segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Política local

Nini Ferreira e o encosto político

TOMAR – Nini Ferreira em livro na passagem dos 25 anos da sua morte | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

Da geração que veio a seguir à de Nini Ferreira, tinha eu 16 anos quando com ele contactei mais de perto, durante a colagem de cartazes, convocando para uma manifestação não autorizada, contra o desvio da água do Nabão para abastecer Fátima. Ainda está lá por casa um desses cartazes "O Nabão é sangue do concelho. Não ao desvio do rio", mas não o tenho conseguido encontrar. Não foi uma corajosa acção política da minha parte. Tratou-se apenas de ganhar 5 escudos (2,5 cêntimos de euro) por dia, uma fartura naquela época (1956).
Com Lopes-Graça, só viria a contactar aquando das primeiras eleições autárquicas após o 25 de Abril, em 1976, na companhia de Nini Ferreira, durante um concerto no coreto da Várzea Pequena. Fiquei por isso algo surpreendido, quando em 2006 foi inaugurado um monumento de homenagem a Nini Ferreira na companhia de Lopes Graça, nos terrenos anexos ao estádio municipal. Seis anos mais velho que o Nini, Lopes Graça poucos anos viveu em Tomar, embora tenha acompanhado ao piano vários espectáculos no velho Cine-teatro Paraíso.
Lembro-me bem de ter visto amiúde o Nini no Café Paraiso, cavaqueando com Cartaxo da Fonseca, Gouveia Pereira, Antunes da Silva, Gomes da Silva ou Alfredo Maia Pereira, mas nunca com Lopes Graça, na altura muito vigiado pela PIDE. O que me levou a pensar, olhando para o grupo escultórico de costas para o rio, que se trata de um caso de encosto político. Homenagear um, para homenagear também um segundo através dele. No caso, servir-se da homenagem a Nini Ferreira para homenagear Lopes-Graça, o tomarense e compositor ilustre, mas sobretudo militante do PCP.
A recente homenagem municipal, por ocasião dos 25 anos do falecimento do Nini, vieram confirmar isso mesmo. Uma vez que Lopes Graça nunca foi visto nem achado nos escritos de Fernando Ferreira sobre o rio, as tradições e o património, tornou-se complicado incluir o ilustre maestro: "...ele fez parte de uma geração de figuras que viriam a ter especial relevo na vida tomarense, entre as quais o seu homónimo Fernando Lopes-Graça, recordando como, apesar de terem opções ideológicas divergentes, mantiveram uma amizade e cumplicidade até ao final de suas vidas." (ver link supra)
Perante tal referência, algo forçada, que veio confirmar o referido encosto político, pareceu útil ir verificar se essa  manobra política, muito hábil sem dúvida, mas nem por isso menos contestável, se tem revelado útil.
Nas eleições locais, após a inauguração do grupo escultórico, no final de 2006,  a CDU foi subindo, tendo alcançado 7,32% em 2009, e 9,79% em 2013, o seu melhor resultado até agora. Depois foi sempre a descer, com 7,81% em 2017 e 5,51% em 2021. Mesmo assim, sempre melhor que o BE, que averbou, respectivamente 2,94%, 6,02% e 4,74%.
Nas legislativas, que têm mais a ver com o nacional e menos com o local, o encosto Lopes Graça - Nini Ferreira não parece ter resultado. A partir de 2005, a CDU registou sucessivamente 4,58%, 5,75%, 5,59%, 6,21%, 4,85% e 3,60%, contra 6,94%, 12,03%, 5,85%, 10,90%, 10,95% e 5,12% para o BE.
Perante tais resultados, cada vez mais fracos, talvez vá sendo tempo para os da CDU  reverem os manuais e procurarem outras tácticas de angariação de votos. Contra factos, escasseiam os argumentos.




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