Mário Cobra
"Rapaziada do PSD vai a todas as festas", titulou o conceituado Cidade de Tomar. Um respigo do Facebook. Decerto uma postagem com cheirinho a arraial popular. Pelo escrito, a citada rapaziada vai às festas promover o charme eleitoral. O povo presente olha-os de soslaio e pergunta, com a boca cheia e os beiços gordurosos, de onde serão aqueles miúdos. Responde logo um comparsa: "-Não estás ver que são miúdos de frango?" E aponta para uma pratada de moelas, pescoços e fígados.
"Rapaziada do PSD vai a todas as festas", titulou o conceituado Cidade de Tomar. Um respigo do Facebook. Decerto uma postagem com cheirinho a arraial popular. Pelo escrito, a citada rapaziada vai às festas promover o charme eleitoral. O povo presente olha-os de soslaio e pergunta, com a boca cheia e os beiços gordurosos, de onde serão aqueles miúdos. Responde logo um comparsa: "-Não estás ver que são miúdos de frango?" E aponta para uma pratada de moelas, pescoços e fígados.
Alguém, sabido nessa coisa da política local, esclarece que a rapaziada daquelas mesas é do PSD, e anda a fazer pela vida autárquica. Futuros secretários de vereadores. Futuros assessores de casos pouco acessíveis. Há também chefe de gabinete, assim sobeje um gabinete. O que esta rapaziada não faz por essas mordomias! Comem frangos nas festas. Alguns até dançam (tangos e valsas), fazendo saltar o verniz. Outros ainda, até dizem que gostam muito de tintol, enquanto vão empinando imperiais. Que sacrifício!
Estamos a ver a rapaziada nos fins de semana festivos, sextas, sábados e domingos. Três dias, três, a comer frango. Palatos inflados pelo piripiri. Confidenciava há tempos alguém de um conjunto musical (nesse tempo chamavam-se conjuntos...), assíduo nos bailes das festas, que, cansados de comer sempre o "penoso" assado, passaram a especificar nos contratos "Actuação inclui jantar por conta da comissão organizadora, sem frango assado". Foi remédio santo. Passaram a comer sempre febras assadas. Na mesma linha, também Jerónimo de Sousa, o conhecido líder do PCP, confessava algures, numa entrevista recente, que um dos transtornos das campanhas eleitorais reside no enjoo de andar quinze dias seguidos a comer lombo assado. Lombo assado decerto por ser para ele, que é camarada secretário-geral, e para agora se ir habituando a engolir sapos no âmbito da geringonça. Porque nas autárquicas há menos lombo assado e mais coiratos. E até alguns coirões. Ainda crus, mas já muito queimados.
Estamos daqui a ver, nas próximas autárquicas, na altura do voto, a tia Maria para o marido desde há 40 anos "-Ó Zé, de que partido era aquela rapaziada que comeu tantos frangos durante a festa?" "-É do PSD, aquele da seta a apontar para o boneco." "-Ponho aí a cruz?" "-Tem que ser mulher. É essa a nossa cruz."
Diz ainda o tal facebook que, enquanto isso, a rapaziada do PS, ainda não anda pelas festas. Devem pensar que os votos hão-de vir de Lisboa. Como quase tudo o resto. Deduzimos nós que esta rapaziada socialista por enquanto se enrola nas esplanadas da cidade, se calhar enviando mensagens de "Boas férias" à presidente e/ou perguntando entre si "-Viste por aí o vereador Serrano? Desde que entregou a encomenda com os pelouros, nunca mais o encontrei." Calhando, acrescentamos nós, é o único da futura grelha do PS que já anda pelas festas populares, a comer frango para as próximas eleições. Contudo, um conhecido militante socialista local até já aventou a hipótese de o ex-vice-presidente abrantense e tomarino (ou vice-versa) se encontrar em retiro espiritual. Expediente a que recorre por vezes uma outra figura citadina, nascida alhures, para estar longe da legítima, mas bem acompanhado, durante duas semanas seguidas. Há homens com muita sorte...
