segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

 

Foto alusiva ao tema

Autarquia - alojamento

Será essa a ideia de Anabela Freitas?

Uma pequena povoação dos arredores de Cuenca, Villagordo del Marquesado, a 170 quilómetros de Madrid, oferece casa grátis e emprego a quem aceitar explorar o bar da localidade. Tarefa que não deverá ser demasiado pesada, uma vez que há apenas 80 residentes permanentes:

https://www.msn.com/pt-pt/financas/casas/mudar-de-vida-munic%C3%ADpio-espanhol-oferece-casa-nova-gr%C3%A1tis-e-trabalho/ar-AATjsUa?ocid=msedgntp

Em Tomar, que por enquanto vai tendo bastante mais de 80 residentes, mas cuja população continua a emigrar, têm sido notados os esforços da srª presidente da câmara para promover o seu anunciado projecto de "construção a custos controlados",  mais alojamentos para assistidos, uma originalidade numa terra onde há cada vez menos residentes. Será que Anabela Freitas quer estar em sintonia com "nuestros hermanos de la España vaciada"?
Era capaz de não ser má ideia, oferecer aos candidatos a novos moradores em Tomar, para compensar a desertificação, um pacote promocional tentador (emprego público+casa+subsídios vários+animação gratuita+vales de compras), com a obrigação de não criticarem, e de votarem como deve ser.
Só falta saber se haverá dinheiro para tudo, durante muito tempo. Os países do norte da Europa também se cansam de ajudar extravagâncias, com demonstrou há tempos aquele governante holandês, ao criticar as despesas com "meninas e vinho verde" nos países do sul. Não é bem o caso de Tomar, por enquanto. Mas já se têm notado alguns excessos do género, como por exemplo o realojamento dos ciganos, sem adequada preparação prévia. Agora como já têm casa, e recebem produtos alimentares, além do RSI, não trabalham porque nunca tiveram formação para isso, nem os patrões lhes dão emprego.
Folgados, gostam de ouvir música e de dançar flamenco pela noite dentro, incomodando os residentes nas proximidades, que não têm culpa nenhuma...

domingo, 30 de janeiro de 2022

 


Legislativas 2022 - Resultados em Tomar

PS vence folgadamente: 42,61%
PSD 27,7%
Acentuada subida do Chega e da IL
Descalabro geral do BE e da CDU

Acontece sobretudo com os motores velhos, como eu. Volta e meia falham. Previ aqui há dias que o PSD venceria no concelho. Enganei-me, e aqui estou a admitir o erro. Os socialistas ganham folgadamente, com 42,61%, o que corresponde a 8.240 votos, mais 1.235 que em 2019. Quanto ao PSD, fica-se pelos 27,7%, ou seja 5.357 votos, mais 261 que em 2019.
Dos restantes partidos, só o Chega pode cantar vitória, pois obteve um bom resultado. Conseguiu 9,86% e 1.906 votos, quando em 2019 registara no concelho apenas 1,63% e 307 votos. Eu tinha previsto que obteria 2 mil votos no concelho.
O Bloco de Esquerda perde metade do eleitorado de 2019, ao passar de 2063 votos e 10,95%, para apenas 990 votos e 5,12% em 2022. Aparece logo a seguir a CDU, com 3,6% e 697 votos, aquém dos 4,85% e 914 votos de 2019, que já fora um mau resultado local.
Estreia honrosa no concelho foi a da Iniciativa liberal, ao conseguir 3,18% e 615 votos, melhor que o CDS, que se ficou pelos 2,02% e 390 votos.
Relacionando com as autárquicas do ano passado, uma vez que o eleitorado é o mesmo, a actual maioria autárquica do PS deve naturalmente festejar esta vitória, mas aproveitar também a natural euforia para pensar um bocadinho. O PS nacional obtém no concelho 42,61% e mais de oito mil votos, enquanto o PS local se ficou pelos 39,70% e pouco mais de sete mil votos o ano passado. Quando os de fora obtêm no concelho melhores resultados que os locais, deve haver de certeza algo que não está bem.
Praticamente oposta é a situação do PSD. Mesmo com uma lista e uma candidata como todos sabemos, conseguiram nas autárquicas de 2021 34,66% e 6.248 votos, enquanto que desta vez não foram além dos 27,7% e 5.357 votos. Até perderam em S. Pedro, o feudo tradicional da actual líder concelhia. Menos quase mil votos, é obra! Nota-se que houve antes o afastamento forçado de Duarte Marques, entre outros. Cá se fazem, cá se pagam. O Nabão é longe do Porto, mas também é rio. Tal como o Tejo, por exemplo.
O movimento demonstra-se andando, e ainda temos um longo caminho pela frente. Uns mais do que outros.

