sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Era agora se...


A notícia é do CM e o título à moda da casa. Algo equívoco. Na verdade, os referidos monumentos não vão para os privados. Mantêm-se na posse do Estado. conforme se lê no texto. São apenas concessionados a privados, mediante contratos claros e rentáveis.
Era agora, se tivéssemos uma câmara com suficiente envergadura de asa, que se poderia apresentar um plano conjunto para o turismo local, para os próximos 10 anos. Esse plano passaria por obter do Estado a administração do Convento de Cristo, uma vez que não faz qualquer sentido que um monumento Património da Humanidade seja gerido a partir do palácio da Ajuda, a mais de cem quilómetros, e tenha como responsável máxima uma chefe de divisão que não tem vivência tomarense e de turismo moderno pouco ou nada sabe como profissional, até prova em contrário.
Obtida essa cedência e concluído o projecto, a autarquia abriria então um concurso para a concessão do monumento. A qual englobaria o estacionamento cá em baixo na cidade, a construção e subsequente exploração de uma dupla escada rolante enterrada entre o parque P 1 e a entrada do Convento, a exploração turística, a exploração hoteleira e a animação cultural do mesmo.
Estou certo que, com um projecto bem estruturado e uma garantia de estabilidade para 10 anos no mínimo, não faltariam candidatos credíveis. A começar por José Cristóvão, que já deu bastas provas do seu empenho em prol do turismo tomarense.
Recentemente, a senhora presidente da câmara disse publicamente que a autarquia pretendia a gestão partilhada do Convento de Cristo. Foi a surpresa geral. Designadamente porque  ninguém percebeu para que poderia servir tal modelo. Que até já existe em parte. É o IGESPAR que dirige o monumento, contrata os seus funcionários e cobra as respectivas entradas, o que lhe rende mais de um milhão de euros/ano, mas é a câmara que assume a (má) iluminação parcial daquele monumento. Resultado: Há mais de um ano que a torre de menagem do castelo templário desaparece durante a noite, porque os respectivos projectores deixaram de funcionar e ainda não terá havido tempo para os reparar...
Uma vez que a nossa câmara é como está à vista, resta esperar que o movimento Todos por Tomar e/ou outros do mesmo tipo venham a assumir a ideia da concessão conforme exposta sucintamente acima, como eixo da sua candidatura e futura actuação, se eleitos. Aqui deixo o alvitre e ofereço a minha fraca ajuda, caso dela venham a necessitar para aprofundar a proposta. Vamos a isso?!?
Mas nada de ilusões. Não bastam algumas frases bonitas. O turismo moderno é uma arte toda feita de execução, em que os erros se pagam muito caro.

anfrarebelo@gmail.com

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Bruno-oposição e Bruno-poder

Um eleito do actual executivo, mais precisamente da oposição, lastimava-se há dias que "Este não é o Bruno que conhecíamos; anda com eles ao colo." Peço licença para discordar. Desde logo porque, segundo creio saber, o Bruno só excepcionalmente andou com os seus próprios filhos ao colo, quanto mais agora com os filhos dos outros. Ainda por cima adultos e, pelo menos em princípio, responsáveis pelos seus actos. Que se passa então? Quanto a mim, é simples.
Sucedeu-lhe o mesmo que ao Jerónimo, à Catarina e ao Tsipras. Foram forçados pelas circunstâncias, que a vida está difícil para todos, a envergar o paletó do poder. Por interposta pessoa o Jerónimo e a Catarina, directamente o Bruno e o Tsipras.
Ao envergarem o dito paletó do poder, ostensivamente ou de forma algo envergonhada, deixaram de ser oposição, com tudo o que isso implica. Em Atenas, é o que se tem visto. Um partido de extrema-esquerda -o Bloco lá do sítio- a promulgar e implementar medidas de direita, impostas por Bruxelas mais o FMI, para os gregos não virem a passar fome. Temos portanto o Ciriza-oposição, todo vermelho e o Ciriza-poder, de paletó azul.
Em Lisboa, PCP e BE aceitaram apoiar um governo, que à cautela não querem integrar, por ser muito mais prático e cómodo conseguir arranjar quem faça aquilo que nós queremos, sem termos de nos comprometer. Mas em troca deixaram de incomodar o PS-Costa. Como já sucedia na câmara de Lisboa. Passaram a ser o PCP-poder e o BE-poder, quando antes tínhamos em ambos os casos a versão oposição.
Então e a Mariana? perguntará o leitor mais atento e conhecedor destas coisas. A Mariana procura em Estrasburgo e Bruxelas honrar a memória do seu pai, Camilo, difundindo tanto quanto possível as suas ideias revolucionárias. Tal como tem feito em Lisboa, onde desempenha muito bem o papel de espalha-brasas. É a Mariana-oposição, ajudada pelo vento norte (cantado pelo saudoso Jacques Brel) que sopra tanto em Estrasburgo como na terra do menino que mija e da Rua da Putaria (ver fotos), símbolos de uma cidade e de um povo que nunca se acomodam nem se submetem aos alegados bons costumes. Outros ares, outras vidas, outras maneiras de ver o Mundo. E a Mariana está visivelmente encantada por poder sulcar essas águas no barco da contestação. Vantagens de um parlamento sem poderes, como o de Estrasburgo. Ganha-se bem e ninguém se compromete com a realidade.



E o Bruno?!? O Bruno é um homem inteligente, astuto e prudente, que sabe muito bem o que faz, aquilo que querem que ele faça aqueles que o acolheram na lista, bem como aquilo que não pode fazer de forma nenhuma. Por outras palavras, parece-me que o Bruno sabe bem até onde pode ir demasiado longe, enquanto Bruno-poder.
Como cidadão pagador de impostos, o que me preocupa não é propriamente o apoio do Bruno ao actual executivo, coisa normal em suma. Mesmo tendo em conta a qualidade da relativa maioria PS, que não é muita. O que me apoquenta seriamente é constatar que estão ambos, ele e o poder socialista, a ir na direcção errada. Tal como sucede com a geringonça a nível nacional.
Dou um exemplo. Compraram há pouco, aqui na urbe nabantina, uma máquina varredora que custou um dinheirão (150 mil euros). Agora têm de assegurar a respectiva manutenção e, quando vier a avariar, ou o respectivo condutor estiver com baixa por doença, ficarão outra vez descalços. Como já aconteceu com as anteriores, em tempos idos. (Apesar dos teus erros, descansa em paz, Lino Cotralha!)
Se, em vez de se meterem em despesas discutíveis, tivessem resolvido concessionar os diferentes serviços que agora integram os SMAS, perdiam votos, se calhar. Mas também reduziam pessoal, baixavam custos para os consumidores/contribuintes, melhoravam o serviço e gastavam menos. Afinal, os exemplos abundam, mesmo em Portugal. Aqui ao lado, em Ourém e Leiria, para não ir mais longe. A demonstrar que é tudo uma questão coragem e de modelo de sociedade. E aí encontramos as autarquias que falharam estrondosamente e as que vão de vento em popa. É só indagar porquê. E depois ter a decência de aceitar a realidade, o que implica quase sempre pôr a ideologia de parte. Ou seja: envergar o paletó do poder sempre e quando necessário e vantajoso para todos. E não só quando convém...

O corridinho das presidências

Mário Cobra

Regressado de uns dias de férias no fresquíssimo Agroal, fui confrontado com buliçosas notícias relativas a este nossa urbe à beira Nabão plantada. Segundo os bastidores do costume, o vereador da CDU, Bruno Graça, é agora o presidente da Câmara municipal em exercício. Não ganhou as eleições? Dizem os inconformados que também o Costa não venceu as legislativas e é primeiro-ministro. Ou é a Mariana?
Sabe-se que, dando corda aos patins socialistas, o virtual ex-presidente da autarquia, Luís Ferreira, foi-se à vida (terá sido convidado para ir salvar o Deutsche Bank, mas de momento tenta academizar-se em Coimbra), indicando como seu substituto o requalificado Luís Boavida. Numa cidade conservadora até ao tutano, Luís Ferreira entendeu indicar um homem para redimir a autarquia, certamente porque, em seu douto conceito, as mulheres, corações mais generosos, enquadram-se melhor na presidência da Cáritas paroquial.
Debilitada por causa das diversas coisas, a presidente honorária da autarquia, Anabela Freitas, terá regougado "Sendo assim, vale mais ficar o Bruno como presidente em exercício." Mais decidiu, em arroubo decidido, "A partir de agora Luís Ferreira passa a tratar o pessoal do PS por você." E assim foi retirada a confiança política ao virtual ex-presidente. Não mais o socialismo do tu cá - tu lá. O respeitinho afinal é muito bonito.
Perante semelhante inversão de presidências, um grupo de voluntários, intitulado de forma ambiciosa "Todos por Tomar" (Será tomar um copo?), promove no dia 17 de Outubro, num restaurante rodeado por amplo parque de estacionamento (prevê-se larga afluência, correspondente à promessa de um parque temático cujo título entusiasma logo qualquer um: "A caça ao desenvolvimento"). Haverá também um opíparo jantar, onde se prevê que, após sobremesa com Fatias de Tomar e uns cálices de Porto vintage, seja escolhido o futuro putativo presidente da câmara...se vier a vencer as eleições e, antes disso, a oposição interna dos outros laranjas. Senão, restará ainda a independência.
Não foi até agora divulgada a ementa do jantar a 15 euros, sendo todavia certo que o pessoal já está farto do eleitoral frango assado de aviário. Vamos por isso aos palpites:
-Entradas à lista
-Linguado bem passado
-Papos de aves à tomarense
-Tornedó ao tacho
Tudo regado a preceito, que o momento a tanto obriga.
Seja como for, tratando-se mesmo de pessoal a querer o melhor para Tomar, realizavam antes um jantar de enchidos tomarenses (há por aí cada chouriço!) na Feira de Santa Iria, já a funcionar em 17 de Outubro. Promoviam assim os nossos produtos, nomeadamente a morcela de arroz e os pipis. Não esquecendo o conhecido lema "Pipi, pipi, quem não vem não come!"


