domingo, 31 de dezembro de 2023

 Política local

Não conhecia este retrato da autarquia nabantina em pleno inverno. Com tanto frio e tão mal agasalhada, coitadinha! Quem lhe acode?



 Réveillon de Fortaleza 2023/24

Meios humanos e materiais 

em quantidade suficiente

Segundo a Prefeitura de Fortaleza (No Brasil, em cada município a câmara municipal é a nossa assembleia,  e quem governa é o prefeito, eleito em lista individual, que depois nomeia os seus secretários executivos, consoante a importância do município. Na capital do Ceará são cerca de 25, para mais de dois milhões de habitantes).
No concerto de 29 de dezembro, com Roberto Carlos, estiveram cerca de 500 mil pessoas, segundo a prefeitura, sobretudo gente com mais de 50 anos. O artista tem agora 82 anos. Antes do espectáculo de 30 de dezembro, com Marisa Monte e mais quatro artistas, Tomar a dianteira 3 fez uma pequena reportagem fotográfica, a partir das 17 horas. Os concertos começam às oito e meia da noite. Eis o que se apurou:

Em cada uma das ruas que conduzem à marginal, e daí ao aterro onde decorrem os concertos, há dezenas e dezenas de barracas de comes e bebes, entaladas entre os arranha-céus. Algumas até têm cadeiras e mesas. Nas proximidades, há camiões privados que vendem aos ambulantes, para revenda, gelo em escama ou em cubos, garrafas de água, cocos, mangas, abacaxis e espigas de milho.


No aterro, mas virados para a avenida marginal, dois grandes postos médicos avançados, com pessoal médico e ambulâncias à porta.

Em plena avenida, viatura da polícia militar, ambulâncias e bombeiros sapadores.


Muita polícia, incluindo um autocarro-esquadra móvel (do lado esquerdo). Os agentes com trajes luminosos são da polícia de turismo, equipada com viaturas 4x4 que podem circular na areia da praia.


Em todo o aterro há dezenas de torres de segurança, como esta. Em cada uma, dois polícias equipados com binóculos, rádios e webcameras. É manifestamente outra logística, que faculta mais segurança e tranquilidade aos cidadãos. Imaginem, se em caso de indisposições súbitas, ou coma alcoólico, por exemplo, era preciso chamar o 112, e aguardar uma ambulância vinda de outra terra, a 15 ou 20 quilómetros, num país que tem cidades a três mil quilómetros da costa atlântica (Manaus AM, por exemplo). 
Herdaram sem dúvida muita coisa dos portugueses, a começar pela língua e pela evidente fraternidade. Mas ninguém arma ao pingarelho, como acontece pelas margens nabantinas. O país é de longe o maior da América do sul. Os seus habitantes não precisam da mania das grandezas para nada. Limitam-se a fazer as coisas como devem ser feitas, sem vaidades nem mentiras. Se um dia fizermos como eles, só teremos a ganhar. 





sábado, 30 de dezembro de 2023



Arranjos urbanos e compadrios

O protesto da colónia tomarense

https://omirante.pt/sociedade/2023-12-28-Obra-de-requalificacao-do-espaco-publico-em-Tomar-ganha-premio-da4bcc43

Há uns anos, visitei  a Ilha da Páscoa, que fica no meio do Oceano Pacífico, a 5 horas e meia da capital do Chile. Tem muito para admirar, designadamente os moais (ver imagem) mas apenas 6 mil habitantes. Quando passeava na minúscula capital, Hanga Roa, li alguns documentos oficiais, afixados nos painéis da fachada do edifício da administração local.
Começavam todos com a mesma fórmula: "Governo do Chile - O governador da Ilha da Páscoa aos habitantes da colónia, faço saber que..." Sabia que a ilha é uma colónia Chilena, mas julguei que a designação fosse outra, tipo distrito, como a Guiana francesa, ou região autónoma, como as Canárias ou a Madeira. Incomodava-me aquele vocábulo "colónia", mesmo depois de ter andado com a arma na mão em Angola, durante dois anos, nos idos de 60.
Duas portas ao lado, no mesmo edifício, mudei de opinião, ao ler numa chapa metálica fixada na parede  "Movimento de libertação da Ilha da Páscoa - Sede". Um governo colonial que fornece uma sede para o movimento de emancipação, no próprio edifício governamental, não pode ser muito mau. Saber-se-ia. Como se sabe que as coisas não vão bem em Cuba ou na Nicarágua, por exemplo.
Veio-me tudo isto à memória, ao ler n'O Mirante (link supra) que uns senhores arquitectos da lisboeta capital do império reincidiram. Atribuiram mais um prémio àquelas obras vergonhosas da Nun'Álvares, da Torres Pinheiro e da Combatentes. Escrevi vergonhosas porque ainda não ouvi ou li ninguém da cidade louvar ou sequer aprovar aquilo. Excepto a autarquia, claro. E o caso não é para menos. Roubaram lugares de estacionamento; fizeram pistas cicláveis impraticáveis, ou porque o piso é demasiado irregular, ou porque terminam em esplanadas de café; colocaram pilaretes em excesso; fizeram uma curva para a Combatentes que obriga os camiões e os autocarros a galgar parte do passeio: ousaram uma ciclovia com fabulosos 19 metros de comprido, na Combatentes; e acabaram por não fazer a única obra que realmente faz falta: a rotunda da ARAL. Uma série de dislates e uma vergonha final. Mas quem não se consegue enxergar...
Apesar de todas estas mazelas, e outras que ficam por mencionar, para não alongar demasiado, resolveram os senhores arquitectos da pequena metrópole atribuir um prémio de inovação ao autor dos projectos, e ao Município da colónia de Tomar, como dono das obras. Estão no seu direito. Esta república em que vivemos permite tudo e nada pune. Mas ao fazê-lo caem no ridículo, porque os tomarenses podemos não ser todos umas inteligências por aí além. Mas tão pouco somos todos lorpas, simplórios, palonços ou papalvos, incapazes de perceber a tosca manobra mentirosa, urdida na velha capital do império que já foi, por respeitáveis cidadãos com ideias caducas e outras afigurações.
Aqui fica, para memória futura, em nome próprio e no dos seus conterrâneos que se considerem também ofendidos, o protesto dos habitantes da colónia tomarense. Vão gozar com a guarda  do punho da espada do Gualdim Pais, vista do lado sul,  ali na Praça da República! Nem de propósito!

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

 Evocação do verão

Que tipo de praia prefere?

Em traje de verão, que estão 28 graus às nove da noite, ouvindo pelas janelas abertas o Roberto Carlos (82 anos, e continua a cantar!) ali no aterro, a duzentos metros daqui, lembrei-me dos concertos oferecidos pela Câmara e do frio desgraçado que faz agora em Tomar, levando se calhar os leitores a recordar as férias de verão com nostalgia. Quem as gozou, bem entendido.
Que tipo de turista é você? Mais cultural? Mais balnear? Um misto? Vamos supor que é mais para o bronze, porque não ocupa tanto a cabeça. Nesse caso, que tipo de praia prefere?

