quarta-feira, 24 de março de 2021

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Política local

CRISE TOMARENSE JÁ SEM SOLUÇÃO ?

António Rebelo

A semana passada, um comentador habitual aventou a hipótese de Tomar já estar numa situação de não retorno. Daquelas já sem remédio possível. Na altura pareceu-me exagerado, e agarrei-me sem o dizer à velha frase feita "a esperança é sempre a última a morrer". Ou terá sido àquela outra "enquanto há vida, há esperança"?
Regressando agora ao tema, dou comigo a matutar que, no fim de contas, essa hipótese de já estarmos numa situação sem solução possível, é bem mais provável do que eu pensava há dias. Digo isto porquanto a atitude dos nossos eleitos desde há anos que se mantém inalterada, com os erros a aumentaram. 
Ao contrário do que acontece na medicina, onde o doente se queixa das suas maleitas, o médico faz o diagnóstico, e depois propõe uma terapêutica que o paciente aceita, (caso esteja em condições de o fazer), na política a situação é regra geral outra. Pelo menos em Tomar.
Naquele tempo, tão saudoso designadamente para os eleitos locais, em que só havia a informação em suporte papel, a chamada imprensa, eram bem raros os críticos e os assuntos alvo de crítica. Com o advento das redes sociais, levantou-se a tempestade crítica. Não tanto em Tomar, onde ainda assim se começou a malhar na falta de limpeza urbana, no mau saneamento, na falta de sanitários públicos, na excessiva burocracia municipal, na falta de postos de trabalho, na poluição do rio, nas obras só para ornamentar, e por aí adiante.
Constatou-se  então que os nossos queridos autarcas julgam que nunca erram e portanto acreditam que nunca são culpados. Basta pensar na incrível ginástica verbal da srª presidente, para tentar sacudir a água do capote no caso da poluição do rio. Ou ainda, e sobretudo, na cada vez mais visível sangria populacional, por enquanto sem culpados assumidos. 
Nos últimos 20 anos, Tomar perdeu 5.299 eleitores, dos quais 3.279 desde 2013, quando começou o reinado da actual maioria, à média de 468 eleitores por ano. A hemorragia está portanto a aumentar. E de que maneira. Nos 12 anos anteriores a 2013 a redução média anual foi de 168/ano eleitores. 
Pois apesar de tamanha evidência, nenhum eleito assume que a culpa possa ser de quem governa. Quando se argumenta que Alcobaça ou Óbidos, por exemplo, têm conseguido segurar a população, registando até um pequeno aumento de eleitores, respondem que "é por estarem na faixa costeira".
Quando se apresenta o caso de Ourém, que perde menos eleitores, embora também sofra o problema da interioridade,  tal como Tomar, "é porque tem Fátima". Indo ainda mais para o interior e citando o caso de Elvas, "é porque fica na fronteira". Campo maior "é porque tem lá os cafés Delta", e assim sucessivamente.
Não parece convir de modo algum às senhoras e aos senhores eleitos, quer sejam da maioria ou da oposição, reconhecer finalmente, e de uma vez por todas, que a causa principal da fuga demográfica não é o que os outros concelhos têm, mas aquilo que falta Tomar. 
E o que em Tomar falta são eleitos humildes e sinceros, prontos a reconhecer as suas insuficiências, (que todos temos afinal, uns mais outros menos), e prontos também para aceitar as mudanças inevitáveis, que quanto mais tardarem, mais dolorosas serão.
Exposta assim a principal doença do concelho, bem como o respectivo diagnóstico, caso os pacientes em questão continuem a recusar de facto a terapêutica indispensável -planos adequados, a tempo e a horas- resta esperar que o inevitável agravamento da crise a isso os acabe por forçar. Porque o negacionismo só pode levar ao colapso a mais ou menos longo prazo.
Ou já estaremos mesmo na fase sem solução?

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