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Sobre sinalização

Tendo em conta o estado actual da arte, em matéria de sinalização Tomar continua muito mal servida. O que me leva a suspeitar que quem dirige esse sector na autarquia, se calhar nunca viajou assim um bocadinho mais longe. Já terá ido mais além que o Algarve? Ou nem tanto sequer?
Procurando obviar, na medida do possível, a evidente falta de hábito democrático e a manifesta falta de mundo de quem devia tratar da sinalização na área urbana e concelhia, aqui vão quatro fotos muito adequadas. Trata-se de sinalização urbana para peões, sucessivamente em Viena, (Áustria) Salzburgo, (Áustria), e Bruges, (Bélgica). Mais ou menos como em Tomar, não é?
E depois andam por aí a dizer que Tomar é uma cidade de turismo...
Cambada de gabarolas incompetentes, é o que são!







Ficamos bem entregues

Ao regressar do Brasil, em Julho passado, não fazia parte dos meus planos encarar sequer a hipótese de me candidatar nas próximas autárquicas. Todavia, ouvindo os conterrâneos, lendo a imprensa local e constatando a miséria a que isto chegou, comecei a mudar de opinião. De tal forma que, quando um ou outro me encorajava com argumentos lisonjeiros, (naquele jeito tão tomarense de lutar, tipo "avance que pode contar com o meu apoio", mas depois, quando se olha para trás, já não está lá ninguém), comecei apesar disso a pensar com afinco nos meus deveres de cidadania, entre os quais avulta o de eleger e ser eleito, e tendo também em linha de conta que gosto muito desta terra, porém nem tanto assim de alguns dos seus habitantes.
Andava nessa meditação, e quando até já admitira, perante alguns amigos, a hipótese de poder vir a encabeçar uma larga coligação de salvação local, (que é do que isto está mesmo a precisar) englobando no mínimo um dos tradicionais "grandes" (PS, PSD, IpT), eis que surgiu a frase salvadora. O ilustre e honrado cidadão Luís Ferreira proclamou, numa entrevista ao semanário Cidade de Tomar, que os dois eleitores mais qualificados para exercer funções na câmara, são afinal ele próprio e o Luís Boavida. Respirei logo de alívio, ante semelhante e tão boa novidade. Havendo dois conterrâneos mais qualificados do que eu, estava definitivamente dispensado de encabeçar qualquer lista. E portanto de pensar sequer mais nisso. Adeus problemas de consciência! Adeus obrigação cívica! Adeus deveres de cidadania!
Nada disse na altura, posto que Luís Ferreira, nas suas cautelosas palavras, omitiu a argumentação que daria fundamento à sua afirmação. Mais qualificados porquê? Vai daí, tenho andado todo este tempo a suputar. O que me permitiu chegar às conclusões que a seguir exponho, com vossa licença.
Mais qualificados, desde logo porque ambos são de outra geração. Viveram menos, o que lhes permite continuar a ter sonhos e a acalentar ainda esperanças num futuro mais promissor. Ainda têm ilusões. E têm tempo. Muito tempo.
Também não foram, nem um nem outro, até ao doutoramento académico, (apesar do Luís dos frangos ter andado pelos escanhos universitários até ao Dr), o que os dispensa de alguma humildade  perante o saber. Apanágio dos que chegaram ao cume, e aí constataram "Afinal só sei que nada sei."  Outrossim, nunca combateram numa guerra a sério, nem comandaram homens em combate, o que os torna menos exigentes para com os seus subordinados. Mas também menos credíveis. Porque geralmente se acredita mais em quem já deu e continua a dar o peito às balas. Antes em sentido próprio. Agora em sentido figurado.
Tão pouco têm mundo, experiência ou formação aprofundada em Economia política, que lhes faculte perceber, nesta altura do drama local e nacional, que em termos macro-económicos o país e a cidade estão a trilhar a passos largos um caminho errado, que nos leva a todos  para a ruína. Isto quanto ao que não têm, mas os avantaja em relação a mim.
Inversamente, as vantagens pela positiva, são também várias. Usam telemóvel e eu não. Frequentam o facebook e eu não. Fazem selfies e eu não.  Frequentam festas populares e eu não. Gostam de frango de aviário assado e eu não. Bebem vinho e eu não. Bebem cerveja e eu não. Precisam da política e eu não. Ainda ambicionam e podem vir a fazer carreira e eu já não.
Assim, tendo em conta todos os atributos acima enumerados, que não são nada poucos, bem como outros que terei omitido sem querer, que a idade não perdoa, tomei uma decisão. Está doravante totalmente fora de questão que eu encare sequer a possibilidade de me candidatar a candidato. Digo mais: Caso os dois ilustres, honrados e qualificados cidadãos nabantinos venham a encabeçar cada qual a sua lista; ou mesmo se forem os dois na lista PSD (tendo em conta os últimos desenvolvimentos no PS, já faltou mais...) podem ficar descansados que apenas tenciono votar Boavida. Não por opção política. Apenas por realismo. Na minha idade, se resolvesse votar na má vida, não iria longe.
Que fique contudo bem claro que, no meu humilde entendimento, ganhe um ou ganhe o outro, ficamos bem entregues. Ó se ficamos!  Nunca o futuro de Tomar terá sido tão risonho. Só faltará então determinar o tipo de riso. Riso franco? Riso conformado? Riso amarelo? Em qualquer caso, a situação é tão má que rir ainda continua a ser o melhor remédio perante certas coisas.
Mas tenhamos em conta o velho adágio: "Dá tempo ao tempo irmão. O tempo dar-te-à todas as respostas." A seu tempo, claro!

anfrarebelo@gmail.com

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Angústia até aos resultados eleitorais

Mais um disparate

Confirmando o que aqui escrevi, ao falar de cisão, o PS Tomar decidiu por unanimidade retirar a confiança política ao militante Luís Ferreira, na reunião da Comissão política de sábado passado, noticia a Rádio Hertz. Anteriormente o citado militante já se demitira de todos os órgãos partidários, excepto da Comissão política da Federação de Santarém, tendo também anunciado que passava a deputado municipal independente. Não se vislumbra por isso qual a necessidade de agravar a evidente cisão, anunciando a perda de confiança política.
Numa longa declaração algo atabalhoada, a denotar natural nervosismo, Ferreira anuncia que vai continuar a lutar contra os aspectos negativos da coligação com a CDU, acrescentando que, nas condições actuais, não fará parte da candidatura PS nas próximas autárquicas.
São tudo complicações escusadas e algo disparatadas de parte a parte, numa conjuntura particularmente difícil para os socialistas nabantinos. Com efeito, Tomar a dianteira sabe que a presidente Anabela Freitas não se encontra nas melhores condições físicas e psíquicas para exercer o seu cargo. Tal situação resulta da complexidade da actual situação económica e política no concelho, mas não só. Há igualmente problemas conexos bastante graves, de natureza privada mas com óbvias implicações na sua actuação política. De tal forma assim é que no PS local paira já uma evidente angústia, a qual pode ser sintetizada em três interrogações: 1 - Aguentará até à campanha eleitoral, que se anuncia bem renhida? 2 - Conseguirá chegar ao fim da campanha eleitoral? 3 - Ainda tem condições para vencer?
As respostas atempadas a estas perguntas valem mais um mandato de quatro anos, uma vez que delas depende o futuro político do PS no concelho, sendo certo que, caso a actual presidente se mostre incapaz de ir com êxito até ao fim, o melhor será substituí-la quanto antes. Sob pena de derrota inapelável.
Embora sem o dizerem abertamente, os socialistas mais empenhados na política local não conseguem esquecer o inesperado abandono de Corvêlo de Sousa, também por razões psíquicas, e o que daí veio a resultar.