Com sombras e pouca gente? Praia do Fortim CE Brasil

Com muita sombra e praticamente sem ninguém? Canoa Quebrada CE Brasil


Praticamente deserta e mais íntima, porque mais pequena? Seicheles

Com poucos veraneantes e muito requinte? Jericoacoara CE Brasil. 10 euros por pessoa de taxa turística válida para 10 dias. Na povoação não há ruas pavimentadas, nem passeios. É tudo areia. Só circulam veículos de serviço tipo 4X4.

Bem acompanhado, mas sem demasiada confusão? Praia da Rocha, Portugal

Perdido no meio da multidão? Praia de Rabat - Marrocos

Qualquer que seja o seu caso, votos sinceros de bom ano novo, com saúde, alegria, sol e muita tolerância. Os factos são sagrados, mas a opinião é livre.


















quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Réveillon de Fortaleza CE

Dia 29 de Dezembro começa a grande festa



O reporter no início da caminhada diária, na Rua Barão de Aracati, que vai dar ao Calçadão da beira-mar. 27 de Dezembro 2023, cinco da tarde (oito da  noite em Lisboa), 29 graus e um ventinho agradável. Como dizia um alentejano amigo. "Há vidas mais baratas, mas não são tão boas!"

Aqui temos o cartaz das festividades, afixado no Calçadão. Noite de 29  -Roberto Carlos. Noite de 30 - Marisa Monte. Noite de 31 - Wesley Safadão e o forró. Tudo com entrada livre e fortes medidas de segurança.

O palco imenso, com um conjunto de 20 geradores de energia.

Sector reservado às autoridades e à informação (polícia, autarcas, deputados, militares, fiscalização, jornalistas, operadores de imagem).

Não é autoridade ou profissional de informação quem quer. Nada de bandalheira. Fardado ou não, primeiro tem de obter a respectiva credencial, a colocar ao pescoço, para depois poder aceder ao sector restrito, frente ao palco, vedado ao público.

Fortaleza é no Brasil, país do 3º mundo, mas o Réveillon não é a Festa dos Tabuleiros. A imagem mostra um dos dois postos médicos avançados, ambos com ar condicionado, médicos, enfermeiros e ambulâncias à porta. As coisas ou se fazem bem, ou mais vale estar quieto. É mais decente.


A praça da alimentação, ao lado do palco, com dezenas de lojas exploradas pelos patrocinadores dos concertos.


Milhares de sanitários amovíveis, em toda a volta do aterro da Paria de Iracema, local dos concertos

Um aspecto geral do réveillon do ano passado.






 

Aquecimento no parlamento municipal

 Uma informação interna 

que é também um retrato desta época

Problema inicial: Num estado laico, em que até os fiéis católicos têm direito a aquecimento na Sé da Guarda, pago pelo governo, entendeu o PSD - Tomar, através dos seus deputados municipais, reclamar contra o frio no Salão nobre dos Paços do concelho, durante as longas sessões da Assembleia Municipal. O presidente do órgão enviou a reclamação ao executivo e, ao fim de algum tempo, lá veio a resposta, muito completa e da qual se publica apenas um excerto. (imagem supra)
É um documento complexo, bem redigido, porém  com lacunas, que pode ser lido também como o retrato desta época, numa pequena cidade de funcionários e pensionistas. Quanto à forma, repare-se, para começar, nas normas protocolares em vigor com esta maioria socialista. Atente-se na primeira coluna da esquerda.
Nada de "Chefe de divisão do DOM, Eng. Orlando Helder para Exmo. Presidente da Câmara, Dr. Hugo Cristóvão", como antigamente. Nem sequer de "Chefe de divisão do DOM para Presidente da Câmara". Ou, vá lá, "do camarada chefe de divisão do DOM, para o camarada presidente da Câmara". Nada disso, tudo mais que ultrapassado. Agora usa-se simplesmente "de Orlando Helder para Hugo Cristóvão". Adeus protocolo! Às malvas a velha recomendação "Convém respeitar uma série de normas protocolares de execução permanente."
Pelo caminho que estas coisas levam, suponho que no próximo mandato já será "Do Orlando para o Hugo", e mais tarde "De mim para ti", como nas uniões de facto. Entretanto, aqui ao lado, em Espanha, os eleitos têm direito ao título de "senhoria" antes do nome. Mesmo durante os debates no parlamento, os senhores deputados começam sempre por dizer "Senhorias..." Uns atrasados, os nuestros hermanos. Nós é que sabemos, mas depois ficamos muito ofendidos quando as coisas correm menos bem e nos acusam de tendência para a bandalheira.
Indo mais além, a substância do documento em questão é esta: Não há aquecimento  no Salão nobre, devido a uma ruptura, algures no piso térreo, cuja reparação implica encerrar por algum tempo o serviço de atendimento permanente. Além disso (ou sobretudo?) a dita reparação está orçamentada em 290 mil euros, mais do dobro do prejuízo da Feira de Santa Iria deste ano, e o dinheiro não chega para tudo. Ou chega?
A terminar, há no citado documento dois assuntos que me incomodam. Um é o "chiller". Resfriador, refrigerador, recirculador, ou simplesmente máquina frigorídica, tudo vocábulos sinónimos, teria sido demasiado provinciano e tosco. Nada como um anglicismo para enobrecer a frase. Pois o "chiller", que é a maquinaria geradora do fluido quente ou frio que circula no sistema de aquecimento/arrefecimento, está instalado no parque de estacionamento, do outro lado da rua. Certamente para poupar eleitos e funcionários ao ruído do funcionamento, mas isso o documento omite. 
O problema do afastamento entre a máquina frigorífica e os "splits", ou distribuidores,  é que exige longas canalizações, onde depois há roturas, uma vez que, para poupar, instalaram tubagens de ferro, em vez de aço inox ou cobre revestido.
O outro assunto são estas duas frases muito curiosas (não reproduzidas na imagem acima), e que  parecem não emparelhar lá muito bem com o resto do documento em análise:
 
1 - "...Em 2022 foi lançada a empreitada de substituição dos vãos, estando a sua execução prevista para o INICIO de 2023." Estamos no final de 2023, a informação interna é de 20 de Dezembro, e qual é o estado da  dita empreitada? O que são os vãos? Pergunta em vão?
 
2 - "Devido à existência de uma rotura, cuja localização até ao momento não foi possível detetar, neste momento não é exequível climatizar o salão nobre." (página 1, 7º parágrafo) 
Mas igualmente: "Da análise já efetuada à situação da rotura na tubagem que alimenta a máquina responsável pela climatização do salão nobre, julga-se que esta estará localizada no espaço onde funciona o balcão único. A reparação desta rotura implica a remoção do pavimento naquele espaço. Não sendo viável manter em simultâneo o funcionamento do atendimento e a realização das obras, esta intervenção implicará deslocar o balcão único para outro local, sendo este constrangimento o motivo pelo qual a reparação ainda não foi realizada." (página 2, 2º parágrafo)
Afinal, em que ficamos? Há uma rotura no piso térreo, onde funciona o balcão único? Ou ainda não se sabe onde é a rotura?