 



Procedimentos administrativos

Uma burocracia lamentável

É melhor começar assim:
A notícia é do Entroncamento, mas os procedimentos são os mesmos no país inteiro. Os burócratas têm uma longa experiência. Sabem como proceder para subjugar os cidadãos, obrigando-os a vergar-se à normas oficiais. Complicar para reinar.
Neste caso, quase que dá para rir de escárnio. É assim: Cinquenta anos depois de terem sido obrigados a andar em Àfrica de arma na mão "a defender a Pátria", o governo lembrou-se finalmente de dar uma pequena esmola aos antigos combatentes, agora todos com mais de 70 anos. Mandou-lhes para casa um "Cartão de antigo combatente - Titular do reconhecimento da Nação", informando-os que concede isenção de taxas moderadoras, entrada gratuita nos monumentos tutelados pela DGPC e passe gratuito nos transportes urbanos.
Ignoro como será nos monumentos, museus, hospitais e postos de saúde. Para os transportes públicos é uma verdadeira maravilha burocrática. Para obter o passe gratuito, é necessário fazer o requerimento, apresentar o cartão de antigo combatente, o cartão de cidadão, o comprovativo de morada fiscal de residência habitual e uma fotografia, aguardar três dias e depois renovar mensalmente.
A título comparativo, em Paris, para obter o passe NAVIGO, que faculta viagens a preços reduzidos nos transportes urbanos e interurbanos, basta apresentar um documento de identidade e entregar uma foto. Não é preciso requerimento, identificação fiscal ou documento de residência. E recebe-se o passe, com uma protecção em plástico rígido, poucos minutos depois. Pelos jeitos, não têm o problema da administração portuguesa. Funcionários sem tarefas atribuídas que lhes ocupem o tempo de presença, procurando infernizar a vida dos cidadãos, só para estarem mais entretidos. O problema é tão grave que já não lhes basta o computador de serviço, com acesso a vasto cardápio nem sempre muito católico. Para quando uma reforma geral da administração pública, retirando funcionários nos serviços onde são excedentários e colocando-os onde façam falta? Pode custar milhares de votos, não é?

 


Autarquia - informação

Maneiras de governar

Noticia o Le Monde, cujos jornalistas nunca brincam em serviço, e jamais hipotecam a liberdade crítica, que o presidente turco Erdogan, incomodado com os dados estatísticos desfavoráveis sobre a inflação, resolveu exonerar o director do instituto nacional de estatística. Para grandes males, grandes remédios. Nos países muçulmanos estas coisas são do mais comum que há.
Nos países da UE pelo contrário, o panorama é outro, bastante diferente. Mas em Tomar, pelo menos, nem é tanto assim.  Manifestamente alérgicos à crítica e às ideias diferentes, os eleitos da actual maioria autárquica, sobretudo um deles, começaram por responder de forma agastada, até que a chefe resolveu mudar de rumo. Não adianta tentar converter bárbaros, terá pensado. E vá de implementar pela calada uma política eficaz de alinhamento noticioso.
Nada de censura, como na Turquia, que somos todos muito democratas. Apenas uma orientação, implícita e simples, para todos os suportes noticiosos locais: Quem criticar ou divergir, não terá acesso à gamela municipal (subsídios, ajudas diversas, publicidade, avanços sobre publicidade futura).
E está feito. Nem foi preciso os directores dos suportes noticiosos editarem  livros de estilo, ou difundirem ordens internas menos liberais. Os poucos jornalistas locais perceberam imediatamente, e acataram. Até porque dá muito menos trabalho. Uma coisa é reproduzir o que disse a presidente, ou os seus vereadores que ainda ousam emitir opinião. Outra, bem diferente, mais trabalhosa e a exigir recursos que não estão ao alcance de todos, é criar textos noticiosos, crónicas originais. Os leitores sabem do que falo. Basta comparar Tomar a dianteira 3 com o resto da informação local. Falta algo, não falta?
A coisa funciona tão bem que até o outro órgão rebelde por força das circunstâncias, o Tomar na rede, está cada vez mais conformista, a resvalar para uma espécie de Correio da manhã local, talvez também por falta de colaboração à altura. Calaram-se alguns conhecidos tenores locais, sem que se saiba bem porquê. Na minha pobre opinião, que não pretendo impôr a ninguém, por pudor demasiado tardio. Mas lá diz o povo que "mais vale tarde que nunca"Segue-se que a situação nunca foi tão calma para quem dirige a autarquia, pelo menos à superfície. Quando se procura aprofundar um pouco.... 
Em contrapartida, pelos lados dos suportes informativos nabantinos, ao que parece e consta em surdina, as coisas não vão nada bem. Disseram-me umas fontes geralmente com água limpa não tratada, que há  medias locais praticamente com a corda ao pescoço, forçados a fechar logo que a autarquia, eventualmente, deixe de os ajudar. Falaram-me até no mais velho de todos e, perante a minha dúvida, asseveraram que os assinantes, outrora muitos, têm fundido como manteiga ao sol, descontentes com a falta de conteúdo. Nem se dão ao trabalho de anular a assinatura. Limitam-se a deixar de pagar.
Situação delicada, a mostrar mais uma vez que para bem de uns, mal de outros. Confirmação de que não é possível ganhar simultaneamente em todos os tabuleiros. Há que optar, fazer escolhas, tomar partido. Não se pode estar de bem com Deus e com o diabo ao mesmo tempo. Mas pode-se e deve-se conviver, num clima de tolerância mútua. Sabem o que é, srs. autarcas? De que serviu a intolerância socratina?

