sexta-feira, 14 de abril de 2017

Viver num mundo de fantasia

A Câmara e a Festa dos Tabuleiros

A senhora presidente da Câmara, acompanhada pelo mordomo da Festa dos Tabuleiros, João Victal, concedeu uma pequena entrevista ao Cidade de Tomar, que me parece ter sido sido feita a pedido. Digo isto porque visivelmente se tratou sobretudo de responder ao que aqui escrevi. Sem nunca referir esse facto, como é habitual. É claro que Anabela Freitas tem todo o direito e até a obrigação, como cidadã e enquanto presidente da Câmara, de expôr as suas ideias e responder às críticas.
A presente prosa serve apenas para esclarecer os mais distraídos e para mostrar que as suas respostas não me convenceram. Mas a última palavra, como sempre, caberá aos leitores. Mesmo aos que não falem inglês. Porque esta prosa é tão reles que -vejam bem!- ainda está em português, quando já Fernando Pessoa disse, há quase um  século, "Eu traduzo para estrangeiro, para V. Exas. perceberem melhor." Mas Pessoa era anglófono, estrangeirado portanto. Educado na África do Sul. E a sua afirmação foi obviamente irónica, pois é bem sabido que escreveu alhures "A minha pátria é a língua portuguesa." Outros tempos. Avancemos!
Questionada sobre a eventualidade de um dia a Câmara não ter recursos para financiar a Festa Grande, a senhora presidente foi categórica. Isso nunca vai acontecer, disse ela. Menos seguro, porque excelente conhecedor do passado, nomeadamente do caso daqueles subsídios camarários que nunca mais chegavam, forçando a sucessivos atrasos na apresentação das contas, João Victal lá foi dizendo que já há outras fontes de financiamento, sob a forma de patrocínios.

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Outra vertente do mesmo tema foi a inscrição da Festa na lista do Património imaterial da UNESCO. A nova mania nabantina. Descobriram agora que para isso acontecer, os tabuleiros têm antes de ser considerados património nacional. Ao que parece,  há um grupo a tratar do assunto, prevendo a senhora presidente um custo de 35 mil euros por ano. Não disse quantos anos vai demorar. Temos assim uma festa que poderia ser um manancial para os tomarenses, mas que, inversamente, cada vez se parece mais com um poço sem fundo. Exagero meu?
Nem tanto. Na referida entrevista, porque "temos de fazer viver a festa entre uma edição e outra", Anabela Freitas falou de nomear uma comissão permanente e, uma vez mais, do badalado museu. cuja instalação, na sua opinião, não será demasiado onerosa: 300 mil euros. Realmente uma ninharia, num concelho abastado como nosso. São só MAIS 8 euros e 32 cêntimos por eleitor inscrito. E como metade dos eleitores não pagam IRS, serão MAIS 16 euros e 64 por cabeça, só para instalar o dito. Logo a seguir teremos MAIS as subsequentes despesas de funcionamento, com pessoal e consumíveis...e naturalmente as despesas da tal comissão permanente.
Tenho para mim que a senhora presidente, tomarense a tal ponto que, conforme disse, até fica com as lágrimas nos olhos na altura da bênção dos tabuleiros, devia meditar nessa circunstância e nesta sua declaração:
"Esta questão traz um problema económico, porque a festa é vista como um recurso turístico e não como um produto turístico, devido à realização ser de 4 em 4 anos." Por conseguinte, a senhora presidente não ignora que o concelho tem perdido, e vai continuar a perder muito dinheiro, designadamente do Turismo de Portugal, devido ao facto de a festa não ser um produto turístico, mas apenas uma matéria-prima. À espera de quem a saiba transformar, naturalmente respeitando-a na sua essência. De quem é a culpa? Dos tomarenses? Ou de quem pretende que nada mude, para poder continuar a controlar? O que obsta afinal a que a nossa festa possa vir a realizar-se anualmente?
Vem a propósito lembrar, uma vez mais, as palavras de Abraham Lincoln, aqui traduzidas do inglês USA: "É possível enganar uma pessoa durante toda a vida. É possível enganar toda a gente durante algum tempo. Mas é impossível enganar toda a gente durante muito tempo."


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