Naturalmente, o senso comum não vê qualquer inconveniente no facto da rapaziada PSD andar pelas festas a saborear frango assado e a molhar a goela, enquanto vai comendo a moela. Até contribuem para aumentar as receitas dos certames, o que as respectivas comissões agradecem. Contudo, em nossa humilde opinião, um dos perigos será essa rapaziada, depois de vencer as eleições, vir a exibir-se por aí de cristas levantadas. Outro perigo será, se perderem as eleições, virem a lastimar o tempo perdido nestas estratégias de aviário, tipo cada asa de frango um voto. Tanto mais que o excesso de hormonas ingeridas pode implicar problemas como a calvície. E, dizem os especialistas, que também pode provocar homossexualidade. Mas são dois falsos problemas. Por um lado, nunca ninguém viu burros carecas. Por outro lado, nos tempos que correm, ser homo assumido é até uma vantagem. Passa-se a beneficiar da protecção às minorias oprimidas.
Pela nossa parte, aconselhamos moderação, não aconteça que, por comerem tantos frangos, nos futuros cargos, tanto na vereação como na Assembleia Municipal, em vez de empolgadas intervenções políticas, a rapaziada se limite a cacarejar.
Seja como for, esta poderá até vir a ser uma forma de o PSD escolher o seu cabeça de lista para a câmara, nas próximas eleições: O dirigente que tenha comido mais frangos assados nas festas populares. Ou o que cacareje mais e melhor. Idealmente, o que tenha comido mais frangos assados e cacareje mais e melhor, terá praticamente a vitória garantida.
O problema é que não cacareja bem quem quer. Só quem pode e sabe. A Cristas que o diga. À cautela, o melhor será portanto olvidar transitoriamente os frangos e as imperiais, escolhendo entre Santos e pecadores mais ou menos ingénuos, por enquanto ignorantes das ratoeiras da vida. Sem esquecer que boa vida é bom, mas só para certas coisas. Depende do contexto.
Outrossim, seria muito perigoso baralhar certas realidades. Os Santos são do âmbito celeste, ambos estudaram lá por cima, o que não significa todavia que as celestes sejam santas ou estejam sequer na graça de Deus, que é como quem diz nas preferências dos eleitores. Porque só se pode gostar daquilo que se conhece, e o domínio celeste é praticamente desconhecido. Ao contrário do que sucede com os Santos, que até já foram do governo e depois trabalharam em Paris, na OCDE. Pois é!
Outrossim, seria muito perigoso baralhar certas realidades. Os Santos são do âmbito celeste, ambos estudaram lá por cima, o que não significa todavia que as celestes sejam santas ou estejam sequer na graça de Deus, que é como quem diz nas preferências dos eleitores. Porque só se pode gostar daquilo que se conhece, e o domínio celeste é praticamente desconhecido. Ao contrário do que sucede com os Santos, que até já foram do governo e depois trabalharam em Paris, na OCDE. Pois é!
Quanto aos socialistas, é fora de dúvidas que a Ana continua bela, mas não ganha. Nunca ganhou. O PSD é que perdeu de antemão, ao insistir participar na corrida autárquica com um macho coxo em vez de um cavalo de raça. Convirá por isso lembrar-lhes, aos socialistas -tanto mais que há ateus militantes nas suas fileiras- que uma eleição é sempre uma viagem rumo ao desconhecido e que, se S. Cristóvão é o santo padroeiro dos viajantes, convém ter também em conta que, para percursos acidentados, com muitas subidas e descidas, como é e vai ser manifestamente o caso, dá muito jeito ter um parceiro com experiência das serras. Um serrano, pois claro. Cuidado porém. Geralmente taciturno, na política um serrano não aprecia muito uma viagem com graça.
Amem!
Texto editado por António Rebelo
Amem!
Texto editado por António Rebelo
Poesia satírica de Jorge de Sena
ResponderEliminar"Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fátua ignorância;
terra de escravos, cu prò ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol caiada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém"