Na sua habitual crónica no Observador online, que pode ler aqui, Alberto Gonçalves não poupa ninguém:
"Salvo os irremediavelmente patetas, os portugueses sabem que a liberdade de “Abril” é, no mínimo, um bocadinho fraudulenta. E sabem que a “justiça social” é um eufemismo para o controlo da economia por uns tantos. E sabem que a retórica das “causas” é um projecto de lavagem cerebral. E sabem que o regime é propriedade de grupos, grupúsculos e “personalidades”. Simplesmente não querem saber. Os portugueses querem levar a vidinha sem sobressaltos, sem maçadas e vergonha na cara, promessas em que, por exemplo à semelhança de Salazar, a esquerda é exímia. Falar-lhes de liberalismo é um luxo inútil, uma excentricidade similar a descrever os méritos do casamento aberto a um membro do Estado Islâmico. O tipo olha-nos com desprezo, vira costas e regressa à rotina de cortar cabeças. Os portugueses não cortam cabeças, mas não têm a sua em grande conta."
Miguel Sousa Tavares, por seu lado, conclui com pessimismo fúnebre a sua crónica semanal no Expresso on line, (acessível só a assinantes):
..."A grande fraqueza da democracia é que nada pode contra a vontade maioritária do povo. Mesmo que o povo escolha a tragédia."
É certo que Sousa Tavares se refere ao que pode vir a acontecer em França, já no próximo dia 7, ou daqui a cinco anos. Mas mesmo assim, fiquei preocupado com a situação tomarense. Muito preocupado mesmo, que o caso não me parece ser para menos. Com efeito, no meu entender, Tomar necessita com urgência de mais liberalismo e menos Estado, menos Câmara, menos burocracia e menos arrogância para conseguir investimentos, empregos produtivos, criação de riqueza transacionável, e assim ultrapassar a profunda crise que atravessa. Porém, como consegui-lo com os candidatos já conhecidos? São todos funcionários, com a inerente mentalidade tão bem resumida na citação supra de Alberto Gonçalves. E os dois à priori melhor posicionados até integram o bem conhecido "império dos sentados".
Imagem alusiva à crise, que não retrata um caso tomarense. Por enquanto?
De forma que, mesmo sem ideias novas nem programas à altura, ou se calhar sem programas nenhuns, nesta altura tudo parece indicar que, em Outubro próximo, vamos ter um novo executivo eleito, do PS ou do PSD. Para o caso tanto faz. Em Tomar, há muitos anos que não se consegue vislumbrar o que separa os dois partidos em termos políticos, ou de modelo económico local, que manifestamente nunca tiveram nem têm. A partir daí só podem ser mais quatro anos de sofrimento e crise crescente, uma vez que, como bem escreve Sousa Tavares, "...a democracia nada pode contra a vontade maioritária do povo. Mesmo que o povo escolha a tragédia." E os tomarenses têm sido especialistas nisso. Desde o 25 de Abril, ainda não conseguiram eleger um único presidente de câmara daqueles que fazem história pelas melhores razões. Enganar-se tantas vezes seguidas, é obra! Mas os culpados são sempre os outros.
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