O logro da Levada

Aqui há uma década, um grupo de patuscos, uns de inteligência média, outros abaixo disso, tomando-se infelizmente por génios, pariram uma ideia para eles forçosamente genial. Resolveram desencadear o processo de recuperação dos Lagares da Ordem, da Central Eléctrica e da Moagem. Leu bem. Lagares, Central e Moagem. Para quê? Simples! Para aí instalar três museus, segundo uns; um museu polinucleado, segundo outros. Fundição, Electricidade e Moagem. Eis segundo eles as três mamelas do progresso turístico local. Ainda ninguém tivera antes tal ideia, nem no país nem no estrangeiro, o que só excitou ainda mais os ditos entusiastas. Algo original e muito grande em Tomar, uma terra tão pequenita! A megalomania, ou mania das grandezas, é uma maleita do foro psiquiátrico, raramente diagnosticada e para a qual não se conhece terapêutica eficaz.


A ideia louca foi fazendo o seu caminho e ninguém cuidou de estudar a coisa mais a fundo. O habitual neste país e nesta desgraçada terra. Até Jorge Sampaio, à época Presidente da República, se deixou enfeitiçar e veio visitar a moagem, apesar de ser geralmente considerado uma pessoa inteligente e de cultura. Não há ninguém que não erre. E Sampaio também foi fundador e militante do MES...
Quando mais tarde apareceu dinheiro europeu em catadupa, Paiva apressou-se a saltar para o barco dos patuscos. Candidatada a obra à la va vite, como quase tudo na época, o dinheiro veio e chegou-se ao total vergonhoso de seis milhões de euros. Seis milhões de euros para fazer uma  mini-ponte, um contentor a fingir de auditório, telhados novos, rebocar paredes e pouco mais. Foi um fartar vilanagem!
Agora com a obra concluída, patuscos e autarcas esbarraram na realidade. Mas não querem que se saiba. Usam o silêncio como arma de defesa. É por isso necessário e urgente denunciar o problema, antes que se venha a agravar singularmente. Não é por escondermos as coisas que elas deixam de existir.
Conforme sempre disse, é agora evidente que:
1 - A autarquia não tem nem nunca virá a ter recursos materiais para custear o equipamento indispensável dos museus a instalar;
2 - A autarquia não tem recursos humanos para instalar e manter em funcionamento os ditos museus;
3 - A autarquia já tem excesso de quadros médios e superiores, pelo que não dispõe de capacidade financeira nem legal para ir mais além;
4 - No seu estado actual, concluídas que foram as obras, nem a Fundição, nem a Central, nem a Moagem dispõem de condições de segurança ou de higiene para poderem receber visitantes, seja a que título for;
5 - Mesmo com mais obras, não se vê como seja possível remediar o enunciado no ponto anterior na Central e na Moagem.
6 - Entre outras carências, não existem planos para instalar estruturas de visita (corredores, corrimãos e plataformas), em conformidade com as normas europeias, sem as quais os almejados museus nunca poderão vir a funcionar legalmente.


Pela calada, já cientes do monumental logro em que também caíram, os autarcas em exercício vão procurando mobilar a manifesta inutilidade prática do pomposamente designado "Complexo da Levada", problema realmente bem complexo. Concertos de filarmónicas, Conjuntos de jazz, Feiras do livro, Colóquios, Conferências, Exposições, tudo serve para tentar enganar o Zé Nabâncio.
Com um elevado risco. Tudo aquilo carece ainda de licença de utilização. Parte da instalação eléctrica continua a ser  a das obras (ver foto infra). Não há extintores nem bocas de incêndio. O pó acumula-se por todo o lado. De tal forma que um participante naquela coisa sobre habitat se queixava com amargura de ter saído de lá com uma pieira persistente e quase afónico. Os autarcas podem andar a dormir, mas os  ácaros não dormem.


Reza um ditado popular que "não há duas sem três". A ASAE já selou o Mercado Municipal, por falta de condições de higiene. E multou a câmara em 80 mil euros, pelo funcionamento ilegal do Parque de Campismo, por não ter licença de utilização. Se um dia destes desembarcam ali pela Levada, durante uma dessas manifestações para tentar enganar os eleitores, temo que mandem selar tudo aquilo e voltem a multar a câmara.
Quem ousa brincar com Bruxelas, geralmente aleija-se. E a Levada foi até agora uma dispendiosa brincadeira de crianças grandes. Paga por todos nós. Como sempre. Porque o pilim vindo de Bruxelas foi para lá antes. É uma simples devolução parcial.
Aqui fica o aviso.

anfrarebelo@gmail.com


domingo, 25 de setembro de 2016

Sobre estacionamento tarifado

Informação bastante útil, designadamente para os moradores na Alameda:

Correio da Manhã, 25/09/2016

Conforme os excelentíssimos leitores, nomeadamente os acima identificados, podem ver, não há bolsas de estacionamento gratuito para ninguém. Era o que faltava!
Há, isso sim, avenças a preço muito reduzido para os residentes em qualquer artéria da cidade. No caso, a 25 euros anuais, o que me parece muito pouco. Tal como os anteriores 400€ também anuais me pareciam muito exagerados. Julgo que o mais equilibrado seriam 120€ anuais para estacionar na rua e 250€ também anuais, para estacionar nos parques cobertos.
Falta acrescentar que o autor do texto é Rui Moreira, o independente presidente da câmara do Porto. Que, ao contrário de outros e outras, não se esconde no conforto do silêncio. Tem até a coragem de manter uma página semanal no Correio da Manhã, com o sugestivo título À moda do Porto.
Exactamente como sucede em Tomar. Ou estarei a ver mal?

PS Tomar: Nova travessia do deserto prevista para Outubro 2017


Camelos na travessia do deserto. Os de quatro patas são também designados como bestas de carga, pois é essa a sua principal utilidade. Os outros, por vezes, nem para isso servem...

É uma velha e gasta frase feita, essa segundo a qual a história nunca se repete. Isto porque o passado nos ensina que, quando à primeira  vista a história se repete, aprofundando concluímos que, no fim de contas, não houve bem repetição. Se da primeira vez foi um drama, na seguinte já foi uma comédia. E vice-versa.
Decerto alheio a semelhante tipo de raciocínio, Confúcio, lá do seu extremo-oriente e laureado pela patine dos séculos, aconselha olhar para o passado  como forma de entender o futuro. Seguindo tão ilustre e abalizado conselho, fui revisitar os anos 90 do século passado e o que se seguiu.
Embora o contexto seja diferente, Luís Ferreira acaba de repetir agora o seu gesto desses tempos idos. Por volta de 1996, se não erro, resolveu manter-se na Assembleia Municipal, mas incompatibilizou-se com Pedro Marques, presidente independente pelo PS, já no seu segundo mandato, para o qual conseguira 12.929 votos = 4 eleitos. Só quatro eleitos, apesar da excelente votação, porque o PSD também conseguira um óptimo resultado: 8040 votos = 3 eleitos. Todas as outras formações ficaram  fora do executivo. Rosas e laranjas puderam então cantarolar alegremente e durante quatro anos o conhecida música "Só nós dois é que sabemos".
Por causa dessa incompatibilidade tipo birra, protagonizada por Ferreira e Pedro Marques, o PS veio a atravessar a seguir um deserto de 16 longos anos, sempre com resultados inferiores a 50% do de 1993, excepto em 1997. Foi então o longo e infeliz reinado laranja. Com os grandes sucessos eleitorais de Paiva, mas igualmente com os tristes resultados no terreno, conhecidos de todos. 
16 anos mais tarde, em 2013, os socialistas lá conseguiram regressar ao poder, porém com uma votação miserável de apenas  5479 votos, contra 5198 do PSD, apesar de dramaticamente queimado por quatro mandatos consecutivos de mau desempenho. O que mostra bem o enorme degaste sofrido pelos políticos medíocres. Tanto os do poder como os da oposição.
Dirão os habituais treinadores de bancada, que sucedeu assim porque o PS não recandidatou Pedro Marques em 1997, devido à já referida quezília com Luís Ferreira. Porque se tem recandidatado... Creio que estão equivocados. A vitória não era certa.  Na verdade, Pedro Marques recandidatou-se em 2005, tendo obtido apenas 4.949 votos. Bem menos de metade dos averbados em 1993. E em 2013, 20 anos depois da encorpada vitória socialista/pedrista, a contagem foi ainda mais decepcionante para ele: apenas uns magros 3094 sufrágios. A evidenciar que, sem apoio partidário...
Perante isto, salvo manifesta inépcia dos laranjas locais, resta aconselhar Anabela Freitas e seus companheiros de luta a comprarem desde já vestuário sahariano. Nesta altura, tudo indica que a partir de Outubro de 2017 vão ter de iniciar uma nova e longa travessia do deserto. Com a ajuda desta nova birra de Luís Ferreira, é verdade. O manobrador-mor local aceita mal ser manobrado e resolveu passar ao ataque. Decerto apoiado naquela frase segundo a qual "a melhor defesa é um bom ataque". Adivinha-se o resultado adverso para o PS. Mas não será ele o único culpado. Como em tudo na vida, a habilidade, o desempenho, as circunstâncias, também contam muito... Ó se contam!

