sábado, 29 de abril de 2017

Partindo da comparação

Partir da comparação entre os resultados já conhecidos das presidenciais francesas  e as autárquicas de 2013 em Tomar, pareceu-me um caminho útil para perceber certas aspectos:

        França                               % de abstenção     % de brancos e nulos

Presidenciais 2012.......................19,65%...........................5,82%
Presidenciais 2017-1ª volta.........22,23%...........................2.55%

Tomar

Autárquicas 2013........................46,70%...........................8,92%

Porquê tamanha discrepância? Porquê mais do dobro de abstenções e de votos brancos ou nulos? Numa terra tão pequena, com menos de 40 mil eleitores, onde praticamente toda a gente conhece toda a gente, devia ter acontecido o contrário, uma vez que nenhum eleitor inscrito pode alegar que não sabia ao que ia. E no entanto foi isso exactamente que aconteceu. Quase metade do eleitorado achou que nem valia a pena ir votar, e 9 em cada 100 eleitores votaram, recusaram-se a escolher.
No meu entender, tal fosso resulta de duas situações bem diferentes, que passo a tentar explicar. Nesta primeira volta das presidenciais francesas, apesar de haver 11 candidatos, os eleitores franceses cedo tiveram uma visão global das propostas de cada um, graças aos órgãos de informação e sobretudo aos serviços de difusão das próprias candidaturas. Daqui resultou o seguinte panorama: 1 - A actual situação não pode continuar por muito mais tempo, sendo indispensáveis reformas profundas, como indica o facto de o presidente em funções ter recusado recandidatar-se; 2 - De acordo com as respectivas propostas programáticas, as 11 candidaturas podem integrar-se em quatro grupos bem distintos -Grupo Extrema-esquerda, com Mélenchon, Hamon, Poutou e Arthaud; Grupo centro, com Macron e Cheminade; Grupo direita, com Fillon e Dupont-Aignan; Grupo extrema-direita, com Le Pen.
De um lado ao outro do tabuleiro, todos os candidatos proclamaram que pretendem mudar o sistema no seu funcionamento actual. Contra a opinião de um vasto leque, foi o candidato moderado e praticamente um outsider que venceu a primeira volta. Vitória essa que já permitiu uma clarificação assaz importante. Revelou que a extrema-esquerda comunista e ecologista tem afinal um programa com muitos pontos comuns com a FN de Le Pen. E não será por mero acaso que Mélenchon se recusa a apelar ao voto ao Macron, embora deixe perceber que será essa a sua opção.
Enquanto isto, com estamos em Tomar? (Ia a escrever como vamos, mas depois lembrei-me que na minha amada terra enquanto prevalecer o imobilismo do costume, não vamos para lado nenhum.) Apesar de haver já 5 candidatos assumidos, ainda nenhum disse que a situação reinante tem de mudar e muito menos apresentou linhas programáticas convincentes nesse sentido. Há, é certo, a excepção Bruno Graça, candidato da CDU, mas quando um candidato patrocinado pelos comunistas, que não são propriamente apoiantes da iniciativa privada, apela ao investimento local, muito mal vão as coisas nessa terra.
E chegamos assim ao âmago da questão. Salvo profunda mudança futura, em Outubro vamos ter mais do mesmo. Candidaturas que acham que está tudo muito bem, fora um ou outro detalhe, pelo que mudanças profundas nem pensar. Candidatos a dizerem e prometerem todos praticamente o mesmo: manter o que está, melhorando umas coisitas. A tradução política local da velha consigna "Tudo ao molho e fé em Deus".
Por isso, aqui escrevo desde já, para memória futura: Fiem-se em milagres e não apresentem programas claros, robustos e eficazes,  e vão ver o trambolhão que apanham. É certo que o calado foi a Lisboa e veio sem pagar, mas isso foi no tempo dos comboios a vapor e dos revisores complacentes. Quando o bacalhau era a pataco e ainda vinha de Aveiro, não da Noruega.

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