quarta-feira, 31 de março de 2021

 



Política local


DUAS NOTÍCIAS QUE SÃO BOAS E NÃO SÃO

António Rebelo

Quem vive há décadas em Tomar, mesmo que tenha nascido alhures, e conheça um bocadinho o país e o mundo, já terá constatado que somos da terra do "é e não é", "disse e não disse", "agrada e não agrada". Por isso escolhi o cabeçalho supra.
Após meses de extrema acalmia na arena política local, de repente surgem dois candidatos de peso, para encabeçar listas partidárias à partida ultraleves. Fernando Caldas Vieira, pelo CDS-PP, e Nuno Godinho, pelo CHEGA, são ambos tomarenses, ostentam invejáveis qualificações para o cargo a que se candidatam, e têm forçosamente outra mentalidade, pois não são funcionários públicos de carreira, pertencentes ao império dos sentados. Além disso, Godinho foi do PSD durante duas décadas e Caldas Vieira tem ampla experiência de gestão, além de apresentarem respeitáveis credenciais académicas. Vieira vem do Técnico e Godinho é engenheiro informático. Ambos portanto muito acima das corriqueiras licenciaturas ditas "literárias".
São portanto boas noticias? São e não são. 
Trata-se de boas notícias para o eleitorado tomarense, ao abrirem perspetivas até agora julgadas quase impossíveis. Mas são também más notícias para o PS, para o PSD, para os próprios candidatos e para o autor destas linhas.
Para o PS, de Anabela Freitas, com poucos e fracos argumentos ante estes novos candidatos pesos-pesados. Sem ideias nem programa, nem sequer vai poder invocar o benefício da dúvida. Dos seus dois mandatos se não pode dizer, respeitando a verdade, que tenham sido brilhantes. Apenas bons para as coletividades, os ciganos e os sempre em festa. Pode ser pouco para vencer.
Para o PSD, cuja cabeça de lista já anunciada é praticamente, em termos de imagem, um duplo de Anabela Freitas. Com uma agravante: A atual oposição PSD tem conseguido ser ainda mais chocha que a maioria PS, o que à partida era difícil.  Entre o original e a cópia, os eleitores devem preferir o original, julgo eu.
Para os próprios candidatos CDS e CHEGA que,  competentes como consta que são, já se terão dado conta de que vão ser marinheiros experientes e de pulso, mas navegando num mar desconhecido e traiçoeiro, em frágeis e minúsculas embarcações. Risco elevado de naufrágio, por conseguinte.
Finalmente, para este vosso humilde conterrâneo, que desde há meses vinha pugnando por uma ampla coligação de centro-direita em Tomar. Com estas novas candidaturas, tendo em conta que nas autárquicas ganha a presidência quem tiver mais um voto que todos os outros adversários, adeus ampla coligação. Poderá haver, quando muito, alguma coligação de circunstância, negociada à pressa, caso quem vença não disponha de maioria absoluta. Já aconteceu e não se pode dizer que tenha dado bom resultado.
A partir daqui, Anabela Freitas enfrenta o mar alto. Mais alto e encapelado do que decerto esperava. Resta-lhe arranjar argumentos. Um programa robusto e um grande projeto para Tomar, por exemplo. Se assim não fizer, no meu entender, é como costuma disparar o gordo do Preço certo: "Já foste!"

terça-feira, 30 de março de 2021

 

O NABÃO A POLUIÇÃO E A CONFUSÃO


Tomar sempre foi e continua sendo uma cidade de gente calada. Como as terras alentejanas. Claro que há excepções. Mas são raras. Um blogue com umas boas dezenas de comentários semanais, umas notas do dia nas rádios locais, que praticamente ninguém ouve, um curioso debate semanal entre dois vereadores -um da maioria outro da oposição- não obstante quase sempre de acordo, de tal forma que uma pessoa se pergunta o que os terá levado a inscrever-se em partidos diferentes.
Fora isto, quase nada. Um ou outro texto de circunstância da srª presidente da câmara, um ou outro escrito de intervenção vindo da oposição. Destaque aqui para Tiago Carrão, do PSD, que escreve com alguma regularidade sobre política local, numa linguagem muito aceitável, mesmo que dele se discorde.
Neste quase deserto epistolar, apareceu agora um texto bem escrito do sr. Horta, também do PSD,  que não conheço. Disserta sobre a poluição do rio, com tal paixão que até perdeu o controlo. "Enfrentar o problema de frente", como escreveu quase no final, é daquelas argoladas que se perdoam, mas dão para rir. Porque abordar o problema de lado, já não é enfrentar, é ladear.
Resulta de tudo o acima escrito que em Tomar se escreve e fala pouco, creio que não só por manifesta incapacidade, mas também por evidente desconhecimento da cidade e do mundo. Quando digo desconhecimento refiro-me à  falta de compreensão do vasto mundo e da pequena cidade.
Tomemos o caso do acima referido texto do sr. Horta. Escreve com paixão sobre a poluição do Nabão, após mais de uma dúzia de outras intervenções de diversa origem sobre o mesmo tema. Partidos políticos locais, eleitos, jornalistas e simples cidadãos mais implicados nos assuntos tomarenses, já todos malharam nos putativos culpados pelos sucessivos episódios de poluição. Até eu, que fui dos primeiros.
Há porém uma grande diferença entre a minha posição e  a dos restantes escritos de protesto. Enquanto todos eles, incluindo o sr. Horta, parecem considerar a poluição do rio como o principal problema tomarense, o autor destas linhas tem plena consciência de que tal não é verdade.
Tentemos ver a questão da poluição do rio sem paixão. Incomoda por causa do aspecto e do cheiro, é verdade. Mas quanto ao cheiro, não me parece que seja pior que o da política local. Só que este desvanece-se tão rapidamente que são poucos os que dão por ele. Quanto ao aspecto, convenhamos que há bem pior, mesmo na zona. Ali da ponte do Flecheiro para baixo, por exemplo.
Mas além disso há perigo evidente para a fauna e para a flora, clamarão os ecologistas mais novos nestas andanças. A quem respondo que não há, não senhor. Os peixes mostram-se cada vez mais bem alimentados e só a proliferação das algas mostra haver algum excesso de fosfatos no Nabão. Culpa dos detergentes domésticos.
Quer tudo isto dizer que o problema da poluição do nosso rio não é grave? Longe disso. Trata-se de um tema importante e até prioritário, sendo contudo errado considerá-lo como o principal problema do momento na cidade e no concelho.
Basta formular uma pergunta singela, para disso se convencer: Dando de barato que tal venha a ser possível a curto, médio ou longo prazo, uma vez resolvido o problema do Nabão, o que muda para os tomarenses? Passam a ter o rio limpo, com melhor aspecto e sem mau cheiro. E daí? Que implicações tem isso no dia a dia de cada um? Passam a dormir melhor?
Façam o favor de pensar agora em três outros problemas tomarenses: 1 - A requalificação da estrada nacional entre a rotunda da passagem de nível e a da zona industrial, com a instalação de duplo emissário de saneamento, passeios de ambos os lados e pista ciclável; 2 - A falta de estacionamento em toda a cidade antiga, particularmente grave para os turistas; 3 - A excessiva burocracia camarária, que tudo dificulta e tudo emperra, com graves consequências para o investimento, para o emprego e para a fixação de população.
Uma vez ultrapassado qualquer um destes três enormes obstáculos, é óbvio que a vida quotidiana dos tomarenses vai melhorar, e de que maneira. Já no caso do rio...
Convém portanto estabelecer uma tabela de prioridades e tê-la sempre presente. Os senhores políticos, mesmo os aprendizes locais, são especialistas quando se trata de arranjar questões secundárias para desviar a atenção daquilo que é realmente importante. Convém ter isso sempre presente.
Fecho com uma quadra alusiva de António Aleixo, o poeta popular quase analfabeto falecido em 1949, de tuberculose:

Entra sempre com doçura
A mentira pr'agradar
A verdade entra mais dura
Porque não quer enganar

segunda-feira, 29 de março de 2021

REVENDO CONCEITOS POLÍTICOS

Saraiva Júnior


Todos nós temos virtudes e defeitos. Ao questioná-los, damos o primeiro passo para nos tornarmos pessoas melhores. Qualquer grupo social -associações, sindicatos ou partidos políticos- precisa se auto avaliar e, fundamentalmente, saber considerar as críticas da sociedade. A esquerda não está isenta dessas críticas e avaliações, mesmo porque precisa qualificar-se para melhor servir a sociedade. A volta de Lula à elegibilidade criou o momento propício para revisão de conceitos e atitudes de uma nova fase.
Há um ditado popular que diz "Quer conhecer a bruxa? Dê-lhe a vassoura." Alguns militantes da esquerda, ao assumirem o poder local, regional ou nacional, esquecem suas raízes e bases. A arrogância e a vaidade sobem à cabeça desses pretensos líderes. Passam a enxergar somente as próximas eleições, tal e qual como os velhos políticos que eles tanto criticaram por não largarem o osso. A inevitável dinâmica da vida parece que pegou a esquerda de surpresa.
O avanço tecnológico, as novas formas de relacionamento, o envolvimento e a subtileza de outros conhecimentos e meios técnicos, tudo aponta para os espaços virtuais e as redes sociais. Youtube, Instagram, Facebook, Twitter e Whatsaap vêm causando grande impacto, inclusivé produzindo cegueira. Além disso, os jogos que simulam realidades paralelas tornam-se febre das crianças, adolescentes e adultos. A esquerda, do alto da sua arrogância, ignorou solenemente tais práticas, que são também  ferramentas políticas.
O momento exige rever conceitos de dentro e de fora das alianças partidárias. Algumas perguntas incomodam. Afinal, o que levou a maioria das igrejas evangélicas a voltar-se para direita? Confiaram demais no apoio das antigas comunidades eclesiais de base da igreja católica? Ou será que essas comunidades eclesiais não tinham mais as bases? Repensar estas questões implica um exercício de humildade. Conheci um prefeito, com fama de esquerdista, de uma cidade do interior do Ceará. Ele costumava deixar o bispo diocesano na sala de espera do seu gabinete durante horas.Houve mesmo uma vez em que saiu pela porta dos fundos, com ar de snob.
Estes e outros sintomas de arrogância precisam vir à baila para serem contidos, sob pena de continuarem a fazer estragos. Mas calma! Críticas e autocríticas não querem dizer necessariamente afastamentos.

(Reproduzido do jornal O POVO, Fortaleza - Ceará - Brasil, em 29Março2021)

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Imagem Tomar na rede


Autarquia e informação local

Começa a aparecer uma síndrome de Tomar?

