sexta-feira, 26 de março de 2021

ENGANAÇÃO NA POLUIÇÃO DO NABÃO


António Rebelo

 Falar da poluição do Nabão em Tomar, é como queixar-se do calor num país equatorial. Faz parte do quotidiano. É contudo imperioso voltar ao assunto, devido às recentes declarações do diretor executivo da Tejo Ambiente. Disse ele, no recente webinar (a nova moda em teleconferência) sobre o Nabão, que os tomarenses devem ir até ao Agroal e observar a límpida água do rio, sempre que haja um episódio de poluição em Tomar. 
Vindo de quem vem, ou se trata de uma condenável habilidade, ou da denúncia implícita de uma realidade bem diferente da que ultimamente nos tem sido vendida. Isto porque, conforme os leitores estarão lembrados, levou anos de esforços, mas finalmente conseguiu-se que a presidente da câmara de Tomar admitisse ser a ETAR da Sabacheira a principal responsável pela poluição do Nabão. Tornou-se até ponto assente o modo como ocorrem os casos de poluição. Sem separação entre os esgotos domésticos e os pluviais, sempre que chove, a ETAR da Sabacheira, que serve Ourém, deixa correr para o rio os efluentes que ultrapassam a sua capacidade de tratamento. 
A antes citada intervenção do responsável da Tejo Ambiente parece pretender invalidar agora a referida versão, ao sustentar que aquando dos focos de poluição em Tomar, a água do Nabão corre límpida no Agroal. A ser assim, duas explicações são possíveis. A primeira está relacionada com a corrente fluvial. Pode bem acontecer que, quando a poluição chega ao Mouchão e à Ponte velha, já tenha cessado no Agroal, devido ao natural movimento da água do rio. 
A segunda explicação altera praticamente tudo o que sabem os tomarenses. Significa que afinal a principal origem da poluição não se situa na ETAR de Seiça, mas nas suiniculturas do concelho de Tomar, a que já aludiu de forma vaga a presidente da câmara.
Volta assim à memória o caso das análises à água do rio, cujos resultados completos nunca foram publicados, ou sequer noticiados. E já passaram dois longos anos. Porquê? É assim tão difícil determinar se os coliformes fecais detetados são de origem humana ou não? 
É que uma vez conhecida a resposta, temos a verdadeira origem da poluição, pois não consta que a ETAR de Seiça também receba efluentes provenientes da suinicultura. 
Seja com for, lá para o próximo Verão poderemos ficar elucidados. Uma vez que não é costume chover nessa época do ano, se acontecer algum episódio de poluição malcheirosa no Nabão, não virá de certeza do excesso de carga da ETAR da Sabacheira. 
Talvez então a câmara de Tomar se veja forçada a acabar com a enganação, e a denunciar nominalmente a ou as suiniculturas tomarenses na origem do problema. Todos têm direito a ganhar a sua vida, mas desde que o façam no estrito cumprimento da Lei. 
Aflora em paralelo um outro problema, relacionado com a poluição do Nabão. Agastados com as críticas vindas de todos os quadrantes e setores, tanto os presidentes de câmara de Ourém e Tomar, como os dirigentes da Tejo Ambiente, insistiram, e de que maneira, na urgente necessidade de 22 milhões de euros da Europa, para despoluir QUASE TOTALMENTE a bacia hidrográfica do Nabão. Infelizmente, há aquele QUASE TOTALMENTE e a lamentável circunstância de até agora os cidadãos da região abrangida pelo dito plano ignorarem de que se trata afinal. Que obras estão previstas? Em que concelho ou concelhos? Com que duração? 
Em democracia, nunca é bom pensar que os cidadãos só servem para votar e para pagar impostos.

3 comentários:

  1. Dos 22 M€ 19M€ são para coletores de esgoto no concelho de Ourém, e sómente 3M€ seriam para as 3 ETARS. Já agora o concelho de Ourém pertence à Tejo Ambiente mas a concessão da àgua no concelho não é da Tejo Ambiente , mas de uma empresa privada que tem a concessão, salvo erro até 2027. Será que Ourém aderiu à Tejo Ambiente para todos nós pagarmos os coletores que não fizerem enquanto concelho?

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  2. Um apontamento o custo com o pessoal na tejo Ambiente é de 3 M€ , o que a dividir por 150 funcionários dá uma média de 20000€ por cabeça !!

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    1. Não me surpreende. No século XVII, um frade espanhol que visitou o Convento de Cristo, escreveu no seu diário que ali se comia muito bem. Havia 13 pratos diferentes a cada refeição. Daí provém a conhecida frase popular "A ordem é rica e os frades são poucos". Exactamente como na Tejo Ambiente.
      Seria aliás interessante saber o montante das senhas de presença e outros honorários dos seus dirigentes, à cabeça dos quais está a presidente Anabela Freitas, que é pessoa capaz de recusar essas prebendas.
      Se assim for, livra-se da sentença "Quem parte e reparte e não fica com boa parte, ou é burro, ou não tem arte".

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