Estalagem de Santa Iria
AGORA SANTOS DA CASA É QUE FAZEM MILAGRES
António Rebelo
Com o saboroso título España puede publicou o economista João Vieira Pereira, no passado dia 19, no EXPRESSO, uma esclarecedora crónica, que pode ler aqui:
Nela, o autor revela que os grandes industriais portugueses da construção civil, apesar da sua magnífica reputação internacional, não conseguem entrar no mercado espanhol, porque o governo protege as suas próprias empresas.
Estava então longe de supor que tal prática também já tinha chegado a Portugal, em todo o caso a Tomar. Mas eis que surge mais um desfecho transitório para o escândalo da Estalagem de Santa Iria, o qual vem mostrar que a câmara de Tomar também já protege os industriais tomarenses, ou pelo menos alguns.
Se os leitores bem se recordam, há cerca de três anos a autarquia tomarense levou a efeito um concurso público para arrematação da exploração da Estalagem de Santa Iria, entretanto liberta de uma concessionária inadimplente.
O referido concurso veio a dar que falar. Houve acusações de fraude, repetições, conciliações, e finalmente venceu uma empresa de Leiria.
Foi sol de pouca dura para os leirienses. Quadros superiores da câmara de Tomar alegaram que os colegas e o executivo tinham organizado um concurso ilegal, que violava determinado plano de pormenor. Vai daí, o projeto de recuperação da Estalagem não podia ser aprovado.
Apavorados perante práticas do império dos sentados semelhantes às do sul de Itália, e às quais não estavam habituados, os empresários leirienses compreenderam a mensagem e resolveram vender a empresa, com os inerentes direitos adquiridos em Tomar.
Dois anos mais tarde, acaba de saber-se que uma empresa hoteleira tomarense comprou a empresa leiriense, com a deliciosa razão social Era uma vez em Tomar, Lda. (Estas coisas não se inventam, que a cabeça não dá para tanto.)
Pormenor importante, a empresa compradora é uma sociedade entre os donos de duas unidades hoteleiras em Tomar, e o dono de uma outra unidade hoteleira, igualmente nabantina. Fica portanto tudo em família. Mais precisamente nas mãos de quem já conhece muito bem a máquina administrativa municipal, que já lhes aprovou pelo menos três projetos anteriores.
Sabem por conseguinte muito bem quais os componentes da máquina que exigem lubrificação, e quais as quantidades de lubrificante, bem como eventualmente a respetiva periodicidade.
No meio disto tudo, numa atmosfera onde sopra cada vez mais um vento palermita (de Palermo, na Sicília, sul de Itália), só espero que depois não insistam naquela cantilena dos investidores que não aparecem. Conhecem algum que goste de meter a cabeça na boca do leão? Só os domadores de circo, quando conhecem muito bem as feras.
É o caso.
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