quarta-feira, 5 de maio de 2021

 



Empresas intermunicipais

OPERAR O CANCRO TEJO AMBIENTE QUANTO ANTES

António Rebelo

Todos os médicos estão de acordo. Quanto mais cedo se detetar e tratar o cancro, maiores são as hipóteses de cura. No caso do buraco da Tejo Ambiente, tende-se a transformar o voto contra a transferência de 812 mil euros,  ocorrido na Assembleia Municipal, num ataque a Anabela Freitas, na sua dupla qualidade de presidente da Câmara e da Tejo Ambiente.
No meu tosco entendimento, não é disso que se trata. Vejamos. Uma empresa intermunicipal em início de vida, que devia ter 12 sócios, mas só conseguiu 6, apresenta um primeiro balanço assustador. Um buraco de 2,2 milhões de euros, cabendo a Tomar transferir mais 812 mil euros.
Procurando justificar a desagradável situação, a Tejo Ambiente alega que o estudo prévio de viabilidade económica incluiu dados muito afastados da realidade. IVA a 6%, quando afinal é de 23%; preços "em alta" inferiores aos praticados; e, sobretudo, a existência de 60 mil ramais, quando afinal há apenas 31 mil.
Perante tais dados, não é preciso ser um grande economista para concluir que houve maquilhagem deliberada dos dados, para tornar viável uma empresa à partida condenada ao fracasso. Mais um elefante branco. Um cancro que vai custar cada vez mais caro aos bolsos dos contribuintes, via recibos da água, impostos e taxas municipais e orçamento autárquico. 812 mil euros é só a primeira de um longo rol de transferências obrigatórias.
Que ninguém se deixe enganar, deslumbrado pela ideologia partidária. Temos um outro exemplo aqui na região. A ex-RESITEJO (que emprega o ex-presidente Carlos Carrão), que presta serviço em Tomar, já faliu, já foi recuperada, já mudou de nome (agora é RSTJ), está em litígio com a Câmara de Tomar, e dizem as pitonisas do costume que não tarda estará outra vez insolvente. Como a CP, a TAP, o METRO, e por aí adiante, que são autênticos poços sem fundo.
Face a tudo isto, ao votarem contra a transferência dos 812 mil euros, nem os oposicionistas, nem os abstencionistas estiveram contra Anabela Freitas ou contra a Câmara PS. Estão isso sim a favor de uma reestruturação profunda, ou até da extinção, da Tejo Ambiente, para recomeçar em novos moldes, mais saudáveis, sem nódulos suspeitos.
Caso não se aproveite o ensejo para extirpar o cancro, enquanto ainda está no princípio, sejam quais forem as desculpas avançadas, vamos pagar mais esta doença durante muitos anos. Até que um dia, em sentido figurado, os eleitores dêem um murro na mesa e gritem Chega! Estamos fartos de pagar as asneiras dos outros! Já faltou mais tempo. Basta pensar no resultado da recente eleição em Madrid, com o triunfo da direita e a derrocada da esquerda.

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