Exceptuando estes pequenos óbices, vai tudo muito bem, no melhor dos mundos possíveis, como dizia o outro, logo a seguir ao terramoto de Lisboa. (Não sabe quem é o outro? Acontece. É o Pangloss, personagem criado por Voltaire, na sua obra filosófica "Cândido ou o optimismo".)

 

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Turismo

Cuidado! 

Não matem a galinha dos ovos de ouro

O MIRANTE | Turismo no Ribatejo recomeça do zero estruturando oferta para ganhar notoriedade

Dois tópicos me levam a escrever de novo sobre turismo. Um está no link acima. O outro é o caso descrito na reportagem do Le Monde, cuja tradução foi publicada ontem. Em ambos se nota a mesma preocupação: a crise no turismo, que poucos entendem, pois a maioria se colocou na posição dos feiticeiros africanos. Sabem por tradição quando é costume chover, e fazem então umas cerimónias, com rezas e tudo, ficando depois muito satisfeitos porque choveu mesmo. Como se as cerimónias e as rezas tivessem alguma influência no estado do tempo.
No turismo é semelhante. O fenómeno das viagens de lazer apareceu e foi-se desenvolvendo graças à modernização dos transportes, ao aumento do nível de vida e à melhoria das condições de trabalho, mas sem qualquer planeamento, sobretudo a partir dos anos sessenta do século passado. 
Surgiram então muitos especialistas e imensos estudos, todos tendo como objectivo, anunciado ou não, o desenvolvimento do "viajismo". Ponto comum à maioria dos especialistas, nunca trabalharam no sector, na área operacional. Não sabem sequer dirigir um grupo organizado, ou programar um produto. Mas falam e escrevem que se fartam...
Estão como os feiticeiros africanos. Fazem umas coisas, geralmente designadas como estratégias, e quando se verifica um aumento ocasional da actividade exultam, por considerarem que se deve ao que fizeram. No caso algo cómico do Ribatejo, após a extinção das comissões regionais de turismo e a sua substituição por Entidades regionais, está a acontecer o que se previa. Há crescimento turístico nas regiões onde sempre haveria, mesmo sem quaisquer entidades penduradas, como Évora, Fátima, Batalha, Alcobaça Tomar, Óbidos, Nazaré,  Coimbra, Porto e assim. Nos outros locais é a crise de sempre, como em Santarém, por exemplo.
Sob a égide da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, estão agora, segundo a notícia supra, a voltar à estaca zero, pela força das coisas. Até já se fala de novo no Turismo do Ribatejo, com instalação santarena e técnico dedicado. É o regresso à Comissão regional de turismo entretanto extinta, mas não sei se será a prevalência do bom-senso. A falhada candidatura a Parimónio da humanidade da UNESCO, merecia adequada reflexão, que nunca foi feita, tendo em conta o oportunismo que se vai instalando na área do turismo, como actividade económica rentável em condições normais de mercado, com os aparelhistas a complicarem tudo.
Na reportagem sobre Cuba, escreve-se que aquela ilha já recebeu anualmente entre 4 e 5 milhões de turistas antes da pandemia, mas agora não consegue ultrapassar os dois milhões. Porquê? Quando por lá andei, como cliente da Cubanacan, que pertence aos militares, correu tudo muito bem, mas a alimentação deixava a desejar nalguns aspectos. Tenho presente uma cena algo insólita em Guardalavaca -local de férias dos privilegiados do regime- com refeições tipo buffet, onde um cubano encheu o seu prato por duas vezes, assim tipo com taipais e tudo, para amparar, o que me levou a confirmar que havia (e pelos vistos continua a haver) fome em Cuba. Não terei sido o único...
Pode parecer pouca coisa a alguns, mas os candidatos à viagem, ouvindo dizer que não se come sempre bem, rumam a outras paragens. Da mesma forma, em Santarém, se a viagem não corresponde ao que se esperava, o fluxo turístico só pode diminuir. Como foi dito no recente debate "Não vale a pena fazer promoção se depois não há produto." À altura, como é o caso, acrescento eu.
Tomar é outro problema, noutro nível. Os turistas vêm, mesmo sem promoção, porque o apelo do Convento de Cristo é excepcional. Um ícone de primeira grandeza. Como refere o Guide Michelin, o mais antigo no mercado "Vale a viagem": Mas há que ter cuidado: A evidente falta de estruturas de acolhimenro, de enquadramento humano e de adequada promoção, após a elaboração de um real produto turístico, tudo isso está prejudicando Tomar. O turismo continua a crescer, mas de acordo com os dados oficiais, o Convento tem menos visitantes que a Batalha ou Alcobaça. Porquê?
Se calhar porque, como nos casos cubano e escalabitano, há problemas ignorados deliberadamente, do tipo "deixar correr o marfim". Em Tomar, por exemplo, um determinado café, que rouba deliberadamente os turistas, com pastéis de nata a 3 euros, cafés a 2 e garrafas de água a 5, não está seguramente a contribuir para o incremento do turismo. Os visitantes pagam, mas não esquecem e transmitem aos outros.
Cuidado! Muito cuidado! Há casos em que o doente morre da cura e não da maleita. Por favor não ajudem a matar a galinha dos ovos de ouro. E se não sabem muito bem o que andam a fazer, abstenham-se. Armar ao pingarelho só estorva.