sábado, 29 de janeiro de 2022

 

Imagem Tomar na rede, a quem agradecemos.

Crónica avinagrada

A futura região de turismo Tejo-Atlântico - 2

Aquele edifício devoluto, do lado esquerdo quando se entra na Corredoura, é um exemplo perfeito  do descalabro tomarense. Inicialmente sede da agência do Banco de Portugal, foi mais tarde comprado pelo então vereador Duarte Nuno, da AD, para sede da nova comissão regional de turismo., sendo pago por todos os municípios que integravam aquele organismo promocional. Após anos e anos de peripécias, umas trágicas outras cómicas, mas todas evidenciando a falta de capacidade dos autarcas para geriram capazmente a comissão regional de turismo, o governo decidiu extingui-las em todo o país, integrando o seu património noutros serviços.
No caso do Turismo dos templários, começou por fazer parte do turismo de Lisboa. Mais tarde, passou a integrar a Entidade regional de turismo do centro, com sede em Aveiro. A propriedade do prédio seguiu o mesmo caminho. Quando era tutelado pelo turismo de Lisboa, consta que a actual maioria PS  terá tentado a sua devolução, mesmo sob a forma de arrendamento. Sem sucesso, uma vez que seria original o Estado alugar um imóvel ao seu próprio proprietário, daí terá resultado a incongruência da situação e posterior transferência para a Entidade de Turismo do Centro.
Temos assim um prédio devoluto, oficialmente propriedade de 9 câmaras da região, conforme podem provar com documentos, entregue a uma entidade estatal que nem sequer existia quando foi comprado. Confuso? Apenas uma consequência evidente da falta de habilidade camarária, o que lhe retira credibilidade. Quem acredita num executivo municipal que leva 5 anos para modernizar uns simples sanitários públicos? Que necessitou de dois mandatos para concluir a revisão do PDM? Que ao cabo de mais de 10 anos recusa, de forma obstinada, reparar o erro cometido durante as obras da Estrada do Convento? Só os crentes. Os sinceros e os comprados.
Sejam quais forem os argumentos apresentados, não colhem porque é uma situação recorrente. No tempo da guerra em África, dizia-se que na tropa havia três ritmos de trabalho: devagar, muito devagarinho e parado. A experiência tem mostrado que na Câmara de Tomar tem havido só dois: muito devagarinho e parado. Excepto quando se trata de comprar votos. Aí, aceleram um bocadinho. Porque será?
Não fora tão triste situação e Tomar poderia ter nesta altura um plano local de turismo, o qual lhe permitiria aspirar à sede da futura Região de Turismo Tejo-Atlântico, a mais rica do país em termos de recursos. Alcobaça, Batalha, Caldas da Rainha, Nazaré, Fátima, Leiria, Óbidos e Tomar, é uma listagem de respeito, que infelizmente virá decerto a ser gerida a partir de Leiria. Porque ninguém está a ver tão imponente conjunto gerido a partir de Aveiro, ou mesmo de Coimbra. Mas quê?! "Quem nasceu pra lagartixa, nunca chega a jacaré." E mesmo jacaré, é brasilês para crocodilo, animal que voa, mas é muito baixinho, como se sabe.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

 


