terça-feira, 25 de maio de 2021

 








Problemas sociais

A OUTRA VERTENTE 
DA DECADÊNCIA TOMARENSE

António Rebelo

Vou ser outra vez desagradável, mas peço que acreditem não ser intencional. É a realidade que não me permite outra hipótese. Eu muito gostaria de "dizer bem", mas de quê?
Antes de mais, aproveito para lembrar que estamos pela primeira vez a ser dirigidos sob a égide dos "filhos do 25 de Abril". Aqueles meninos que só foram para a escola já depois do golpe militar libertador, beneficiando ou sendo prejudicados por todos os facilitismos daí resultantes.
Um desses problemas é a geral e resoluta ancoragem à esquerda, sem que todavia saibam muito bem o que é a esquerda ou a direita, uma vez que a democracia pluralista em que vivemos lhes foi servida de bandeja. Nunca tiveram de lutar por ela. Daí alguma confusão. E uma noção errada das coisas. Como por exemplo o apoio a Cuba, à Venezuela, aos palestinianos e por aí fora, bem como uma entranhada tendência para o assistencialismo aos pobrezinhos, sobretudo aos excluídos. Só aos antigos combatentes vítimas de stress pós-traumático é que nem tanto. Há exemplos em Tomar, como o daquele conterrâneo, ex-combatente em Moçambique, que dormiu durante anos numa retrete pública, sem que os tomarenses se comovessem por aí além. Mesmo com a sede da Caritas praticamente por cima, na Rua de Leiria.
Ainda assim, manda a verdade dizer que em Tomar o PS prometeu resolver o problema dos ciganos e praticamente já cumpriu essa promessa. Com erros, como o bairro Calé, perdão, Centro de acolhimento temporário, mas cumpriu. Donde resulta todo um contexto que de repente saltou para a pouco exigente informação local.
Graças a  uma intervenção, em plena reunião do executivo, da vereadora Célia Bonet, do PSD, que além de eleita e profissional bancária, preside à Caritas tomarense, houve confirmação de problemas com a comunidade local de assistidos. Aqueles  que o vice Cristóvão e os serviços sociais da autarquia designam por carenciados, o que por vezes não é bem o caso. Mas adiante.
Perante essa confirmação, gerou-se um micro-caos. Toda a informação local falou de agressão a uma assistente social da autarquia, que estava acompanhada pelo presidente da Junta urbana, mas nada de nomes, nem de etnias. Nem da agressora, nem da agredida, nem dos agredidos oralmente. Nem causas nem consequências. Porquê? Porque as novas normas societais, iniciadas com a geringonça, assim o exigem. Nada de contribuir para a marginalização dos marginais. Coitadinhos!
E foi o espanto. Com tanto secretismo, (ou será apenas medo de represálias, conforme foi referido na antes citada reunião do executivo ?) dois órgãos de informação situaram a agressão no Bairro da Srª do Anjos, e dois outros no Bairro 1º de Maio. Lindo! Com um deles a acrescentar que são os dois bairros mais problemáticos da cidade. Por enquanto, acrescento eu. Não tarda haverá outros.
Em que me baseio? Numa comparação com outras cidades europeias, bem maiores também é verdade. Mas os sintomas da doença são os mesmos, a exigir tratamento político adequado, e com as entidades oficiais a tentar resolver, limitando-se a despejar dinheiro para cima dos problemas mais gritantes. Sem exigir contrapartidas.
Como tem vindo a ser feito pelo PS em Tomar, o tal êxito antes mencionado. O nó do problema, que é político, é o facto de os assistidos se assumirem pouco a pouco praticamente como micro-comunidades autónomas, só com direitos e sem qualquer obrigação de respeitar os outros ou as leis do país. É desse particularismo exacerbado que provêm as agressões, entre as quais esta de Tomar. Regra geral, essas pessoas aceitam a assistência pública, que lhes dá muito jeito, mas recusam-se a respeitar os direitos alheios, ou sequer as leis do país onde vivem. O medo de represálias faz o resto. É a impunidade total, como de resto acontece com os funcionários autárquicos, por exemplo. Onde e quando houve algum castigado ou sequer inquirido? É tudo gente respeitável, acima de qualquer suspeita.
É também por isso que, quando um pacato cidadão resolve passear no Bairro Srª dos Anjos, no Bairro 1º de Maio, (e mesmo já noutros sectores que me abstenho de mencionar para não envenenar a questão) e aparece logo um sujeito mal encarado a indagar o que anda a fazer por ali, como antes acontecia no Flecheiro, a diferença não é grande em relação aos arrabaldes de Lisboa, do Porto, de Madrid ou de Paris, por exemplo. 
É a outra vertente da decadência tomarense. Os bairros fora da lei, que se calhar levam alguns tomarenses descontentes para a emigração, a primeira causa do definhamento do concelho.
Que fazer então?  Antes de mais, ter a serenidade necessária para ver as coisas como elas são, e agir em conformidade. Todos temos medo, mas convém não abusar como expediente.

1 comentário:

  1. Excelente analise, correto paralelismo com problemas existentes e em agravamento, noutras paragens.
    Só não entende, quem não quer, ou quem que entenda incomodo o tema.
    Direitos e Obrigações, eis a questão.
    Tem que existir reciprocidade, em qualquer relação, para que ela exista, e seja saudavel.
    Mas falta a coragem, literalmente, para que as Obrigações sejam um fato. E sobra a benevolencia para conceder Direitos.
    Voltamos aqui à conhecida questão do preço dos votos, e da caça ao voto.
    Parece ser o principal critério que norteia os Autarcas que detêm o poder na Câmara.
    Infelizmente, fica assim ilustrada a "ancoragem à esquerda".

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