Sabe-se que não sou optimista. Sabe-se também que sou duro na crítica. Pois desta vez vou ser posítivo. Vou louvar. Gostei da entrevista com Luís Santos, no Cidade de Tomar de hoje, assinada por Elsa Lourenço. Obrigado Elsa. Para mim essa entrevista é como uma luzinha ao fundo do túnel, que os tomarenses atravessam há longos anos. E do qual, quanto a mim, só vamos sair se tivermos a coragem de mudar para melhor.
Mudança essa que implica, inevitavelmente, que os eleitos que temos tido reconheçam finalmente as asneiras que têm feito. Sem isso nada é possível, julgo eu. A primeira e principal dessa asneiras é que todos até agora aceitaram sentar-se nas cadeiras do poder sem programa sufragado e portanto sem planos. Os resultados estão à vista. Mais tarde ou mais cedo, cansados de despachar os assuntos correntes, todos chegaram ao ponto em que já não sabiam bem para que lado se virar, visto nunca terem estabelecido prioridades, devido à tal ausência de planos.
Se interrogados, os nossos coveiros eleitos, alguns mais sinceros pelo menos, vão responder algo como "Os culpados foram os eleitores, que nos elegeram sem saberem bem o que estavam a fazer, porque nunca apresentámos qualquer plano global sério. Sempre nos limitámos a dizer evidências e outras banalidades, tudo com frases feitas, prontas a usar." A entrevista de Luís Santos é o primeiro indício sério de que tal estado de coisas pode ter os dias contados. Oxalá!
Embalado pelo hábito, quando a entrevistadora lhe perguntou "Quais as suas aspirações ao candidatar-se a presidente da Câmara?" Luís Santos respondeu, recorrendo ao armazém de frases feitas: "Espero que Tomar ganhe com esta candidatura, espero que a nossa cidade consiga atrair mais investimento e que a nossa cultura, o turismo e o património contribuam para enriquecer o concelho."
Foto Cidade de Tomar, com os nossos agradecimentos.
Foi então que a jornalista teve a coragem de abandonar os habituais parâmetros jornalísticos locais, avançando duas frases inconvenientes: "E como é que isso se consegue? É que essa é uma promessa de todos os partidos..." Inesperadamente "picado", Luís Santos esteve à altura: "Defendo que não devemos ficar à espera que venham investir no nosso concelho. Temos de ser nós a procurar o investimento que queremos. Uma das propostas do BE é nomear um especialista nessa área, para que o mesmo possa procurar, de norte a sul do país e no estrangeiro, o investimento de que precisamos.
Por exemplo, fala-se tanto do facto dos turistas do Convento de Cristo não descerem à cidade. Uma boa ideia seria criar um voucher para o turista que vai ao Convento, oferecendo a possibilidade de vir ao Centro histórico provar um "Mouchão" e uma "Fatia de Tomar". Outro exemplo, a Festa dos Tabuleiros. Porque não projectar mais o Cortejo dos rapazes, e realizar este evento no intervalo em que não há a grande festa?
Porque não se avança com um museu deste evento, que é fundamental para a cidade e para a própria festa?
Defendo também que a festa deveria ser paga pelo município, já que é uma festa do concelho. Entendo que o mordomo não deve preocupar-se em arranjar dinheiro para fazer a festa."
E aqui temos. Concorde-se ou não -e eu não concordo com a maior parte- há que reconhecer aqui um conjunto de ideias susceptíveis de virem a constituir a base para um programa sério. Ideias erradas? Nefastas? Inadequadas? Isso já é outra questão. Aparecem pela primeira vez numa entrevista, indo muito além do já gasto "O importante são as pessoas", o que é excelente e abre novos caminhos.
Infelizmente, logo mais adiante, voltou-se ao usual, à estaca zero: "-As diversas candidaturas com quem já falámos, focam os seus programas na área social e nas pessoas. E o Bloco de Esquerda? "-Congratulo-me por essas candidaturas começarem a perceber que é a esse nível que têm de actuar. O BE já há muito tempo que o faz, tendo em conta o bem estar das populações."
Noutros termos: -Andamos todos ao mesmo. Haja dinheiro para pagar. Incluindo a Festa dos tabuleiros.
E depois ficam muito ofendidos com a conversa do holandês, que dizem ser uma besta. Mas pronto, graças à coragem de uma jornalista, finalmente revelou-se um jovem político local com ideias. Ainda não é muito, mas já é enorme.
E depois ficam muito ofendidos com a conversa do holandês, que dizem ser uma besta. Mas pronto, graças à coragem de uma jornalista, finalmente revelou-se um jovem político local com ideias. Ainda não é muito, mas já é enorme.
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