domingo, 30 de abril de 2017

Mais sintomas da doença tomarense

A inauguração das auto-denominadas residências assistidas da Misericórdia de Tomar, com pompa e circunstância, que incluiu ministro e tudo é, bem vistas as coisas, uma exibição involuntária de alguns sintomas da doença tomarense. Não está em causa a reputação daquela Santa Casa, contra a qual nada tenho. Apenas a evidência dos factos.
Logo a abrir, não é ignorável, por maior boa vontade que se tenha, a óbvia ganância que levou a implementar tal projecto. Sem os 80% de ajuda europeia, aquilo nunca teria visto a luz do dia. E muito menos custado perto de 3 milhões de euros, um orçamento que considero algo megalómano, para uma construção tão pequena.
Em segundo lugar, apelidar a coisa de "Edifício Social - Residências assistidas" não passa de um eufemismo para tentar abusar a credulidade alheia. Na verdade, a nóvel valência nada tem de social ou de assistencial, no sentido de ajuda. Basta atentar nos preços praticados. Cauções de milhares de euros e mensalidades exorbitantes mostram que se destina apenas a pessoas com posses próprias da classe média alta. E não me parece que essa seja a função das misericórdias.

Foto Tomar na rede, com agradecimentos.

Para se ter uma ideia da enormidade, avanço o exemplo de Fortaleza, uma cidade costeira com quase 3 milhões de habitantes e muito turismo, capital do Ceará. Aqui, o preço dos restaurantes é praticamente equivalente ao daí (a partir de 6 euros) e as compras no supermercado são até um pouco mais caras (maçãs a mais de 2 euros, pêras a 2 euros e meio, uma lata de atum em óleo 2,10€, kiwis a 6 euros/quilo ...e bacalhau a mais de 25 euros. Tudo no Supermercado Pão de Açúcar, na Av. da Abolição). Pois mesmo em tal contexto, um apartamento mobilado, com sala, varanda, quarto com cama grande ou duas camas, cozinha equipada, casa de banho, 3 ascensores, limpeza diária, piscina, ginásio, garagem, porteiro 24 horas, grande espaço para eventos e vigilante nocturno além do porteiro, situado na primeira ou segunda linha de mar, pode custar por mês entre 2.500 e 3.000 reais = entre 724 e 869 euros, ao câmbio de hoje. E não se trata de edifícios sociais, da Misericórdia, mas sim de construções modernas, edificadas, equipadas e mobiladas sem subsídios, todas com mais de 15 andares.
Em terceiro e último lugar, o longo e complexo processo de legalização do conjunto de residências assistidas, que se arrastou durante quase três anos, mostra bem como o monstro burocrático chamado Câmara de Tomar-DGT, está cada vez melhor e se recomenda. E explica igualmente a fuga da população, em busca de emprego, uma vez que os investidores -que são quem cria empregos produtivos- não gostam mesmo nada daquilo que designam como "burocracia gosma". Com toda a razão, digo eu. Perde-se tempo, paciência e dinheiro.
Está assim parcialmente explicado, com exemplos práticos, porque razão ou razões Fortaleza tem apenas 291 anos, mas já vai a caminho dos 3 milhões de habitantes, enquanto a veneranda Tomar, a minha amada terra, já conta 857 primaveras, mas ainda não chegou aos 50 mil habitantes. E, pelo caminho que as coisas levam, creio bem que jamais lá chegará.

Adenda
Decerto sem qualquer ironia ou cinismo, tomarnarede informa que ainda há vagas no complexo agora inaugurado. Pudera! Se aquilo custou cerca de 2 milhões e 700 mil euros e tem 36 quartos, cada quarto custou 75 mil euros. Por esse preço é possível comprar um apartamento mobilado e equipado, à beira-mar, aqui no Brasil. Só que depois esse apartamento não vai render, como os da Misericórdia de Tomar, no mínimo 9.600 euros anuais, ou seja quase 15% ao ano.Nada mau, para uma instituição particular de solidariedade social, que por isso está isenta de impostos.
Mas pronto, bem sei: Trata-se de compensar os 3 anos em que estiveram parados, e depois esses lucros vão permitir ajudar mais pobres. Ou estarei equivocado?

A anunciada tragédia tomarense

Na sua habitual crónica no Observador online, que pode ler aqui, Alberto Gonçalves não poupa ninguém:
"Salvo os irremediavelmente patetas, os portugueses sabem que a liberdade de “Abril” é, no mínimo, um bocadinho fraudulenta. E sabem que a “justiça social” é um eufemismo para o controlo da economia por uns tantos. E sabem que a retórica das “causas” é um projecto de lavagem cerebral. E sabem que o regime é propriedade de grupos, grupúsculos e “personalidades”. Simplesmente não querem saber. Os portugueses querem levar a vidinha sem sobressaltos, sem maçadas e vergonha na cara, promessas em que, por exemplo à semelhança de Salazar, a esquerda é exímia. Falar-lhes de liberalismo é um luxo inútil, uma excentricidade similar a descrever os méritos do casamento aberto a um membro do Estado Islâmico. O tipo olha-nos com desprezo, vira costas e regressa à rotina de cortar cabeças. Os portugueses não cortam cabeças, mas não têm a sua em grande conta."
Miguel Sousa Tavares, por seu lado, conclui com pessimismo fúnebre a sua crónica semanal no Expresso on line, (acessível só a assinantes):
..."A grande fraqueza da democracia é que nada pode contra a vontade maioritária do povo. Mesmo que o povo escolha a tragédia."
É certo que Sousa Tavares se refere ao que pode vir a acontecer em França, já no próximo dia 7, ou daqui a cinco anos. Mas mesmo assim, fiquei preocupado com a situação tomarense. Muito preocupado mesmo, que o caso não me parece ser para menos. Com efeito, no meu entender, Tomar necessita com urgência de mais liberalismo e menos Estado, menos Câmara, menos burocracia e menos arrogância para conseguir investimentos, empregos produtivos, criação de riqueza transacionável, e assim ultrapassar a profunda crise que atravessa. Porém, como consegui-lo com os candidatos já conhecidos? São todos funcionários, com a inerente mentalidade tão bem resumida na citação supra de Alberto Gonçalves. E os dois à priori melhor posicionados até integram o bem conhecido "império dos sentados".


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Imagem alusiva à crise, que não retrata um caso tomarense. Por enquanto?

De forma que, mesmo sem ideias novas nem programas à altura, ou se calhar sem programas nenhuns, nesta altura tudo parece indicar que, em Outubro próximo, vamos ter um novo executivo eleito, do PS ou do PSD. Para o caso tanto faz.  Em Tomar, há muitos anos que não se consegue vislumbrar o que separa os dois partidos em termos políticos, ou de modelo económico local, que manifestamente nunca tiveram nem têm. A partir daí só podem ser mais quatro anos de sofrimento e crise crescente, uma vez que, como bem escreve Sousa Tavares, "...a democracia nada pode contra a vontade maioritária do povo. Mesmo que o povo escolha a tragédia." E os tomarenses têm sido especialistas nisso. Desde o 25 de Abril, ainda não conseguiram eleger um único presidente de câmara daqueles que fazem história pelas melhores razões.  Enganar-se tantas vezes seguidas, é obra! Mas os culpados são sempre os outros.

sábado, 29 de abril de 2017

Os excelentes negócios da Câmara


Os excelentes negócios da Câmara de Tomar e as boas maneiras d'O Mirante


A história é simples e conta-se rapidamente. Na sessão da Assembleia Municipal de ontem, João Simões, dos IpT, alertou que um terreno camarário, situado no Outeiro do forno e com vista para a albufeira do Castelo do Bode, que foi vendido pela autarquia em hasta pública por 13.500 euros, há menos de um mês, já está de novo à venda numa imobiliária, pelo triplo do preço da arrematação.
Pareceu-me um facto relevante, por mostrar, sem margem para dúvidas, que os interesses do Município não foram devidamente acautelados aquando da venda em praça, sendo que a Câmara ainda pode anular a venda.
Quando procurava uma ilustração para esta postagem, encontrei a notícia d'O Mirante, que tentei reproduzir parcialmente, pelos processos usuais nestas circunstâncias. Surpresa das surpresas, aquele semanário tem as suas coisas bem acauteladas. Não consegui copiar, mesmo parcialmente, nem imprimir ou transferir. Por isso recorri à fotografia.
Pode ter sido erro meu. Quer-me porém parecer que estamos perante uma situação ridícula. Pode-se copiar, transferir ou imprimir a partir do El Pais, do Le Monde, do Times, do Público, do Expresso ou do Estado de S. Paulo, por exemplo, mas tal é impossível a partir d'O Mirante. Os meus parabéns àquele semanário. É realmente assim que se promove a difusão da informação, seu olhar a lucros mesquinhos.