sábado, 24 de setembro de 2016

Agrava-se a divisão no PS Tomar

Foto Rádio Hertz (modificada)

Após o murro na mesa de Rui Serrano, a cabeçada de Luís Ferreira. Depois de Serrano ter decidido continuar como vereador, mas entregar os pelouros e o tempo inteiro, recuperando assim alguma margem de manobra, ao mesmo tempo que difunde o seu desacordo e o inerente protesto, Luís Ferreira, patrão do PS local durante mais de 10 anos, resolveu seguir-lhe as pisadas. Segundo a Rádio Hertz, numa carta entregue ao presidente da Assembleia Municipal e enviada também àquela rádio, o ainda influente socialista informa que se desvincula da bancada do PS naquele órgão municipal, passando portanto a independente de facto. Com a recuperada liberdade de actuação que isso implica.
É o evidente acentuar da divisão interna no PS tomarense, dilacerado entre os defensores e os adversários da actual coligação com a CDU e do concomitante protagonismo cada vez mais evidente do vereador Bruno Graça. Que segundo anteriores declarações de Luís Ferreira, em recente entrevista, exerce demasiada influência sobre a presidente Anabela Freitas.
Sendo Ferreira um político experimentado e indiscutivelmente inteligente, este seu gesto inesperado só pode ser o primeiro de uma longa série, que irá prosseguir até o ex-chefe de gabinete conseguir recuperar tudo o que perdeu. Ou, pelo contrário, admitir a derrota, sem esperança de reversão. O que não está na sua natureza. Assunto a acompanhar com todo o cuidado.
Fiel ao seu estilo de sempre, Tomara dianteira -3 tentou obter o ponto de vista de Luís Ferreira sobre esta matéria, mas até ao momento em que este texto foi redigido não obteve resposta.

Sobre o contentor da Levada

Rui Lopes
Veterinário, tomarense, residente no concelho

De antemão ressalvo o facto de nunca ter pertencido à Banda Nabantina, uma das bandeiras da cidade, que comemorou recentemente, entre outras coisas com um concerto, o seu 142º aniversário, anunciado com pompa e circunstância no site do município, como sempre deveria ser.
Foi assim que no passado dia 18, num passeio vespertino com a família pela Levada, nos deparámos com a actuação daquela banda filarmónica tomarense, no moderno palco, construído mesmo em cima do espelho de água do Nabão. (Ver foto) Tentámos encontrar um metro de muro livre para acompanhar o desempenho da dita banda, tarefa que não se revelou difícil, uma vez que o número de espectadores era residual. (Ver foto)




Rapidamente percebi porquê. Era uma tarde quente de Setembro, com temperaturas à hora da actuação bem acima dos 30ºC, o que logo à partida era pouco convidativo. Ainda por cima, estar ali de pé, à torreira do sol... Mesmo assim, ainda resistimos ao primeiro arranjo musical. Ao segundo, o mau cheiro proveniente do lixo dos ecopontos, ali mesmo ao lado e na altura a transbordar, tornou a nossa tarefa ainda mais difícil.
Por isso, ao terceiro arranjo, e num momento em que o som proveniente de camiões e motorizadas que passavam mesmo atrás de nós, se sobrepunha ao que emanava do contentor onde a banda estava escondida, decidimos abandonar o local.
Fomos em direcção ao jardim da Várzea pequena, onde as temperaturas, os bancos de jardim e a tranquilidade eram bem mais adequados para um calmo passeio dominical. E, coincidência ou talvez não, é precisamente ali que "mora" há 119 anos um dos coretos mais bonitos do país... (Ver foto)


Não sei quem terá sido o responsável pela infeliz escolha do local para a actuação da banda. Depressa porém concluí que o moderno e arrojado contentor é um autêntico atentado sensorial. Visualmente, esconde quem lá actua quase por completo. Em termos acústicos, está ao lado de uma rua que faz parte da estrada nacional 110, com intenso trânsito vindo de oeste. Pituitariamente falando, o pivete dos ecopontos não ajuda nada à festa. Por último, mas ainda mais importante, sente-se que vieram uma vez mais ao bolso do contribuinte, para uma obra cuja utilidade custa muito a engolir!

O título é de Tomar a dianteira
anfrarebelo@gmail.com

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Sinalização e ditadores de algibeira

Na Rotunda, entre a Rua da Graça e a Rua dos Arcos

Na Avenida Marquês de Tomar, antes daquela encrenca com uma hipótese de rotunda, junto ao jardim da Várzea pequena.

As duas fotos acima são outros tantos exemplos da triste e bafienta mentalidade que continua a reinar em certos gabinetes dos Paços do concelho. Por óbvia inépcia dos eleitos, que deviam dirigir aquela casa. Deviam...
Explicando melhor. Em ambos os casos documentados nas fotos o erro é flagrante, pelo que  a aselhice e a falta de liderança política saltam aos olhos. No primeira foto, aquele conjunto de indicações, colocado em plena Rotunda, entre a Av. Cândido Madureira e a Rua dos Arcos, devia estar antes, no final na Rua Everard. Única maneira de cumprir as normas internacionais que regulam a sinalização automóvel. Com efeito, esse normativo estabelece que os painéis indicadores devem estar sempre do lado direito da via e antes do local da manobra a executar. Assim sendo, na anómala situação actual, os condutores que queiram dirigir-se para o Turismo ou para o Convento, obedecendo à referida norma internacional, vão virar para a Rua dos Arcos. E sabe-se lá quantos o terão já feito. Levados ao engano por técnicos municipais, que serão excelentes pessoas, mas manifestamente erraram neste caso. E insistem no erro, dando a ideia de se estarem nas tintas para todos os condutores que não conheçam bem Tomar. Os outros, os conhecedores, não querem saber, como sempre. É o estilo tomarense. Por isso estamos cada vez melhor.
Sabe-se lá quantos os terão já feito, escrevi eu acima. Pois quanto ao outro painel, colocado na Avenida Marquês de Tomar, há pelo menos uma condutora que já foi enganada por aquela excelente sinalização municipal.
Detalhando. Ia eu a passar junto à Pensão Luanda, quando uma senhora, que circulava naquela via de acesso ao parqueamento tarifado, depois de me ter perguntado se eu era de Tomar, confessou estar perdida e solicitou o melhor caminho para... Caldas da Rainha!!! O que mostra bem a óptima qualidade da sinalização tomarense.
Expliquei-lhe pausadamente que devia fazer inversão de marcha ao fundo da Rua Sacadura Cabral e depois seguir as indicações IC 9 Leiria até ao IC 2, após o que devia seguir os painéis IC 9 Nazaré, até encontrar a indicação A 8 Caldas da Rainha/Lisboa.
Para grande surpresa minha, chegada àquela ridícula hipótese de rotunda, ali à ilharga do jardim da Várzea pequena, que nada justifica, dado que há espaço mais que suficiente para uma rotunda de tamanho normal, a senhora, escrevia eu, contornou aquilo e foi para a esquerda, rumo à Rua Dr. Sousa. Naturalmente, senti-me um pouco culpado, dizendo para os meus botões que se calhar não me explicara de forma assaz clara, pelo que a senhora não compreendera.
Só mais tarde percebi o óbvio: A condutora fora simplesmente induzida em erro pelo primeiro painel de sinalização que encontrou. Isto porque, se é correcto que o hotel e o Prado são no ramal para a direita, o que justifica a seta a 45 graus. o IC9 Leiria não é para a esquerda de forma alguma. Porque é a continuação da estrada nacional e não há qualquer ramal à esquerda. A não ser para a Quinta da Anunciada, como todos sabemos. Todos não. Os senhores dirigentes municipais, que mandam nesta coisas, pelos vistos não sabem.
Pior ainda. Não sabem nem querem saber. Ou antes, não querem dar o braço a torcer, porque isso seria admitir o erro. O que, pensam as aquelas cabecitas, lhes retiraria autoridade. É a tal triste mentalidade ditatorial de trazer por casa. Tipo Maduro, Mugabe, Castro, Zédu e por aí fora. Já perceberam decerto que as coisas não vão nada bem, mas recusam mudar o que quer que seja. Para preservar a sua autoridade e infalibilidade. 
Pois senhores ditadores de algibeira, continuem assim! Não mudem nada, que vão longe. Um dia virá quem bom de mim fará. E vos modificará. Ou vos levará a calçar os patins, que quem não está bem muda-se. É inevitável.  Mera questão de bom senso. E de paciência.
Porquê? Porque, na situação actual, a câmara de Tomar se assemelha a um camião com três motores. Um, o dos eleitos, que tenta puxar para a frente. Os outros dois, de alguns técnicos superiores, que pela calada vão puxando para trás, convencidos que estão a fazer uma grande obra. Afinal, é próprio dos menos dotados a nível cabeçal não intuirem atempadamente todas as consequências daquilo que fazem e/ou provocam.
Pobre gente. Pobre terra.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Leitura em diagonal da imprensa de hoje