António Rebelo

Já todos lemos ou ouvimos falar sobre síndromes. São mazelas cerebrais, na sua maioria  passageiras, provocadas por situações extremas. Há as mais variadas. Da Síndrome de Estocolmo à Síndrome de pânico, passando pela Síndrome de Jerusalém.
Esta última, que atingia anualmente, antes da pandemia, uma média de 500 turistas, caracteriza-se por ideias delirantes, psicose religiosa intensa e crença de que são profetas ou messias. Felizmente, segundo os especialistas, tende a desaparecer logo que o visitante abandona a cidade santa.
Serve  este intróito para mostrar os contornos de um estranho fenómeno nabantino, que  venho detectando à distância. Reza o ditado popular que "Ao longe vê-se melhor a horta." 
Conforme bem sabemos, a vida não está fácil em lado algum, muito menos no vale do Nabão, com a população a desandar e o concelho e definhar. Daí situações de stress, de burnout, potenciando talvez o surgimento de uma síndrome de Tomar.
Será que, confrontados com uma situação local longe de ser confortável, alguns residentes entraram em sobreaquecimento e começaram a delirar, confundindo os seus desejos com a realidade, ou profetizando coisas ilusórias?
Quem continuar a leitura julgará. 
Animado por um título jornalístico que considerava esclarecedor e inequívoco, como sempre deve ser a prosa noticiosa, resolvi ler o texto. O título era "Câmara entrega exploração do quiosque da Várzea grande". Disse então para comigo que afinal tiveram sorte. Encontraram um interessado, o que não era nada fácil.
Terminada a leitura, desencantei. Não era nada disso. A câmara ainda não entregou a exploração do quiosque.. Limitou-se a anunciar a próxima abertura do indispensável concurso público. Trata-se, por conseguinte, de uma evidente confusão entre desejo e realidade, por parte de quem redigiu o comunicado da autarquia. Uma frase assim, com verbo no presente do indicativo, remete para o passado, quando é lida pelos destinatários. Por causa do tempo entretanto decorrido, da  escrita pelo emissor até à leitura pelo receptor. Donde o meu equívoco inicial.
Mais curiosa ainda é a posição da autarquia, ou de quem redige o seu material informativo e de propaganda. No corpo da notícia, consta este excerto muito profético: "O espaço pretende contribuir para a dinamização daquele espaço que ganhará novas apetências por parte de munícipes e turistas."
Temos assim, antes de mais, o que parece ser um lapso vocabular. A primeira palavra "espaço" devia ser certamente "quiosque", ou equivalente, para não colidir com a outra "espaço", logo mais adiante. Além de que parece bem difícil para os leigos, que somos todos, dependendo do assunto, entender que um espaço possa dinamizar outro espaço, assim sem mais detalhes.
Segue-se o mais grave, porquanto muito semelhante a um outro dos sintomas da antes citada síndrome de Jerusalém. O autor do texto noticioso armou-se em profeta, garantindo coisas que estão por demonstrar. Quem pode afiançar nesta altura que o terreno da antiga messe, com ou sem quiosque e esplanada, ou mesmo a Várzea grande remodelada, "ganhará novas apetências por parte de munícipes e turistas"? Foram feitos inquéritos sociológicos a esse propósito junto dos residentes e dos turistas? Quais foram os resultados? Confundiram a opinião de meia dúzia de eleitos e funcionários interessados na coisa, com a opinião pública?
Concluindo, se ainda não se pode afirmar com segurança que há uma sindrome de Tomar, convenhamos que são cada vez mais e mais convergentes os indícios nesse sentido. Para não ir mais longe, no texto anterior, sobre estratégia municipal de habitação, são detectáveis evidentes episódios proféticos. Como aquele anúncio da requalificação do ex-Convento de Santa Iria, por exemplo, velho de mais de 20 anos. E que continua a ser uma profecia.
Para os mais interessados nestas questões nabantinas, eis o link da notícia original:

ADENDA
Sem de modo algum pretender azarar a iniciativa camarária do quiosque, entendo ser minha obrigação de cidadania fazer uma pergunta simples: Se o quiosque do Mouchão nunca funcionou, o da Várzea pequena não resultou, e o outro na avenida junto ao mercado pouco durou, em que se basearam para profetizar que o da Várzea grande será um êxito? 
Informação de origem divina, talvez. A tal síndrome...

domingo, 28 de março de 2021

 




(Ao fundo da Corredoura noutros tempos)

Estratégia Local de Habitação em Tomar


CASAS CONDIGNAS PARA MAIS DE DUZENTAS FAMÍLIAS E INVESTIMENTO DE 60 MILHÕES EM REABILITAÇÃO E MODERNIZAÇÃO

António Rebelo

Gostou deste panfletário conjunto antetítulo e título? É da autoria de gabinetes de comunicação, da câmara ou ao serviço da câmara. e encabeça um texto noticíoso de 50 linhas, todo recheado de maravilhas. Se tiver paciência para tanto, pode consultar aqui:https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=2449942825139396&id=392722130861486&sfnsn=mo
Se aceitou o repto, vai decerto notar o abismo entre os cabeçalhos e a primeira frase do texto, algo chocha na sua evidente secura: "Foi aprovada pela CMT a Estratégia Local de Habitação". O que resulta um bocado incongruente, numa altura em que se acentua o êxodo populacional, não constando que tal se deva à falta de habitação condigna. Se fosse Estratégia Local de Turismo, ainda se percebia, agora de habitação, estamos conversados.
Logo mais adiante aparece outra incongruência. Num plano estratégico de habitação, inclui-se a reabilitação e requalificação do espaço público (Objectivo operacional 2.1) e listam-se edifícios públicos a reabilitar, que nada têm a ver com habitação:
1 - Colégio Nun'Álvares, para escola profissional;
2 - Convento de S. Francisco e espaço contíguo, não constando para quê;
3 - Abegoaria municipal, não constando para quê;
4 - Convento Sta. Iria e CNA feminino, para unidade hoteleira;
5 - Estalagem de Sta Iria, para unidade hoteleira;
6 - Palácio Alvim, também não se sabe para quê;
7 - Igreja de S. João Baptista, cujas obras incumbem à DGPC, por ser monumento nacional, propriedade do Estado desde 1834.
Tudo isto sem que constem respostas para as perguntas clássicas: Como? Quando? Onde? Porquê? Para quê?
Se o oco conteúdo anterior não deixa dúvidas quanto à natureza propagandísta deste documento municipal, o seu objectivo operacional 3.1 permite perceber que se trata de algo meramente teórico, só para alimentar e ornamentar a campanha eleitoral que se aproxima:
"Objectivo operacional 3.1: Capacitar a equipa técnica do Município para a implementação da nova geração de políticas de habitação".
Ou seja, previamente ainda há que preparar profissionalmente a "equipa técnica do Município", para depois encetar as anunciadas obras. Isto se aceitarmos, com bastante boa vontade, que há mesmo uma equipa técnica no município tomarense. As conhecidas tranquibérnias no escandaloso caso da Estalagem, por exemplo, tendem a demonstrar o contrário, uma vez que alguns técnicos superiores acusaram implicitamente colegas de terem organizado uma hasta pública ilegal. Se isto é de uma equipa, não sei o que sejam inimigos.
É Tomar no seu novo esplendor, no ano da graça do Senhor de 2021. Oitavo ano do reinado da srª Dª Anabela Freitas, que Deus proteja, na sua infinita misericórdia.