Turismo

Previsão de 600 mil visitantes 

no réveillon de Fortaleza

A cinco dias do final do ano, está quase tudo pronto para a grande festa do réveillon de Fortaleza. Prevê-se a vinda de 600 mil pessoas,  e a capacidade hoteleira está praticamente esgotada. Não é pouca coisa. A capital cearense tem 500 hotéis, milhares de pousadas  e um total indeterminado de unidades de alojamento local, cuja contagem é praticamente impossível, pois não há nenhum registo prévio obrigatório.
Na noite de passagem de ano está previsto um grande espectáculo ao ar livre, no aterro da Praia de Iracema, aqui a cem metros de onde estou escrevendo, bem como o tradicional fogo de artifício. Em princípio tudo com entrada franca, por não ser possível controlar tanta gente, mas com os particulares a aproveitarem. Hoteleiros, restaurantes e até vendedores ambulantes, comercializam espaços com cadeiras e mesas, para assistir ao fogo de artifício e ao espectacúlo com Roberto Carlos e uma dezena de outros artistas de prestígio, com preços que podem chegar a 50 reais (dez euros) por pessoa, sem contar. com a comida e a bebida.
Mas então, pensarão alguns leitores marca PS, sempre há grandes concertos à borla, sem ser em Tomar? Pois há, sim senhor, mas não têm qualquer relação, a não ser o tipo de espectáculo. Até "a música é outra". Em Tomar, julgo que nem sabem o que é o "forró". Para começar, o turismo em Fortaleza é totalmente diferente do turismo nabantino.
Não há monumentos nem outras grandes atracções na capital do Ceará. As pessoas vêm pelo clima (temperatura média de 30  graus durante o ano inteiro, quando no interior ultrapassa os 40 graus), pela praia e pelas amenidades (comida, passeios, desportos), ficando em geral 2-3 noites. É comum ver vendedores no calçadão, oferecendo passeios "3 praias num dia", a 250 reais (50 euros) por pessoa.
O grande espectáculo do Réveillon, encabeçado pelo astro Roberto Carlos, custa uma pequena fortuna. Falou-se em milhões de reais. Mas é pago pelos hoteleiros, que depois lançam as suas contribuições como despesa, de forma a reduzir os impostos. De resto a situação no terreno também não tem nada a ver.
Depois de assistirem ao show do réveillon e ao fogo de artifício, os visitantes têm de pernoitar forçosamente, pois as cidades importantes de onde vieram ficam a mais de 500 quilómetros, com estradas de velocidade limitada a 80 kms/hora. E as mesmo grandes, como Brasília, Manaus, Rio, S. Paulo ou Belo Horizonte, estão a mais de dois mil quilómetros.
Nada a ver portanto com os concertos em Tomar, que numa operação promocional tipo esperteza saloia, foram apresentados aos hoteleiros e profissionais da alimentação e bebidas como âncoras para que os visitantes fiquem mais tempo e gastem mais. Esqueceram-se que Portugal é um país pequeno e que, para o bem e para o mal, Tomar está no centro. Resultado: Os visitantes vêm assistir aos concertos à borla, bebem e comem nos vendedores ocasionais, e depois regressam a suas casas tranquilamente, porque estão de certeza a menos de 200 quilómetros, e feitas as contas fica mais barato que pernoitar no hotel. 
Há os estrangeiros, é claro. Mas esses nem sabiam dos concertos quando desembarcaram em Lisboa, e já vêm com programa estabelecido, que não consente alterações importantes (mais uma noite em Tomar, implica menos uma noite já marcada algures).
Conclusão: a senhora do turismo tem sido generosa, uma vez que a Câmara paga os concertos, mas vai intrujando os comerciantes e hoteleiros, porque os negócios vão de mal a pior, mas a compra de votos, que é no fundo o que lhe interessa, vai bem e recomenda-se.
Concluindo, querem saber qual é, além das praias e do clima, a grande âncora turística de Fortaleza? A Feirinha da beira-mar, ao lado calçadão. Um conjunto de 750 lojinhas, eles aqui dizem "boxes", de dois metros quadrados, com luz, mas sem água nem instalações sanitárias (Há banheiros espaçosos nas proximidades), alugados aos ambulantes pela autarquia. (ver imagens). 
Como é que cheguei à conclusão que a Feirinha é a grande atracção? Simples. Todas as tardes faço a minha caminhada de cerca de cinco quilómetros no calçadão da beira-mar. Durante esse trajecto, nunca ninguém me perguntou onde fica  a catedral, ou o jardim japonês, por exemplo. Mas não têm conta as perguntas tipo "A feirinha ainda é longe?" "Onde é a feirinha?" "Vamos bem, para a feirinha?"
Comparativamente, em Tomar há só duas vendedoras ambulantes junto à saída do Convento, após muita luta para se manterem, pelo menos no que diz respeito a uma delas, que até já se encarregou em tempos da limpeza e manutenção dos sanitários da Cerrada do Cães. Quando ainda não existiam os  da cafetaria, cuja porta exterior de acesso está sempre impedida, para obrigar as pessoas a entrar no estabelecimento e consumir.
 As Câmaras PS locais têm dado música ao pessoal, mas bem vistas as coisas sempre foram e são contra a iniciativa privada. Ainda não sabem, ou já não se lembram, que os países do leste europeu colapsaram nos anos 90 do século passado, designadamente por falta de empresas privadas. Tanto o Estado como as Câmaras, são cadelas alimentadas com os impostos de todos nós, que a certa altura não podem com tanto cão...


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Política internacional - CUBA


Traduzido do LE MONDE online de 24/12/2023 

"CUBA ANUNCIA UM IMPORTANTE 
PLANO DE CORTES ORÇAMENTAIS"




Vendedor improvisado de bolos, numa rua de La Havana, a capital de Cuba, em  2023.

"Face aos efeitos conjugados do embargo histórico imposto pelos Estados Unidos, das consequências da crise de Covid 19 e de um crescimento económico fraco, o governo cubano vai reduzir as despesas públicas, reconhecendo a desigualdade de rendimentos na sociedade cubana."

Angelina Montoya, LE MONDE online, 24/12/2023, 05H30 de Paris, 6 minutos de leitura
Tradução de António Rebelo, UPARISVIII 

"A ilha vive numa economia de guerra." Foi com estas palavras que o primeiro-ministro cubano, Manuel Marreiro, justificou na quarta-feira 20 de Dezembro, num discurso na Assembleia Nacional, um dos planos de cortes orçamentais mais importantes dos últimos anos, que alguns sectores da oposição classificam como "neoliberais".
O primeiro-ministro, após ter atribuído a actual situação ao embargo imposto pelos Estados Unidos em 1962,  como de costume, bem como às crises internacionais, admitiu perante os parlamentares que "o governo podia ter feito bastante mais". As autoridades reconheceram há uns dias que a previsão de crescimento para 2023 foi revista em baixa (entre -1 e -2%, em vez dos previstos 3% de aumento).
Considerando que deixou de ser possível "continuar a esbanjar", Marrero anunciou uma série de cortes orçamentais para reduzir as despesas públicas, entre as quais aumentos das tarifas de alguns serviços públicos, como a electricidade, o gás, a água e os transportes, -por vezes da rodem dos 25%- tal como o preço da gasolina. "Em que outro país se podem comprar 9 litros de gasolinaa por um dólar? Temos de acabar com este luxo", disse o primeiro-ministro, quando o salário médio cubano não ultrapassa os 4 mil pesos, equivalentes a cerca de 13 euros.

