Os leitores que se interessam pelas questões da cultura, dos monumentos e do turismo, não ignoram decerto a infeliz situação reinante no Convento de Cristo. Uma entrada miserável, onde não cabem cadeiras de rodas, nem carrinhos de bébé, nem obesos; horários pouco adequados; visitas guiadas só requeridas com antecedência e encerramento no Domingo de Páscoa, no 1º de Maio e no 1º de Janeiro, justamente aqueles feriados que muitos trabalhadores aproveitam para visitar o tal Portugal desconhecido. A acrescentar a tudo isto, o facto de o monumento ser dirigido por uma chefe de divisão, funcionária do IGESPAR, sediado no Palácio da Ajuda, em Lisboa, a 140 quilómetros, quando a Câmara está a 140 metros, em linha recta. Deve ser mais conveniente, para haver menos reclamações. Mas pronto, como dizia o saudoso Prof. José Hermano Saraiva, são outras maneiras de ver.
Bons tempos...
...em que se entrava por aqui.
Agora, a única via para entrar é esta...
...e a entrada é por aqui. Magnífico, não é? Fica-se logo com a ideia de entrar pela porta dos criados.
Neste contexto, uma federação sindical, cuja filiação os órgãos de informação não indicam, mas que suponho ser da CGTP, decretou uma greve nacional para sexta-feira santa e sábado de Páscoa. Segundo os mesmos órgãos informativos, a adesão terá sido de 70% no primeiro dia e de 80% no segundo. Dez monumentos fecharam. O Convento de Cristo manteve-se em funcionamento. Um responsável da federação sindical disse à Agência Lusa que "os monumentos abertos estavam a recorrer à substituição de trabalhadores, alguns dos quais por trabalhadores de empresas de segurança."
Segundo a mesma fonte, "A justificar esta greve está a falta de pessoal nos museus. "O governo não tem dado resposta às necessidades dos trabalhadores, que se arrastam há anos", disse Artur Sequeira, sublinhando que o ministro da Cultura se tinha comprometido a integrar 108 trabalhadores dos museus, o que acabou por não acontecer."
E o despacho da Lusa prossegue: "Artur Sequeira disse ainda que os museus contam também com trabalhadores a recibos verdes e dos centros de emprego, sem os quais os museus não tinham pessoal suficiente para estarem abertos. O sector da Cultura "tem uma falta de pessoal crónica, por várias razões: aposentação de funcionários, saídas por mútuo acordo e fecho das admissões na administração pública."
"Outra das questões alvo de contestação dos sindicatos diz respeito ao projecto do governo, em apreciação no parlamento, de municipalização das competências destes espaços culturais: "É o Ministério da Cultura que deve gerir estes serviços, para garantir um serviço público de qualidade."
Em que ficamos afinal? Há aqui a modos que uma intromissão e uma contradição evidente. Uma intromissão, porquanto não cabe às federações sindicais fazer as leis do país. Uma contradição evidente, dado que, se nas condições actuais, em que tudo depende do governo, via Ministério da Cultura e suas dependências, há falta de pessoal, trabalhadores precários, gente destacada dos centros de emprego, e mesmo empregados de empresas de segurança, tudo forçosamente trabalhadores sem a adequada formação profissional. E se tal situação se arrasta desde há anos, segundo afirma o próprio responsável sindical, a questão é simples: Porque é que o Ministério da Cultura deve continuar a gerir tais serviços? Para "garantir um serviço público de qualidade", nas palavras do sindicalista? Como e quando?
Sem querer meter a foice em seara alheia, algo me diz que há dirigentes sindicais completamente desligados da realidade actual. Que é esta: Aos utilizadores em geral, seja qual for o sector, apenas lhes interessam duas coisas -o preço e a qualidade do produto ou do serviço fornecido. Estão-se borrifando para quem o fornece, seja público misto ou privado. Já assim acontece na saúde, na água, na luz, nas portagens, nos transportes, no ensino superior...
Só algumas luminárias sindicais e partidárias é que ainda ousam insistir em modelos do século passado, que já deram ou estão a dar o berro por esse Mundo fora.
E a cadela República cada vez pode menos com tanto cão.
E a cadela República cada vez pode menos com tanto cão.
Sem comentários:
Enviar um comentário