sábado, 27 de março de 2021

  





Obras municipais em função de Bruxelas


POLÍTICA EM SENTIDO CONTRÁRIO

António Rebelo

Os que me são próximos fazem o favor de considerar que não sou inteiramente desprovido em termos de massa cinzenta, vulgo inteligência. Apesar disso, confesso ter por vezes alguma dificuldade em compreender certas situações. Uma delas era a das listas partidárias resistindo, eleição após eleição, a apresentar programas eleitorais, ou planos dignos desse nome, como se houvesse um obstáculo intransponível.
Com a  intervenção da srª presidente Anabela Freitas no recente webinar sobre o Nabão, no qual brilhou, fez-se luz na minha cabeça. Disse a senhora que o fabuloso plano dos 22 milhões de euros para a despoluição da bacia do Nabão não vai ser contemplado na bazuca europeia, porque nela não tem cabimentação possível. Esse programa europeu contempla situações de falta de água e não de poluição, acrescentou a autarca.
Sem a bazuca europeia, a srª presidente nabantina esclareceu, com grande à vontade, que havia outras armas também europeias, designadamente o próximo quadro comunitário de apoio, a transferência de verbas não executadas, que é como quem diz sobrantes, ou ainda o programa europeu REACT-EU, destinado a complementar financiamentos na recuperação pós pandemia.
Foi este alarde de conhecimentos práticos sobre recursos europeus, por parte da nossa presidente, que me abriu finalmente o bestunto. Pelo menos no caso de Tomar, mas creio que a situação é geral. A autarquia não tem planos para nada, porque aguarda os programas europeus e só depois manda fazer projectos que neles encaixem.
Ou seja, enquanto Bruxelas vai elaborando e financiando programas destinados a viabilizar projectos nos diferentes países, as autarquias vão aguardando esses programas para neles enfiarem projectos feitos à medida, em função dos ditos. É a política ao contrário. Ou às avessas. 
No caso da poluição do Nabão, a Tejo ambiente e/ou a câmara de Ourém decidiram proceder by the book, apresentando os projectos e só depois solicitando o financiamento, e lixaram-se. Não há programa compatível, assim à primeira vista. Embora um bom especialista encontre sempre uma solução para o problema.
Não vem daí grande mal ao mundo, dirão os acomodados tomarenses do costume. Ai vem vem! Estão outra vez redondamente enganados. Desta vez duplamente enganados. Por um lado, porque podem muito bem nunca aparecer programas que contemplem as necessidades específicas de Tomar, nomeadamente na área do turismo. Por manifesto desconhecimento de Bruxelas, uma vez que não existem planos locais nessa área, para além da pequena hotelaria.
Por outro lado, esse  oportunismo de sacar dinheiros de Bruxelas provoca situações em que, bem vistas as coisas, uma obra esconde afinal outra obra mais importante. Pense-se, por exemplo, nas obras já feitas na Várzea grande e na Av Nun'Álvares, bem como nas previstas para  a Estrada da Serra ou Cem soldos.
Em todos esses casos, obras nitidamente ornamentais, cuja utilidade prática está por demonstrar, escondem afinal aquilo que se pretendia desde o início: a renovação das redes de iluminação, de água e de saneamento. Um maná para a Tejo Ambiente, por exemplo, que assim evita  financiar as redes de distribuição daquilo que vende aos consumidores forçados. 
Convém insistir, para memória futura. É a política às avessas, ou ao contrário. Haja paciência!

sexta-feira, 26 de março de 2021







Sinalética para turistas

Em casa de ferreiro espeto de pau


 Com o seu ar jovial de sempre,  a srª presidente Anabela Freitas anunciou que Tomar, em representação de Portugal, ia elaborar e implementar a sinalética da Rede Europeia dos Templários.
Situação deveras insólita, quando é do conhecimento geral que não há em Tomar qualquer sinalética para turistas, apesar de a câmara já ter desembolsado, há mais de um ano, perto de 100 mil euros para uma empresa de Braga, destinados à sua concepção, implementação não incluída.
Temos portanto uma daquelas situações tipo "em casa de ferreiro, espeto de pau". Vamos fornecer ao estrangeiro aquilo que não temos em Tomar. Sinalética para turistas. É mais uma originalidade nabantina.
ENGANAÇÃO NA POLUIÇÃO DO NABÃO


