domingo, 2 de maio de 2021



Vida local

É ISTO UMA CIDADE PORTUGUESA E EUROPEIA EM 2021?

António Rebelo

Os meus queridos conterrâneos, (de nascimento e vivência até à idade adulta, que quanto ao resto estamos conversados e divergimos quase sempre) não gostam nada, detestam mesmo, quando os forçam a tragar uma sopa encorpada chamada realidade local. Até catalogam imediatamente a coisa com uma frase que julgam lapidar: "Lá está ele a dizer mal da própria terra". Até têm outra no mesmo estilo: "Você nem parece ser tomarense."
Sucede que não digo mal nem digo bem. Limito-me a descrever aquilo que vejo e o que penso a propósito, respeitando sempre o que me parece ser a realidade factual. Quando, por exemplo, em Tomar chove, faz frio e o Nabão corre poluído, deveria escrever que está sol, a temperatura é amena e o Nabão corre límpido, para não dizer mal da minha terra?
Creio que ofuscados pelo amor à terra, os nabantinos têm dela uma ideia que (já) não corresponde à realidade. Vêem grandeza onde  só há sinais de decadência, que se recusam  a encarar, e reagem em conformidade. Nesta altura, por exemplo, a actualidade mostra o poço onde caímos, e não sei se alguma vez voltaremos a sair. Falo da área informativa, a pomposa comunicação social.
A recente sessão da Assembleia Municipal decorreu na passada sexta-feira, tendo recusado a transferência de 825 mil euros para a Tejo Ambiente, entre outros assuntos. Mesmo podendo parecer que não, está em causa o inevitável aumento das tarifas da água e respectivas taxas anexas, a médio-longo prazo, ainda que ninguém tenha falado abertamente no assunto, porque entretanto há eleições dentro de cinco meses.
Apesar deste emaranhado, de capital importância para os consumidores e eleitores que somos todos nós, cidadãos adultos residentes, decorridas mais de 48 horas após o encerramento dos trabalhos do parlamento municipal, que órgãos informativos já noticiaram a sessão? Apenas a Rádio Hertz, que a transmitiu  em directo e noticiou posteriormente o "chumbo" da proposta de transferência dos 825 mil euros, e Tomar a dianteira 3, que avançou com uma notícia alargada.
Então e os outros todos? Porquê um silêncio tão pesado? Será só por causa do fim de semana? Não tinham jornalistas a assistir à AM? Ou será antes porque a maioria PS foi vencida, pela primeira vez no mandato, e não sabem o que hão-de escrever, entalados entre a realidade e o desejo de quem subsidia? A tal ideia infantil segundo a qual só existe aquilo de que se fala? 
A situação é tão incómoda que o site do Cidade de Tomar já inclui (às 18H30 de Domingo 2 de Maio) a notícia da derrota do Sporting de Tomar no sábado, mas nada refere quanto à sessão da AM, que aconteceu na sexta-feira.
48 horas sem noticiar um acontecimento importante para todo o concelho. Será que ainda estamos na Europa? Ou já na Mauritânia ou no Laos?

2 comentários:

  1. Sr. Dr. António Rebelo, se se der ao cuidado de rever os jornais locais da semana seguinte às sessões da Assembleia Municipal estes não costumam noticiar sobre essas sessões. Realmente este importante órgão do Poder Local Democrático é ignorado por muitos!!!! Cumprimentos. JHSIMÕES

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  2. Grato pelo seu comentário, ilustre Dr. João Simões. Já me tinha dado conta da falha que assinala. Neste caso, porém, nem é isso que me incomoda. É facto de terem ignorado o desfecho inesperado de um ponto importante da OT.
    Aproveito para recordar que tenho alguma experiência quanto a crónicas AM. Nos idos de 80, convidado pelo então director do CT, fiz três. As duas primeiras foram publicadas. A 3ª já não passou no crivo da casa.
    Não me surpreendeu portanto a curiosa posição do actual director que escreveu um destes dias esta beleza: "CT aceita e publica a colaboração CORRETA dos leitores". As maiúsculas são minhas.
    Saravá!

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