Às quintas é sempre um fartote de leitura. Além dos habituais Público, Correio da Manhã e Le Monde, vejo os títulos da imprensa local, lendo depois só aquilo que me interessa. Que é pouco. Aí vai o que me pareceu importante desta vez.
No Mirante, o destaque vai para a secção Cor de rosa, na qual a brincar a brincar se escrevem coisas muito sérias. Ora leia:


Gostou? Então vamos a outra do mesmo semanário. Cartas de leitores, com assuntos relevantes para Tomar. O semanário da Chamusca tem muita sorte com os leitores. Escrevem melhor que alguns redactores. Porque será que os leitores de Tomar nunca escrevem assim?:
:

Habitualmente pacato em excesso, o decano Cidade de Tomar parece estar a querer sair da casca. Após a inesperada entrevista de Luís Ferreira, que causou bastante controvérsia, temos agora as declarações de Ivo Santos, ex-vereador PSD e ex-cabeça de lista CDS.
Entrevista bem mais consensual e até mais sucinta. O entrevistado apoia Anabela Freitas, de quem refere ser amigo pessoal, refere também não ter sido contactado para segundo da lista, condena a coligação PS/CDU e desanca no vereador Bruno Graça, que classifica como "um mito tomarense". Quem fala assim...


Ainda no Cidade de Tomar, uma notícia que confirma aquilo que já aqui foi largamente referido: o anunciado realojamento de alguns ex-nómadas do acampamento precário do Flecheiro no terreno camarário entre a GNR e a via férrea. A ver vamos se vai mesmo avante ou se é só conversa. Podendo até vir a começar e parar logo a seguir, devido a uma eventual providência cautelar dos vizinhos. Assunto a seguir com atenção.


Para terminar com a imprensa local, O Templário, que ainda não está nas bancas à hora a que escrevemos esta resenha, tem como tema de primeira página a multa de 40 mil euros imposta pela ASAE à Câmara, por causa do Parque de Campismo ter vindo a funcionar há anos sem estar munido da indispensável licença de utilização.
Tomar a dianteira sabia do assunto mas comprometera-se a nada dizer até novas indicações. Uma vez que agora o escândalo já é do domínio público, pode avançar que não se trata de uma só multa, mas de duas, num total de 80 mil euros. Além disso, a ASAE concedeu um prazo curto para a autarquia proceder ao encerramento do parque, que oficialmente não existe naquele local, designado como parque da cidade no plano de  pormenor, aprovado pelo município em tempo útil.
Agora a autarquia procura afanosamente soluções para os problemas resultantes da sua própria aselhice em mandatos anteriores. Quanto às multas, parece não haver nada a fazer. Há que pagar, naturalmente com dinheiro dos contribuintes e não de quem meteu o pé na argola. Sobre o encerramento, aponta-se nesta altura no sentido de onde está agora o parque passar a haver transitoriamente um encosto para autocaravanas.


Na imprensa internacional, referência para o prosseguimento da campanha anti-cancro, financiada pelo governo francês, desta vez com o tema "Prefiro ir a pé"
No  que se refere à imprensa portuguesa, um curioso lapso no PÚBLICO de hoje. Veja se consegue encontrar o Politécnico de Tomar nesta ilustração:


Não conseguiu? Não desanime. Está no ângulo superior direito. A preto e em letra pequena, ao contrário de todos os outros estabelecimentos de ensino referidos. Um lapso, bem entendido. Mas há certos lapsos que são como determinados silêncios -muito eloquentes. Ou significativos, se preferir.
Finalmente esta notícia do Correio da Manhã:


Temos assim que a câmara de Lisboa, também liderada por gente do PS, consegue reunir 5 milhões de euros para fundar, equipar e dotar um museu luso-hebraico. Desses 5 milhões, 1,2 milhões vêm de uma fundação do dono da Altice, o cidadão francês de religião judaica Patrice Draghi. O restante será custeado pela taxa turística. Um imposto pago pelos visitantes, que não existe em Tomar. Aqui quem paga são sempre os mesmos. Os desgraçados dos tomarenses.
Tudo isto apesar de na capital portuguesa não existir qualquer vestígio judaico de relevo anterior ao século XIX. Nós aqui em Tomar temos a sinagoga do século XV, a mais antiga do país, na qual está instalado desde o século passado o museu luso-hebraico Abraão Zacuto. Monumento que foi visitado por mais de 30 mil pessoas em 2015, quando em Lisboa apontam 60 mil visitantes por ano para o futuro museu.
Pois apesar disso e de até haver já um donativo norueguês importante para custear as obras, a câmara que temos ainda não foi capaz de mandar rebocar uma parede que está leprosa e em estado vergonhoso há mais de 5 anos 5. Estamos muito bem servidos de autarcas, não estamos?!
E pronto, Tem aqui muito para ler e meditar durante o longo fim de semana que se aproxima. Aproveite, porque Tomar a dianteira não vai durar sempre.

Na "selva" de Calais - França - 2

"Vamos instituir um "corredor de saída" que uma vez franqueado tornará o regresso impossível à "selva"

A governadora civil da região de Pas de Calais espera evacuar 2 mil pessoas logo no início da operação de desmantelamento

"A governadora civil do Pas de Calais está pronta. Aguarda apenas a ordem do ministro, que pensa não tardar. Na passada segunda-feira, 12 de Setembro, esteve novamente todo o dia em Calais. Na sua secretária improvisada, as plantas gigantes da "selva" misturam-se com fotografias aéreas deste bairro da lata, que ocupa grande parte do seu tempo.

Um aspecto da "selva" de Calais. No primeiro plano as tendas do acampamento "selvagem". Ao fundo os alojamentos em contentor do campo de acolhimento, inicialmente facultados pelo governo como solução provisória para o afluxo de migrantes que pretendem ir para Inglaterra. (Foto Charales Platiau/Reuters/Le Monde)

Fabienne Buccio diz ter aprendido com o desmantelamento da zona sul da "selva", em Fevereiro passado. Sabe que todos os que são voluntários para partir devem ser embarcados nos autocarros o mais depressa possível, antes que mudem de opinião. "Pretendo obter quanto mais autocarros melhor, para que todos os migrantes que o desejem possam partir imediatamente. Vamos instituir um"corredor de saída", que uma vez franqueado tornará o regresso impossível à "selva". É a partir desse mesmo "corredor de passagem" que tencionamos orientar cada pessoa, cada família, com a maior minúcia possível, para o local de acolhimento que melhor convenha à sua situação."
Alguns Centros de Acolhimento e de Orientação (CAO) dispõem de alojamentos para famílias. Outros ainda, têm dormitórios para homens sós. "Em nenhum caso poremos pessoas a dormir em pavilhões desportivos", insiste a governadora civil. Utilizada na região de Paris, esta fórmula não tem sido até agora muito convincente e os migrantes têm regressado aos acampamentos.
A governadora civil solicita, além de um acolhimento digno, autocarros em número suficiente para evacuar 2 mil pessoas logo nas primeiras horas da operação, mesmo se esta, acrescenta ela, vier a durar uma semana. "Ao entrar no autocarro, cada um indicará o nome, a idade e a nacionalidade, para que à chegada as associações saibam quem vão realmente acolher." O trajecto de cada autocarro será estabelecido a nível superior.



