Esterco na corredora, na manhã de quarta-feira, entretanto já removido. O que mostra que os serviços municipais de limpeza funcionam. Não muito bem e nem sempre. Mas lá funcionar funcionam! Têm é muita falta de pessoal trabalhador. Há chefes em excesso e carência de índios. Pirâmide invertida. É um problema comum nas autarquias, que têm vindo a ultrapassá-lo privatizando serviços. Mesmo autarquias PS. Mas aí trata-se já de uma opção ideológica a sobrepor-se à lógica das coisas.
O facto é tão raro que merece destaque. Mas vamos por partes. Como é sabido, e isto não é uma crítica. Apenas uma constatação: os tomarenses de nascimento podem e devem ser divididos em dois grandes grupos, muito desiguais. Um imenso, que engloba a quase totalidade da população. São os conformistas conformados. Não reagem nem parecem interessar-se pelas coisas da sua cidade. Autistas? Digamos que gostam mais de olhar para dentro. São aqueles a quem me refiro, quando escrevo "Pobre gente; pobre terra". Expressão que tem o condão de os irritar. Porque não gostam do retrato. E acham que a culpa é do retratista.
O outro grupo, ínfimo, integra os poucos que escrevem, falam ou de qualquer forma intervêm, por obrigação ou por mera devoção.
Nesse ínfimo grupo que também integro, o mais comum é o ar grave, o estilo empolado, a má disposição permanente. Assim um ar de indigestão crónica. E depois há umas almas raras que conseguem levar quase tudo na brincadeira, usando a ironia como arma.
Pois foi uma dessas almas felizes, que cultivam a ironia fina, que me abordou um dia destes com um pedido insólito: -"Diga lá no seu blogue para fazerem a Festa dos Tabuleiros ainda este ano". Como se calcula, não sendo íntimo daquele meu conterrâneo, fiquei surpreendido. O que me levou a tentar remediar a situação: -Mas a festa foi o ano passado e costuma ser no verão... -"Pois, mas como costumam lavar as ruas por ocasião da Festa dos Tabuleiros e elas agora estão tão porcas..."
Sorri, contente. Finalmente, um tomarense com sentido de humor e de oportunidade, ao serviço da cidadania. É tão raro que aqui reproduzo o seu pedido, com todo o gosto. Porque, tudo devidamente ponderado, aquele nosso conterrâneo bem disposto até é capaz de ter razão. É certo que vem aí a chuva de inverno não tarda, pensará o leitor, com toda a razão. Todavia, com cada vez mais gente a pedir chuva, não sei se tais bátegas chegarão para todos e se depois ainda sobrará alguma água para lavar as artérias citadinas.
De forma que, à cautela, pelo sim e pelo não, se puderem, façam mas é uma edição invernosa da festa grande de Tomar. Ou então limitem-se a lavar as ruas quanto antes. Sempre fica mais barato. E a malta irónica agradece. Somos poucos? É verdade. Mas há muita gente que nos ouve.
Termino com dois versos. Um bem conhecido, de Manuel alegre. Outro muito tosco, que é meu.
Mesmo na noite mais triste
Em tempos de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não
Manuel Alegre, Praça da Canção
Já não é a servidão
Mas a noite ainda é triste
Sofre muito quem resiste
E quem ousa dizer não
António Rebelo, Praça da República
anfrarebelo@gmail.com
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