"Um esquema mais justo e eficaz"

Marrero deu também a entender que o número total de funcionários pode vir a ser reduzido e anunciou uma desvalorização do peso cubano, bem como uma modificação das condições de atribuição de produtos de primeira necessidade a baixo preço, por meio da caderneta de racionamento ( a "libreta").
Esta libreta começou a ser usada em 1963, após a imposição do embargo pelos Estados Unidos, com o objectivo de racionar os alimentos. Todos os cubanos, sem distinção de rendimentos, recebiam mensalmente, a preços largamente susbsidiados pelo Estado, frango, carne vermelha, óleo alimentar, manteiga, leite condensado, café e outros produtos de primeira necessidade.
A caderneta continua a existir, mas a lista dos produtos disponíveis foi sendo reduzida com o tempo e com as penúrias, de tal forma que actualmente só permite alimentar uma família durante cerca de dez dias por mês. "Não é justo que os que têm muito recebam o mesmo que os que têm pouco. Estamos a subsidiar do mesmo modo um velho pensionista e o proprietário de uma grande empresa privada, que tem muito dinheiro."
Reconhecendo assim a existência de desigualdades na ilha comunista, o primeiro-ministro anunciou que o Ministério do trabalho e da Segurança social vai estabelecer nas próximas semanas as "gradações de vulnerabilidade", para identificar aqueles que poderão continuar a receber os produtos subsidiados, de forma a "não deixar ninguém na miséria". Trata-se, acrescentou, de "subsidiar as pessoas e não os produtos, tendo por fim chegar a um esquema mais justo e mais eficaz".
No X, o presidente cubano Miguel Diaz-Canel alarmou-se perante este "plano de austeridade", considerando que os aumentos das tarifas dos serviços públicos "afectam o nível de vida dos cubanos". Para a Food Monitor Program, uma ONG que estuda a insegurança alimentar em Cuba, esta iniciativa não provém da vontade de equidade, mas antes da incapacidade do governo para importar os raros produtos entregues mensalmente via caderneta de racionamento, uma vez que o Estado não dispõe de divisas suficientes, e o país atravessa uma crise agro-alimentar sem precedentes.
"Tendo em conta a grave crise de insegurança alimentar existente em Cuba, a redução de alguns produtos básicos subsidiados, vai provocar uma maior desigualdade no acesso dos cubanos à alimentação", prevê a citada ONG.
Perante as críticas de alguns sectores da oposição, o presidente Miguel Diaz-Canel afirmou, no sábado 23 de Dezembro, na Assembleia Nacional, que "não há absolutamente nenhum pacote neoliberal contra o povo, nem cruzada contra as PME, ou a eliminação da cesta básica de alimentação, ao contrário do que escreve a contra-revolução nas redes sociais".
O Chefe de Estado reconheceu, todavia, que "todas as medidas podem, no início, agravar algumas problemáticas. O desafio, acrescentou, consiste em aplicá-las de maneira organizada, avaliando sempre os impactos e ...dando um tratamento diferenciado àqueles que são os mais afectados. Nada, absolutamente nada do que fazemos, tem por fim afectar os cidadãos. A nossa principal tarefa é o relançamento económico", escreveu o presidente no X, na passada quinta-feira.
Cuba sofre actualmente uma crise económica, financeira e social, mais profunda que a do "período especial", após o colapso do bloco soviético, no início dos anos 90. O dia a dia dos cubanos é hoje de cortes repetidos de electricidade, inflação galopante, falta de alimentos, de gasolina e de medicamentos.



Turismo em queda desde a pandemia de Covid 19

A pandemia de covid 19, que afectou bastante o turismo cubano, principal fonte de divisas da ilha, explica em parte a actual situação. Ao contrário da República Dominicana e do México, Cuba ainda não regressou aos níveis anteriores a 2020. O governo previa 3,5 milhões de visitantes estrangeiros em 2023, mas o total dificilmente chegará aos 2 milhões, quando o país acolhia entre 4 e 5 milhões de turistas antes da pandemia.
Entretanto, a unificação a partir de Janeiro de 2021 das duas moedas em circulação, uma convertível em dólares e outra não, provocou o aumento da inflação e agravou as penúrias, alimentando o descontentamento popular, que se manifestou na rua em 11 de Julho de 2021, provocando um aumento exponencial da emigração. Mais de meio milhão de cubanos chegaram aos Estados Unidos (A duzentos quilómetros de Cuba, por mar. Nota do tradutor) em 2022 e 2023. (A população de Cuba é de 11,7 milhões de habitantes, sendo a que menos cresce na América latina, Nota do tradutor.)
O bloqueio económico imposto pelos Estado Unidos desde 1962 -o mais longo da história moderna- agravado pelo presidente Donald Trump a partir de 2017, continua a prejudicar fortemente a economia do país. No passado dia 2 de Novembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, por maioria e pela 31ª vez, uma resolução pedindo o fim do embargo, por 187 votos a favor, dois contra (Estados Unidos e Israel) e uma abstenção (Ucrânia).
Segundo o governo cubano, o bloqueio americano representa perdas equivalentes a 145 biliões de euros, desde a sua entrada em vigor."

Angelina Montoya


segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Imagem copiada da página Facebook de Hugo Cristóvão, com os agradecimentos de TAD3

Achados arqueológicos

O "forno romano do Flecheiro" 

e os entusiastas do costume 

Que fazer? Como proceder?



Foi uma agradável surpresa, e uma retumbante notícia, a descoberta ocasional de umas ruinas enterradas, logo chamadas "forno romano do Flecheiro". Já vai nos 40 comentários, na página Facebook de Hugo Cristóvão. E ainda dizem que os tomarenses não se interessam pelas coisas da sua terra. É só má-língua, está-se mesmo a ver. O tom geral dos citados comentários é entusiástico, prevalecendo a opinião de que se deve preservar tão importante achado. Mas já há também divergências. Para uns é um forno de tijolo, para outros de talhas e para outros ainda termas romanas. Em que ficamos, afinal? Baseados em quê?
Não espanta por isso que nesta altura a posição dominante na autarquia seja a de estudar a melhor maneira de preservar o achado, assegurando se possível a sua exploração turística. É natural, mas conviria não se precipitar. Antes de mais: De que se trata afinal? Como proceder para evitar dúvidas futuras, como desde há muito acontece nomeadamente com "Fórum de Sellium"?
Goste-se ou não, ainda agora se achou a coisa, e são já variadas as interpretações. Forno romano de tijolo? Só porque apareceram lá uns restos? Forno romano de talhas, do século IV? Termas romanas? Torrefacção de café do século XIX? Sem querer ofender ninguém, e muito menos meter-me em matérias para as quais não tenho competência académica registada, quer-me parecer que o mais sensato e produtivo será seguir o conhecido conselho do secretário do senhor de Lapalisse: Começar pelo príncípio, continuar pelo meio e acabar no fim.
No caso, começar pelo princípio, quer dizer pelo essencial e prioritário. Procurar saber definitivamente de que estamos a falar de facto? Serão mesmo ruínas romanas de um forno? Ou vestígios muito posteriores, de qualquer outra coisa?
Para sanar dúvidas de uma vez por todas, deve a autarquia proceder como nunca fez até agora, dado que dispõe de meios para isso. Encomendar a um arqueólogo, reputado e acima de qualquer suspeita, um estudo sumário do achado, incluindo uma datação por carbono 14. Idealmente, por razões óbvias, esse arqueólogo deverá ser estrangeiro e nunca ter trabalhado em Portugal. Como foi feito nas gravuras rupestres de Foz Coa.
Só depois, estudado devidamente o relatório, se vier a confirmar-se pela datação científica que são mesmo ruínas da época romana, convirá então prosseguir com as escavações e mandar estudar a melhor maneira de preservar o achado, Não faria qualquer sentido repetir as lamentáveis experiências da Rua Centro Republicano e do alegado "Fórum romano", que já custaram avultadas verbas, sem que se saiba até agora se são mesmo ruínas da época romana, ou simples fruto da imaginação dos arqueólogos interessados. 
Porque nunca foi feita a indispensável datação com carbono 14, e sem isso, tanto podem ser ruínas romanas, como de muitos séculos depois, desprovidas de qualquer interesse histórico, ou outro.. Com ou sem "projecto de musealização", que dá sempre muito jeito a quem o encomenda, a quem o faz,  e a quem o aprova. Mas depois, uma vez feitas as obras, geralmente dispendiosas, começam a dificuldades de implementação.
Quase 15 anos após as obras iniciais, os museus da Levada, aliás "complexo museológico da Levada", aliás "museu da fundição", "museu da electricidade" e "museu da moagem", continuam a aguardar melhores dias. Que permitam finalmente a passagem à prática das ideias mirobolantes vendidas aos eleitos, alguns dos quais as aprovaram sem saber muito bem o que estavam a fazer. O costume...


