Turismo
Previsão de 600 mil visitantes
no réveillon de Fortaleza
A cinco dias do final do ano, está quase tudo pronto para a grande festa do réveillon de Fortaleza. Prevê-se a vinda de 600 mil pessoas, e a capacidade hoteleira está praticamente esgotada. Não é pouca coisa. A capital cearense tem 500 hotéis, milhares de pousadas e um total indeterminado de unidades de alojamento local, cuja contagem é praticamente impossível, pois não há nenhum registo prévio obrigatório.
Na noite de passagem de ano está previsto um grande espectáculo ao ar livre, no aterro da Praia de Iracema, aqui a cem metros de onde estou escrevendo, bem como o tradicional fogo de artifício. Em princípio tudo com entrada franca, por não ser possível controlar tanta gente, mas com os particulares a aproveitarem. Hoteleiros, restaurantes e até vendedores ambulantes, comercializam espaços com cadeiras e mesas, para assistir ao fogo de artifício e ao espectacúlo com Roberto Carlos e uma dezena de outros artistas de prestígio, com preços que podem chegar a 50 reais (dez euros) por pessoa, sem contar. com a comida e a bebida.
Mas então, pensarão alguns leitores marca PS, sempre há grandes concertos à borla, sem ser em Tomar? Pois há, sim senhor, mas não têm qualquer relação, a não ser o tipo de espectáculo. Até "a música é outra". Em Tomar, julgo que nem sabem o que é o "forró". Para começar, o turismo em Fortaleza é totalmente diferente do turismo nabantino.
Não há monumentos nem outras grandes atracções na capital do Ceará. As pessoas vêm pelo clima (temperatura média de 30 graus durante o ano inteiro, quando no interior ultrapassa os 40 graus), pela praia e pelas amenidades (comida, passeios, desportos), ficando em geral 2-3 noites. É comum ver vendedores no calçadão, oferecendo passeios "3 praias num dia", a 250 reais (50 euros) por pessoa.
O grande espectáculo do Réveillon, encabeçado pelo astro Roberto Carlos, custa uma pequena fortuna. Falou-se em milhões de reais. Mas é pago pelos hoteleiros, que depois lançam as suas contribuições como despesa, de forma a reduzir os impostos. De resto a situação no terreno também não tem nada a ver.
Depois de assistirem ao show do réveillon e ao fogo de artifício, os visitantes têm de pernoitar forçosamente, pois as cidades importantes de onde vieram ficam a mais de 500 quilómetros, com estradas de velocidade limitada a 80 kms/hora. E as mesmo grandes, como Brasília, Manaus, Rio, S. Paulo ou Belo Horizonte, estão a mais de dois mil quilómetros.
Nada a ver portanto com os concertos em Tomar, que numa operação promocional tipo esperteza saloia, foram apresentados aos hoteleiros e profissionais da alimentação e bebidas como âncoras para que os visitantes fiquem mais tempo e gastem mais. Esqueceram-se que Portugal é um país pequeno e que, para o bem e para o mal, Tomar está no centro. Resultado: Os visitantes vêm assistir aos concertos à borla, bebem e comem nos vendedores ocasionais, e depois regressam a suas casas tranquilamente, porque estão de certeza a menos de 200 quilómetros, e feitas as contas fica mais barato que pernoitar no hotel.
Há os estrangeiros, é claro. Mas esses nem sabiam dos concertos quando desembarcaram em Lisboa, e já vêm com programa estabelecido, que não consente alterações importantes (mais uma noite em Tomar, implica menos uma noite já marcada algures).
Conclusão: a senhora do turismo tem sido generosa, uma vez que a Câmara paga os concertos, mas vai intrujando os comerciantes e hoteleiros, porque os negócios vão de mal a pior, mas a compra de votos, que é no fundo o que lhe interessa, vai bem e recomenda-se.
Concluindo, querem saber qual é, além das praias e do clima, a grande âncora turística de Fortaleza? A Feirinha da beira-mar, ao lado calçadão. Um conjunto de 750 lojinhas, eles aqui dizem "boxes", de dois metros quadrados, com luz, mas sem água nem instalações sanitárias (Há banheiros espaçosos nas proximidades), alugados aos ambulantes pela autarquia. (ver imagens).
Como é que cheguei à conclusão que a Feirinha é a grande atracção? Simples. Todas as tardes faço a minha caminhada de cerca de cinco quilómetros no calçadão da beira-mar. Durante esse trajecto, nunca ninguém me perguntou onde fica a catedral, ou o jardim japonês, por exemplo. Mas não têm conta as perguntas tipo "A feirinha ainda é longe?" "Onde é a feirinha?" "Vamos bem, para a feirinha?"
Comparativamente, em Tomar há só duas vendedoras ambulantes junto à saída do Convento, após muita luta para se manterem, pelo menos no que diz respeito a uma delas, que até já se encarregou em tempos da limpeza e manutenção dos sanitários da Cerrada do Cães. Quando ainda não existiam os da cafetaria, cuja porta exterior de acesso está sempre impedida, para obrigar as pessoas a entrar no estabelecimento e consumir.
As Câmaras PS locais têm dado música ao pessoal, mas bem vistas as coisas sempre foram e são contra a iniciativa privada. Ainda não sabem, ou já não se lembram, que os países do leste europeu colapsaram nos anos 90 do século passado, designadamente por falta de empresas privadas. Tanto o Estado como as Câmaras, são cadelas alimentadas com os impostos de todos nós, que a certa altura não podem com tanto cão...
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