Turismo
Cuidado!
Não matem a galinha dos ovos de ouro
O MIRANTE | Turismo no Ribatejo recomeça do zero estruturando oferta para ganhar notoriedade
Dois tópicos me levam a escrever de novo sobre turismo. Um está no link acima. O outro é o caso descrito na reportagem do Le Monde, cuja tradução foi publicada ontem. Em ambos se nota a mesma preocupação: a crise no turismo, que poucos entendem, pois a maioria se colocou na posição dos feiticeiros africanos. Sabem por tradição quando é costume chover, e fazem então umas cerimónias, com rezas e tudo, ficando depois muito satisfeitos porque choveu mesmo. Como se as cerimónias e as rezas tivessem alguma influência no estado do tempo.
No turismo é semelhante. O fenómeno das viagens de lazer apareceu e foi-se desenvolvendo graças à modernização dos transportes, ao aumento do nível de vida e à melhoria das condições de trabalho, mas sem qualquer planeamento, sobretudo a partir dos anos sessenta do século passado.
Surgiram então muitos especialistas e imensos estudos, todos tendo como objectivo, anunciado ou não, o desenvolvimento do "viajismo". Ponto comum à maioria dos especialistas, nunca trabalharam no sector, na área operacional. Não sabem sequer dirigir um grupo organizado, ou programar um produto. Mas falam e escrevem que se fartam...
Estão como os feiticeiros africanos. Fazem umas coisas, geralmente designadas como estratégias, e quando se verifica um aumento ocasional da actividade exultam, por considerarem que se deve ao que fizeram. No caso algo cómico do Ribatejo, após a extinção das comissões regionais de turismo e a sua substituição por Entidades regionais, está a acontecer o que se previa. Há crescimento turístico nas regiões onde sempre haveria, mesmo sem quaisquer entidades penduradas, como Évora, Fátima, Batalha, Alcobaça Tomar, Óbidos, Nazaré, Coimbra, Porto e assim. Nos outros locais é a crise de sempre, como em Santarém, por exemplo.
Sob a égide da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, estão agora, segundo a notícia supra, a voltar à estaca zero, pela força das coisas. Até já se fala de novo no Turismo do Ribatejo, com instalação santarena e técnico dedicado. É o regresso à Comissão regional de turismo entretanto extinta, mas não sei se será a prevalência do bom-senso. A falhada candidatura a Parimónio da humanidade da UNESCO, merecia adequada reflexão, que nunca foi feita, tendo em conta o oportunismo que se vai instalando na área do turismo, como actividade económica rentável em condições normais de mercado, com os aparelhistas a complicarem tudo.
Na reportagem sobre Cuba, escreve-se que aquela ilha já recebeu anualmente entre 4 e 5 milhões de turistas antes da pandemia, mas agora não consegue ultrapassar os dois milhões. Porquê? Quando por lá andei, como cliente da Cubanacan, que pertence aos militares, correu tudo muito bem, mas a alimentação deixava a desejar nalguns aspectos. Tenho presente uma cena algo insólita em Guardalavaca -local de férias dos privilegiados do regime- com refeições tipo buffet, onde um cubano encheu o seu prato por duas vezes, assim tipo com taipais e tudo, para amparar, o que me levou a confirmar que havia (e pelos vistos continua a haver) fome em Cuba. Não terei sido o único...
Pode parecer pouca coisa a alguns, mas os candidatos à viagem, ouvindo dizer que não se come sempre bem, rumam a outras paragens. Da mesma forma, em Santarém, se a viagem não corresponde ao que se esperava, o fluxo turístico só pode diminuir. Como foi dito no recente debate "Não vale a pena fazer promoção se depois não há produto." À altura, como é o caso, acrescento eu.
Tomar é outro problema, noutro nível. Os turistas vêm, mesmo sem promoção, porque o apelo do Convento de Cristo é excepcional. Um ícone de primeira grandeza. Como refere o Guide Michelin, o mais antigo no mercado "Vale a viagem": Mas há que ter cuidado: A evidente falta de estruturas de acolhimenro, de enquadramento humano e de adequada promoção, após a elaboração de um real produto turístico, tudo isso está prejudicando Tomar. O turismo continua a crescer, mas de acordo com os dados oficiais, o Convento tem menos visitantes que a Batalha ou Alcobaça. Porquê?
Se calhar porque, como nos casos cubano e escalabitano, há problemas ignorados deliberadamente, do tipo "deixar correr o marfim". Em Tomar, por exemplo, um determinado café, que rouba deliberadamente os turistas, com pastéis de nata a 3 euros, cafés a 2 e garrafas de água a 5, não está seguramente a contribuir para o incremento do turismo. Os visitantes pagam, mas não esquecem e transmitem aos outros.
Cuidado! Muito cuidado! Há casos em que o doente morre da cura e não da maleita. Por favor não ajudem a matar a galinha dos ovos de ouro. E se não sabem muito bem o que andam a fazer, abstenham-se. Armar ao pingarelho só estorva.
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