Autárquicas 2025
Somos assim e muito dificilmente vamos mudar
https://www.msn.com/pt-pt/noticias/sociedade/ramalho-eanes-considera-que-mundo-mudou-para-pior-e-aquilo-que-era-sagrado-acabou/ar-AA1ykHBS?ocid=msedgdhp&p
Somos, em termos eleitorais e não só, uma relativa originalidade na Europa. Embora com eleições em lista, funcionamos há cinquenta anos como os britânicos, que pelo contrário cultivam o princípio "um homem, um voto,um candidato", e nem sequer nos damos conta. Ora temos um governo ou uma Câmara Trabalhista (PS) ora uma Câmara ou um governo Conservador (PSD). E não saímos disto.
Com uma envolvência assaz peculiar, numa nação em que se continua a proclamar que a capital é o país e o resto é paisagem. Nesta altura, por exemplo, como bem notou o antigo presidente Ramalho Eanes (clicar no link supra), a informação em geral anda muito ocupada com a eleição presidencial de Janeiro de 2026, pouco referindo as autárquicas previstas para três meses antes, e bastante mais complexas, Porque será?
No vale nabantino, o drama político torna-se cada vez maia evidente. Trabalhistas (PS) e Conservadores (PSD) têm-se sucedido no poder, mas ao contrário os britânicos, não se renovam nem dão conta do recado. Como diz o povo no seu vernáculo, nem fecundam nem saem de cima. E temos uma situação do tipo "isto quanto mais muda, mais está na mesma ou pior."
Estava-se assim quando apareceu o partido do Ventura, um dissidente dos conservadores (PSD), com coragem suficiente para "chamar os bois pelos nomes", que é como quem diz elencar os problemas que incomodam, que envergonham, e que por isso mesmo os partidos clássicos tendem a escamotear. Pensam que não falando nas coisas, elas não existem.
Logo no primeiro teste autárquico, o Chega revelou carências e outras fraquezas em Tomar, o que todavia não impediu um resultado honroso, comparável ao das outras formações partidárias de extrema-esquerda. Sinal de que os temas do partido são fecundos e penetram no eleitorado. Infelizmente houve também algumas dissidências nunca explicadas, e a culpa morreu solteira. O habitual.
Nas eleições seguintes, em 2024, foi a relativa apoteose no concelho nabantino para o partido de Ventura. Alcançou os 20%, que nalguns casos até ultrapassou, o que deslumbrou a opinião pública, que assim se esqueceu de questionar como foram escolhidos os candidatos a deputados e por quem.
Agora com novas autárquicas no horizonte, e a população tomarense em grande parte convencida de que no leque partidário tradicional "é tudo a mesma merda", o que colocava o Chega como a grande esperança local, apareceram as chagas partidárias inerentes aos extremos. O indigitado cabeça de lista independente renunciou, o que permitiu perceber como as coisas são na verdade no mundo chegano, pelo menos no Ribatejo.
Dirigentes locais têm-se afastado ou sido afastados por dirigentes regionais que não foram eleitos, mas apenas nomeados pela cúpula partidária, como acontecia antes do 25 de Abril. Situação particularmente sensível para os tomarenses, que nunca se consideraram ribatejanos ou lacaios de Santarém, e por isso detestam o marialvismo escalabitano.
De forma que restam agora dois caminhos possíveis para o Chega em Tomar: 1-Pegam a situação pelos cornos, como se faz na arena, e resolvem-na, ouvindo os aderentes tomarenses, incluindo os entretanto afastados, e facilitando a eleição local de dirigentes, bem como a posterior escolha do cabeça de lista, tudo sem a interferência de Santarém; 2-Continuam a agir como até agora, fazendo de conta que não há problema algum, e logo veremos em Outubro quem tem razão.
Anda por aí a ideia de que o Chega vai conseguir em Tomar um vereador de qualquer maneira, nem que concorra com um marreco, mudo e coxo. Não me parece assim tão evidente, e já voto desde 1976, pelo que estou menos sujeito a deslumbramentos ocasionais. A idade leva muita coisa que faz tanta falta, mas também faculta experiência...