Imagem copiada da página da Rádio Hertz, com os agradecimentos de TAD3

Ambiente e Património

Por isso a antiga Cerca conventual está assim...

OURÉM – Proposta de Plano de Cogestão do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros e do Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáurios Ourém-Torres Novas, está em consulta pública | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

Foi um feliz acaso. Vejo todos os dias a página da Hertz, sempre bem informada e bem feita, na qual leio o que me parece mais importante. Desta vez chamou a minha atenção a peça referida no link supra, que nem sequer menciona Tomar. Apenas Ourém, Torres Novas e Alcanena.. Porquê o meu interesse? Porque é a direcção do Parque Nacional das Serras de Aire e Candeeiros - PENSAC que tutela também a Mata dos Sete Montes. 
A sede administrativa do PENSAC é em Torres Vedras, a mais de cem quilómetros de Tomar, e na Mata dos Sete Montes há apenas um funcionários, quando em tempos chegaram a ser 8. Quando ainda havia lagar e carro de bois. Onde isso já vai!
Pelo teor da notícia da Hertz, percebe-se que as Câmaras de Ourém, Torres Novas e Alcanena, resolveram meter mãos à obra, para enfrentar os graves problemas do Parque natural e das Pegadas de Dinossauro da antiga Pedreira do Galinha, que o Estado comprou por dois milhões de euros, envolvendo-se num programa de cogestão.
Está assim explicado o manifesto abandono da Mata dos Sete Montes. A doença é geral. Precisando dos votos, as várias tutelas deixaram de poder controlar os funcionários, que estão praticamente em autogestão. Pouco ou nada fazem, e está tudo bem. A vegetação não protesta e a Câmara de Tomar também não. Dos cidadãos é melhor não dizer nada, para evitar incompreensões.
Seria contudo uma excelente ocasião para o Município nabantino, obter do governo a gestão da Mata dos Sete Montes, alegando o considerável afastamento geográfico em relação ao parque natural e às Pegadas, bem como o estado lastimável em que se encontra a velha Cerca conventual.
Mas quê? Se nem conseguem gerir como deve ser o Mouchão, nem os pequenos espaços verdes da cidade, como iriam resolver o imbróglio da Mata e dos Pegões? Como dizem os caipiras brasileiros, "Quem nasceu pra lagartixa, nunca chega a jacaré." E quando não se esforçam, por estarem convencidos, contra toda a evidência,  de que estão cheios de razão, pior é.

ADENDA: caipira = campónio, rural, simplório


domingo, 24 de dezembro de 2023

 

Rio Tejo visto a partir do jardim da porta do sol em Santarém

Turismo receptivo

Santarém e Tomar 

tão perto mas tão diferentes

Noticia O Templário, na sua edição desta semana, que a Câmara de Santarém realizou um debate muito participado, no Teatro Sá da Bandeira, tendo por tema "Turismo do Ribatejo - Construir um destino". Abrindo a sessão, o presidente da edilidade, Ricardo Gonçalves (PSD) afirmou:

"O nosso Plano de Turismo foi renovado há 5 anos em conjunto
com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo,
com dez eixos bem definidos. Estamos a trabalhar nesses eixos
e está a sortir muito efeito. Os dados são claros. Em 2022,
dentro dessa estratégia, que levou à abertura de todos os Monumentos,
em parceria com o ISLA de Santarém, a Diocese e a Santa
Casa da Misericórdia de Santarém, fez com que a nossa visitação
aumentasse bastante.
Queremos construir um destino. Foi assim que o Presidente
Ricardo Gonçalves terminou a sua intervenção referindo que
um produto turístico tem o seu tempo de implantação, mas que
com um trabalho conjunto entre as entidades e parceiros, conseguir-se-á
atingir esse objetivo."

(O Templário, 21/12/2023, página 22)

Como bem sabem os profissionais do sector, a capital ribatejana nunca foi um grande destino turístico, nomeadamente por não ter nenhuma atracção de primeira linha.  Há uns atrás, uma maioria PS gastou mais de 300 mil euros numa candidatura a Património da Humanidade, que nunca teve pernas para andar, por falta de adequada caracterização.
Agora dirigida pelos social-democratas, e integrada na Entidade de Turismo Alentejo-Ribatejo, Santarém procura alcançar outros patamares que permitam maior desenvolvimento turístico. Este debate, que foi um êxito, integra-se nessa estratégia de constante busca de novas oportunidades.
Em tom irónico, que assim fica explicitado, para que dúvidas não restem. 60 quilómetros mais a norte, Tomar não precisa dessas mariquices na área turística. É Património da Humanidade desde 1983, e possui dos melhores especialistas de turismo do país. Prova disso é que ainda recentemente a ex-presidente Freitas foi eleita vice-presidente da Entidade de Turismo do Centro, que agrupa muito mais concelhos do que a sua homóloga do Alentejo e Ribatejo. E são bem conhecidos os predicados da senhora na área turística. Até já visitou Israel., de onde deviam vir investidores que nunca mais apareceram...
Tem além disso, a dita Entidade de Turismo, quatro atracções Património da Humanidade (Alcobaça, Batalha, Coimbra e Tomar) e as ondas mais altas para a prática do surf, no Canhão da Nazaré, bem como o mais frequentado santuário português, Fátima, que possui uma invejável oferta hoteleira, além de outras estruturas de acolhimento.
Nestas condições, Tomar não precisa de qualquer plano de turismo ou outro, pois o improviso ainda é a melhor solução, como demonstra a candidatura encalhada dos Tabuleiros a património imaterial. É certo que faltam ideias e estruturas de acolhimento. É igualmente certo que os comerciantes se queixam porque os visitantes gastam cada vez menos. Mas temos mais hotéis e mais turistas, em consonância com o país. São mais rascas, os visitantes? Simples fruta da época. Os autarcas locais e não só, também são conforme se constata.
Compreende-se por isso a reacção de um membro da actual maioria socialista, que quando o autor destas linhas lhe falou, há tempos, num plano local de turismo, parece ter ouvido algo como "plano para derrubar a Câmara e o governo". Pelo caminho que as coisas levam, com tanta bandalheira, estou convencido de que Tomar não tardará a alcançar, por mérito próprio, o título de capital do turismo abandalhado. Que o digam, por exemplo, os proprietários dos terrenos próximos do Convento, invadidos todos os fins de semana por veículos de turistas, que não conseguiram estacionar alhures. O turismo actual em Tomar, é como antigamente na tropa: cada um tem de se desenrascar.
Outubro de 2025 é afinal já ali adiante. Se ainda tiver saúde para isso,  o escriba não deixará de dizer então tudo o que pensa, nomeadamente sobre o turismo e o executivo municipal socialista, durante a campanha eleitoral. Mesmo que entretanto as contas dos Tabuleiros 2023 já tenham sido apresentadas e aprovadas pela AM. 
É a minha promessa nesta véspera de Natal de 2023.