Uma carta do director do Le Monde

Macron et Le Pen au second tour

"Une information indispensable pour une élection inédite


Chère abonnée, cher abonné,

Vous avez choisi Le Monde pour vous informer. Votre soutien nous est précieux et nous vous en remercions."

Subscrita por Jerôme Fenoglio, director do prestigiado diário francês Le Monde, acabo de receber uma carta, da qual passo a transcrever, traduzindo-as, as passagens que me parecem mais significativas. Faço-o pensando particularmente nos jornalistas e responsáveis pela informação tomarense, que no meu entender está longe do seu melhor.

"As profundas alterações na paisagem política abrem um período de incertezas, de interrogações, de debates e até de inquietações sobre o futuro da sociedade francesa. Raramente desde há décadas, as opções políticas terão sido tão decisivas para a França e e para a Europa.
Estamos, como nunca, convencidos que o jornalismo desempenha um papel essencial nos debates públicos. Pela investigação. Pela grande reportagem. Pela análise. Pelo comentário assinado. É essa a missão dos 400 jornalistas do Le Monde, em França e no estrangeiro, de serem os vossos enviados especiais, de darem a palavra aos maiores intelectuais, de explicar o que incomoda, de ir além do ruído mediático e da informação de baixo custo."

Partindo da comparação

Partir da comparação entre os resultados já conhecidos das presidenciais francesas  e as autárquicas de 2013 em Tomar, pareceu-me um caminho útil para perceber certas aspectos:

        França                               % de abstenção     % de brancos e nulos

Presidenciais 2012.......................19,65%...........................5,82%
Presidenciais 2017-1ª volta.........22,23%...........................2.55%

Tomar

Autárquicas 2013........................46,70%...........................8,92%

Porquê tamanha discrepância? Porquê mais do dobro de abstenções e de votos brancos ou nulos? Numa terra tão pequena, com menos de 40 mil eleitores, onde praticamente toda a gente conhece toda a gente, devia ter acontecido o contrário, uma vez que nenhum eleitor inscrito pode alegar que não sabia ao que ia. E no entanto foi isso exactamente que aconteceu. Quase metade do eleitorado achou que nem valia a pena ir votar, e 9 em cada 100 eleitores votaram, recusaram-se a escolher.
No meu entender, tal fosso resulta de duas situações bem diferentes, que passo a tentar explicar. Nesta primeira volta das presidenciais francesas, apesar de haver 11 candidatos, os eleitores franceses cedo tiveram uma visão global das propostas de cada um, graças aos órgãos de informação e sobretudo aos serviços de difusão das próprias candidaturas. Daqui resultou o seguinte panorama: 1 - A actual situação não pode continuar por muito mais tempo, sendo indispensáveis reformas profundas, como indica o facto de o presidente em funções ter recusado recandidatar-se; 2 - De acordo com as respectivas propostas programáticas, as 11 candidaturas podem integrar-se em quatro grupos bem distintos -Grupo Extrema-esquerda, com Mélenchon, Hamon, Poutou e Arthaud; Grupo centro, com Macron e Cheminade; Grupo direita, com Fillon e Dupont-Aignan; Grupo extrema-direita, com Le Pen.
De um lado ao outro do tabuleiro, todos os candidatos proclamaram que pretendem mudar o sistema no seu funcionamento actual. Contra a opinião de um vasto leque, foi o candidato moderado e praticamente um outsider que venceu a primeira volta. Vitória essa que já permitiu uma clarificação assaz importante. Revelou que a extrema-esquerda comunista e ecologista tem afinal um programa com muitos pontos comuns com a FN de Le Pen. E não será por mero acaso que Mélenchon se recusa a apelar ao voto ao Macron, embora deixe perceber que será essa a sua opção.
Enquanto isto, com estamos em Tomar? (Ia a escrever como vamos, mas depois lembrei-me que na minha amada terra enquanto prevalecer o imobilismo do costume, não vamos para lado nenhum.) Apesar de haver já 5 candidatos assumidos, ainda nenhum disse que a situação reinante tem de mudar e muito menos apresentou linhas programáticas convincentes nesse sentido. Há, é certo, a excepção Bruno Graça, candidato da CDU, mas quando um candidato patrocinado pelos comunistas, que não são propriamente apoiantes da iniciativa privada, apela ao investimento local, muito mal vão as coisas nessa terra.
E chegamos assim ao âmago da questão. Salvo profunda mudança futura, em Outubro vamos ter mais do mesmo. Candidaturas que acham que está tudo muito bem, fora um ou outro detalhe, pelo que mudanças profundas nem pensar. Candidatos a dizerem e prometerem todos praticamente o mesmo: manter o que está, melhorando umas coisitas. A tradução política local da velha consigna "Tudo ao molho e fé em Deus".
Por isso, aqui escrevo desde já, para memória futura: Fiem-se em milagres e não apresentem programas claros, robustos e eficazes,  e vão ver o trambolhão que apanham. É certo que o calado foi a Lisboa e veio sem pagar, mas isso foi no tempo dos comboios a vapor e dos revisores complacentes. Quando o bacalhau era a pataco e ainda vinha de Aveiro, não da Noruega.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

O mistério dos cartões entregues

António Freitas
Poderia ser uma novela, ou um caso para Hercule Poirot, ou simplesmente Poirot, o grande detective fictício, protagonista da maioria dos livros de Agatha Christie, comparável apenas a Sherlock Holmes, famoso detective da ficção policial…. a novela dos cartões partidários entregues em Tomar.
A coisa promete e ainda não foi tornada pública pois falta na cidade do Nabão este Poirot
Pelo que me é dado a conhecer por fontes bem posicionadas e por dentro…. na incorporação nas listas, um membro de determinado partido entregou o seu cartãozinho, a que se seguiram mais dois militantes. Depois reuniu o Estado Maior do partido em causa e fez ver ao dedicado militante que seria melhor, voltar atrás e o cartãozinho não chegou a Lisboa. Mas, vá lá saber-se porquê, o cartão do terceiro militante solidário veio mesmo parar à capital. 

Resultado: a demissão foi aceite e agora lugar na lista da Câmara, Assembleia Municipal ou Junta, não há.
Ou seja, não há “vaga para sargentos nem praças rasas” que apontam como franco atiradores, sem experiência, maçaricada mesmo, na credibilidade do partido em causa.
Quem tramou a…… poderia ser o guião para a investigação!
Aguarda-se que o dedicado detective tomarense, a banhos no Brasil regresse rápido e que coloque os seus perdigueiros em campo.

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Foto António Freitas

Enquanto isso, lamentam-se alguns contestatários (a equipas em formação), que há muitas caminhadas, religiosas e de lazer, muitas festas e pernas de frango, mas que falta um programa. O programa das festas. e que, não basta blá blá e muito facebook para o povo meter um papelinho. Sim, que sem papelinho não há eleição e 70% dos que votam não têm facebook, nem sabem o que isso é. 
Cantando e rindo, não dando sinais de quem é o seu peso-pesado número 3, continua Anabela Freitas, que vai daí distribuiu cravos vermelhos no dia 25 de Abril, pelo povo e pelos turistas, dando a imagem que afinal o 25 de Abril chegou à mui nobre e conservadora terra de D. Gualdim. Referem os entendidos que agora, livre de apêndice, é apontada para um resultado tático de 4-2-1. E quem sabe se  4-1-1-1 não acontece, pois o jovem enfermeiro Luís Santos, candidato do Bloco é um grande tomarense e vai ter muitos votos, e o do CDS também vai minar, ou não fosse a sua especialidade. Assim, o resultado final seria “ouro sobre azul” e as pernas de frango seriam substituídas por “focinho de porco 2017-2021”, com muito feijão frade, que como sabem é um feijão que tem duas caras e o povo não perdoa.