Zonas de 600 refugiados

No início de Setembro, a distribuição dos migrantes previa que o maior contingente iria para a Região Auvergne-Rhône-Alpes (1.800). A Nova Aquitânia e a Occitânia receberiam por sua vez 1.400 cada. uma. Estes números representam afinal  o total de lugares que o governo pretende impôr às regiões. Por enquanto, Auvergne-Rhône-Alpes ainda só desbloqueou 25%, a Auvergne 33% e a Occitânia 20%...
Entretanto, para que a operação de desmantelamento decorra o melhor possível, a governadora dividiu o acampamento em quadrículas, zonas de 600 migrantes cada, que serão desocupadas uma a uma, após as partidas voluntárias. "Vamos pedir a cada refugiado que desmonte a sua tenda antes de se ir embora", informa a governadora, que pretende evitar ao máximo as imagens de destruição de alojamentos precários. As mesmas que, difundidas pelas televisões do Mundo inteiro, aquando do desmantelamento da zona sul, em Fevereiro passado, mostraram o carácter da operação então em curso e impediram o ministério de aproveitar o ensejo para desocupar também a parte norte.
A governadora, que teve uma reunião de trabalho com todas as associações no passado dia 15, espera tê-las convencido a trabalhar em conjunto com o governo e a persuadir os migrantes que é do seu interesse abandonar o acampamento precário. Persiste todavia uma incógnita: Quem vai ser levado para para o centro de retenção administrativa (CRA)? Em Novembro de 2015 foram reservados lugares em 7 CRA de todo o país. Houve então tantos migrantes em retenção administrativa como em em centros de acolhimento."
Maryline Baumard, Le Monde, 18/19 Setembro 2016, página 10
Tradução e adaptação de António Rebelo

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Na "selva" de Calais - França - 1

Numa altura em que se fala no próximo (???)  realojamento de 25 pessoas do acampamento precário do Flecheiro, o que corresponde a 12,5% dos seus actuais 200 habitantes, talvez seja útil saber algo sobre um outro acampamento precário, em Calais - França, mas neste caso com mais de 9 mil habitantes. 45 vezes o Flecheiro!  Para relativizar as coisas.
Dada a complexidade do assunto,  foram traduzidos dois textos do jornal de Le Monde. É uma leitura algo árida e por isso nem sempre fácil, mas que compensa quem gosta de saber um pouco mais, para nunca falar à toa.

"Em Calais, aguardando o desmantelamento"

"À medida que se aproxima a data da evacuação, as associações de apoio aos migrantes mostram-se preocupadas com o que os espera"



"O relógio da torre não parou e a cerveja continua a correr aos balcões dos cafés de Calais. Na "selva", as noites dos migrantes continuam a ser marcadas pelas tentativas de passagem para a Grande Bretanha, e os fins de tarde pelas refeições distribuídas no centro de apoio social Jules-Ferry. A notícia da próxima evacuação da "selva" de Calais, dada no passado dia 2 de Setembro pelo ministro da administração interna, não fez parar o tempo nesta cidade-fronteira.

No bairro da lata, onde prevalece a sobrevivência diária, onde muitos dos 9 mil migrantes (7.900 segundo o governo civil) mantêm a esperança de conseguir chegar à Grande Bretanha nas próximas horas, o anúncio do ministro francês não alegrou nem assustou. "Já conheci a guerra, as bombas, os ataques-surpresa e agora vão deitar abaixo a minha barraca? Tenho tendência para pensar que vou conseguir sobreviver mesmo assim", diz em tom irónico Ahmad, sentado no Restaurante Hamid Karzai, um dos estabelecimentos da "selva" onde os mais abonados podem comer ao meio dia e os outros vêm só para conversar. Na casa ao lado, uma ex-loja de moda transformada em alojamento para responder à sobrepopulação do acampamento, dois outros afegãos, trinta e poucos anos, passam o tempo vendo videos, deitados num cobertor.

Linha de fractura 

Walhadad, que já pediu asilo em França, está contente "porque vão finalmente desmantelar um acampamento onde vivemos como animais. Com a vantagem que desta vez vão ser obrigados a alojar-me", refere com um sorriso quem, de acordo com a lei, já devia ter sido alojado. Já o seu amigo Ahmid, que ainda não desistiu de passar para a Grande Bretanha, está inquieto. "É bom para ti, Walhadad; mas eu tenho de ficar próximo da fronteira", insiste ele, que já viveu sete anos  em Liverpool, antes de ser expulso para o Afeganistão e de voltar a calcorrear o caminho rumo à Europa. Para onde irá depois de Calais? Não sabe. Entre os sudaneses, maoritários no acampamento, a linha de fractura passa entre os que espreitam para o outro lado do canal da Mancha, e os que acabaram por optar por um pedido de asilo em França.
No seio deste grupo, 80% já foram identificados e pediram asilo noutros países europeus por onde passaram. É deles que depende o êxito ou o malogro da evacuação do acampamento. Sucede que o relatório de 2 de Setembro do Ministério da administração interna especifica que "as pessoas cujo pedido de asilo depende de outro Estado [é o caso] serão colocadas em residência vigiada até à posterior transferência para o país competente para tratar o seu pedido de asilo."
Desde que os Centros de Acolhimento e de Orientação (CAO) acolhem migrantes do acampamento de Calais, tal medida apenas foi aplicada marginalmente. Se desta vez viesse a ser aplicada de forma mais rigorosa,  a atractividade das partidas para os CAO diminuiria drasticamente. O Ministério da administração interna, que não esteve disponível para responder às perguntas deste jornal sobre as suas intenções nessa matéria, fez saber posteriormente em Calais que não existirá tal rigor. Mesmo assim, é um assunto que preocupa as associações de apoio aos migrantes, que serão recebidas terça-feira 20 de Setembro por dois ministros. A margem de manobra do ministro da administração interna é muito estreita, entre a necessidade de não reenviar migrantes para a Itália e para a Grécia, caso queira obter êxito na evacuação e desmantelamento do maior bairro da lata de França, e o direito comunitário que o obriga a fazê-lo. Para melhor vincar a sua posição, o Ministério da administração interna (em França, Ministério do Interior), informou na passada quinta-feira que 1.346 pessoas "em situação irregular" foram expulsas de Calais desde 1 de Janeiro deste ano.
Qualquer que venha a ser a decisão final, os dirigentes das associações, que a governadora civil (prefeita, em França) Fabienne Buccio recebeu no passado dia 15, estão preocupados. "Muitos habitantes do acampamento vão desaparecer na paisagem, esconder-se, passar à clandestinidade. Após o desmantelamento da zona sul, no inverno passado, uma centena de menores desapareceu dos radares, sumiram-se", lembra Christian Salomé, dirigente máximo da associação Estalagem dos migrantes e observador atento. "Caso a expulsão do bairro da lata seja efectiva, sem alternativa adaptada e sem ter em conta a necessidade de assumir a protecção dos menores isolados, previne por seu lado Jean-Maria Dru, presidente de Unicef França, será uma cataástrofe." Conjuntamente com Médicos do Mundo as Unicef francesa e inglesa acabam de subscrever um alerta comum, ao qual a governadora civil responde que tudo o que seja necessário será feito.

Mostrar firmeza

"Tudo isto teria sido evitado, se o Estado nos tivesse dado ouvidos", lembra Medhi Dimpre, da associação "Réveil voyageur". "Tínhamos avisado que agrupar todos os migrantes numa imensa "selva" no meio do campo era suicidário. Só passado ano e meio é que concluíram que tínhamos razão. De qualquer modo, esta evacuação não tem como objectivo melhorar o bem-estar dos migrantes. Se assim fosse, já teria sido feita há muito tempo. Pretende-se, isso sim, dar um sinal de firmeza aos eleitores. Agora que começa a corrida presidencial, o governo quer mostrar que faz alguma coisa." analisa Christian Salomé. 
"O ministro da administração interna pretende uma foto sua em pleno acampamento já livre de migrantes. Exactamente como Nicolas  Sarkozy se fez fotografar diante das moto-niveladoras que destruíram o centro de alojamento para migrantes de Sangatte [localidade próxima de Calais], em 2002. Foi há 14 anos mas é um eterno recomeço", acrescenta Laurent Roussel, gerente do Café Cabestan, situado ao lado do acampamento.
"Vão desmantelar o acampamento, concordo; levar os exilados, muito bem. Mas é então que o mais difícil começa. Calais vai continuar a ser a cidade mais próxima da Inglaterra. A entrada do túnel sob a Mancha e o porto de atracação dos ferries. Por isso os migrantes nunca vão deixar de convergir para aqui", alerta em voz alta um elemento da oposição de esquerda à presidente da câmara de Calais.
"Não somos ingénuos", responde a governadora civil. "Calais tem de deixar de ser atractiva para os migrantes, de uma vez por todas. Seremos extremamente vigilantes. Desmantelado o actual acampamento, impediremos por todos os meios legais ao nosso alcance que se formem novos bairros da lata." É realmente esse o verdadeiro desafio, e a construção de um muro de um quilómetro ao lado da estrada nacional RN216, no prolongamento de uma rede com 4 metros de altura à saída do acampamento, visa preparar já esse futuro.

Maryline Baumard, Le Monde, 18/19 Setembro 2016, página 10
Tradução e adaptação de António Rebelo
anfrarebelo@gmail.com

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Uma de saúde...

