentes de um conselho de 50 personalidades que o irão aconselhar, antes e durante o seu mandato, segundo o EXPRESSO, edição online. De acordo com  o candidato laranja, trata-se de praticar uma política municipal partilhada, na qual as decisões serão debatidas e assumidas colectivamente pelos eleitos e pelos conselheiros. "Colocar os cidadãos na "casa das máquinas", na sua formulação.
Eis um modelo capaz de alterar substancialmente a gestão municipal de muitos municípios até agora liderados por eleitos mais ou menos competentes, porém com tendência para a governança pessoal, para a autocracia.
Tomar tem sido, ao longo dos últimos oito anos, lastimo ter de o escrever, um desses exemplos flagrantes, com Anabela Freitas a alardear simpatia e facilidade oral, mas ignorando sempre as opiniões alheias, mesmo quando no quadro de obrigatórias consultas públicas.
De tal forma assim é que, no recente caso da Tejo Ambiente, em que a Assembleia Municipal chumbou a transferência de 812 mil euros para aquela entidade, por considerar que houve graves erros de gestão, a srª presidente já deu a entender por diversas vezes, e está escrito preto no branco, que é obrigada a fazer a transferência, apesar do voto desfavorável da AM. O que é inaceitável em democracia plena. Um eleito desvalorizar publicamente os votos que lhe são desfavoráveis.
Mas sempre foi e continua sendo o grande problema da esquerda iluminada em geral. Consideram que a sua leitura da História é a única correcta, sendo por isso os únicos que estão no bom caminho. O que leva a uma atitude autista, de evidente desdém pelas opiniões alheias, porque provindas de gente que não está no sentido correcto da História. Mesmo quando se trata de reprovar erros crassos.
Vamos a ver se este feliz safanão de Carlos Moedas virá a ter alguma réplica em Tomar, designadamente no seu partido, cuja actuação é em tudo idêntica à do PS local. Partidos irmãos gémeos, é o que é.
E a cidade vai mirrando, e os tomarenses vão partindo.

 



Política local

O vento mudou no vale do Nabão
Era nortada, agora é suão

António Rebelo

Estar longe da terra e dos seus familiares e amigos custa um bocado, por causa da saudade e assim. Mas também tem vantagens, para quem gosta de discorrer. Permite visualizar  em paralelo e no mesmo plano o conjunto e o detalhe. Enquanto quem está no local apenas vê os sítios por onde passa ou para onde olha, mas tem de imaginar o conjunto, quem vive longe visualiza os dois quadros, o geral e o pormenor, o que faculta outras perspectivas.
Uma das perspectivas que me chamou a atenção foi a mudança de atitude dos comentadores do blogue Tomar na rede. Aqui há uns meses eram às dezenas, naqueles textos menos consensuais, quase todos abrigados em confortáveis pseudónimos.
Agora, praticamente não há textos polémicos e os comentadores resolveram todos meter o trombone no saco. Porque a situação política local melhorou? Pelo contrário. Tornou-se evidente que os vendidos e os idiotas úteis, nomeadamente aqueles ao serviço da actual maioria autárquica ficaram claramente sem argumentos, perante tantos erros crassos. Ou então resolveram migrar para suportes mais acolhedores, tipo Face, Insta ou Twitter, porém sem o mesmo estatuto.
Outro tanto acontece com os apoiantes e integrantes da oposição laranja. Há um silêncio ensurdecedor, que a todos os pensantes incomoda, situação que só não parece ser notada pelos próprios. De resto, salvo a tal ajuda à mudança de paradigma, mencionada pela candidata, na entrevista a um semanário local, não têm mais nada a dizer aos eleitores? Querem conquistá-los pelo silêncio, para dar a ideia de que estão a ponderar?
No meio disto tudo, o Tomar a dianteira só teve direito a dois comentadores, naturalmente identificados, aos quais se agradece a coragem. Porque não deve ser fácil comentar num blogue incómodo, que só trata de política local, justamente aquilo de que os tomarenses em geral procuram escapulir-se, como já acontecia antes do 25 de Abril. O que não obstou a que, logo no primeiro de Maio seguinte, fossem às centenas e centenas os democratas tomarenses nas ruas. Há o deus Janus, que tem duas caras, mas no Convento de Cristo, cá em baixo entre a refeitório e a cozinha, na zona dos passa-pratos,  pode-se admirar o Hermes Trimegisto, que tem três rostos. Como alguns nabantinos.
Não quer isto dizer que este blogue tenha uma importância por aí além. Apenas pouco mais de 200 visualizações diárias. Mas o leitorado está a aumentar. Foram 4874 visitantes únicos o mês passado. Este mês já são 5004 e ainda faltam  6 dias para acabar. Numa territa como Tomar, começa a ser significativo. E à medida que nos vamos aproximando das eleições...
Nestas condições, era capaz de ser melhor para todos que os comentadores do tempo da nortada, voltem a escrever agora, na época do suão. Garante-se o anonimato, desde que o administrador do blogue saiba quem são. Chega de oportunismo e hipocrisia.

