Não votei na recente eleição presidencial. Estava fora do país. Deliberadamente? Claro que não. Saí contudo sem problemas de consciência. Tinha a clara noção de que, para Marcelo, não era sequer uma eleição. Apenas uma aclamação.
Amigos meus podem confirmar que até previ a vitória do célebre comentador logo na primeira volta. O que não era difícil e veio a acontecer. Arrisquei mesmo acrescentar que venceria com mais de 60% dos votos expressos. Enganei-me em menos de 7%. E só em 8 das 11 freguesias que integram o concelho de Tomar. Nas outras três -Casais/Alviobeira, Olalhas e Serra/Junceira- praticamente aceitei. Até pequei por defeito no caso das Olalhas e da Junceira, onde Marcelo ultrapassou os 70% dos votos entrados nas urnas.
A partir dos resultados oficiais, montei este conjunto de resultados:
Freguesias Marcelo Marisa Matias Edgar Silva SN + MB
Madalena/Beselga 43,89% 16,11% 3,67% 30.25%
Asseiceira 44,87% 15,01% 1,56% 31,26%
Paialvo 45,93% 10,70% 5,03% 33,30%
Sabacheira 50,52% 10,19% 1,46% 33,47%
Além da Ribeira/Pedreira 50,76% 11,97% 3,48% 28,03%
Carregueiros 52,91% 12,21% 2,91% 26,94%
S. João/Santa Maria 54,22% 11,21% 2,05% 26,79%
S. Pedro 56,55% 10,50% 2,28% 24,98%
Casais/Alviobeira 59,46% 11,30% 1,06% 23,51%
Olalhas 71,01% 7,54% 0,89% 14,35%
Serra/Junceira 72,04% 6,81% 0,80% 14,73%
Daqui me parece resultar que: 1 - Marcelo só não venceu à primeira volta em três freguesias -Asseiceira, Madalena/Beselga e Paialvo. Exactamente aquelas em que predominam os pensionistas e os funcionários públicos ou de empresas públicas. 2 - A soma dos votos dos dois candidatos implicitamente apoiados pelo PS só ultrapassa os 30% em 4 freguesias: as três antes mencionadas mais a Sabacheira. 3 - Marisa Matias conseguiu um resultado extraordinário em todas as freguesias. Mesmo naquelas tradicionalmente mais à direita, como a Serra/Junceira e as Olalhas. 4 - O PCP sofreu uma autêntica derrocada, com 5,03% como melhor resultado, numa freguesia há longos anos governada pela CDU, o nome artístico do dito partido.
À luz destes resultados, tornam-se nítidas, pelo menos para mim, algumas bizarrias nabantinas. Desde logo a importância eleitoral do Bloco de Esquerda, que todavia não tem qualquer representante no executivo camarário. Ao contrário do que acontece com a CDU/PCP, que até governa, apesar do seu evidente descalabro eleitoral e não só. Segue-se a lenta mas continuada erosão eleitoral do PS, que só venceu, acedeu ao poder e continua a fingir que governa por manifesta inoperância do PSD e de Pedro Marques. Finalmente, julgo que os social-democratas tomarenses só não ganham as próximas autárquicas se não souberem nem quiserem aprender a conseguir traduzir em votos entrados nas urnas a evidente grande maioria de que dispõem no concelho. E sem a tal eleição primária vão deixar fugir o poder outra vez.