Crónica avinagrada

A futura região de turismo Tejo-Atlântico - 1

Nem de propósito seria mais oportuno. Acabo de ler, no Tomar na rede, a notícia de que há um porco à solta na A13, entre o nó de Santa Cita e a saída de Valdonas. Exactamente a mesma situação existente  na zona, mas com outros animais. Há asnos à solta na política local desde há décadas, e isso nota-se cada vez mais.
Apesar de geralmente acusado de agreste, quem escreve estas linhas considera-se educado e respeitador das conveniências sociais, desde que não choquem demasiado. Nada de nomes, por conseguinte, mas muitos leitores sabem a quem me refiro.
Para não alongar demasiado, circunscreve-se o âmbito ao turismo regional. Para quem tenha olhos e saiba ver, notam-se na nossa região dois eixos. O  eixo progressista, Pombal-Leiria- Ourém-Caldas,  virado para o futuro, para a iniciativa privada e para a inovação, e o eixo negacionista Tomar- Entroncamento -Chamusca - Golegã - Santarém, virado para o passado, para o Estado e para os assistidos.
Neste quadro, convém assinalar que, no seu eixo, Tomar desempenha um papel particular. Além de negacionistas, os actores locais são em geral tão incapazes que nem sequer conseguem pedir ajuda. Ou seja, são tão ignorantes que nem sabem que não sabem. Situação que se notou, e de que maneira, no século passado. Excesso de prosápia, decerto.
Quando se falava na instalação de uma comissão regional de turismo do Ribatejo, um dos vereadores PSD solicitou ajuda ao autor destas linhas para o assessorar numa reunião distrital na Câmara de Santarém. Dessa reunião veio a resultar a instalação de duas comissões regionais de turismo. Uma em Santarém, a do Ribatejo, outra em Tomar, a dos Templários.
Visivelmente atrapalhados durante anos com o que lhes coubera inesperadamente, sucessivos autarcas tomarenses foram empurrando a batata quente para uns e outros, sem nunca mais voltarem a pedir  auxílio. A Comissão Regional de Turismo dos Templários apareceu, cresceu até 9 municípios e desapareceu, integrada à força no Turismo de Lisboa e Vale do Tejo. Ao mesmo tempo que todas as outras, incluindo a de Leiria Rota do Sol, a única da região, bastante mais antiga e que tinha todo um trabalho feito com algum êxito.
Pressionados pelos dinheiros de Bruxelas, governantes e autarcas concordaram na fundação de cinco entidades regionais de turismo para todo o país, correspondendo às regiões-plano: Norte, Centro, Lisboa, Alentejo, Algarve. O património da extinta região dos templários, designadamente a sua sede, ali ao fundo da Corredoura, foi transferido para o Turismo de Lisboa, apesar de antes ter sido comprado e pago pelas câmara da região, cabendo a maior fatia a Tomar.
Posteriormente, uma vez que Lisboa é uma região desenvolvida, o que implica menor percentagem nos financiamentos europeus,  alguns municípios procuraram abrigos mais prometedores em termos de €. Tomar foi parar à Entidade de Turismo do Centro, com sede em Aveiro e Santarém optou pela entidade alentejana, sediada em Évora. É assim que fazem os pedintes. Procuram sempre melhores esmolas.
Situação assaz curiosa, pois mais tarde os autarcas insistiram e acabaram por conseguir a fusão entre o Médio Tejo, a Lezíria do Tejo e o Oeste, com futura liderança de Leiria. Voltou-se de facto à situação inicial. Como escreveu Lampedusa, é preciso que qualquer coisa vá mudando, para que tudo possa continuar na mesma.
Leiria já está a candidatar-se a capital europeia da cultura, apoiada por todos os municípios da região, enquanto Santarém acaba de obter a instalação de uma delegação da Entidade de Turismo do Alentejo e Ribatejo. Tomar, como de costume, vai aguardando para ver em que param as modas, acabando os nossos negacionistas por concluir, uma vez mais,  que os outros são todos uns malandros, que só nos querem prejudicar. Esquecem o preceito católico Ajuda-te e Deus te ajudará!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

 


Esclarecimento prévio

Não é a primeira vez, longe disso, que quando se propõe nas redes sociais o desenvolvimento turístico de Tomar, aparecem comentadores anónimos contra tal ideia, porque o turismo só cria empregos precários e mal pagos. Para melhor informação de todos sobre tal matéria, segue mais uma tradução do diário francês LE MONDE. A realidade nem sempre é o que parece, quando vista de Tomar.

"Tripulantes cubanos 
explorados nos navios de cruzeiros

Uma queixa por "escravatura", apresentada no Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda), revela as condições de vida desses trabalhadores, obrigados a entregar 80% do salário a uma agência do estado cubano.

