segunda-feira, 3 de abril de 2017

O presente não é a repetição do passado

Não. O presente não é a repetição do passado. E o futuro ainda menos. De resto, o axioma é bem conhecido: A História nunca se repete. Quando fortuitamente tal acontece, o contexto já não é o mesmo, pelo que, se da primeira vez foi drama, da segunda é comédia, e vice-versa. Será portanto bom e útil para os eleitores tomarenses começarem, logo que possam, a analisar o ocorrido. Em Tomar, as autárquicas de 2013 foram uma comédia? Ou foram um drama? Consoante a conclusão a que chegarem, podem estar certos que as de Outubro próximo vão ser o oposto.
Quem conhece razoavelmente os tomarenses, por ter nascido na Rua da Graça, residir na cidade há mais de sete décadas e analisar os problemas sem paixão clubista, está em posição de dizer esta enormidade -Os tomarenses são, regra geral, entranhadamente conservadores, imobilistas e obstinados. Daqueles cegos que não querem ver. O que os leva a considerar implicitamente que a política local é como na agricultura. Sucedem-se os plantios, ano após ano, mas nada muda.
Estão errados, como é óbvio. Em 1997, o concelho de Tomar tinha 40.906 eleitores inscritos. Vinte anos mais tarde restam-lhe 36.266. Uma perda de 4.640 eleitores inscritos, uns idos para o cemitério, outros para a emigração. É a vida, responderão os teimosos do costume. Pois será. Mas durante o mesmo período, Leiria registou mais 21. 852 eleitores inscritos, e Ourém (aqui tão perto) 5.572, tendo ultrapassado Tomar. (42. 863 em Ourém, 36.266 em Tomar).

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Aspecto do castelo de Ourém

O que têm Leira e Ourém que falta em Tomar, perguntarão os mais conscientes, pois é realmente a pergunta lógica. A resposta é simples. Há nas duas urbes vizinhas mentes abertas, políticas adequadas, gente competente, apetência pela mudança, projectos amplos e eficazes, coragem e vontade de andar para a frente, tudo coisas que têm andando ausentes das margens nabantinas.
Pode-se até colocar a questão inversa: O que temos nós em Tomar, que não têm Ourém nem Leiria?
Também aqui a resposta é simples. Não têm um funcionário por cada 74 habitantes, não têm uma burocracia municipal pesada, complicada, intimidante e cara, não têm serviços inteiros nos quais quem manda são os quadros superiores, à revelia dos eleitos e ao arrepio da Lei, não têm das taxas e das águas da rede das mais caras do país, não têm eleitos faz de conta, não têm serviços municipalizados que custam caro e servem mal.
E não venham  com a música habitual contra a privatização dos SMAS, alegando a vantagem de serem municipais, que é falsa. Quem assim fala sabe muito bem que, nos anos 80 do século passado, votou favoravelmente a passagem para a EDP do serviço e da rede de distribuição de luz, que até então eram municipais, para pagamento da enorme dívida entretanto contraída.
Como é do conhecimento geral, trinta anos mais tarde a EDP foi privatizada.  Pertence  agora a uma empresa controlada pelo Partido comunista chinês, que governa na China. E o serviço não piorou, havendo até a possibilidade de escolher o seu fornecedor, que não existe no caso da água. Por conseguinte, uma vez que acreditam que a História se repete, podem privatizar os SMAS, mesmo que o comprador venha a ser uma empresa chinesa. Desde que garanta, como aconteceu com a EDP, todos os postos de trabalho. 
O Município de Tomar ficará então bastante mais aliviado, com menos várias dezenas de funcionários que não podem ser despedidos. Mesmo quando e se um dia não houver recursos para lhes pagar. É impossível? Olhe que não. Está a acontecer no Rio de Janeiro, que sempre é um bocadinho mais importante que Tomar. E já aconteceu por exemplo em Detroit e S. Francisco, grandes urbes dos Estados Unidos.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, todo o mundo é feito de mudança, tomando sempre novas qualidades, escreveu Camões há mais de quinhentos anos. Mas não consta que o grande poeta épico fosse tomarense...

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