Por cá, praticamente ninguém diz nada sobre os malefícios do álcool, do tabaco, do sedentarismo ou da comida rápida. Porquê? Protecção às cervejeiras? Às tabaqueiras? Aos viticultores? À fileira da carne? Às cadeias de comida rápida?
Seja como for, em França a situação é bem diferente. Ora repare nesta publicidade, na última página do Le Monde de hoje:

"Prefiro um sumo de fruta." Aqui está uma das pequenas frases que pode ajudá-lo a reduzir o risco de cancro.

40% DOS CANCROS PODIAM TER SIDO EVITADOS

EVITAR O ÁLCOOL, NÃO FUMAR, FAZER EXERCÍCIO FÍSICO, COMER SAUDÁVEL
Leia os nossos conselhos de especialistas em e-cancer.fr

REPÚBLICA FRANCESA
MINISTÉRIO DOS ASSUNTOS SOCIAIS E DA SAÚDE
INSTITUTO NACIONAL DO CANCRO

Dado o tempo que usualmente estas ideias levam a atravessar os Pirinéus, com um pouco de sorte, lá para daqui a uns meses somos capazes de vir a ter direito a qualquer coisa semelhante...em português. Se as fileiras do álcool, do tabaco, da carne e da comida rápida não se opuserem. Por isso resolvi tomar a dianteira.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Saber ser oposição

Volvidas mais de quatro décadas de poder democrático, tenho a impressão que aqui em Tomar ainda há eleitos que, estando na oposição, não sabem realmente qual é o seu papel...e a sua obrigação para com os eleitores, que somos afinal todos nós. Provavelmente porque, não havendo por enquanto cursos rápidos de formação política, mesmo no Politécnico local, nunca ninguém lhes demonstrou que oposição é quase sempre debate, protesto, contestação, discordância, abstenção comentada, voto contra explicado. E só raramente negociação e compromisso. A regra e a excepção, por assim dizer.
Sem nunca esquecer que é muito difícil haver bom governo sem uma boa e forte oposição. Os mandatos de António Paiva, que também fez obra útil, embora infelizmente minoritária, aí estão para o demonstrar. E todos os outros. Porque afinal, em mais de 40 anos que obras valorosas tem a oposição para apresentar? Não era nem é o seu papel? Neste caso, que estão lá a fazer? Só para lembrar que existem?
Tudo isto para vincar que o actual contexto autárquico tomarense é largamente favorável à oposição, caso esta saiba e queira aproveitar. Não tem sido o caso até agora. Infelizmente para todos.

Foto Manish Swarup/AP/Le Monde

Tibetano imolando-se pelo fogo, para protestar contra a ocupação do Tibete pela China. Uma forma extremamente corajosa de contestação, de quem nunca foi eleito para isso, mas não quer renunciar ao livre exercício do seu direito e dever de cidadania. No Tibete, que fica nos Himalaias, a mais de 3 mil metros. É outra atitude, noutra altitude. E Tomar até fica numa cova...

Porquê?

António Rebelo
anfrarebelo@gmail.com

Na recente entrevista ao semanário Cidade de Tomar, Luís Ferreira não teve papas na língua: "As pessoas melhor preparadas para exercer funções no município sou eu e o Luís Boavida." Salta aos olhos (aos meus, pelo menos), sendo também norma nos manuais de jornalismo, que semelhante declaração carece de demonstração. Por conseguinte, ao menos duas perguntas eram indispensáveis naquela altura: Porquê? Que funções? Infelizmente não foram formuladas. Só as entrevistadoras saberão porquê. Agora, já de sobreaviso, Ferreira poderia responder sem qualquer dificuldade, articulando meia dúzia de frases bem preparadas. 
Poderia, mas arrisco dizer que não o fará, até para o acicatar a desmentir-me. Primeiro, porque aquele "exercer funções" é deliberadamente ambíguo. Dá para todas as funções, conquanto o entrevistado já tenha esclarecido, noutro passo das suas controversas mas corajosas declarações, que não aspira à máxima magistratura local. Não mesmo? Nem por interposta pessoa? Não seria a primeira vez...
Depois porque, se nos detivermos na análise atenta de todos os mandatos municipais decorridos até agora, incluindo a actual, damo-nos conta de que não é fácil determinar, bem pelo contrário, o que terá levado cada um dos presidentes, (aparentemente pessoas bem formadas e plenas de bom senso), a julgar-se capacitado para o lugar a que concorreu, tendo em vista o que foi depois, ou é, a sua respectiva prestação.
Excepção para António Paiva, engenheiro civil de formação, que terá pensado que uma câmara são sobretudo as grandes obras, no que terá sido influenciado pelos fundos europeus então à tripa forra. O resultado está agora à vista de todos. Ajudado pela manifesta ausência de oposição eficaz, destruiu o estádio, destruiu o sistema de rega tradicional do Mouchão, destruiu as instalações sanitárias do mesmo Mouchão, destruiu o pavilhão municipal, destruiu parcialmente a estrada do Convento, destruiu parcialmente o alambor do Castelo, tentou destruir o Mercado e destruiu o crédito eleitoral do PSD Tomar. Pode assim dizer-se, sem exagero, que foi sobretudo um engenheiro de destruição civil. Apesar de ser extremamente educado e simpático, de ostentar uma boa formação universitária, de ter ganho com amplas maiorias absolutas, e de Relvas dele ter dito que era dos melhores presidentes de câmara do país. Imagine-se se calhava ter sido dos piores...
No que diz respeito a todos os outros, incluindo a actual, o mistério mantém-se, inteiro e impenetrável: Porquê? Que facto ou factos os terão conduzido a envergar uma camisa de onze varas, para cujo porte manifestamente não estavam preparados, como se viu e vê? 
Conforme canta Variações "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga". O pior é que, nestes casos demasiado numerosos de falta de juízo crítico, e de capacidade de auto-avaliação desinibida, nós é que pagamos. E vamos continuar a pagar. É um dos defeitos da democracia. Pagamos todos pelos erros de uma ínfima minoria. A dos que, na política e contra toda a evidência, se julgam mais capazes do que aquilo que na verdade são.
É mais uma especialidade tomarense -candidatos com afigurações.
Pobre gente. Pobre terra.

domingo, 18 de setembro de 2016

Notícias prováveis para os próximos anos

Mário Cobra
António Rebelo

Tendo em conta a evolução recente da situação local, designadamente a esclarecedora entrevista de Luís Ferreira ao Cidade de Tomar, que nos permitiu perceber finalmente que vamos a caminho do abismo, seja lá isso onde for, resolvemos presentear os leitores com algumas notícias que consideramos prováveis. acompanhadas por curtos comentários. Não garantimos que venham a acontecer. Infelizmente também não podemos garantir o contrário. Salvaguardando os naturais exageros de parte a parte...
1 - As duas bandas da cidade foram receber o único candidato colocado no Instituto Politécnico de Tomar. Perante tanta audácia, a Câmara, ouvida a AM, resolveu conceder ao audaz estudante um diploma de coragem. E a medalha de ouro da cidade. A qual todavia só lhe será entregue quando houver dinheiro para a mandar fazer.

2 - Técnicos superiores da autarquia, actualmente na prateleira, apresentam lista de independentes às eleições para a Câmara, com o objectivo de "queimar" o executivo. É uma tarefa na qual já têm alguma experiência, pelo que agora resolveram oficializar a situação.

3 - Junta de Freguesia de Carregueiros reivindicou e obteve a gestão do Convento de Cristo. Agora procura desesperadamente um gestor, pois os membros daquele executivo periférico nunca pensaram vir a obter satisfação junto da burocracia lisboeta.
mental
4 - Após aceso debate, que se prolongou por mais de 3 horas, tanta era a erva mental a cortar , a Assembleia Municipal aprovou a alteração do dístico tradicional "Tomar cidade jardim", para "Tomar cidade capim". Tardou mas foi. Lá se adaptaram finalmente à realidade envolvente. Isto vai lá! Leva tempo, mas vai!

5 - Mesmo sem candidatura prévia, aqueles sanitários junto aos serviços municipais de higiene e limpeza integram agora a lista das instalações classificadas pela UNESCO como "Património da desumanidade". Graças aos esforços denodados dos turistas encantados. Calcula-se!

6 - Nomeada pela primeira vez uma mordoma para a Festa dos Tabuleiros. Com a justificação de que as mulheres estão na moda. Até para a ONU. António Guterres, vencido na corrida à ONU por uma mulher, não gostou da indirecta.

7 - Não se realiza nos próximos anos a Noite Branca porque, segundo os organizadores, a coisa está a ficar cada vez mais preta. Apesar de praticamente até já terem desaparecido da paisagem urbana as capas negras dos aprendizes politécnicos.

Pregoeira da cidade. De luva branca. Tal e qual como em Tomar. Afinal somos mesmo europeus?

8 - Juntas de freguesia fundidas garantem que continuam mal pagas. Se fossem só elas...

