"Quanto à saída do euro, João Oliveira explicou de que forma o país deve proteger-se da “submissão” à moeda única, admitindo que os “interesses particulares” dos “grandes grupos económicos” serão “sacrificados” com uma eventual saída. Sobre a renegociação da dívida, o líder parlamentar do PCP citou os exemplos “bem-sucedidos” da Argentina e do Equador e sugere, a título de exemplo, as vantagens de uma aproximação de Portugal à Rússia e aos restantes BRIC [Brasil, Rússia, Índia, China]."
Este excerto de uma recente entrevista ao Observador on line, que pode ser lida aqui, do líder da bancada do PCP na Assembleia da República, João Oliveira, é um exemplo perfeito do tipo de política argumentada que, infelizmente para todos, ainda se pratica no nosso país. A renegociação da dívida foi "bem sucedida" no Equador e na Argentina, avançou o brilhante parlamentar e político profissional.
Por mero acaso, ou talvez não, (a menos que seja simplesmente falta de informação pessoal, o que seria grave), esqueceu-se de um detalhe importante, sobretudo quando, como é o caso do seu partido, se defende a saída de Portugal do Euro. É que, desde o início deste século, há 17 anos portanto, a moeda nacional no Equador é... o dólar norte-americano!E quando um país usa a mesma moeda na qual estão titulados os empréstimos estrangeiros, é óbvio que a respectiva renegociação só pode correr bem, desde que a iniciativa parta dos credores e não, como pretendem fazer crer o PCP e o BE, do Estado em débito. Quanto à Argentina, seria demasiado longo demonstrar aqui o logro do jovem deputado. Digamos que ainda hoje há sequelas sérias do défault argentino de 1999-2000 e da negociação que se seguiu.
Pelo que não se entende de todo a argumentação do parlamentar comunista: O Equador foi bem "sucedido" porque entrou de facto para a "zona dólar USA", mas Portugal tem de sair da "zona euro", para obter o mesmo resultado? A Argentina foi bem sucedida, quando afinal, 17 anos passados, ainda tem problemas sérios com alguns fundos abutres?
Perante isto, que é uma enormidade política, o jornalista calou-se. Aceitou passivamente. Não foi documentar-se sobre o Equador e a Argentina. Contribuiu assim para induzir em erro os leitores. Tal deputado, tal jornalista.
Todos falhamos, mesmo os melhores. Mas assim vai ser muito difícil sair da cepa torta.
Perante isto, que é uma enormidade política, o jornalista calou-se. Aceitou passivamente. Não foi documentar-se sobre o Equador e a Argentina. Contribuiu assim para induzir em erro os leitores. Tal deputado, tal jornalista.
Todos falhamos, mesmo os melhores. Mas assim vai ser muito difícil sair da cepa torta.
Recomendo-lhe a leitura urgente do livro "O EURO", escrito pelo insuspeito ignorante Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia.
ResponderEliminarEsse espírito alérgico precisa de ser arejado.
Agradeço o seu comentário e aproveito para o cumprimentar, desejando-lhe saúde e boa disposição.
EliminarIndo ao fulcro da questão, como bem sabe não padeço felizmente de qualquer alergia. Limitei-me a abordar um caso concreto, que me parece assaz claro. Quanto ao Nobel Stiglitz, ilustre colunista do NYT e também professor, ainda não me constou que tenha defendido o caso equatoriano ou os resgates argentinos.
Leia e depois, fundamentado, bote espicho.
EliminarPratique o que aconselha e tantas vezes criticou aos outros por não fazer.
São quase 500 páginas, mas leem-se bem.
E Stiglitz é um insuspeito keinesiano, mas que pensa pela sua cabeça.
E explica e escreve bem.
Tenciono ler o livro logo que possível. Quando for a Coimbra, vou procurá-lo na FNAC. Mas não se iluda, Virgílio. Stiglitz é mais um americano a quem o euro incomoda e que vive numa economia muito mais liberalizada que a portuguesa. Se os chineses resolvem pedir o reembolso da dívida americana que detêm, os USA entram em falência. E Pequim pode fazê-lo a qualquer momento porquanto tem outra moeda de reserva -o Euro, daí a azia de Stiglitz e de tantos outros americanos. Praticamente desde o início, em 2001, que andam a vaticinar o seu próximo colapso, e afinal já lá vão 16 anos...
EliminarStiglitz fundamenta muito bem as suas opiniões, numa linguagem simples, acessível, que desmistifica os jargões neoliberais.
ResponderEliminarE olhe que nem todos os americanos são Trumps ou aparentados, pelo menos em certos meios académicos.
Mas não julgue que não tenho sempre o led aceso, pelo facto de ele ter sido conselheiro de Clinton.
Mas creio que nunca o voltaria a ser.
Ganhou carta de alforria, independência económica e intelectual. E isso faz toda a diferença, como fez com o já saudoso Baptista Bastos (para mim, claro está.)