Autárquicas 2021
MUDAM-SE OS TEMPOS
MUDAM-SE AS VONTADES
António Rebelo
Parece que desta é que vai ser. Vamos ter planos, apresentados pelas várias candidaturas eleitorais, ou pelo menos por algumas delas. Ao fim de quase meio século, o acanhado meio político tomarense lá acabou por aceitar uma evidência há muito gritante: Desde o 25 de Abril, todas as listas candidatas se apresentaram ao eleitorado sem planos ou programas dignos desse nome. Candidaturas destinadas portanto a governar em regime de improvisação permanente. O que temos nesta altura.
O resultado aí está. Somos cada vez menos no concelho. E quase metade não vota, sobretudo na freguesia urbana. Perante estes factos, que fazer? Planos, pois claro. Adoptar uma estratégia, definir prioridades, planear, estabelecer um programa para o mandato.
É tão fácil de escrever que até já se publica no Cidade de Tomar, um semanário conservador, por ora salvo da insolvência, mediante pagamento adiantado de publicidade, por uma câmara PS. Estamos conversados quanto à informação local.
Planear, programar, é fácil de dizer, porém difícil de executar. Sobretudo quando se tem em conta a falta de capacidade técnica e política, por um lado, a falta do hábito de pensar, por outro, e essa aberração chamada PDM, por outro ainda.
Para complicar ainda mais, é costume aparecer, logo no início de cada debate sobre o tema, a dicotomia turismo/indústria pesada, em geral seguida do binómio emprego precário/emprego de qualidade. Tudo isto sem ter em conta o que está para trás: a falência das grandes unidades industriais. Nem cuidar de apurar as causas desses desastres económicos.
Estudar, investigar, comparar, aferir, dá muito trabalho e cansa a cabeça. É verdade. Mas no caso tomarense, está à vista de todos que fecharam as indústrias que dependiam do rio para a água, a energia e como emissário de esgoto. E que além disso praticavam baixos salários, que compensavam com várias dispensas anuais, sobretudo na altura das sementeiras e das colheitas. Foi o tempo dos chamados operários-agricultores. Bons trabalhadores, porém pouco assíduos por necessidade laboral própria.
Com a inevitável abertura das fronteiras e subsequente redução das tarifas alfandegárias, essas fábricas deixaram de ser competitivas e fecharam. Ponto final. Há que deixar-se de saudosismos e procurar outras alternativas, mais adequadas aos tempos que correm. A grande indústria transformadora, com muita mão de obra, agora é sobretudo com a China e demais países daquela zona.
Também foram desaparecendo alfaiates, caldeireiros, barbeiros, marceneiros, polidores, sapateiros, sejeiros, taberneiros, aguadeiros, empregadas domésticas, merceeiros, vendedores ambulantes, agricultores, ferradores, pintores, podadores, entre muitos outros, não constando contudo que alguém reivindique o retorno a esses ofícios especializados. Porquê então a acentuada inclinação para as unidades industriais tradicionais?
Quem lê a imprensa regional, não pode ignorar que os empresários da zona se queixam constantemente da falta de mão de obra especializada, o que torna ainda mais estranha essa fixação na indústria pesada. Será por causa dos proletários, tão do agrado de certas formações políticas? A ser assim, cabe a pergunta: Os trabalhadores da Auto Europa, por exemplo, ainda podem ser designados como proletários?
Parece-me que o melhor será descer ao vale nabantino, assentar os pés no chão, ver as coisas como elas são, observar tudo com cuidado e agir em conformidade, antes de começar a redigir qualquer documento eleitoral.
Quando se pergunta a um jovem tomarense quais são os seus três principais objectivos na vida, a resposta mais frequente é: Um empregozinho, um carrito e uma casinha. Donde decorre, não por mero acaso, que o município tomarense tem mais funcionários sentados que o de Ourém, que entretanto já tem mais seis mil eleitores que Tomar. Estão a ver o filme, futuros redactores de planos e programas ? Convém ir meditando no assunto...
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