Já não chegam os dedos de uma mão para contar as vezes que aqui tenho denunciado os preços vergonhosos que os senhores autarcas obrigam os tomarenses a pagar pela água da torneira, fornecida por esse poço sem fundo que dá pelo nome de SMAS, como pode confirmar aqui em 2008, aqui em 2010, aqui novamente em 2010, aqui em 2013, ou aqui em 2016. Sempre a pregar no deserto. Finalmente, uma entidade de âmbito nacional lá se resolveu a abordar tão escandalosa situação. Segundo a Rádio Hertz, a DECO apurou que quem consome água da rede em Tomar, paga mais do dobro de outros concelhos limítrofes, designadamente Ourém. Ou seja, mais de 321 euros anuais por 120 metros cúbicos em Tomar; menos de 160 euros pelos mesmos 120 metros cúbicos nos outros concelhos. É ou não é um escândalo e dos grandes? Têm ou não têm razão aqueles habitantes tomarenses que resolvem dar corda aos sapatos, para não serem tão explorados?
A notícia não menciona o facto, mas pelo menos em Ourém e Leiria a água é fornecida aos cidadãos por empresas concessionárias privadas e não pelas autarquias respectivas. O que permite perceber melhor a reacção do vereador Bruno Graça, que tem o pelouro dos SMAS. Segundo disse, "Não faz sentido que a EPAL forneça água em Lisboa a 0,26 cêntimos/metro cúbico e a 0,54 cêntimos/metro cúbico à Câmara de Tomar." É capaz de ter razão, o vereador da CDU. Ainda que a EPAL possa alegar que uma coisa é fornecer mais de 800 mil consumidores na zona de Lisboa, e outra bem diferente fornecer menos de 50 mil na zona de Tomar. Porque num caso os custos são diluídos por mais de 800 mil e no outro por menos de 50 mil.
80 anos a explorar os consumidores tomarenses
Mas o ponto importante parece-me ser outro. Mesmo considerando que Bruno Graça esteja cheio de razão, a verdade é que 120 metros cúbicos anuais a 0,54 cêntimos deviam custar 64 euros e 80 a cada consumidor. Como de facto este paga 321 euros, os SMAS embolsam a modesta soma de 156 euros e vinte cêntimos, 2 euros e 13 cêntimos/metro cúbico. Ou seja, uma taxa bruta de comercialização superior a 50%. Que inclui as taxas municipais, dirão os defensores do stato quo. Pois incluem, sim senhor. E nos outros concelhos, não incluem? Então porque pagam em Ourém menos de 160 euros/ano e em Tomar mais de 320 euros/ano? Quem está a esmifrar os consumidores indefesos?
Nos outros pontos focados na notícia, Bruno Graça tem razão. Não é normal que os SMAS deixem de facturar 400 mil euros anuais de água, como tão pouco é aceitável que paguem 300 mil euros anuais para tratar água da chuva na ETAR.
Agora só falta ao vereador coligado com o PS concluir aquilo que é cada vez mais evidente. Que os SMAS são uma estrutura obsoleta, demasiado pesada, pouco adequada e sem capacidade de investimento, com parte da rede de esgotos ainda da idade média e parte da rede de água de 1937. Tudo a necessitar de actualização urgente.
Perante tudo isto, só antevejo uma solução capaz: Concessionar todos os serviços dos SMAS a empresas públicas, mistas ou privadas, desde que aceitem integrar os actuais funcionários, e proceder à sua extinção, com a qual todos ganharemos. Conforme já foi feito nomeadamente em Ourém e Leiria. Que galopam rumo ao futuro, enquanto Tomar vai vegetando.
Mas bem sei que o que acabo de sugerir é uma enorme heresia, aos olhos de todos aqueles que se recusam a aceitar que "o Mundo pula e avança, como bola colorida entre as mãos de uma criança". Ou que "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, todo o Mundo é feito de mudança, tomando sempre novas qualidades."
Nota de rodapé
Talvez esta notícia d'O Mirante possa ajudar a perceber a ganância dos SMAS e da Câmara de Tomar. Mas por enquanto, na margens nabantinas o silêncio é de oiro. Neste como noutros temas, que temos eleições à porta.
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