Angelina Montoya
Publicado em 27/01/2022 às 11H32 de Paris - Leitura 4 minutos
Artigo reservado aos assinantes
https://www.lemonde.fr/international/article/2022/01/27/des-marins-cubains-exploites-dans-des-bateaux-de-croisiere_6111202_3210.html

"Centenas de tripulantes cubanos são alegadamente explorados nos navios de cruzeiros de luxo. E banidos do seu país durante oito anos, caso não regressem após ter terminado "a missão". Eis a acusação formulada ontem, 26 de Janeiro, por organizações de defesa da democracia em Cuba, que afirmam, pela terceira vez desde 2019, que o governo de Havana trata como "escravos" os profissionais -médicos na sua maioria, mas também artistas, atletas, professores, e tripulantes de navios- enviados para o estrangeiro.
Uma queixa por "escravatura" de 110 médicos cubanos foi entregue em 2019 contra as autoridades cubanas perante o Tribunal Penal Internacional, em Haia, e na ONU, em Genebra. Os médicos, assegurava o documento, podiam não ser totalmente voluntários para as "missões" que se tornaram um instrumento essencial da diplomacia cubana e da sua economia. Até 90% do salário era entregue ao governo cubano, não podiam casar-se sem autorização e eram banidos durante 8 anos do seu pais natal em caso de "deserção" -entre muitas outras limitações. Em 2020 foram acrescentados mais de 600 novos testemunhos.
Na passada terça-feira, as organizações Prisoners Defenders, de Madrid, o Centro para a abertura e a desenvolvimento da América latina e a União Patriótica de Cuba, cujo dirigente José Daniel Ferrer Garcia, está preso em Cuba, entregaram ao TPI e à ONU um terceiro documento, apoiado desta vez em 1.100 testemunhos directos. Nele se lê que cerca de 40.000 profissionais "desertores" foram banidos de Cuba, e entre 5.000 e 10.000 estarão actualmente na impossibilidade de rever os seus filhos.
O texto inclui testemunhos de tripulantes (ajudantes de cozinha, empregadas de quartos, recepcionistas, técnicos...), contratados pelos barcos de cruzeiro e submetidos a condições de trabalho similares.
Estes cubanos, entre os quais dois aceitaram  responder às perguntas do Le Monde, sob condição de manterem o anonimato, trabalharam nos navios da MSC Cruzeios, filial da MSC , de origem italiana e cuja sede é em Genebra, na Suiça. Para contratar cubanos, MSC devia passar pela SELECMAR, agência do Estado cubano, encarregada de recrutar e formar os tripulantes.
Vários milhares de tripulantes trabalham em navios internacionais. Reynaldo (nome alterado a pedido do interessado) pensa que eram cerca de cem  no barco onde ele trabalhou durante 9 meses em 2019. Selectmar assegura  respeitar os acordos estabelecidos pela Organização Internacional do Trabalho. Porém, segundo os contratos de trabalho publicados no documento antes citado, 80% do salário base dos empregados cubanos -entre328 e 408 euros mensais, de acordo com dois contratos anexados à queixa, era entregue à Selecmar. Esta reversão aparece com sendo válida "unicamente para os tripulantes filipinos e cubanos."
"Como todas as companhias marítimas, MSC Cruzeiros teve de pagar os montantes solicitados pela Selecmar pelos tripulantes cubanos. Era uma exigência das autoridades locais", confirma a MSC. Em Abril de 2020, perante as numerosas queixas dos tripulantes,  Havana anunciou que estes passariam a receber 100% do seu salário, mas que 30% deviam ser depositados numa conta em Cuba e em moeda cubana.
"Trabalhei seis meses seguidos, sem qualquer dia de descanso, sem férias, dez a doze horas por dia", declarou uma antiga empregada. Contando as horas extraordinárias, os fins de semana, etc. recebia menos de 900 euros por mês." Em média, segundo Javier Larrondo, da ONG Prisoners Defenders, os tripulantes terão trabalhado 67 horas semanais, muito além do limite  das 48 horas imposto pela convenção do trabalho marítimo.
MSC nega qualquer forma de exploração: "Todos os tripulantes cubanos da MSC Cruzeiros foram sempre tratados equitativamente." Esta afirmação  provoca o riso de Reynaldo, cujo salário de base era para ele também de 400 euros. "Se ganhava mais, era com as horas extraordinárias e as gratificações."
Segundo os documentos da queixa antes referida, os empregados não dispunham de liberdade de movimentos, e acusam a MSC de ter  apoiado o governo cubano, nas suas tarefas repressivas. Nalgumas escalas, os tripulantes cubanos eram impedidos de vir a terra. "O comissário de bordo de MSC ficou com o meu passaporte logo que cheguei ao barco, assegura Margarita. Perguntei aos meus colegas porquê e disseram-me que era porque, se um tripulante cubano aproveitava a vinda a terra para desertar, MSC tinha de pagar 10.000 euros de compensação ao governo cubano." Javier Larrondo reconhece não ter qualquer documento que prove esta acusação, formalmente desmentida pela MSC. Mas tanto Margarita como Javier asseguram que só puderam recuperar o passaporte no final do contrato. "Davam-nos um documento de identidade para poder desembarcar", afirma Reynaldo -que teve conhecimento de 26 "desertores" entre a centena de cubanos que estavam com ele a bordo do navio.
Apesar de ambos terem honrado o contrato até ao fim, sofrem agora a sanção do banimento. Margarida obteve documentos oficiais da Selecmar -que não respondeu ao pedido de informação do Le Monde- e do ministério do interior cubano, que confirmam o seu estatuto de "desertora", e a proibição de poder entrar no seu país durante oito anos.
Tanto Margarita como Reynaldo têm medo das consequências para a sua família, caso viessem a ser identificados. "Podem perder o seu trabalho, ser seguidos, , interrogados, murmura Reynaldo. Viajando dei-me conta que na ilha somos manipulados. Para mim, Cuba acabou."