9 - Assediado com perguntas, executivo municipal assevera que a revisão do PDM, iniciada há décadas, virá a ser aprovada ainda durante este século. Caso entretanto não surjam mais contratempos.

10 - Questionada por Américo Costa -há mais de 30 anos o único cidadão que ainda assiste a todas as reuniões públicas do executivo municipal- a câmara assegura que doravante os sacos de plástico despejados no Nabão às sextas-feiras passarão a ser reciclados. Se entretanto houver funcionários disponíveis para os recolher.

11 - Perante a evidente degradação, Mata Nacional dos Sete Montes vai perder um monte e eventualmente metade do ribeiro do mesmo nome. Salvo se entretanto arder por falta de limpeza.

12 - Após tantos anos de acentuada crise, vai finalmente ser construído em Tomar um novo hotel, Para cães. Estavam à espera de quê? Se até os cidadãos são muitas vezes tratados abaixo de cão...

13 - A fim de gerar receitas, pois a autarquia carece dramaticamente de liquidez, executivo municipal delibera que barraquinha do Mouchão vai passar a vender tremoços. E cerveja, logo que obtenha a indispensável licença de utilização, após vistoria da ASAE. Nada de ilegalidades. Para isso basta o Parque de campismo, que não dispõe da dita licença.

14 - Serviços municipais de higiene e limpeza adquirem finalmente um aspirador para limpeza do Nabão e respectivas margens. Será desta que vamos ter um rio limpo com margens asseadas? Se assim for, as lontras agradecem e nós também.

15 - Câmara resolve enfim o arrastado problema do estacionamento para autocarros de turismo. Ficam proibidos de entrar na cidade. Excepto para cargas e descargas, das 08H00 às 10H00 e das14H00 às 16H00, com paragem máxima de meia hora. Os turistas que se despachem!

16 - Face a notícias que colocam Tomar em último lugar no ranking do desenvolvimento económico regional, o executivo municipal ordenou aos respectivos serviços técnicos que coloquem a tabela ao contrário. É muito mais prático, rápido e barato do que procurar as causas, encontrar soluções e implementá-las. Nem se compara!

Podem não ser 100% verdadeiras. Mas ninguém sério poderá dizer que não são prováveis.

sábado, 17 de setembro de 2016

Realojamento dos ex-nómadas do Flecheiro

António Rebelo
anfrarebelo@gmail.com

Em recentes declarações à Rádio Hertz, a presidente Anabela Freitas informou que foi aprovado o projecto de construção de alojamentos para 25 pessoas "de etnia cigana", nos terrenos municipais do lado sul do quartel da GNR. O que significa que as também recentes postagens de Luís Ferreira na Net se baseavam em iniciativas em curso da autarquia. Fora do poder executivo mas não da realidade. O Luís Ferreira, goste-se ou não, sabe muito e raramente dá ponto sem nó.
Sendo assim, teremos na fase seguinte mais um conjunto de alojamentos nos terrenos anexos à FAI, ali por trás do Pinhal de Santa Bárbara. Em ambos os casos, trata-se para os socialistas, agora no poder em Tomar, de tentar cumprir uma das promessas eleitorais -o realojamento da comunidade cigana do Flecheiro, ou de apenas parte dela.
Grosso modo, a dita comunidade de ex-nómadas conta nesta altura com cerca de 200 pessoas, divididas em três clãs, de sul para norte: Pascoal, Fragoso e Ròflim. A obra agora anunciada, que não se sabe ainda quando começará ou estará concluída, destina-se a alojar com dignidade o clã Pascoal, ou parte dele, o mais carenciado dos três, conforme se pode constatar nas fotos:



Logicamente seguir-se-à o realojamento do clã Fragoso e, finalmente, o clã Ròflim, actualmente o que dispões de melhores instalações. Repare-se nas paredes em duro, na parabólica e na chaminé. Praticamente uma vivenda à beira-Nabão:



Nas mesmas declarações à Hertz, quando o jornalista perguntou se as barracas dos realojados seriam destruídas, a presidente respondeu ufana, "Imediatamente a seguir!" Foi aí que comecei a ficar preocupado. Porque visivelmente estes nossos autarcas de circunstância são pouco lidos, pouco vividos e não têm Mundo. Mesmo quando já viajaram, pouco ou nada viram e ainda menos entenderam, assoberbados com detalhes como a língua, os transportes, o alojamento, a alimentação, os emaranhados urbanos... Donde resulta que detêm muito pouco know-how, designadamente na área do realojamento cigano. 
Convém por isso alertar para algumas armadilhas, já bem presentes no horizonte, que todavia a evidente falta de experiência de vida impede a presidente e os seus companheiros do executivo de ver atempadamente.
Aquilo a que ultimamente se tem chamado a comunidade do Flecheiro teve início na presidência do socialista Luís Bonet, nos anos 70 do século passado, com cerca de 30 ex-nómadas, vindos da Quinta de Santo André, a sul da Praça de Toiros, logo à ilharga da estrada de Coimbra, onde antes acampavam. E que um empresário tomarense, agora já retirado, tinha necessidade de desocupar, para depois lotear. O que veio a acontecer. É agora, em linguagem popular local, o "bairro dos ricos".
Com muito maior índice de natalidade que os tomarenses tradicionais, mas também devido à posterior vinda de vários outros membros, a comunidade cigana foi crescendo, até ultrapassar agora as 200 pessoas, que na sua maioria não pagam IRS. O que bastante irrita alguns tomarenses. De forma que, temos aqui uma situação potencialmente explosiva a médio/longo prazo: a população tradicional da cidade e do concelho diminui a olhos vistos, enquanto a do Flecheiro continua a aumentar.
Aqui chegados, convém ter presente a experiência internacional, designadamente em Espanha e em França, onde há comparativamente muito mais ciganos que em Portugal  A tal experiência que os nossos autarcas infelizmente já demonstraram ignorar por completo. Mas é o que temos.
Nesses países, após vários insucessos, chegou-se à conclusão de que  há um procedimento eficaz para realojar ex-nómadas e acabar de vez com os respectivos acampamentos precários. Esse procedimento implica a construção prévia de alojamentos suficientes para toda a população do acampamento precário a eliminar. Imediatamente a seguir, procede-se ao concurso público para a atribuição dos novos alojamentos, uma vez que não pode haver discriminação, pelo que podem concorrer todos os cidadãos que se enquadrem nos parâmetros pré-definidos. Concluído com êxito esse concurso e atribuídos todos os alojamentos, marca-se um dia e uma hora para a respectiva mudança. Colocam-se então camiões para o transporte de pertences e para levar o entulho, bem como máquinas de terraplanagem, junto ao acampamento a arrasar. As demolições começam imediatamente após a saída de cada família, vigiadas por forças policiais. No final, arrasado todo o acampamento e levado o respectivo entulho, colocam-se painéis com o aviso "Terreno municipal. Proibido acampar" A partir daí, caso haja novas tentativas de implantação de tendas ou barracas, as autoridades expulsam os prevaricadores sem dó nem piedade, naturalmente a solicitação da autarquia e com o indispensável mandato judicial.
Dito tudo isto, que reconheço ser demasiado longo e por isso enfadonho, trata-se agora de apurar o seguinte:
1 - Anabela Freitas pretende apenas começar a cumprir uma das suas promessas eleitorais, de forma a poder usar o realojamento de 25 pessoas em 200 = 12,5%, como argumento eleitoral?
2 - Ou pretende resolver de vez o velho e vergonhoso escândalo do acampamento do Flecheiro, em plena cidade?
No  primeiro caso, desejo-lhe boa sorte. Tanto no anunciado realojamento como na posterior votação eleitoral. Mas pode desde já ter a certeza de que, alguns meses após ter mandado destruir as barracas dos realojados, haverá no mesmo local ainda mais barracas. Como é que eu sei? Porque era usual além-fronteiras e ainda é nalguns concelhos portugueses. Infelizmente.
Mal começa a funcionar o boca-a-orelha "A câmara está a dar casas de renda económica", aparecem logo filhos, netos, enteados, irmãos, tios, primos, sogros, cunhados, padrinhos, compadres, amigos... que também querem. Nem que seja mais tarde, noutra fase. E, enquanto esperam, vão aparecendo mais barracas. É humano! Todos gostam de receber. Ninguém gosta de pagar.
No outro caso, mande construir a primeira fase, mande projectar a segunda e assim sucessivamente. Até haver alojamento para todos os clãs do Flecheiro, com a recenseada população actual como limite. Depois proceda, se ainda estiver no poder, conforme indicado acima. Serei o primeiro a publicitar aqui a sua coragem e a sua dedicação à causa tomarense. Porque o escândalo do Flecheiro já cheira mal, no duplo sentido do termo. Demasiado mesmo, para ser outra vez usado como argumento eleitoral.