Quando a paixão contrariada tolda o bom-senso

Tenho na minha frente uma "Moção de reconhecimento", a debater na sessão da Assembleia Municpal de logo à noite, da autoria de Luís Ferreira, eleito pelo PS, ex-chefe de gabinete e ex- companheiro da presidente da câmara. Trata-se, segundo pretende fazer crer o seu autor, de louvar a acção cívica do cidadão Benvindo Baptista, em virtude da qual Anabela Freitas já foi condenada por duas vezes no Tribunal administrativo e fiscal de Leiria, tendo pago multas num montante total superior a 10 mil euros.
Numa circunstância normal, seria de inquietar-se sobre a saúde nervosa de Luís Ferreira, ao propor uma moção de louvor a um cidadão, quando não consta que esteja nas atribuições do parlamento municipal fiscalizar, criticar ou louvar cidadãos enquanto tais. Cabe-lhe isso sim, fiscalizar, criticar, propor medidas alternativas ou louvar o executivo municipal, coisa que não tem feito e aqui se lastima.
Dá-se porém o caso, que é do domínio público, de Luís Ferreira ter um grave contencioso com a cidadã Anabela Freitas, de quem foi companheiro durante 9 anos, e com a presidente da Câmara, de quem foi chefe de gabinete, até por ela ser exonerado. O que explica esta triste iniciativa da "Moção de reconhecimento", pois é bem sabido, pelo menos desde os tempos de Camões, que "O amor é fogo que arde sem se ver", e que as paixões contrariadas toldam o raciocínio mais lúcido.
Exemplo disso mesmo é nomeadamente o 6º parágrafo da 1ª página do documento, que reza assim:


Quem se interessa pela política local sabe bem que nunca fui, nem sou, apoiante da actual presidente da Câmara de Tomar. Pelo contrário. Dito isto, posso garantir que Anabela Freitas está longe de ser tão nula como insinua o documento reproduzido. E recuso-me a acreditar que terá agido deliberadamente para prejudicar o cidadão Benvindo Baptista, ou qualquer outro. Suspeito fundadamente, isso sim, que foi urdida e funciona no seio da administração municipal uma tramóia visando prejudicar gravemente a actual presidente, de forma a que perca as próximas eleições, abrindo assim a via a um responsável máximo "mais da casa".
Perante isto e abreviando, resta lamentar a ocorrência e apelar ao bom-senso de Luís Ferreira, que ainda está a tempo de evitar maiores prejuízos para a sua imagem, retirando o documento. Se tal não acontecer, caberá aos restantes membros da Assembleia Municipal recusar a admissão da moção, por não se enquadrar nas normais competências do órgão. Em último caso, goradas as duas hipóteses anteriores, rejeitar por larga maioria semelhante ultraje ao bom senso e ao bom gosto, em prol da salubridade política local.

Adenda às 21H39 (hora de Brasília) de 28/04/2017

Era previsível. Não tendo havido da parte de Luís Ferreira a ponderação necessária para retirar a proposta em tempo oportuno e assim resguardar a sua imagem, foi votado por maioria da AM um requerimento no sentido de a mesma não ser aceite para discussão. Assistiu-se assim a mais um malogro político do ex-líder do PS tomarense.

Há cinco, faltam cinco

Há cinco candidatos à autarquia tomarense, faltam cinco meses para a consulta eleitoral. É muito tempo, ou nem tanto? Para conceber, redigir, estruturar, debater, afinar e voltar a escrever um programa robusto e adequado, a folga temporal já não é muita. Infelizmente, é muito provável que os concorrentes, alimentados pelo hábito, (que como se sabe é uma segunda natureza), estejam convencidos de que bastarão umas generalidades, uns repastos, uns carros a fazer barulho, umas festas populares, umas passagens pelo mercado, umas fotos bonitas e uns cartazes grandes, para ganhar. Espero estar enganado. Se assim vier a acontecer, se os eleitores se deixarem mais uma vez embalar pela usual "canção do bandido",  será mais um desastre que o concelho não merece. Mais do mesmo não!
Os candidatos já conhecidos são todos excelentes pessoas, todavia com uma característica comum que no meu entender é também um lastro negativo -são todos funcionários públicos. Uma técnica de emprego (porque primeiro as senhoras, como mandam as boas maneiras), um técnico superior da autarquia, um professor do ensino politécnico, um professor aposentado e um enfermeiro. Resumindo, dois profissionais da educação, um profissional da saúde e dois profissionais sentados. Daqueles que não têm alunos na frente, nem doentes para tratar, nem ruas para patrulhar, por exemplo. Posso estar enganado e um dos 5 candidatos vir a revelar-se um excelente presidente? Oxalá! Até porque Fátima é aqui tão perto e já há alguns anos que deixou de haver milagres nesta zona.
De resto, manda a verdade acrescentar que, desde as primeiras eleições livres, os três presidentes da Câmara de Tomar que não eram funcionários públicos (Pedro Marques, Corvêlo de Sousa e Carlos Carrão) também não deixaram recordações excepcionais. Ainda assim, mostra a experiência que os funcionários públicos, sobretudo os sentados (o que exclui, como é óbvio, médicos, enfermeiros, polícias e por aí adiante) carregam em geral um lastro negativo. São conformistas, medrosos, estatistas, nada virados para a iniciativa privada, o risco, o investimento produtivo, a criação de empregos geradores de valor acrescentado. Numa curta frase, em nome do hábito e da estabilidade, são contra o liberalismo mesmo se com preocupações sociais. Por isso o país não cresce o suficiente, apesar dos apelos do senhor Presidente da República. Por isso as coisas estão como estão em França, de onde, conforme escreveu o Eça, nos chegam as ideias, digam o que disserem.
Concluindo, a cinco meses do acto eleitoral, ainda só dois candidatos ousaram sair da área de conforto e indiciar para que se candidatam. Luís Santos, do BE, elencou algumas ideias durante uma entrevista, as quais podem ser consultadas aqui. Bruno Graça foi muito agreste para o PS local, seu parceiro de coligação, mas fez um diagnóstico corajoso da maleita tomarense, que pode ser lido aqui e aqui. Agora resta aguardar que indique quanto antes a  terapêutica que propõe, para que a mesma possa ser amplamente debatida. O que naturalmente vale também para Luís Santos. E para os outros que entretanto ousem sair do jardim das generalidades.

Adenda
Embora não ignore que se trata de órgãos informativos direitistas, como usualmente escreve o meu amigo Ferroma, ouso sugerir a leitura desta crónica e desta outra. Têm tudo a ver com Tomar, onde precisamos de investimento, público ou privado, como de pão para a boca. Boa leitura!

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Alunos do IPT mais caloteiros


Politécnicos da região recorrem ao fisco para cobrar dívidas dos alunos


O MIRANTE online, 27/04/2017

Uma vez que o Politécnico tomarense tem menos alunos que o de Santarém, não restam dúvidas: Os alunos do IPT são muito melhores a ferrar o calote. Nalguma coisa haviam de ser bons, para além da capacidade para engolir cervejas e similares.
Por falar em bebidas, se calhar os caloteiros são admiradores do antigo e célebre futebolista internacional irlandês George Best. Durante uma entrevista, feita quando já estava havia anos retirado dos relvados, o jornalista perguntou-lhe como era a sua vida. -Podia ser bem melhor. -Mas você ganhou milhões de libras... -Pois ganhei. Mas gastei boa parte com mulheres e álcool. O resto foi mal gasto.
O mais provável é que os alunos politécnicos, amantes de álcool e caloteiros, pois o dinheiro não chega para tudo, também pensem que pagar propinas é dinheiro mal gasto. A cada um a sua verdade.

Enaltecer a qualidade

A qualidade na área do jornalismo já conheceu melhores dias. Deve portanto ser enaltecida e difundida. Por isso, aqui vai uma bela peça, com agradecimentos ao Cidade de Tomar e um abraço de forte amizade ao meu querido amigo Luiz M.P.S. Graça:

Cidade de Tomar, 28/04/17, página 22

Adenda
No meu muito modesto entendimento, pedindo perdão por meter a foice em seara alheia, no 3º parágrafo, 7ª linha, onde se lê "três rostos particulares", tenho a impressão que no original estará "três rostos patibulares". O autor da cuidada prosa fará o favor de arbitrar, caso chegue a ler estas linhas.

Hipocrisia esquerdista



"O Bloco de Esquerda congratula Jean-Luc Mélenchon e o movimento França Insubmissa pelos históricos resultados de 23 de abril. Os eleitores da esquerda quiseram derrotar as ideias de Marine Le Pen na primeira volta e saberão contribuir para a derrotar na segunda volta. É essa mobilização que garante uma alternativa política às forças da injustiça económica e social que alimenta o crescimento da extrema-direita.

Os partidos que têm governado a França em alinhamento com Berlim acabaram representados na segunda volta pelo ex-banqueiro Emmanuel Macron, um híbrido gaullista-socialista cuja recente passagem pelo ministério da economia revelou a agressividade do seu programa liberalizador e anti-laboral."