 



Autárquicas 2021

MUDAM-SE OS TEMPOS
MUDAM-SE AS VONTADES

António Rebelo

Parece que desta é que vai ser. Vamos ter planos, apresentados pelas várias candidaturas eleitorais, ou pelo menos por algumas delas.  Ao fim de quase meio século, o acanhado meio político tomarense lá acabou por aceitar uma evidência há muito gritante: Desde o 25 de Abril, todas as listas candidatas se apresentaram ao eleitorado sem planos ou programas dignos desse nome. Candidaturas destinadas portanto a governar em regime de improvisação permanente. O que temos nesta altura.
O resultado aí está. Somos cada vez menos no concelho. E quase metade não vota, sobretudo na freguesia urbana. Perante estes factos, que fazer? Planos, pois claro. Adoptar uma estratégia, definir prioridades, planear, estabelecer um programa para o mandato.
É tão fácil de escrever que até já se publica no Cidade de Tomar, um semanário conservador,  por ora salvo da insolvência, mediante pagamento adiantado de publicidade, por uma câmara PS. Estamos conversados quanto à informação local.
Planear, programar, é fácil de dizer, porém difícil de executar. Sobretudo quando se tem em conta a falta de capacidade técnica e política, por um lado, a falta do hábito de pensar, por outro, e essa aberração chamada PDM, por outro ainda.
Para complicar ainda mais, é costume aparecer, logo no início de cada debate sobre o tema,  a dicotomia turismo/indústria pesada,  em geral seguida do binómio emprego precário/emprego de qualidade. Tudo isto sem ter em conta o que está para trás: a falência das grandes unidades industriais. Nem cuidar de apurar as causas desses desastres económicos.
Estudar, investigar, comparar, aferir, dá muito trabalho e cansa a cabeça. É verdade. Mas no caso tomarense, está à vista de todos que fecharam as indústrias que dependiam do rio para a água, a energia e como emissário de esgoto. E que além disso praticavam baixos salários, que compensavam com várias dispensas anuais, sobretudo na altura das sementeiras e das colheitas. Foi o tempo dos chamados operários-agricultores. Bons trabalhadores, porém pouco assíduos por necessidade laboral própria.
Com a inevitável abertura das fronteiras e subsequente redução das tarifas alfandegárias, essas fábricas deixaram de ser competitivas e fecharam. Ponto final. Há que deixar-se de saudosismos e procurar outras alternativas, mais adequadas aos tempos que correm. A grande indústria transformadora, com muita mão de obra, agora é sobretudo com a China e demais países daquela zona.
Também foram desaparecendo alfaiates, caldeireiros, barbeiros, marceneiros, polidores, sapateiros, sejeiros, taberneiros, aguadeiros, empregadas domésticas, merceeiros, vendedores ambulantes,  agricultores, ferradores, pintores, podadores, entre muitos outros, não constando contudo que alguém reivindique o retorno a esses ofícios especializados. Porquê então a acentuada inclinação para as unidades industriais tradicionais?
Quem lê a imprensa regional, não pode ignorar que os empresários da zona se queixam constantemente da falta de mão de obra especializada, o que torna ainda mais estranha essa fixação na indústria pesada. Será por causa dos proletários, tão do agrado de certas formações políticas? A ser assim, cabe a pergunta: Os trabalhadores da Auto Europa, por exemplo, ainda podem ser designados como proletários?
Parece-me que o melhor será descer ao vale nabantino, assentar os pés no chão, ver as coisas como elas são,  observar tudo com cuidado e agir em conformidade, antes de começar a redigir qualquer documento eleitoral. 
Quando se pergunta a um jovem tomarense quais são os seus três principais objectivos na vida, a resposta mais frequente é: Um empregozinho, um carrito e uma casinha. Donde decorre, não por mero acaso,  que o município tomarense tem mais funcionários sentados que o de Ourém, que entretanto já tem mais seis mil eleitores que Tomar. Estão a ver o filme, futuros redactores de planos e programas ? Convém ir meditando no assunto...