Angelina Montoya

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

 



Castelo do Bode, turismo, água da rede

Na EPAL o custo da água diminui com a distância

Um leitor simpático alertou Tomar a dianteira 3, via mail, para a situação da barragem do Castelo do Bode. Juntou até duas imagens, mostrando o nível da albufeira, bem abaixo do usual nesta altura do ano, e aproveitou para referir a anunciada instalação de painéis solares naquele lago.
Embora possa não parecer, e os tomarenses, tal como os outros povos vizinhos da albufeira, não mostrem grande interesse, a verdade é que o problema do Castelo do bode é muito  grave e complexo. Começa com a questão da finalidade da barragem. Construída nos anos 50 do século passado, para produzir energia hidroeléctrica, foi mais tarde transformada em reservatório para o abastecimento de água a Lisboa e arredores. Desde então, as suas turbinas, que são das maiores do país, só voltaram a funcionar para facilitar o arranque da rede após queda brusca, dada a sua grande força de inércia. 
A nova afectação da barragem, que já dura há décadas, é obviamente uma das duas causas do preocupante nível geral da albufeira, uma vez que o abastecimento à região de Lisboa consome bastante mais que o antigo caudal necessário para movimentar as turbinas produtoras de energia hidroeléctrica. A outra causa é a fraca pluviosidade, contra a qual nada há a fazer. A não ser transvases do Cabril e da Bouçã, enquanto der.
Além do problema da altura da água, fala-se agora na instalação de painéis solares,  em parte da superfície do lago, sem mais precisões. É mais um caso em que Lisboa decide e os provincianos devem acatar, sem sequer terem sido antes informados nem ouvidos. Tal como aconteceu em tempos com a servidão imposta pelo aproveitamento da água para consumo humano, o que impediu muitas actividades nas margens e na própria albufeira, assim condicionando o desenvolvimento de toda aquela zona. Outros tempos, mesmos hábitos autoritários.
Procurando compensar de algum modo tais inconvenientes, a Assembleia Municipal de Tomar aprovou nos anos 80 uma proposta para que a EPAL, que capta, trata e  vende a água do Castelo do Bode, pagasse uma pequena soma por cada litro de água às autarquias ribeirinhas. A tradicional falta de informação municipal não permite saber se tal proposta chegou ou não a ser implementada. Mas a situação tem vindo a revelar-se extravagante.
Nestas coisas dos negócios da água, há a compra "em alta" para vender "em baixa". A Tejo Ambiente, por exemplo,  herdeira dos SMAS,  compra "em alta" à EPAL, para vender "em baixa" aos consumidores tomarenses. Já a EPAL, com este ou outros nomes comerciais, fornece "em alta" e vende "em baixa", em Lisboa e na região, uma vez que na origem se chamou sucessivamente Empresa Pública das Águas Livres e Empresa Pública das Águas de Lisboa.
Até aqui tudo bem. O problema é que a água é vendida "em alta" pela EPAL, três vezes mais cara em Tomar do que em Lisboa. É verdade. E quem se queixa é a própria presidente da câmara de Tomar e ex-presidente da Tejo Ambiente. Sabe portanto do que fala, e não costuma ser contestatária:
Temos assim o mundo praticamente às avessas. Tradicionalmente, a água, que é um bem público gratuito, passou a ser paga para compensar os custos, que são 4, a saber : captação, tratamento, transporte e distribuição. Pois no caso em análise, da EPAL, o factor custo de transporte joga ao contrário. Quanto mais longe estiver o consumidor em relação à captação, menos paga pela água consumida. É assim que, em Lisboa e arredores, pagam muito mais barato pela água do Castelo do Bode do que os consumidores de Tomar,  Abrantes ou Ferreira do Zêzere, que estão mesmo ao lado da albufeira.. Explicações devem ser solicitadas à EPAL, e às autarquias que em tempos celebraram tais convénios leoninos. Não a quem redige estas linhas, que se limita a pagar no fim do mês.
Seguindo o mesmo raciocínio, é previsível que os futuros consumidores da energia eléctrica produzida pelos painéis solares a instalar, venham a pagar também em função da distância. Quanto mais longe mais barato, como no caso da água. Aqui fica desde já o alerta para os potenciais consumidores do norte do país, uma vez que agora se pode escolher o fornecedor de electricidade, mas ainda não o da água. Optem pela energia verde produzida pelos painéis instalados na barragem do Castelo de Bode. Fica muito mais em conta, para quem como vocês está mais longe.
Mas depois, façam-nos um grande favor. Protestem contra os citados painéis, quando vierem a provocar a eutrofização da água da albufeira, com o consequente aparecimento de algas. que vão complicar a captação e o tratamento da água pela EPAL. Tudo provocado pela redução da exposição solar, devido aos painéis justamente. Nenhum player consegue ganhar sempre em todos os tabuleiros, e o excesso de fitoplancton,  tendo como origem os fosfatos e nitratos, não perdoa. Já pensaram nisso, senhores da EPAL? É que depois do mal aparecer, vai ser muito mais difícil encontrar uma solução.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