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As duas citações acima foram copiadas do Esquerda.net, o órgão oficial do Bloco de Esquerda, de 24 de Abril. Apenas se alterou a respectiva sequência. A citação de abertura é o último parágrafo da peça original e a outra é o seu segundo parágrafo.
Conquanto Tomar a dianteira não trate em geral de questões nacionais ou internacionais, há coisas que quase provocam vómitos, tal é o cheiro nauseabundo que exalam e a hipocrisia que mostram, pelo que não podem passar sem um reparo.
Macron ex-banqueiro? Macron híbrido gaullista-socialista? Sem dúvida. Mas resolveu deixar a banca -onde era muito bem pago- para ser conselheiro de François Hollande, presidente socialista, e mais tarde ministro da economia. 
Macron ex-banqueiro e híbrido gaullista-socialista? Concerteza. Mas teve a coragem de abandonar o conforto do Poder, para tentar dar outro rosto à França.
Macron ex-banqueiro e híbrido gaullista-socialista? Certo. Mas nunca foi nem é, como o principal ideólogo do BE, Francisco Louçã, Conselheiro de Estado de um presidente de direita, nem Conselheiro consultivo do Banco de Portugal.
Diz o comunicado do BE que "Os eleitores da esquerda quiseram derrotar as ideias de Marine Le Pen na primeira volta e saberão contribuir para a derrotar na segunda volta". Não tenho qualquer dúvida a esse respeito. Mas pergunto: Sendo indiscutível que a única maneira eficaz de derrotar Le Pen é votar em Macron, que razões ocultas terão levado Mélenchon, o BE e o Podemos a não apelar claramente ao voto no vencedor da primeira volta?
Os bloquistas e os esquerdistas em geral são só hipócritas? Ou também são sinistros, incoerentes e acriançados?

Gestão autárquica rigorosa? Era bom era!

 A dívida actual da autarquia tomarense é de 24 milhões, refere o Tomar na rede aqui. Foi quanto bastou para um beato apoiante dos socialistas locais vir logo criticar. Segundo escreve, a dívida era de 37 milhões e esta gestão socialista já conseguiu um redução para os actuais 24 milhões. Mas não explica como fizeram. É o problema usual da beatice, sobretudo a beatice política. Consideram que os outros são todos incréus, logo bárbaros que não entendem nada de nada. Temos de os aturar, pois não há outro remédio. O que não implica calar-se.
Neste caso da redução da dívida, segundo fontes fidedignas e convergentes, trata-se afinal de uma artimanha. Na verdade, a regra geral, de que são exemplos os acordos com a ParqT e com a ADSE, é transferir o débito para uma entidade bancária ou parabancária, ficando a autarquia a pagar a respectiva renda ou prestação mensal, que engloba o reembolso mensal do principal e o respectivo juro sobre o total ainda em mora. Não há portanto qualquer redução da dívida, a não ser na contabilidade autárquica, que usam para tentar enganar os eleitores-contribuintes.

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Mesmo com a extraordinária redução da dívida que dizem ter conseguido, a autarquia deve ainda 24 milhões 260 mil euros, o que dá cerca de 650 euros por cada eleitor inscrito. Devia por isso haver uma gestão ultraprudente, mas não. Ficou célebre a frase do presidente da República Jorge Sampaio, proclamando que Há mais vida para além do défice.
Seguindo essa mesma linha, embora endividada até às orelhas, a gestão socialista tomarense acha normal:
1 - Atribuir 400 mil euros anuais para actividades ditas culturais e desportivas, que incluem por exemplo a Festa da cerveja, esse monumento à cultura,  que contempla com 4 mil euros, cuja utilidade consiste em abrir a via para futuros subsídios à Associação Alcoólicos Anónimos;
2 - Conceder a utilização gratuita dos pavilhões  e outros recintos desportivos municipais a todos os clubes, incluindo o de ténis, que é uma modalidade pobre e muito praticada pelos empregados e funcionários locais. Hoje em dia, qualquer precário a 500 euros/mês tem o seu equipamento de marca, a sua raquete e as suas latas de bolas. Está-se mesmo a ver...
3 - Gastar 300 mil euros com a Festa dos Tabuleiros e determinar que não haverá entradas pagas;
4 - Gastar umas dezenas de milhares de euros com o Congresso da sopa e depois entregar a receita a uma associação de solidariedade social;
5 - Gastar 75 mil euros mais alcavalas com a Festa Templária e não cobrar entradas;
6 - Gastar 45 mil euros mais alcavalas com as Estátuas vivas e não cobrar entradas.
Podia continuar, mas para quê? Acrescento apenas que, em contrapartida, os pobres cidadãos periféricos, que às sextas-feiras vão com sacrifício ao mercado, vender frangos, ovos, coelhos, fruta, legumes, queijos, etc, como forma de arredondar os fins de mês cada vez mais difíceis, esses pagam terrado, como qualquer outro comerciante. Uma coisa é praticar desporto ou cultivar-se a beber cerveja. Outra coisa bem diferente é tentar ganhar a vida honradamente.
Não é necessário ser formado em ciência política, ou em gestão pública, para gerir capazmente uma autarquia como a de Tomar. Mas convém ter um mínimo de bom senso.



quarta-feira, 26 de abril de 2017

Uma razão para as duras críticas de Bruno Graça

Na apresentação da sua candidatura, que teve lugar na freguesia de Paialvo, durante um almoço comemorativo do 25 de Abril, o vereador da CDU, Bruno Graça, foi particularmente duro para com a gestão PS na Câmara de Tomar. "Não resolveram, no essencial, nenhum problema do nosso concelho... ...Se tivéssemos a gestão da Câmara Municipal, outro galo cantaria para Tomar... ...O caminho não é andar todos os dias a fazer inaugurações de coisinhas sem significado, ou a tirar fotografias para aparecer nos jornais. Os grandes problemas de Tomar têm que ser encarados e resolvidos." Um banho gélido para Anabela Freitas e Hugo Cristóvão, parceiros de coligação. Olha se não fossem!

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Bruno Graça mencionou também os grandes problemas tomarenses, que são o desemprego, o investimento, a criação de riqueza, o desenvolvimento económico e a fuga da população, com destaque para os mais novos. Absteve-se de apresentar soluções para os mesmos, atitude que todavia não poderá prolongar, sob pena de perder votos, posto que em Outubro próximo muitos eleitores já não irão em "canções de embalar", uma vez que estão escaldados e de que maneira. Com a notável excepção da maioria dos funcionários municipais, mas estes já terão ficado assustados com a inesperada alusão do vereador da CDU a uma inevitável reorganização dos serviços municipais. Reorganizar velhas desorganizações muito bem organizadas, é sempre um problema bicudo.
A reportagem, limpa como sempre, de Elsa Ribeiro Gonçalves, pode ser lida aqui. Entretanto, parece-me importante focar uma vertente que, por enquanto, ninguém mencionou, mas que terá estado na base do discurso agreste de Bruno Graça. Refiro-me à previsão dos resultados  da próxima consulta eleitoral, os quais podem vir a surpreender muito boa gente. E o actual vereador da CDU, que tem muita tarimba política, já terá intuído isso mesmo.
Tudo indica, nesta altura, que os Independentes por Tomar não vão concorrer enquanto tal nas próximas autárquicas. A ser assim, os 3091 votos que conseguiram em 2013 irão forçosamente para outras formações concorrentes, ou para abstenção, o que parece menos provável. E esta nova situação pode vir a complicar bastante a vida à CDU, no que concerne a manter um vereador.
Recordemos os resultados de 2013:

PS         5.479 votos - 3 vereadores
PSD      5.198 votos - 2 vereadores
IpT       3.094 votos - 1 vereador
CDU    1.827 votos - 1 vereador

Mantendo-se sensivelmente o total de votantes de 2013 e admitindo, como hipótese de trabalho, que 45% dos eleitores IpT passam para o PS, outros tantos para o PSD e 10% para a CDU, teremos:

PS        5.479 + 1.393 = 6.872
PSD     5.198 + 1.393 = 6.591
CDU    1.827 +   310 =  2.137

Mesmo que o PSD venha a ser o vencedor, desde que seja mínima a diferença entre os dois primeiros, quando se tratar de atribuir o 7º vereador, a CDU estará em desvantagem face ao segundo partido mais votado, dado que 6.591 a dividir por 3 = 2.197, e lá se irá o vereador CDU, por uma diferença de 60 votos, ( 2.197/2.137), dando de barato que a relação de forças de 2013 subsistirá em Outubro próximo. 
É tudo teoria? É sim senhor. Mas repito: Julgo que Bruno Graça já vislumbrou o perigo e está a agir em conformidade, o que justifica a dureza da sua intervenção nesta altura do campeonato. Na política, pouco ou nada acontece por mero acaso.