António Rebelo

 Falar da poluição do Nabão em Tomar, é como queixar-se do calor num país equatorial. Faz parte do quotidiano. É contudo imperioso voltar ao assunto, devido às recentes declarações do diretor executivo da Tejo Ambiente. Disse ele, no recente webinar (a nova moda em teleconferência) sobre o Nabão, que os tomarenses devem ir até ao Agroal e observar a límpida água do rio, sempre que haja um episódio de poluição em Tomar. 
Vindo de quem vem, ou se trata de uma condenável habilidade, ou da denúncia implícita de uma realidade bem diferente da que ultimamente nos tem sido vendida. Isto porque, conforme os leitores estarão lembrados, levou anos de esforços, mas finalmente conseguiu-se que a presidente da câmara de Tomar admitisse ser a ETAR da Sabacheira a principal responsável pela poluição do Nabão. Tornou-se até ponto assente o modo como ocorrem os casos de poluição. Sem separação entre os esgotos domésticos e os pluviais, sempre que chove, a ETAR da Sabacheira, que serve Ourém, deixa correr para o rio os efluentes que ultrapassam a sua capacidade de tratamento. 
A antes citada intervenção do responsável da Tejo Ambiente parece pretender invalidar agora a referida versão, ao sustentar que aquando dos focos de poluição em Tomar, a água do Nabão corre límpida no Agroal. A ser assim, duas explicações são possíveis. A primeira está relacionada com a corrente fluvial. Pode bem acontecer que, quando a poluição chega ao Mouchão e à Ponte velha, já tenha cessado no Agroal, devido ao natural movimento da água do rio. 
A segunda explicação altera praticamente tudo o que sabem os tomarenses. Significa que afinal a principal origem da poluição não se situa na ETAR de Seiça, mas nas suiniculturas do concelho de Tomar, a que já aludiu de forma vaga a presidente da câmara.
Volta assim à memória o caso das análises à água do rio, cujos resultados completos nunca foram publicados, ou sequer noticiados. E já passaram dois longos anos. Porquê? É assim tão difícil determinar se os coliformes fecais detetados são de origem humana ou não? 
É que uma vez conhecida a resposta, temos a verdadeira origem da poluição, pois não consta que a ETAR de Seiça também receba efluentes provenientes da suinicultura. 
Seja com for, lá para o próximo Verão poderemos ficar elucidados. Uma vez que não é costume chover nessa época do ano, se acontecer algum episódio de poluição malcheirosa no Nabão, não virá de certeza do excesso de carga da ETAR da Sabacheira. 
Talvez então a câmara de Tomar se veja forçada a acabar com a enganação, e a denunciar nominalmente a ou as suiniculturas tomarenses na origem do problema. Todos têm direito a ganhar a sua vida, mas desde que o façam no estrito cumprimento da Lei. 
Aflora em paralelo um outro problema, relacionado com a poluição do Nabão. Agastados com as críticas vindas de todos os quadrantes e setores, tanto os presidentes de câmara de Ourém e Tomar, como os dirigentes da Tejo Ambiente, insistiram, e de que maneira, na urgente necessidade de 22 milhões de euros da Europa, para despoluir QUASE TOTALMENTE a bacia hidrográfica do Nabão. Infelizmente, há aquele QUASE TOTALMENTE e a lamentável circunstância de até agora os cidadãos da região abrangida pelo dito plano ignorarem de que se trata afinal. Que obras estão previstas? Em que concelho ou concelhos? Com que duração? 
Em democracia, nunca é bom pensar que os cidadãos só servem para votar e para pagar impostos.

quinta-feira, 25 de março de 2021

 




Estalagem de Santa Iria

AGORA SANTOS DA CASA É QUE FAZEM MILAGRES

António Rebelo

Com o saboroso título España puede publicou o economista João Vieira Pereira, no passado dia 19, no EXPRESSO, uma esclarecedora crónica, que pode ler aqui:
Nela, o autor revela que os grandes industriais portugueses da construção civil, apesar da sua magnífica reputação internacional, não conseguem entrar no mercado espanhol, porque o governo protege as suas próprias empresas.
Estava então longe de supor que tal prática também já tinha chegado a Portugal, em todo o caso a Tomar. Mas eis que surge mais um desfecho transitório para o escândalo da Estalagem de Santa Iria, o qual vem mostrar que a câmara de Tomar também já protege os industriais tomarenses, ou pelo menos alguns.
Se os leitores bem se recordam, há cerca de três anos a autarquia tomarense levou a efeito um concurso público para arrematação da exploração da Estalagem de Santa Iria, entretanto liberta de uma concessionária inadimplente.
O referido concurso veio a dar que falar. Houve acusações de fraude, repetições, conciliações,  e finalmente venceu uma empresa de Leiria.
Foi sol de pouca dura para os leirienses. Quadros superiores da câmara de Tomar alegaram que os colegas e o executivo tinham organizado um concurso ilegal, que violava determinado plano de pormenor. Vai daí, o projeto de recuperação da Estalagem não podia ser aprovado.
Apavorados perante práticas do império dos sentados semelhantes às do sul de Itália, e às quais não estavam habituados, os empresários leirienses compreenderam a mensagem e resolveram vender a empresa, com os inerentes direitos adquiridos em Tomar.
Dois anos mais tarde, acaba de saber-se que uma empresa hoteleira tomarense comprou a empresa leiriense, com a deliciosa razão social Era uma vez em Tomar, Lda. (Estas coisas não se inventam, que a cabeça não dá para tanto.)
Pormenor importante, a empresa compradora é uma sociedade entre os donos de duas unidades hoteleiras em Tomar, e o dono de uma outra unidade hoteleira, igualmente nabantina. Fica portanto tudo em família. Mais precisamente nas mãos de quem já conhece muito bem a máquina administrativa municipal, que já lhes aprovou pelo menos três projetos anteriores.
Sabem por conseguinte muito bem quais os componentes da máquina que exigem lubrificação, e quais as quantidades de lubrificante, bem como eventualmente a respetiva periodicidade.
No meio disto tudo, numa atmosfera onde sopra cada vez mais um vento palermita (de Palermo, na Sicília, sul de Itália), só espero que depois não insistam naquela cantilena dos investidores que não aparecem. Conhecem algum que goste de meter a cabeça na boca do leão? Só os domadores de circo, quando conhecem muito bem as feras. É o caso.

