domingo, 2 de abril de 2017

Desanimador

Na sua habitual colaboração n'O Templário -que a Isabel tem a bondade de me enviar regularmente- Carlos Carvalheiro aborda esta semana um problema que fora do concelho será de muito difícil entendimento. E mesmo em Tomar, tirando os conformistas, que são muitos e obstinados, também reina a incompreensão nos espíritos a esse respeito.
Explica Carvalheiro, num tom algo comedido e envergonhado que não lhe conhecia, a política pública de subsídios às colectividades culturais. Diz que são diminutos e geralmente muito mal distribuídos. Enumera depois um estranho fenómeno de disparidade de custos, com exemplos, concluindo que uma boa maneira de poupar, para depois distribuir, seria a cobrança de entradas nos diversos eventos.
Desde há muito anos que venho defendendo essa mesma posição, nomeadamente quanto à Festa dos Tabuleiros, pelo que concordo inteiramente com Carlos Carvalheiro. Que de resto tem dado o exemplo, pois todos os seus espectáculos são de acesso pago, excepto este último, no Cine-Teatro, porque a Câmara discordou. Com que fundamentação? Mistério completo.
Certo, mesmo certo é que, ao proibir a cobrança de bilhetes, a autarquia se colocou numa situação algo esquizofrénica. Incoerente, para ser menos violento. Por um lado procura desesperadamente sacar mais dinheiro as contribuintes do concelho, por meio de taxas exageradas, como demonstra o recente envio de intimações, incluindo a ausentes e falecidos, para se ligarem à rede de água e esgotos. Por outro lado, continua a recusar de forma obstinada cobrar bilhetes nos vários eventos que organiza ou subsidia, excepto no Festival Bons Sons. Porquê semelhante dualidade comportamental?

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Festival Bons Sons

Salvo melhor opinião, o exemplo do prestigiado festival de Cem Soldos parece fornecer uma resposta. Que será esta: No caso dos consumos obrigatórios (água, saneamento, resíduos sólidos) é só ligar e aguardar que o dinheiro caia na conta camarária todos os meses de todos os anos. Já no caso dos eventos seria toda uma complicação. Fixar preços, aceitar reservas, vender os bilhetes, eventualmente vedar os recintos, controlar as entradas, efectuar a respectiva contabilidade, satisfazer as várias obrigações fiscais... Uma trabalheira à qual os senhores funcionários municipais não estão de todo habituados.
Estou enganado? Então expliquem-me lá porque motivo o Festival Bons Sons recebe (com toda a justiça) uma ajuda camarária da ordem dos 50 mil euros, além de outras facilidades, ao mesmo tempo que cobra bilhetes da ordem das dezenas de euros cada um? Não será porque toda a logística é assegurada pelo próprio festival?
Algo preocupado com o desalento implícito, transmitido pelo texto de Carlos Carvalheiro, porque falar para paredes cansa, na ausência de companhia nabantina para conversar, fui em busca de algum hipotético conforto no blogue Tomar opinião. Foi pior a emenda que o soneto. A mais recente crónica que aí encontrei data de 28 de Dezembro de 2016 e tem a assinatura...de Carlos Carvalheiro. Fala de Tomar e de jardins, se calhar pensando já em coroas de flores e jardim das tabuletas.
Um blogue de opinião, fundado por ilustres cidadãos locais (António Alexandre, António Lourenço dos Santos, António Pedro Costa, Carlos Carvalheiro, António Pedro Costa, Mário Cobra, Rui Ferreira), apaga-se assim, sem um grito, sem um clamor dos seus leitores, pouco tempo decorrido sobre o seu aparecimento. É mesmo desanimador. Conforme publiquei à dias: Em Tomar não há praticamente opinião pública, e muito menos opinião publicada. Porque será?

                                                     Os homens da minha aldeia
                                                     divergem por natureza.
                                                     O mesmo sonho os separa,
                                                     a mesma fria certeza
                                                     os afasta e desampara
                                                     Rumorejante seara
                                                     onde se odeia em beleza.

António Gedeão, Minha aldeia, 1971 (Sim, é esse. O mesmo da Pedra filosofal)

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