A Argélia é já ali em baixo...



Les autorités semblent avoir compris l’ampleur du désintérêt pour la campagne. Le 28 mars, le ministre de la communication, Hamid Grine, a adressé une circulaire aux médias, leur interdisant de donner la parole à ceux qui prônent le boycottage de l’élection. Le ministre de l’intérieur a également annoncé cette semaine qu’un homme avait été présenté à la justice pour « atteinte à l’image des élections législatives ».

Caso não consiga ler a notícia na versão integral em francês, da autoria de Zahara Chenaoui, correspondente do Le Monde em Argel, aqui vai a tradução do excerto supra:
"As autoridades parece terem-se apercebido da amplitude do desinteresse pela campanha eleitoral. Em 28 de Março, o ministro da comunicação, Hamid Grine, enviou uma circular aos meios de comunicação, proibindo-os de dar a palavra aos que defendem a abstenção nas eleições [que são a 4 de Maio]. O ministro do interior também anunciou esta semana que um homem foi entregue ao poder judicial, acusado de "atentado contra a imagem das eleições legislativas."
Em Tomar, 43 anos passados sobre o 25 de Abril, basta ir lendo o que se publica para entender o óbvio. Não é necessário qualquer aviso do governo ou da câmara, (que de resto seriam ilegais, porque inconstitucionais) visando limitar a actividade informativa, pois os respectivos órgãos já estão devidamente formatados. Salvo raríssimas excepções, só publicam o que convém aos poderes instalados. Nada que possa provocar sobressaltos. Os eleitores que vão continuando a pagar e aguardem melhores dias..
Crónicas? Análises? Reportagens? Comentários identificados? Opiniões com autor conhecido? Notícias detalhadas, que respondam às interrogações clássicas quem? o quê? quando? onde? como? porquê? Nem pensar, para evitar represálias e outras chatices.
Conquanto a situação ainda esteja longe de ser como na Argélia, há disponibilidade evidente para algo semelhante.Todos temos uma costela árabe, embora uns mais do que outros. E o problema agrava-se quando se detém algum poder. Duvida? Então leia este oportuno editorial, subscrito por um jovem a quem auguro um brilhante futuro.

Têm demasiado em comum

"É certo que o candidato da extrema-esquerda acusou Le Pen de ser “nacionalista” e não “patriota” como ele. Mas, perdida a eleição, recusou-se a apoiar Macron. E os programas políticos de Le Pen e Mélenchon tinham demasiadas coisas em comum; ambos denunciam a União Europeia, ambos lutam pelo voto operário, ambos defendem o encerramento das fronteiras, ambos advogam a “preferência nacional”, a reforma aos 60 anos e o aumento do ordenado mínimo. Ambos apoiam Bashar Al-Assade… Muito mais votos do que os 9% podem ainda transferir-se de Mélenchon para a candidata da Frente Nacional."

O excerto acima é de uma análise de Paulo de Almeida Sande, que pode ser lida na íntegra aqui. Resolvi publicá-lo porque mostra, no meu entender, os limites da geringonça e da coligação nabantina. Quer agrade ou não, o facto demonstrado é que são cada vez mais as convergências entre a extrema-esquerda e a extrema-direita. Entre o autoritarismo direitista e o autoritarismo esquerdista. Mesmo se entretanto o primeiro-ministro grego, o esquerdista Tsipras, já veio apoiar o voto em Macron, é óbvio que o faz por necessidade e não por convicção. Se Le Pen vencesse, adeus União Europeia tal como a conhecemos, adeus Grécia, república de assistidos.
Outro tanto resolveu fazer Catarina Martins, com o inimitável toque rídiculo lusitano. Aconselhou o voto em Macron, (como se o seu apelo tivesse alguma importância para lá da fronteira), mas durante a campanha eleitoral a sua camarada Marisa Matias, deputada do BE no Parlamento Europeu, apareceu em palco, ao lado de Mélenchon, entoando Grândola Vila Morena. Salgueiro Maia deve ter dado voltas na campa...
Se o descaramento político pagasse imposto, Portugal poderia reembolsar em breve boa parte da sua cada vez mais gigantesca dívida pública. Que a extrema-esquerda BE/PCP, na sua evidente má-fé, clama pretender renegociar. Como se a renegociação da dívida dependesse de quem deve e não dos credores. 
Mas que se lhes há-de fazer, se é assim que vêem as coisas? A bem dizer, os culpados nem são eles. São os que neles votam. Grande parte não por convicção, mas por ressentimento, por inveja e como retaliação.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Foi sol de pouca dura

Ter de escrever o que segue no dia em que se comemoram os 43 anos de Abril, é como arrancar uma unha a sangue frio. Mas o que tem de ser, tem muita força.
Em tempo oportuno, louvei aqui a excelente ideia da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (cuja sede é no Convento de S. Francisco, onde ocupa gratuitamente desde há anos metade do piso superior do claustro sul), ao incluir no seu site mediotejo.net relatos em directo das reuniões dos executivos municipais. No caso de Tomar, percorri dois desses trabalhos, da autoria de Elsa Ribeiro Gonçalves, aqui reiterando com satisfação que são obra asseada. Coisa que pelas margens nabantinas infelizmente não abunda.

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Foto mediotejo.net

São obra asseada e também, ao que agora constato com tristeza, sol de pouca dura. As duas últimas reuniões da Câmara de Tomar já não tiveram direito a relato. Não duvido nem por um segundo que as justificações para tal interrupção sejam excelentes. Sucede contudo que não houve qualquer aviso prévio, o que deixa todas as hipóteses em aberto. 
Antes do 25 de Abril também nunca houve -nem podia haver- relatos das reuniões municipais, cujos autarcas não eram então escolhidos a dedo pelos partidos e depois votados, mas apenas escolhidos a dedo pelos lacaios do poder ditatorial. Mas pelo menos as actas eram afixadas e publicadas atempadamente na imprensa. Agora nem isso. Estamos em regime de informação a conta-gotas, de acordo com as conveniências de quem ocupa a cadeira do poder.
Foi para chegarmos a isto que os militares ousaram o 25 de Abril? É para isto que votamos de 4 em 4 anos?

O que mostram as eleições francesas

Como Salgueiro Maia há 43 anos, pensar no estado a que isto chegou e agir em consequência.

Há muito que a experiência me ensinou algo muito simples -não há pior cego do que aquele que não quer ver. Por conseguinte, se é o seu caso, se acha que está tudo bem, não perca tempo. Vá ler algo mais divertido. Digo isto porque a primeira volta das presidenciais francesas mostrou três coisas, muito agradáveis para quem deseja mudar para melhor, todavia muito desagradáveis para os instalados em geral. Sobretudo para os assistidos. A primeira dessas coisas é a vitória, prevista nas sondagens, de um jovem de 39 anos, que nunca antes concorrera a qualquer eleição importante.  A segunda é o evidente esfrangalhamento dos partidos tradicionais. Pela primeira vez na V República, fundada em 1958, nenhum dos partidos tradicionais estará representado na 2ª volta. A terceira e última é o esgotamento do modelo comunista/ecologista, que o candidato Mélenchon, apesar da sua longa experiência política, mostrou alguma dificuldade em digerir, ao constatar a derrota. Recusou, para já, dar qualquer indicação de voto para a segunda volta, o que dispensa mais comentários.
A anunciada vitória de Macron é muito importante porque, além de ser a de um jovem sem um partido a apoiá-lo, assenta em medidas anunciadas que estão longe de ser pacíficas. Ao contrário dos outros candidatos -com a notável excepção de Fillon- que se esmeraram em promessas a serem pagas pelos contribuintes todos, como por exemplo a de Hamon, do PS, com o rendimento mensal garantido para todos os cidadãos, o ex-ministro da economia de Hollande ousou ir ao osso da questão. Redução do peso do Estado, redução da burocracia, redução do número de deputados até um terço, redução de 120 mil lugares na função pública até 2022, redução da fiscalidade, etc. Tudo a mostrar que o sistema estatal francês, que serviu e serve de modelo ao português, em muitos aspectos, atingiu os seus limites e necessita de reformas urgentes, que Macron promete implementar, contrariando parcialmente o que escreve M. Vilaverde Cabral.