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Subsídios encapotados e liberdade de opinião

Convém não abusar da boa vontade dos eleitores

António Rebelo

 A Câmara de Tomar concedeu oportunamente à Empresa editora Cidade de Tomar um "avanço sobre custos de publicidade" na ordem dos 75 mil euros, mais IVA. Mesmo leigo como sou em direito, é uma prática que me parece, salvo melhor opinião, de legalidade algo duvidosa, quando feita com dinheiros públicos, de todos nós. Apesar disso, tratando-se de salvar postos de trabalho numa empresa com a corda na garganta, e sendo Tomar terra de boa gente, geralmente abúlica, não houve reações publicadas.
O que não significa que a manobra tenha passado despercebida. Subsidiar órgãos de informação, mesmo de forma mais ou menos encapotada, é uma maneira bem conhecida de limitar a liberdade de opinião e de informação.
Porque nenhum beneficiado ousará a partir daí "cuspir na mão" que o ajudou. Sob pena de não voltar a ser contemplado. O tal prato de lentilhas.
Tendo passado sem um reparo sequer na informação local, o que mostra bem aonde já estamos, a srª presidente da Câmara resolveu voltar agora ao ataque, desta vez por escrito. Na edição de 19/03/2021, página 6, do Cidade de Tomar, pode ler-se este belo naco de prosa, subscrito por Anabela Freitas, com foto e tudo: "Continuem assim pois o vosso papel é fundamental no pluralismo democrático do nosso concelho."
Com franqueza! Parece-me que é preciso ter muita coragem (o termo é outro), para ousar escrever uma coisa assim. num semanário que todos sabemos depender de favores da autarquia. De resto, alguém se recorda de ter lido nas suas colunas semanais alguma referência menos simpática, alguma discordância, sobre a política autárquica da actual maioria? 
Como bem sabemos, ou devíamos saber, pluralismo democrático não é haver vários órgãos de informação. Isso havia até no tempo do Salazar. É haver órgãos de informação que não tenham todos o mesmo ponto de vista. Que ousem a crítica frontal e honesta.
Mesmo sendo os eleitores tomarenses como são, em geral pouco empenhados na política da sua terra, se calhar será melhor não abusar da sua excessiva boa vontade. A paciência também tem limites. Exatamente como a decência e a honestidade.

quarta-feira, 24 de março de 2021

 Como os nossos vizinhos nos vêem

(Copiado, com a devida vénia, d'O MIRANTE online de 24/03/2021. EMAILS DO OUTRO MUNDO, Manuel Serra d'Aire)


"A  JOVIAL  ANABELA  FREITAS..."

"O que as mulheres ainda não conseguem, por muitas leis que se façam, é mandar nas pequenas coutadas partidárias aqui da região, onde habita o invencível macho latino. Só assim se compreende que após as autárquicas deste ano, se tudo correr sem surpresa, passe a haver uma só mulher presidente de câmara, no nosso Ribatejo. Depois de terem estado à frente das câmaras de Abrantes, Alcanena, Constância, Rio Maior, Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira , restará Anabela Freitas em Tomar, se for reeleita. A jovial autarca passará, nesse caso, a ser uma espécie em extinção, tipo lince autárquico, não da serra da Malcata mas da serra de Tomar...e é se até Outubro os machos socialistas lá da terra não lhe calçarem uns patins, embora tal tarefa não seja para meninos do coro. Afinal ela, como quem não quer a coisa, despachou o maganão mor Luís Ferreira em três tempos, sem deixar a bola cair no chão."


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           (Foto copiada do blogue Tomarnarede)

               UMA FOTOGRAFIA MUITO ELUCIDATIVA

António Rebelo

Tomar na rede publicou, em 23 do corrente, a fotografia supra, que suponho fazer parte do espólio de Silva Magalhães. Tal como os monumentos, as fotos facultam a quem sabe ver um manancial  de informações sobre a época em que foram obtidas.
Neste caso, comecemos por situar o cliché, que data de finais do século XIX, princípios do século passado. Em qualquer caso, de antes da demolição e posterior edificação do chamado prédio Vieira Guimarães, ao fundo da Corredoura, do lado direito de quem olha para o castelo, que data dos anos 20
do século passado.
A surpreendente torre de madeira, modelo Eiffel, reprodução em miniatura do original parisiense, mostra que terá sido montada para ornamentar a cidade, decerto por ocasião da Festa dos tabuleiros. Este carácter ornamental e provisório torna-se evidente quando olhamos com atenção para as muralhas do vetusto castelo templário, bastante arruinadas e sem ameias. O que não impediu  o içar da bandeira na torre de menagem, também para enfeitar.
Cem anos mais tarde, mantém-se em Tomar a tendência para ornamentar o espaço público com  obras sem outra utilidade prática, designadamente por ocasião dos tabuleiros, em detrimento das urgentes reformas e reparações necessárias, como demonstram os lamentáveis casos da Várzea grande e da avenida Nun'Álvares, em que ficaram no papel a rotunda da ARAL e os sanitários, por exemplo. Ou a actualização do saneamento numa parte do centro histórico.
Mostra também a fotografia que infelizmente se perdeu entretanto a tendência para inovar, copiando o que de melhor se vai fazendo no estrangeiro. Por isso, ante a evidente resistência à mudança, parte da população faz a mala, em busca de urbes com mais oxigénio. Só não vê quem não quer.
É uma pena, quando uma terra tem tantos recursos e os seus governantes não sabem ou não querem aproveitá-los. Nem sequer encaram a hipótese de seguir a velha máxima "se quereis saber, consultai os especialistas."

ADENDA - 1
Poderão pensar aqueles leitores mais dados a estas coisas do raciocínio que, no fim de contas, a torre Eiffel original também serve para enfeitar. É verdade. Tem porém, ao contrário da imitação tomarense já desaparecida, uma vertente comercial: Um restaurante lojas no primeiro piso, plataforma miradouro, no segundo, tudo servido por ascensores. 7,3 milhões de turistas visitaram a torre parisiense em 2019.