domingo, 23 de maio de 2021





Autarquia

FEIRA DAS PASSAS ?
MOSTRA DE FRUTOS SECOS ?  
CORTEJO ANUAL DE CESTOS  
ENFEITADOS COM PÃO E FLORES DE PAPEL?

António Rebelo

A intenção de salvar o essencial da Feira de Santa Iria apesar da pandemia é louvável, mas o resultado anunciado é condenável. Após duas anulações seguidas, duas mostras de substituição, ditas de frutos secos e tasquinhas. Tudo por causa da pandemia, que já serve  até para justificar erros crassos.
Durante séculos, houve em Tomar, imediatamente antes da Feira de Santa Iria, a tradicional Feira das passas. Primeiro na Praça D. Manuel I, mais tarde na Rua dos Arcos, depois onde calhou. Era uma marca bem tomarense de excelentes produtos artesanais, com reputação nacional. Um símbolo também. De um concelho de boa produção frutícula. Onde isso já vai!
A degradação que se seguiu infelizmente ao 25 de Abril, por manifesta inépcia dos eleitos, abriu uma avenida aos nossos vizinhos, que não tardaram a aproveitar. 
Apesar da tremenda crise do figueiral de Torres Novas, provocada pela proibição da aguardente de figo, os torrejanos souberam fazer frente e logo montaram uma "Feira nacional de frutos secos". Uma vez que deixavam de poder destilar os figos, iam passar a vendê-los secos, como produto artesanal. Copiar o que sempre se fez no vizinho concelho de Tomar.
Toma lá que é para aprenderes! Tivemos o pássaro na mão durante séculos e eis que outros o apanharam. Em vez de produtos artesanais autênticos, produtos industriais à mistura, que o que conta é o marketing. Em Vez de Feira nacional das passas, em Tomar, Feira nacional de frutos secos em Torres Novas. São só vinte e poucos quilómetros ao lado. E eis que agora, a própria autarquia tomarense acaba por cair na armadilha. "Mostra de frutos secos" cheira a cópia da torrejana "Feira nacional de frutos secos", e pouco tem a ver, em termos de imagem de marca, com a multicentenária e tão tomarense Feira das passas. Ainda por cima com "tasquinhas", que como se sabe são originárias de Rio Maior. Em Tomar havia outrora era as tabernas ou tascas. Maldita pandemia!
Custa assim tanto manter-se fiel à tradição, organizando em Outubro a Feira das passas, como se sempre se fez, na Praça frente à Câmara, na Rua dos Arcos ou na Várzea grande, "a nova centralidade" segundo a senhora presidenta?
Convém evitar aglomerações? Pois então faça-se na Mata dos Sete montes, ou no sacrificado Mouchão, onde se podem controlar as entradas. "Mostra de frutos secos" é que não. A nossa Feira das passas tem o peso de séculos e por isso merece respeito. Se não nos dermos ao respeito, quem nos vai respeitar? Já pensaram,  senhoras e senhores autarcas, técnicas e técnicos superiores, que por este caminho um dia desta podemos vir a ter algures, numa cidade vizinha, ou mesmo mais longe,  um cortejo de cestos, enfeitados com pão e flores de papel, a que em Tomar chamamos "Tabuleiros" há séculos? Que esse evento até pode ser anual e com entradas pagas, coisas que não queremos ou não sabemos fazer em Tomar?
Pelo andar da carruagem, parece-me que já faltou mais.