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Escrevo tudo isto porque o problema português e tomarense é semelhante ao francês, salvaguardando as respectivas diferenças de escala. Também em Lisboa e em Tomar é cada vez mais urgente reduzir o peso do sector público, reduzir o número de deputados na AR e na AM, reduzir impostos e taxas, reduzir as despesas com pessoal para reduzir a despesa e a burocracia.
Tudo isto, não porque haja alguma má vontade congénita contra os funcionários, contra os deputados ou contra os políticos, cidadãos como você ou eu. Apenas e só porque o sistema está cada vez mais bloqueado. Não sendo nada aconselhável aumentar impostos e taxas, porque a população já não aguenta mais, não se vê onde o governo ou a autarquia tomarense possam ir encontrar recursos para satisfazer os seus compromissos em constante aumento. E que ninguém se iluda com a geringonça. É apenas um pouco de céu artificialmente azul, enquanto não voltamos ao inverno do nosso descontentamento. Porque a dívida pública continua a sua imparável ascensão e, uma vez resolvidas as consultas eleitorais em França e na Alemanha, o BCE vai moderar e depois suprimir as compras de dívida no mercado, o que provocará o aumento das taxas de juro, que a dada altura Portugal não poderá suportar. Como já sucedeu com o governo Sócrates e os seus PECs.
No caso tomarense, o problema é até bem mais grave. Com a população a diminuir, os funcionários do Estado tenderão igualmente a diminuir. Com menos funcionários e menos população, menos impostos serão cobrados, uma vez que no vale do Nabão a iniciativa privada escasseia e o investimento ainda mais.
Donde resulta que, na ausência de coragem para implementar as reformas indispensáveis, restará ao Estado e ao Município de Tomar irem-se endividando enquanto for possível...
Aqui deixo este singelo recado para os candidatos tomarenses de Outubro próximo, uma vez que nos círculos governamentais lisboetas ninguém me lê. Se pensam que aparecer em eventos, beber uns copos e comer umas febras ou pernas de frango resolve alguma coisa, estão tão enganados como os porcos quando vão para os matadouros. Só que os porcos, ao que consta, não têm consciência das coisas. Serão só eles?

domingo, 23 de abril de 2017

Os autarcas passam, os problemas agravam-se

Desde que, na era do presidente Paiva, a Câmara determinou e mandou publicar que o ex-Convento de Santa Iria, mais as ruínas do outro lado da rua de Santa Iria, seriam "um hotel de charme de 4 estrelas com 60 quartos", já abordei o assunto várias vezes. Por exemplo aqui, aqui e aqui. Apesar disso (ou por causa disso também?) a situação não se alterou desde então. Apenas foram feitas obras de fachada e compostos alguns telhados mais aparentes, tudo para turista ver. Mas quanto ao hotel, nem ditos nem modos. O que não espanta.
Antes de mais, proclamar logo a abrir que será um hotel de charme de 4 estrelas, com 60 quartos, só se entende nesta terra e neste país, onde eleitos e técnicos superiores se consideram, à imagem de Ricardo Salgado, DDT = Donos Disto Tudo. Depois, exigir milhão e meio de euros à cabeça, é do domínio da alta fantasia. A menos que estejam dispostos a trocar o hotel de charme por um casino, ou mesmo por um lupanar de luxo. Em terceiro lugar, a Câmara de Tomar tem uma fama desgraçada nos meandros da indústria da construção civil, e os investidores não são asnos.

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Com as servidões evidentes  (Arco de Santa Iria, Capela de Santa Iria, Pego de Santa Iria, Rio Nabão, Cérceas, etc.), e outras que os gulosos do costume logo encontrarão, parece-me óbvio que, mesmo cedido gratuitamente, ninguém arriscará um euro na recuperação de tudo aquilo. Porque será um poço sem fundo. Com cada interveniente técnico a apresentar uma dificuldade de monta, que só pode ser ultrapassada indo ao gabinete tal... e assim sucessivamente.
Assim sendo, conforme já escrevi anteriormente, a única hipótese com algumas possibilidades de sucesso será a Câmara mandar executar o projecto, aprová-lo e só depois abrir concurso para a cedência do conjunto. Claro que isto vai contra os interesses dos industriais de dificuldades por cima da mesa e facilidades por baixo. Os que os levará decerto a dizer que esta sugestão não tem pés nem cabeça. Compreende-se. A vida está cada vez mais difícil para todos.
Resta que os mandatos se sucedem, os autarcas passam, mas os problemas agravam-se. Convento de Santa Iria, Convento de S. Francisco, Complexo da Levada, Estrada do Convento, Plano local de Turismo, Parque de campismo, e por aí adiante, continuam à espera de melhores dias. De autarcas capazes.
Vamos ter paciência e aguardar a resposta dos eleitores, em Outubro próximo. As perspectivas não são nada boas. Eventos, bebidas e pernas de frango nunca resolveram problemas graves. Para isso há que ter planos e coragem para os mandar executar.

Presidenciais francesas

Vitória da política corajosa e desempoeirada

Tal como escrevi aqui há 8 dias, segundo as estimativas, Emmanuel Macron venceu a primeira volta das presidenciais francesas, com 23,9% dos votos expressos, batendo a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, que conseguiu, 21,7%.
Apesar da tão apregoada subida do candidato apoiado pelos comunistas franceses, Mélenchon ficou-se pelo quarto lugar com 19,2%, menos que os 20% do direitista Fillon, vencido pelo escândalo dos empregos fictícios Quanto ao sonhador candidato oficial do Partido socialista, Hamon, que prometia o rendimento universal, teve 6,7%, o pior resultado dos últimos 30 anos. Ferido  e envergonhado, já apelou ao voto em Macron na segunda volta, a 7 de Maio, tal como fez indirectamente o representante de Fillon, ao pedir aos seus eleitores que não votem Le Pen na segunda volta.
Tudo aponta portanto para um apoio total dos democratas ao vencedor Macron na segunda volta, que assim poderá conseguir um resultado superior a 60%. A única dúvida será Mélenchon, dado haver uma certa coincidência com algumas propostas de Le Pen, bem como a tradicional embirração dos comunistas em relação aos centristas liberais, como Macron.
Esta vitória de Macron é particularmente importante, pois representa uma ruptura corajosa. Ele já foi banqueiro a ganhar milhões e aceitou, primeiro ser conselheiro do actual presidente Hollande, depois ministro da economia. Não tendo conseguido mudar as coisas por dentro, ousou sair para apresentar aos franceses a suas próprias propostas. Agora que venceu a primeira volta, é oportuno lembrar aqui as principais, sobretudo quando há tanta gente deslumbrada com a geringonça e tantos tomarenses a tentar travar a inevitável mudança.
Emmanuel Macron prometeu durante a campanha eleitoral 1 - Reduzir o número de funcionários; 2 - Simplificar a floresta burocrática; 3 - Liberalizar o mercado de trabalho; 4 - Reduzir a carga fiscal dos cidadãos e das empresas; 5 - Avançar na União Europeia 6 - Criar todas as condições para que todos possam gerar riqueza; 7 - Reduzir o peso do Estado e das administrações regionais e locais.
Ter ideias e ter coragem para as defender compensa! Finalmente. Mas Paris ainda é tão longe de Lisboa, e sobretudo de Tomar...

Adenda em 24/04/2017

Como simples curiosidade, a seguir se comparam os resultados das presidenciais francesas 2017 e das autárquicas 2013 no concelho de Tomar:

                                                                  % de abstenção          % de votos brancos + nulos

Em França 2017 - Presidenciais                     21,77%                              2,01%
Em Tomar 2013 - Autárquicas                       46,70%                              8,92%
Em Tomar 2016 - Presidenciais                     48,36%                              2,64%