ADENDA - 2
Devido à pandemia, a torre Eiffel está encerrada, ainda sem data para reabrir.
Em tempo normal, a torre Eiffel está aberta das 09H30 às 23H45 de Junho a Setembro e das 10H30 às 18H30 nos outros meses.
O acesso pela escada ao 2º andar custa 10,50€, e pelo ascensor 16,70€. O bilhete para o ascensor até ao último andar custa 26,10€.
Significa isto que, em 2019, os 7,3 milhões de visitantes terão rendido, só em bilhetes, pelo menos 100 milhões de euros.
Comparar com os menos de 400 mil visitantes do nosso Convento de Cristo, a 6€/pessoa, receitas que vão para Lisboa, para a DGPC. 400 mil visitantes/ano é pouco? Pois é. Mas no verão a torre Eiffel fecha cerca da meia-noite e o Convento de Cristo às 6 da tarde. Não se pode ter tudo.

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Política local

CRISE TOMARENSE JÁ SEM SOLUÇÃO ?

António Rebelo

A semana passada, um comentador habitual aventou a hipótese de Tomar já estar numa situação de não retorno. Daquelas já sem remédio possível. Na altura pareceu-me exagerado, e agarrei-me sem o dizer à velha frase feita "a esperança é sempre a última a morrer". Ou terá sido àquela outra "enquanto há vida, há esperança"?
Regressando agora ao tema, dou comigo a matutar que, no fim de contas, essa hipótese de já estarmos numa situação sem solução possível, é bem mais provável do que eu pensava há dias. Digo isto porquanto a atitude dos nossos eleitos desde há anos que se mantém inalterada, com os erros a aumentaram. 
Ao contrário do que acontece na medicina, onde o doente se queixa das suas maleitas, o médico faz o diagnóstico, e depois propõe uma terapêutica que o paciente aceita, (caso esteja em condições de o fazer), na política a situação é regra geral outra. Pelo menos em Tomar.
Naquele tempo, tão saudoso designadamente para os eleitos locais, em que só havia a informação em suporte papel, a chamada imprensa, eram bem raros os críticos e os assuntos alvo de crítica. Com o advento das redes sociais, levantou-se a tempestade crítica. Não tanto em Tomar, onde ainda assim se começou a malhar na falta de limpeza urbana, no mau saneamento, na falta de sanitários públicos, na excessiva burocracia municipal, na falta de postos de trabalho, na poluição do rio, nas obras só para ornamentar, e por aí adiante.
Constatou-se  então que os nossos queridos autarcas julgam que nunca erram e portanto acreditam que nunca são culpados. Basta pensar na incrível ginástica verbal da srª presidente, para tentar sacudir a água do capote no caso da poluição do rio. Ou ainda, e sobretudo, na cada vez mais visível sangria populacional, por enquanto sem culpados assumidos. 
Nos últimos 20 anos, Tomar perdeu 5.299 eleitores, dos quais 3.279 desde 2013, quando começou o reinado da actual maioria, à média de 468 eleitores por ano. A hemorragia está portanto a aumentar. E de que maneira. Nos 12 anos anteriores a 2013 a redução média anual foi de 168/ano eleitores. 
Pois apesar de tamanha evidência, nenhum eleito assume que a culpa possa ser de quem governa. Quando se argumenta que Alcobaça ou Óbidos, por exemplo, têm conseguido segurar a população, registando até um pequeno aumento de eleitores, respondem que "é por estarem na faixa costeira".
Quando se apresenta o caso de Ourém, que perde menos eleitores, embora também sofra o problema da interioridade,  tal como Tomar, "é porque tem Fátima". Indo ainda mais para o interior e citando o caso de Elvas, "é porque fica na fronteira". Campo maior "é porque tem lá os cafés Delta", e assim sucessivamente.
Não parece convir de modo algum às senhoras e aos senhores eleitos, quer sejam da maioria ou da oposição, reconhecer finalmente, e de uma vez por todas, que a causa principal da fuga demográfica não é o que os outros concelhos têm, mas aquilo que falta Tomar. 
E o que em Tomar falta são eleitos humildes e sinceros, prontos a reconhecer as suas insuficiências, (que todos temos afinal, uns mais outros menos), e prontos também para aceitar as mudanças inevitáveis, que quanto mais tardarem, mais dolorosas serão.
Exposta assim a principal doença do concelho, bem como o respectivo diagnóstico, caso os pacientes em questão continuem a recusar de facto a terapêutica indispensável -planos adequados, a tempo e a horas- resta esperar que o inevitável agravamento da crise a isso os acabe por forçar. Porque o negacionismo só pode levar ao colapso a mais ou menos longo prazo.
Ou já estaremos mesmo na fase sem solução?

terça-feira, 23 de março de 2021

 


O PSD e a poluição do Nabão

A CÂMARA DE TOMAR APONTA O DEDO ???