sábado, 23 de dezembro de 2023

Imagem copiada da página Facebook de Hugo Cristóvão, com os agradecimentos de TAD3.

Arqueologia local

Temos outra vez a burra nas couves

https://radiohertz.pt/tomar-obras-em-curso-no-flecheiro-revelaram-forno-romano/

Sendo a cultura geral dos tomarenses aquilo que é, convém começar por esclarecer que "ter a burra nas couves" é uma expressão popular que significa haver problema, desacordo ou sarilho. Cabe ao leitor escolher o que melhor lhe convier.
Nos anos 80 do século passado, apareceu em Tomar uma senhora arqueóloga, vinda de Coimbra, via ruínas de Conímbriga. Soube arranjar discípulos e subsídios, após o que dirigiu algumas escavações arqueológicas, designadamente na zona do quartel dos bombeiros. Encontrou alguns vestígios, o que não surpreende, porquanto no antigo olival do Manuel Capado estão referenciadas duas igrejas cristãs há muito desaparecidas: S. Pedro Fins e Santa Maria de Selho, que devem ter deixado alicerces.
Sem que se saiba bem como nem porquê, a citada arqueóloga determinou que se tratava das ruínas do fórum de Sellium, segundo ela a localidade romana antecessora de Tomar. Debalde se procura na literatura científica disponível qualquer fonte credível para confirmar a aludida descoberta arquelógica, para além da dita senhora, directamente  ou  via amigos e discípulos.
Anos mais tarde, já professora de arqueologia no Politécnico de Tomar, a mesma senhora identificou vestígios muçulmanos no castelo de Tomar, entre os quais um pavimento de tijolos em cutelo, nas ruínas dos Paços do Infante, que são do século XV, quando os maometanos foram expulsos do reino de Portugal dois séculos antes...
Nada disso obstou a que a câmara tenha gasto recentemente perto de um milhão de euros para "musealizar o Forum de Sellium", cuja segunda fase tarda em arrancar, pois trata-se de arranjar conteúdos e aí é que a porca torce o rabo. Onde arranjá-los e como integrá-los num pretenso museu de coisa nenhuma? (ver crónica anterior sobre o mesmo  tema)
Apareceu agora, inesperadamente, mais um achado arqueológico alegadamente romano, durante as obras do Flecheiro. Foi o cidadão Hugo Cristóvão, também presidente da Câmara, mas não nessa qualidade, que noticiou o facto na sua página do Facebook, logo reproduzida na do Gabinete de Curiosidades de Tomar. Ainda bem. O direito à informação está na Constituição da República, bem como a liberdade de expressão, embora haja eleitos com tendência para ignorar esses preceitos. 
Na referida página se escreve tratar-se de um forno de tijolo da época romana, sem que alguém explique como se chegou a tal conclusão tão depressa. O que não impede um comentário do arqueólogo Carlos Batata, discípulo da senhora arqueóloga antes referida, que a pedido da câmara elaborou um relatório no qual escreve não ter sido possível localizar as ruínas romanas da Nabãncia, em Cardais, classificadas como monumento nacional desde 1910.
Sustenta o senhor Batata, no seu comentário, que se trata de um forno romano de modelo raro, provavelmente destinado a cozer talhas. Como aquelas que agora se fazem ou faziam na Asseiceira, acrescentamos nós. Não tarda, estamos no vinho da talha, há pouco classificado como património imaterial. Com estas datações e especificações "a olho", tudo é possível.
De forma que vamos ter, segundo tudo indica, mais um achado "romano", para preservar numa espécie de gaiola, parecida com aquela junto ao pavilhão municipal, na rua do Centro Republicano. Para quê? Ninguém sabe. Num país em que há pessoas a saír do Convento de Cristo dizendo que "afinal é só pedras", devido à falta de visitas guiadas para todos os visitantes, que interesse prático podem ter os vestígios arqueológicos antes referidos, que nada têm de monumental, e muito menos de espetacular?
Temos assim, outra vez, a burra nas couves. Numa terra em que se deixa morrer à sede a antiga Cerca conventual, se permite o roubo da água dos Pegões, e não se pune a destruição intencional de parte  do aqueduto, tal como se destruiu o sistema tradicional de rega por gravidade do Mouchão, e se transformou em permanente um açude há séculos temporário; numa terra assim, gastam-se milhões em empreendimentos para preservar achados mal identificados e cuja serventia prática é nula. Só atrapalham. Por isso noutros países, bem mais ricos em património, em massa cinzenta e em turismo, quando aparecem são logo reenterrados, com uma cápsula metálica contendo documentos explicando o que aconteceu. Outras paragens, outros hábitos.
Estrangeirices e estrangeirados, dirão os tomaristas do costume. Sem dúvida. Mas não se esqueçam que o Gualdim Pais andou a combater na Palestina, o Infante D. Henrique era inglês pela parte da mãe e  Frei António de Lisboa, que afinal era de Tomar, professou em Espanha e só mais tarde voltou para a sua terra, onde fez as maldades bem conhecidas. E bem mais perto de nós, Jácome Ratton era francês, e o João dos Santos Simões, por alcunha o John, viveu em Inglaterra, onde se formou em engenharia têxtil, antes de vir para Tomar, onde reimplantou a Festa dos Tabuleiros que conhecemos. 
Resumindo, muitos dos que, mal ou bem, ajudaram a fazer a Tomar que hoje conhecemos, ou eram estrangeirados ou mesmo estrangeiros. Que alguns tenham sido ou sejam por vezes um bocado indigestos, a ponto de provocarem azias, isso já é outra música.