Andamos de cavalo para burro

Noticiou a Tomar TV que a Câmara de Tomar celebrou mais um ajuste directo. Desta vez foram mais 74 mil euros (cerca de 2 euros por eleitor inscrito) para a empresa Conteúdos Mágicos -Gestão e produção de eventos culturais Lda, de Santa Maria da Feira, que vai organizar a próxima edição da Festa Templária, que terá lugar de 6 a 9 de Julho. O contrato com a mesma empresa, para a realização da mesma festa, em Outubro passado, foi de 42 mil euros. Parece portanto que a festa deste ano vai ser bem maior, o que não admira pois estamos em ano eleitoral.
De qualquer maneira, caímos assim numa situação deveras curiosa. Apesar do obsoleto controleirismo camarário, de que é exemplo aquela espécie de eleição popular do mordomo, que antes de ser votado já foi escolhido, os tomarenses conseguem organizar, sem auxílio técnico externo, a Festa dos Tabuleiros, que é muito mais complexa, pois movimenta muito mais gente e custa muito mais dinheiro. (A Festa dos Tabuleiros de 2015 custou à autarquia quase 300 mil euros). Não conseguem todavia fazer outro tanto, em mais simples e numa área em que devíamos ser exímios, pois somos a Capital templária do país.
Quer isto dizer que, de quatro em quatro anos, sem entradas pagas, fazemos a nossa querida Festa Grande de cabeça, sem sequer pensar um pouco no que estamos a fazer, como estamos a fazer, porquê e para quê. Ou seja, não aprendemos nada. Limitamo-nos a repetir, mesmo aquilo que já não é adequado. Inversamente, Santa Maria da Feira tem anualmente uma Festa Medieval, organizada por entidades locais, privadas e independentes da autarquia, na qual as entradas são pagas. É uma dessas entidades privadas que agora vem arrecadar mais 74 mil euros a Tomar.
Perante isto, é inútil alinhar argumentos, que apenas conseguem irritar ainda mais os poucos tomarenses com pachorra para lerem estas coisas. Limito-me portanto a alinhar factos, neste caso resultados incontroversos. Em 2005, Santa Maria da Feira tinha 112.197 eleitores inscritos, que aumentaram para 125.741 em 2013. Um aumento de 13.544 eleitores em 8 anos. Durante esse mesmo período de tempo, Tomar passou de 38.524 para 37.310 eleitores inscritos. Menos 1.214 eleitores em oito anos.
Indo mais longe, verifica-se que a autarquia de Santa Maria da Feira é dirigida pelo PSD desde 1976, sempre com maioria absoluta, excepto no primeiro mandato, em que se coligou com o CDS. Entre 1976 e 2016, o melhor é mostrar este resumo comparativo:

Eleitores inscritos nos cadernos eleitorais       1976              2013            2016

Santa Maria da Feira                                        60.465         125.741       126.285
Tomar                                                                 32.438           37.310         36.266

Fonte: Resultados eleitorais CNE e MAI
 Assim, a andarmos de cavalo para burro, de repetição em repetição, de entrada gratuita em entrada gratuita, de ajuste directo em ajuste directo e de asneiras em asneira, vamos longe, sem sombra de dúvida. Os números aí estão par o provar. E tudo parece indicar que o pior ainda está para vir. Se entretanto nada for feito, bem entendido.

sábado, 22 de abril de 2017

Em que se está a transformar Tomar?

Que gente somos afinal?

Numa terra pequena que vai continuando a mirrar, há quem tenha orgulho por termos três semanários e duas rádios locais. Estão no seu direito, bem entendido, mas cada vez estou mais convencido que é importante perguntar: Com todos esses meios, estaremos a ser bem informados e bem formados? Infelizmente a resposta é não. creio eu. Já não bastavam as longas notícias sobre desporto, relatando por exemplo jogos de futebol de quinta categoria, por vezes com um cabeçalho genérico assaz pretensioso, tipo "O pulsar do campeonato", para referir a 1ª divisão distrital de Santarém. Surgem também, de quando em vez, "notícias" que manifestamente são autênticas minhoquices, tipo inauguração do estabelecimento X, a festa H ou o caso do carro parcialmente coberto com papelinhos. 
Os editores das ditas publicações lá terão as suas razões. A mim, o que me parece é que procuram "encher chouriços". Ocupar espaço com ninharias, como forma de evitar abordar assuntos controversos, para não desagradar nem a Deus nem ao Diabo.
Um inédito e reles incidente recente veio tornar a situação ainda mais estranha, mais caricata e mais preocupante. Na passada terça-feira, dia 18, o jornalista José Gaio, no exercício da sua profissão, foi ultrajado e agredido por um outro cidadão, com quem tinha combinado encontrar-se num dos cafés da cidade, para conversarem. Houve várias testemunhas e praticamente todos conhecem a causa da agressão verbal e física. O referido cidadão, o grafiteiro Violant, que foi contratado pela Comunidade Intermunicpal do Médio Tejo para pintar uns grafitos em Tomar, graças a fundos europeus, não gostou de notícias sobre o seu trabalho, difundidas pelo referido jornalista no blogue Tomar na rede, pelo que decidiu vingar-se.

Foto de Joaquim Cotovio, copiada de Tomar na rede.

Posteriormente, numa atitude que me abstenho de qualificar, o agressor negou os factos em declarações à Tomar TV, tendo até ousado perguntar "Quem é o José Gaio?" Jovens, os jornalistas que tal ouviram, não tiveram sangue-frio suficiente para lhe responder -é o jornalista que você agrediu injustamente perante várias pessoas. Mas o meu ponto não é agora esse. O meu ponto é que, na cada vez mais desgraçada terra nabantina, passados quatro dias sobre a dita agressão inaceitável, só O Templário, que é dirigido pela mãe das filhas de José Gaio, a Tomar TV, cujos jornalistas foram por ela formados no início e Tomar a dianteira 3, cujo administrador nunca foi nem é jornalista, abordaram a inqualificável atitude de Violant. Os outros órgãos informativos locais não sabem de nada? Acham que não tem importância? Estão acagaçados com medo de eventuais represálias? Não têm liberdade editorial para publicar?
Mal vai uma terra, muito mal mesmo, quando os jornalistas de serviço já não têm liberdade editorial e/ou coragem, nem sequer para defender um colega, injustamente agredido em público, em plena cidade e perante várias testemunhas.
Que terra é Tomar? Que gente somos afinal? Ainda sabemos ser cidadãos?  Em que nos estamos a transformar? Que exemplos estamos a dar à nossa descendência?

anfrarebelo@gmail.com

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Solidário com José Gaio

Manifesto a minha solidariedade para com o jornalista José Gaio, antigo director d'O Templário e actual administrador do blogue Tomar na rede. Segundo fontes convergentes, José Gaio foi, na passada terça-feira, publicamente insultado, ultrajado e agredido com uma chávena de café quente, no Café Santa Iria, pelo cidadão João Maurício, um artista grafiteiro que assina Violant, e que não conheço.
Trata-se de um incidente lamentável e inaceitável numa sociedade aberta e tolerante, pois configura um caso de agressão motivada por discordância em relação ao trabalho de um jornalista. Na circunstância, o administrador de Tomar na rede, que tenho o prazer de conhecer há muitos anos, pelo que posso atestar a sua honestidade e respeito pela ética profissional. Nestas condições, combinar com ele um encontro de café para aí o vilipendiar e agredir, só porque não se concorda com o que escreveu e/ou difundiu, mais não é que uma atitude cavernícula que só posso condenar com veemência. Por bem menos, João Soares foi demitido de ministro da Cultura.

Foto Tomar na rede, com agradecimentos.
A situação torna-se ainda mais grave, porque o citado artista grafiteiro foi, ao que consta, contratado pela Associação de Municípios do Médio Tejo e já executou dois grafitos em Tomar, ambos bastante criticados, como de resto é normal em qualquer sociedade livre. Temos portanto um cidadão, estipendiado por uma entidade sustentada com o dinheiro dos contribuintes para executar determinada tarefa, que resolveu agredir um jornalista, por causa de textos discordantes por este difundidos.
Num primeiro tempo, ainda pensei que a muito desconfortável situação pudesse ser ultrapassada mediante um pedido público de desculpas, seguido de manifestação de arrependimento e promessa de não reincidir. Mudei de opinião após ter lido no Tomar TV que o Violant autor da violência afinal nem sequer assume o seu acto deplorável. Segundo a fonte antes citada "João Maurício garantiu que as informações não são verdadeiras. O artista chegou mesmo a questionar "Quem é José Gaio?" e acabou por desabafar: "É engraçado como procuram mediocrizar o meu trabalho."
Perante tão evidente falta de carácter, para não dizer mais, é meu entendimento que só resta uma saída para as entidades oficiais envolvidas no assunto -a Câmara de Tomar e a Associação de Municípios do Médio Tejo: Publicar um comunicado repudiando o sucedido e solidarizando-se com o jornalista ofendido, denunciar o contrato com o artista, caso exista, e mandar cobrir os dois grafitos já executados com tinta cinzenta. Não como retaliação, mas apenas porque doravante quem olhar para essas obras e estiver ao corrente da actualidade local, vai pensar que foram pintadas por um artista pago com dinheiros públicos, que agride quem dele discorda e depois nem sequer tem cara para assumir a asneira que fez. Cidadãos assim não são mesmo nada recomendáveis. 
Digo eu, que sou um Velho de Tomar.

Estamos ou não a ser explorados?

Completando o texto anterior, para que não restem dúvidas, aqui vai um comparativo, elaborado a partir do mapa interactivo da DECO, que pode consultar aqui.  Em cada coluna, os dados antes da barra indicam  o custo da água. Os seguintes o total água + taxas. Os elementos referentes a Abrantes não constam da fonte citada. Eliminaram-se em todos os casos os cêntimos.