Falar da poluição do rio Nabão em Tomar, é praticamente como falar da paixão de Cristo em Jerusalém. Desde há muito que quem fala sabe o que diz, guardando-se contudo de fornecer detalhes, pelas mais variadas razões.
O título acima é obviamente uma perifrase. Não é a Câmara que aponta o dedo, que não tem, mas quem a representa. A sua presidente e respectivos vereadores, que já foram acusados por diversas vezes de fazer exactamente o contrário. De não apontarem os culpados. A tal ponto que os tomarenses continuam a aguardar os resultados completos das análises à água  poluída, feitas há mais de dois anos, nomeadamente se os coliformes fecais detectados são de origem humana ou suína.
Estamos em ano eleitoral e naturalmente cada formação política procura trunfos, ao mesmo tempo que se vai mostrando. Coube agora a vez, no Dia mundial da água, a uma delegação da Juventude social democrata, que deslocou a Tomar seis elementos, todos masculinos. Se calhar, para a semana virá a secção feminina.
Segundo a reportagem da Rádio Hertz, após as intervenções usuais, do representante nacional e do representante distrital, coube vez ao tomarense Tiago Carrão, um político em trajectória ascensional, provável vice-presidente da autarquia, caso o PSD conseguisse vencer as próximas autárquicas, o que parece estar fora das previsões, mesmo das mais optimistas. Mas em política tudo é possível. Até o improvável.
Na sua breve intervenção, disse o conterrâneo Carrão esta coisa extraordinária: "A Cãmara de Tomar está mais preocupada em apontar o dedo, do que em procurar soluções."
E eu a julgar que era exactamente o contrário. Que Anabela Freitas estava e está mais interessada em procurar soluções do que em apontar o dedo, até para não correr o risco de perder votos. Prova disso é o facto de se limitar a endossar responsabilidades quanto a fiscalização e multas, apenas para tentar sacudir a água do capote. Prova disso também, o facto de nunca ter informado a população sobre a suinicultura que parece ser a 2ª maior poluidora do Nabão, logo a seguir à ETAR. Porquê?
Mas compreende-se a posição do sr. Carrão, que visa apenas poupar membros da casta a que pertence. Grande parte da poluição do Nabão provém da ETAR de Seiça, e portanto de Ourém, cuja câmara é do PSD.
Com políticos assim, nunca mais vamos sair do atoleiro em que estamos atascados.

segunda-feira, 22 de março de 2021

 PAGAR TRATAMENTO DE ESGOTOS 

QUE NÃO SÃO TRATADOS

António Rebelo

Farto de pagar taxas de tratamento de esgotos que afinal não são tratados, tal como acontece com os vizinhos da minha rua e das ruas adjacentes, resolvi pedir esclarecimentos à Tejo Ambiente. Bem vistas as coisas, trata-se de um evidente abuso de confiança, que já dura há anos.
A Tejo Ambiente levou um mês para responder, mas fê-lo num texto extremamente educado, o que se agradece, confirmando na sua parte final, numa frase de estilo manuelino, que a minha reclamação é justa: "Esta entidade procurará garantir a acessibilidade a todos os cidadãos das melhores condições de tratamento de efluentes, dentro dos recursos disponíveis".(destaque meu) Ou seja, se não há duplo colector, não pode haver tratamento.
Quanto à solução do problema, instalar uma rede de duplo colector, para substituir o actual rego da idade média, é que já é bastante mais complicado. Segundo a mesma fonte, as obras agora em curso nalgumas freguesias rurais, são feitas com fundos europeus do programa POSEUR, que comtempla unicamente "o aumento da taxa de cobertura da rede de saneamento, e não a reposição ou melhoria das redes já existentes."
Noutros termos, mais acessíveis, os actuais consumidores forçados que vão pagando, pois o objectivo prioritário da Tejo ambiente é agora aumentar os clientes e não a melhoria das condições do serviço prestado.
Porque a explicação técnica avançada pela Tejo Ambiente é pouco credível. A ser como escrevem, sem programa POSEUR, onde foi António Paiva buscar recursos para modernizar todas as outras ruas do centro histórico, ainda no tempo dos SMAS?
Mas nem tudo está perdido, segundo a mesma carta. "Qualquer aviso de abertura de fundos comunitários que priorize investimentos de melhoria ou reposição de colectores, será objecto de candidatura... ...e merecerá a integração de investimento de beneficiação da rede de saneamento no centro histórico de Tomar."
Conclusão, se nunca mais aparecerem os tais fundos europeus para melhoramento e reposição da rede existente, estamos bem lixados. Vamos continuar aqui na zona a pagar um serviço do qual não beneficiamos, e a gramar os maus cheiros das sarjetas antigas, sem sifão. nem desinfectante, mas com muitas moscas e alguns ratos.
Vive-se cada vez melhor em Tomar!

 Reabrir o Tomar a dianteira 3

Acordei com ganas de reabrir o Tomar a dianteira 3. Não porque no Tomar na rede me tenham tratado ou me tratem mal. Não é por isso. É simplesmente por uma questão de procurar estar em cima do acontecimento. Ou seja, entre o momento em que envio um texto para o TNR e a sua publicação, medeiam em geral 2-3 dias. Tempo mais do que suficiente para que aquando da publicação a actualidade já não seja a mesma.

Abordei o assunto com o administrador José Gaio, no sentido de publicar os meus textos no mesmo dia da recepção, tendo-me sido comunicado que tal não é possível. Nestas condições, acabo por ser forçado a regressar às origens, ficando o Tomar na rede com total e inteira liberdade para publicar o que aqui for aparecendo.

Há uma outra razão para esta retirada. Um comentador, daqueles progressistas que apoiam a actual maioria, escreveu aqui há tempos no Tomar na rede que a minha colaboração manchava o prestígio daquele blogue. Que o prejudicava, em termos mais simples. Acontece que eu não quero de forma alguma prejudicar o amigo José Gaio, e ainda menos incomodar os democráticos apoiantes de Anabela Freitas que, como se constata pelo comentário citado, não são nada contra a liberdade de expressão, não senhor! Só não aceitam que outros pensem de maneira diferente e o possam escrever.

Passando a escrever unicamente no Tomar a dianteira 3, ficam os ditos apoiantes e outros censores de meia tijela muito mais aliviados. Só lêem as bacoradas que eu escrevo se resolverem abrir este blogue.

Ficamos então entendidos. Doravante só escrevo aqui, no Tomar a dianteira 3, agradecendo desde já a paciência que tiverem para me ler. E pedindo antecipadamente desculpa a todos os que involuntariamente possa ofender. Saibam que nunca é essa a intenção. Unicamente para defender a minha terra. 

TOMAR ESTÁ PRIMEIRO.

António Rebelo