quinta-feira, 25 de março de 2021

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Subsídios encapotados e liberdade de opinião

Convém não abusar da boa vontade dos eleitores

António Rebelo

 A Câmara de Tomar concedeu oportunamente à Empresa editora Cidade de Tomar um "avanço sobre custos de publicidade" na ordem dos 75 mil euros, mais IVA. Mesmo leigo como sou em direito, é uma prática que me parece, salvo melhor opinião, de legalidade algo duvidosa, quando feita com dinheiros públicos, de todos nós. Apesar disso, tratando-se de salvar postos de trabalho numa empresa com a corda na garganta, e sendo Tomar terra de boa gente, geralmente abúlica, não houve reações publicadas.
O que não significa que a manobra tenha passado despercebida. Subsidiar órgãos de informação, mesmo de forma mais ou menos encapotada, é uma maneira bem conhecida de limitar a liberdade de opinião e de informação.
Porque nenhum beneficiado ousará a partir daí "cuspir na mão" que o ajudou. Sob pena de não voltar a ser contemplado. O tal prato de lentilhas.
Tendo passado sem um reparo sequer na informação local, o que mostra bem aonde já estamos, a srª presidente da Câmara resolveu voltar agora ao ataque, desta vez por escrito. Na edição de 19/03/2021, página 6, do Cidade de Tomar, pode ler-se este belo naco de prosa, subscrito por Anabela Freitas, com foto e tudo: "Continuem assim pois o vosso papel é fundamental no pluralismo democrático do nosso concelho."
Com franqueza! Parece-me que é preciso ter muita coragem (o termo é outro), para ousar escrever uma coisa assim. num semanário que todos sabemos depender de favores da autarquia. De resto, alguém se recorda de ter lido nas suas colunas semanais alguma referência menos simpática, alguma discordância, sobre a política autárquica da actual maioria? 
Como bem sabemos, ou devíamos saber, pluralismo democrático não é haver vários órgãos de informação. Isso havia até no tempo do Salazar. É haver órgãos de informação que não tenham todos o mesmo ponto de vista. Que ousem a crítica frontal e honesta.
Mesmo sendo os eleitores tomarenses como são, em geral pouco empenhados na política da sua terra, se calhar será melhor não abusar da sua excessiva boa vontade. A paciência também tem limites. Exatamente como a decência e a honestidade.

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