CUSTOS ANUAIS                   10m3/mês               15m3/mês
Concelhos
Constância-------------------------91/217----------------191/361
Coimbra--------------------------128/240----------------177/330
Entroncamento------------------124/240----------------182/342
Lisboa----------------------------114/252----------------155/342
Ourém----------------------------165/264----------------226/341
Porto------------------------------139/258---------------200/368
Tomar----------------------------161/312---------------226/428
Torres Novas--------------------109/244---------------159/341

Agora basta juntar a estas tarifas exorbitantes:
1 - Uma burocracia de outro tempo;
2 - Um atendimento não poucas vezes fúnebre;
3 - O empecilho chamado PDM;
4 - O custo dos vários alvarás;
5 - As elevadas taxas cobradas pela ocupação da via pública;
6 - A arrogância dos quadros superiores;
7 - Autarcas surdos e cegos;
8 - Falta de planos consistentes;

 Percebe-se assim sem dificuldade porque é que a população tomarense está a diminuir. E porque é que, após mais de 8 séculos, deixou de haver partos em Tomar.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Olha a novidade!

Já não chegam os dedos de uma mão para contar as vezes que aqui tenho denunciado os preços vergonhosos que os senhores autarcas obrigam os tomarenses a pagar pela água da torneira, fornecida por esse poço sem fundo que dá pelo nome de SMAS, como pode confirmar aqui em 2008, aqui em 2010, aqui novamente em 2010aqui em 2013ou aqui em 2016. Sempre a pregar no deserto. Finalmente, uma entidade de âmbito nacional lá se resolveu a abordar tão escandalosa situação. Segundo a Rádio Hertz, a DECO apurou que quem consome água da rede em Tomar, paga mais do dobro de outros concelhos limítrofes, designadamente Ourém. Ou seja, mais de 321 euros anuais por 120 metros cúbicos em Tomar; menos de 160 euros pelos mesmos 120 metros cúbicos nos outros concelhos. É ou não é um escândalo e dos grandes? Têm ou não têm razão aqueles habitantes tomarenses que resolvem dar corda aos sapatos, para não serem tão explorados?
A notícia não menciona o facto, mas pelo menos em Ourém e Leiria a água é fornecida aos cidadãos por empresas concessionárias privadas e não pelas autarquias respectivas. O que permite perceber melhor a reacção do vereador Bruno Graça, que tem o pelouro dos SMAS. Segundo disse, "Não faz sentido que a EPAL forneça água em Lisboa a 0,26 cêntimos/metro cúbico e  a 0,54 cêntimos/metro cúbico à Câmara de Tomar." É capaz de ter razão, o vereador da CDU. Ainda que a EPAL possa alegar que uma coisa é fornecer mais de 800 mil consumidores na zona de Lisboa, e outra bem diferente fornecer menos de 50 mil na zona de Tomar. Porque num caso os custos são diluídos por mais de 800 mil e no outro por menos de 50 mil.

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80 anos a explorar os consumidores tomarenses

Mas o ponto importante parece-me ser outro. Mesmo considerando que Bruno Graça esteja cheio de razão, a verdade é que 120 metros cúbicos anuais a 0,54 cêntimos deviam custar 64 euros e 80 a cada consumidor. Como  de facto este paga 321 euros, os SMAS embolsam a modesta soma de 156 euros e vinte cêntimos, 2 euros  e 13 cêntimos/metro cúbico. Ou seja, uma taxa bruta de comercialização superior a 50%. Que inclui as taxas municipais, dirão os defensores do stato quo. Pois incluem, sim senhor. E nos outros concelhos, não incluem? Então porque pagam em Ourém menos de 160 euros/ano e em Tomar mais de 320 euros/ano? Quem está a esmifrar os consumidores indefesos?
Nos outros pontos focados na notícia, Bruno Graça tem razão. Não é normal que os SMAS deixem de facturar 400 mil euros anuais de água, como tão pouco é aceitável que paguem 300 mil euros anuais para tratar água da chuva na ETAR. 
Agora só falta ao vereador coligado com o PS concluir aquilo que é cada vez mais evidente. Que os SMAS são uma estrutura obsoleta, demasiado pesada, pouco adequada e sem capacidade de investimento, com parte da rede de esgotos ainda da idade média e parte da rede de água de 1937. Tudo a necessitar de actualização urgente.
Perante tudo isto, só antevejo uma solução capaz: Concessionar todos os serviços dos SMAS a empresas públicas, mistas ou privadas, desde que aceitem integrar os actuais funcionários, e proceder à sua extinção, com a qual todos ganharemos. Conforme já foi feito nomeadamente em Ourém e Leiria. Que galopam rumo ao futuro, enquanto Tomar vai vegetando. 
Mas bem sei que o que acabo de sugerir é uma enorme heresia, aos olhos de todos aqueles que se recusam a aceitar que "o Mundo pula e avança, como bola colorida entre as mãos de uma criança". Ou que "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, todo o Mundo é feito de mudança, tomando sempre novas qualidades."

Nota de rodapé

Talvez esta notícia d'O Mirante possa ajudar a perceber a ganância dos SMAS e da Câmara de Tomar. Mas por enquanto, na margens nabantinas o silêncio é de oiro. Neste como noutros temas, que temos eleições à porta.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

A sonhar com museus

PENICHE

Governo exclui hotel e avança para museu na Fortaleza de Peniche

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"O ministro da Cultura disse concordar com a criação de um museu da resistência à ditadura na Fortaleza de Peniche e excluiu a hipótese de ser aí criado um hotel.
A avaliação do estado de degradação do monumento aponta para obras de requalificação orçadas em 3,2 milhões de euros, de acordo com o relatório da inspeção efetuada pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto a pedido da DGPC, a que a Lusa teve acesso. Num relatório idêntico, a Câmara Municipal estima em 5,5 milhões de euros as intervenções consideradas urgentes."


Resultado de imagem para fotos da fortaleza de peniche

Estes dois excertos do Obervador, cuja notícia completa pode ler clicando aqui, são um exemplo da tendência que se vai ampliando por esse país fora. Todos os autarcas querem cada qual o seu museu. Esta notícia revela indirectamente uma das razões de tão generalizada atracção. Enquanto os técnicos de engenharia da Universidade do Porto indicam no seu relatório obras de requalificação do Forte de Peniche de 3,2 milhões de euros, os técnicos da câmara CDU escreveram noutro relatório praticamente idêntico que são necessários 5,5 milhões de euros só para "intervenções consideradas urgentes", refere a notícia. Ou seja, quase o dobro pelas mesmas obras de requalificação.
Além desta vertente tipo "maná do deserto", há outra vantagem bem mais importante para os autarcas, porque praticamente permanente: A instalação de um museu supõe a contratação de pessoal técnico, pessoal administrativo, pessoal de acolhimento, pessoal de segurança e pessoal de manutenção. Dezenas de novos funcionários públicos, que não por mero acaso são em geral os únicos a filiar-se na CGTP e a votar no PCP.
Não se trata de uma opinião pessoal. É apenas a constatação de um facto, objectivamente evidente por esse país fora.


Para poupar trabalho...

Depois de escrever o texto acima, tencionava alargar o tema, dado que, num curto espaço de tempo, o candidato do BE apoiou a fundação do Museu dos Tabuleiros e o candidato da CDU disse que "o Convento de S. Francisco deverá vir a albergar um conjunto museológico...". Ainda cheguei até a elaborar uma lista dos museus tomarenses já existentes ou anunciados:
1 - Núcleo de arte contemporânea, aberto das 11 às 18 horas
2 - Museu dos fósforos, aberto das 10 às 17 horas.
3 - Museu Luso-Hebraico (Sinagoga), aberto das 10 às 13 e das 15 às 19 horas.
4 - Museu lapidar da UAMOC, no Convento de Cristo, inacessível por falta de pessoal
5 - Museu do Brinquedo, no Convento de S. Francisco, em organização há vários anos.
6 - Museus da Levada, prometidos há vários anos, sem condições técnicas para abrir.
7 - Museu dos Tabuleiros, ansiado há vários anos.
8 - Museu João de Castilho, Edifício do Turismo, situação indefinida.

Chamo a atenção para a disparidade de horários, um inconveniente de todo o tamanho quando se é simples visitante. Para poupar trabalho, resta-me aconselhar vivamente a leitura atenta desta crónica de 2009 e desta outra de 2012. Infelizmente, desde então nada de substancial se alterou em Tomar. Só os autarcas é que foram mudando, mas as ideias continuem a ser as mesmas. Penso que é pena, mas é assim.