terça-feira, 25 de maio de 2021


 Autarquia

Manias, ornamentações, crítica viva e cultura morta

António Rebelo

Soma e segue. Após a ornamentação, tri-milionária mas com pouca serventia, da Várzea grande e o alindamento da Nun'Álvares, de consonância russa porque só estorva, segue-se o enfeitar da margem esquerda do Nabão, entre a Ponte Nova e a do Flecheiro. Com as inevitáveis ciclovias, que não vêm nem vão a lado algum, por não terem continuidade. E vem aí o já prometido ajardinamento da margem direita, da ponte do Flecheiro ao Padrão.
Tudo isto, que é despropositado porque extemporâneo, enquanto os tomarenses padecem de carências básicas que os seus eleitos ignoram soberanamente. A estrada de Carvalhos de Figueiredo não tem condições para pedestres, e assim vai continuar. A estrada de Paialvo, idem idem.
A menos de cem metros dos Paços do concelho, uma boa parte do núcleo histórico continua com os esgotos da idade média. Incluindo as sarjetas clássicas sem sifão, que exalam aromas maravilhosos, particularmente no verão.
Quem devia mandar, lastima-se que muitos turistas não descem à cidade, mas parece ignorar que há dez anos um erro nas obras camarárias da estrada de acesso, passou a impedir que dois autocarros se cruzem, levando os cérebros da autarquia a proibir que desçam. Só podem subir. Afastar-se do centro portanto. E o erro camarário continua a aguardar reparação.
Faltam sanitários, falta um parque de campismo, falta estacionamento lá em cima junto ao castelo, ou uma solução que o torne inútil, falta sinalização adequada, faltam circuitos pedestres balizados. Falta recuperar tanta coisa na cidade. Até a dignidade perdida.
Mas não. Ornamentar, enfeitar, alindar, animar musicalmente, eis as palavras de ordem, para enganar papalvos. Numa terra cujo poder instalado providenciou aquela badalada pintura de rua, ali no muro do ex-estádio, agora simples campo de treinos: Os velhos do Restelo.
Crítica implícita aos que criticam os senhores do poder, que se julgam saídos da coxa de Júpiter e por isso não sujeitos ao erro, que como se sabe é só humano. Acontece, e convém lembrar, numa terra de vasta cultura como Tomar, onde agora, segundo o competente pelouro, até se "respira cultura viva", que só houve um velho do Restelo, e "com um saber de experiência feito", segundo o seu criador, o imortal Camões.
Conservador sem dúvida alguma, no bom sentido do termo, adversário do mau progresso e da inovação nefasta,  que disse afinal esse ente camoniano, supostamente acarinhado pela actual maioria que manda?
"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça desta vaidade a que chamamos fama!
... ... ... ...
A que novos desastres determinas de levar [esta terra] e esta gente?
..............
Chamam-te fama e glória soberana
Nome com que o povo néscio se engana!

Assim disse o velho do Restelo há cinco séculos. Já tinham lido antes? Em Tomar continua actual, o que não é nada bom sinal. Infelizmente.

ACTUALIZAÇÃO às 14H20 de 25/05/2021

É aquilo a que se pode chamar boa pontaria. Realmente fui atirador nos idos de 60, na guerra em Angola, porém ignorava que mantinha excelente pontaria. Mas é o caso, No mesmo dia em que chamei a atenção para a miséria das estradas de Carvalhos de Figueiredo e de Paialvo, (ver acima), segundo a Rádio Hertz a srª presidente anunciou que a câmara ia assumir a tarefa da entidade governamental responsável, a Infraestruturas de Portugal,  e proceder à requalificação da estrada de Paialvo. Não passa de uma feliz coincidência, claro está. Mesmo assim aqui fica a anotação

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