 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023



Política local

O PASTOR ALENTEJANO

O GENERAL BRASILEIRO GOLPISTA 

E O POLÍTICO CULTO

TOMAR – Festa dos Tabuleiros. PSD volta a insistir na apresentação das contas… e Hugo Cristóvão responde que há edições anteriores das quais «ainda se espera» por essa apresentação | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

Luís Ferreira, conhecido socialista local, escreveu há dias no Facebook que "temos agora um presidente culto. O outro que houve, da AD, era um papa-hóstias". Publica agora a Rádio Hertz um excerto de recentes declarações do dito presidente culto, Hugo Cristóvão de seu nome. Confrontado uma vez mais pelo PSD com o problema das contas dos Tabuleiros, que nunca mais são apresentadas, foi lesto a ultrapassar o assunto, justificando-se com um exemplo de alta cultura.
Afirmou que as contas de 2019 só foram apresentadas em Abril de 2020, e que houve até edições anteriores da festa, cujos relatórios e contas ainda se aguardam. Conclusão, nada de alarmes políticos prematuros, pois pode ser sempre muito pior.
Argumentação de fino recorte literário, que trouxe à memória do escriba uma velha anedota alentejana, culta já se vê. Pouco à vontade, e com ar embaraçado, um pastor alentejano informou o patrão que, por infelicidade, passou um comboio e matou cinco ovelhas.
Furioso, o patrão começou a injuriar o pastor, que exclamou, desculpando-se: -Não há para tanto, patrão! Podia ter sido bem pior. Se o comboio calha a vir de lado, matava o rabanho todo!
Em Tomar, não só podia ser pior, como é bem pior. Há gente que não se enxerga mesmo. Ia a escrever que não têm vergonha na cara, mas concluo que nem sabem o que é vergonha, um vocábulo só para gente com cultura tradicional, que se está a perder. Um presidente a justificar asneiras monumentais, com outras anteriores ainda maiores, é mesmo o fim da picada.
Por falar em picada, coisas assim já nem no Brasil, onde em tempos um presidente que era general golpista e fora escolhido pelos seus camaradas de armas, afirmou no discurso de posse: -"O Brasil está a um passo do precipício, mas agora comigo e com os militares vai dar um passo em frente." Presidente caipira, já se vê.
Hugo Cristóvão não é felizmente pastor alentejano, nem general brasileiro golpista. Usa porém uma argumentação menos feliz e inesperada, num presidente culto, segundo um seu camarada. Águas passadas não movem moinhos, nem asneiras antigas justificam erros modernos. A edição 2023 dos Tabuleiros foi de longe a mais cara de sempre e a que mobilizou mais recursos públicos. Não conseguir apresentar as contas mais de cinco meses após o final da festa, é algo injustificável e intolerável, que ainda vai dar muito que falar, se calhar até Outubro de 2025.
Porque a narrativa socialista actual, tentando culpar os críticos pelos erros dos eleitos, já teve o seu tempo. Agora só dá para rir de escárnio. Pobre terra com gente assim.

 


Política local

"Defender a Mata dos sete montes 

é cuidar do pulmão da cidade de Tomar"

"b. Insta a Câmara Municipal de Tomar a enveredar todos os esforços para que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas proceda rapidamente à elaboração de um Plano de Recuperação da atual situação da Mata dos Sete Montes."

O título e o excerto acima são de uma moção, apresentada pela CDU na recente sessão da Assembleia Municipal, que foi aprovada por unanimidade. Há nela um lapso evidente, que convém corrigir. Onde está enveredar, deve ler-se envidar.
Trata-se de um documento importante, com muita força reivindicativa, a partir do momento em que foi votado por unanimidade pela parlamento municipal. Finalmente, ao cabo de vários anos de alertas, as forças política locais começam a interessar-se pelo estado lamentável da Mata dos sete montes, que tende a piorar. Pena é que o excerto acima transcrito seja demasiado frouxo e parcialmente omisso.
Já aqui foi escrito dezenas de vezes, mas repete-se com todo o gosto. Há dois problemas conexos na origem do estado lamentável da antiga Cerca conventual. A - O evidente desinteresse do organismo governamental que gere aquele espaço verde, bem visível no aspecto abandonado da mata. B- A alteração do eco-sistema tradicional, velho de quatro séculos,  provocada pelo corte abusivo da água do aqueduto dos Pegões, que levou à seca generalizada do solo, dos tanques, das nascentes e do ribeiro.
O alegado "fungo do buxo" só foi detectado quando houve reclamação da Câmara, que pretendia "tudo verdinho" para a exposição dos tabuleiros. Houve então pulverização insecticida, paga pela autarquia, seguida de rega abundante com água da rede, que facultou alguma recuperação. Um semestre mais tarde, a situação é a que está à vista, apesar das chuvas de inverno, e que vai muito para além do buxo. 
Há dezenas e dezenas de árvores cuja cor da folhagem tipo persistente tem vindo a mudar, denunciando que estão a secar, e outras que já secaram. Crê-se que ainda ninguém terá parado um bocadinho e colocado a seguinte questão: Admitindo que haja mesmo um fungo predador no jardim da Mata, qual a sua causa? Porque apareceu só há dois anos? Foi identificado em mais algum espaço verde da região? Em qual ou quais? Quando? Qual a respectiva evolução?
Instando apenas a Câmara, a moção da CDU, que agora é também da AM na sua totalidade, está a visar um só alvo, quando são pelo menos dois: os responsáveis pela Mata e os responsáveis pelo Aqueduto dos Pegões. O ICNF e a DGPC, agora Museus e monumentos de Portugal. Bem vistas as coisas, há mesmo quatro alvos evidentes. A Câmara, o ICNF, os Museus e monumentos de Portugal e a Junta de Freguesia de Carregueiros, liderada pela CDU.
Porquê a Junta de Freguesia de Carregueiros? Porque a água que corria no aqueduto foi cortada abusivamente,  a partir da casa da água da Nascente da porta de Ferro, nos Brasões, e o aqueduto foi parcialmente demolido antes da dita nascente, tudo no território sob jurisdição da Junta de Carregueiros, que está legalmente obrigada a proteger o património e defender os bens públicos, como é o caso. Nada de sacudir a água do capote.
Que aos autarcas de Carregueiros não convenha agir, por correrem o risco de perder votos, isso já é outra questão. O que está agora em causa é a moção da CDU/AM, que ao instar apenas a Câmara, omitindo as outras três entidades, está  a contribuir para ir adiando a solução, conquanto não seja de modo algum o que pretende. Além do temor com a eventual perda de votos, o que obsta a que a Junta de Freguesia de Carregueiros faça cumprir a Lei comum, mandando repor a água no aqueduto,  uma vez que quem dirige o Convento, do qual o aqueduto é parte integrante, parece achar que está tudo muito bem?
Votos de Boas Festas, com saúde e boa disposição, para todos os leitores, suas famílias e amigos.