Respeitar a História
Honrar a memória de Nini Ferreira
De acordo com uma frase conhecida, "A história é sempre escrita pelos vencedores". A experiência têm-me demonstrado, contudo, que por vezes também é escrita pelos vencidos, via decisões dos vencedores. Conheci bem Fernando Nini Ferreira, que me honrou com a sua amizade e uma alcunha carinhosa. Sempre me chamou com carinho "Pele vermelha", o que dispensa comentários. Tive até o prazer de o homenagear, enquanto professor da EB 2-3 Gualdim Pais, na celebração de um Dia mundial do ambiente, em pleno Mouchão. Do seu espólio, se guardado, constará decerto o diploma que então lhe foi outorgado, em nome dos alunos e da Escola.
Decidiu agora a autarquia homenagear mais uma vez Nini Ferreira, reeditando parte dos seus escritos sobre o rio, o ambiente e as tradições locais. Lamentavelmente esqueceram, mais uma vez, a primeira e principal actividade cívica do homenageado, antes de cuidar do Nabão e do ambiente. Refiro-me à fundação do semanário O Templário, onde foi redactor principal, junto com o seu dilecto amigo Alfredo Maia Pereira.
A dupla Papa-Figo e Zé Bumba, criou bastas preocupações e provocou estragos no poder municipal instalado, antes do 25 de Abril, liderado pelo então major Fernando de Oliveira, um dos tenentes do golpe militar do 28 de Maio, na origem do longo consulado salazarista.
Não é o local nem o momento para procurar apurar a razão, ou razões, do estranho e sistemático silêncio sobre a vertente jornalística do Nini. Que foi muito importante na época, por ousar contrariar as decisões do poder, num regime que nada tinha de democrático.
Entre essas posições polémicas, avulta a resoluta oposição à municipalização da Horta Torres Pinheiro, ou Horta do Graças, para aí se implantar o estádio municipal, visto que o anterior recinto desportivo fora ocupado pelo novo mercado municipal.
Por um destes caricatos acasos da História, décadas depois, um executivo de maioria PSD resolveu encomendar uma peça escultórica, representando Nini Ferreira discorrendo com Lopes Graça, e instalando-a na antiga horta, cuja posse administrativa ambos contestaram abertamente. Os semanários da época aí estão para o mostrar. É só ter coragem e paciência para procurar.
Dado que, segundo a vox populi, uma desgraça nunca vem só, os dois representados no grupo escultórico, conterrâneos e grandes defensores do Nabão, que tanta falta fazem agoira, nestes tempos de poluição crónica, estão de costas para o rio. O que não lembrava ao diabo, lembrou aos senhores autarcas! O Nini de costas para o seu adorado Nabão. Parece que o estou a ouvir "Ó Pele vermelha, escreve lá que os tipos estão a ver mal o filme. Nem eu viro costas ao rio, nem o meu irmão Júlio à caça".
De forma que, abreviando, que isto já vai demasiado comprido, a minha proposta é a seguinte: Se os senhores autarcas quiserem fazer o favor, antes de terminar este mandato, de mudar o grupo escultórico para o Mouchão, para a Várzea pequena ou para o Largo do mercado, colocando-os virados para o rio, e pondo depois, no local onde agora está o grupo escultórico, aquela memória de granito com medalhão, homenageando Fernando de Oliveira, situada do lado esquerdo do coreto da Várzea pequena, quando se vem da Corredoura, tudo bem. Meto a viola no saco e não haverá da minha parte mais música sobre este assunto.
Se, pelo contrário, os cérebros da urbe, ou pelo menos alguns deles, acharem que não senhor, que é uma heresia. então serei forçado a abrir os livros, e os tomarenses terão ocasião de ler coisas menos agradáveis, porém verdadeiras, a respeito. A próxima campanha eleitoral pode até vir a ser um verdadeiro arraial popular. Como dizia o outro, que era um exagerado, "Segurem-me, senão faço uma desgraça!"
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