 



Turismo - transporte aéreo

"ALITÁLIA: 
"Nunca se desaparece de facto 
no mundo mágico do transporte aéreo"

Crónica do jornalista Philippe Escande
LE MONDE, 25/01/2022, às 10H24 de Paris. Leitura 2 minutos.

Tradução e adaptação de António Rebelo, UParis VIII

"ITA, a sucessora de Alitália, apoiada com milhares de milhões de euros pelo Estado italiano, deverá terminar o seu percurso na cesta da alemã Lufthansa, com a ajuda do armador italo-suiço MSC. É o último salvamento para a companhia aérea da dolce vita, que já se finou por diversas vezes, constata Philippe Escande, editorialista de economia no Le Monde."

"Em 25 de Agosto de 1960, o milagre italiano expunha-se ao mundo, organizando os Jogos Olímpicos pela primeira vez na história. E o milagre tem asas. Alitália, fundada em 1947, está a transformar-se numa das maiores transportadoras aéreas da Europa. Dez anos mais tarde, é a primeira inteiramente equipada com aviões a jacto e leva a Itália a todos os continentes. Mas o milagre evaporou-se pouco a pouco, nas nuvens das repetidas crises do final do século passado. Estruturalmente em défice desde o final dos anos 90, a empresa nunca mais teve lucros a partir de 2000, tendo acabado por desaparecer em 15 de Outubro de 2021, vítima de erros de gestão, de excesso de investimentos e de repetidas greves.
Mas nunca se desaparece de facto no mundo mágico do transporte aéreo. Renomeada "Itália Transporto Aéreo (ITA)" e controlada pelo Estado italiano, a sociedade está quase vendida à alemã Lufthansa e ao armador italo-suiço MSC. Melhor dizendo, o que resta da Alitália, Uma start-up com 50 aviões e 2.800 empregados, contra 11 mil em 2017, quando os pilotos rejeitaram mais uma proposta de acordo que previa 1.700 despedimentos.
O presidente do conselho (primeiro ministro) Mário Draghi conseguirá  ter êxito em mais este domínio, onde os seus predecessores falharam durante mais de 20 anos? E no entanto injectaram mais de 13 mil milhões de euros do Estado, tentaram casamentos com muitas outras companhias, sem todavia conseguirem libertar-se do problema que se lhes colava aos dedos, como o adesivo do capitão Haddock sentado no seu assento de avião.
Para conseguir êxito, Mario Draghi declarou a falência da empresa e fundou em sua substituição uma start-up, indo buscar para a dirigir um adjunto de Sergio Marchione, o falecido patrão emblemático da Fiat. Alfredo Altavilla encomendou novos aviões, graças a mais uma ajuda estatal de 700 milhões de euros e começou a procurar parceiros de negócio. A alemã Lufthansa, apenas recomposta da crise da pandemia (já reembolsou as ajudas recebidas do estado), deverá acrescentar a italiana ITA à sua colecção de companhias aéreas europeias, ao lado das bandeiras austríaca, suiça ou belga. Por seu lado, o transportista marítimo MSC, rico como Cresus devido ao grande aumento das tarifas do frete marítimo, diversifica-se a baixo custo no frete aéreo. Está igualmente em conversações com o grupo francês Bolloré, para a compra das actividades portuárias e logísticas em África.
Audaciosas mas prudentes, Lufthansa e MSC solicitaram  imediatamente ao Estado italiano que se mantenha como sócio, mesmo minoritário, da nova empresa. Sabem muito bem  que é preferível nunca cortar as pontes com a "mãe amamentadora", que sempre amparou até ao limite a sua filha problemática, durante tanto tempo e contra toda a lógica económica para um estado  já sobre-endividado, e quando as companhias estrangeiras, como Ryanair, Easyjet ou Wizz já saturam os aeroportos italianos.
Mas como reconheceu Mario Draghi, o antigo presidente do BCE, que já conhecemos menos sentimental,  "Sempre considerei a Alitália como um membro da minha família". Um sentimento partilhado por muitos italianos, que todavia não impede de encarar a realidade. É mais que tempo de virar a página e de reconhecer que a bandeira italiana já não é capaz, desde há muito, de voar com as suas próprias asas."
Philippe Escande

Quem é que está para aí a comparar com a TAP?! Não tem nada a ver.
Ou tem mesmo?!?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

 


Eleições legislativas - Resultados locais


Os meus palpites para Domingo

Tendo em conta o conhecido "prognósticos só no final do jogo", bem como o mais elaborado "a previsão é muito difícil, sobretudo quando se trata de prever o futuro", eis as minhas opiniões fundamentadas para as eleições do próximo domingo, em Tomar. Era para ficar calado a tal respeito, até me dar conta de que a fraca audiência de Tomar a dianteira 3 impede que possa vir a ter qualquer influência no eleitorado.
Parto do princípio que a abstenção deverá manter-se à volta dos 50%, por não ter ocorrido desde a última consulta qualquer fenómeno político susceptível de alterar o costume local. Há porém que ter em conta a pandemia. Caso os infectados e os confinados resolvam ficar em casa, podemos vir a registar uma abstenção superior a 60%. Em tal contexto, os pequenos partidos mais recentes não têm qualquer hipótese. Seria uma grande surpresa, caso algum deles conseguisse ultrapassar o meio milhar de votos no concelho.
A CDU e o BE pouco melhor conseguirão, por continuarem a pagar a sua perda de natureza, ao associarem-se ao PS em 2015, para afastar o PSD do governo, apesar de ter vencido as eleições, é bom não esquecer. Considerados até então partidos de protesto, e por isso bastante úteis para conseguir concessões do governo, tornados parceiros de facto, passaram a ser como os outros. "Andam todos ao mesmo!" "É tudo a mesma gente!". E os eleitores mais exigentes mudaram o seu voto para os novos candidatos de protesto.
Esses candidatos de protesto são agora os do Chega, devido à própria natureza do partido. Ventura tem tido o cuidado de contestar tudo e todos, mas sempre pela direita alta. E os tomarenses são sensíveis à linguagem autoritária, às leis duras (para os outros!) e às arremetidas contra os ciganos e outras minorias. Ou muito me engano, ou o Chega vai conseguir no concelho um resultado à roda dos dois mil votos, de eleitores agradecidos por terem de novo um partido-moço de recados, para protestar por eles. Porque tomarense a dar a cara, é coisa rara. Só para celebrar vitórias.
O CDS parece-me um caso perdido, embora não se perceba bem porquê. As autárquicas correram-lhe mal em Tomar, contra todas as expectativas, e as legislativas não se anunciam melhores. Mas dada a proximidade de Fátima, e o facto de se tratar de um partido de base cristã-democrata, não se pode excluir um milagre do Chicão. 
Chegamos assim aos dois grandes de sempre. Como se dizia nos anos 80: o PS, Partido Socialista e o PSD,  Partido Socialista a Diesel. É meu entendimento que, desembaraçado do handicap da sua cabeça de lista nabantina, que fez o possível para não vencer nas autárquicas de 2021, o PSD de Rui Rio vai vencer no concelho, até com alguma folga. Porque não me parece que Tomar, concelho de velhos e de funcionários públicos, seja ou alguma vez tenha sido socialista. Canhotos em Tomar? Só a malta nova e um ou outro teimoso mais velho.
Há, é certo, o fenómeno Anabela Freitas, que já vai no seu terceiro e último mandato, com maioria absoluta. Mas é, como diria o outro, um caso particular. Trata-se de um equívoco evidente. Os eleitos rosa parecem estar convencidos de que têm feito um excelente trabalho, quando afinal não é de todo o caso, como os tomarenses bem sabem, porque vão vendo. Trata-se de uma maioria autárquica infelizmente sem ideias, sem projectos e sem capacidade de gestão. Esgotada portanto.
Têm conseguido vencer graças a três factores principais: a - a manifesta fraqueza das candidaturas PSD, que impossibilitaram qualquer alternativa real; b - a descarada compra de votos, num concelho cuja população em geral vive do Estado; c - a excelente oralidade de Anabela Freitas, infelizmente oca e escondendo um feitio difícil.
Uma vez que, no próximo domingo, já não se trata de escolher entre a simpática, bem apresentada e generosa Anabela, e os fracos candidatos laranja, com destaque para a que até recusou um frente a frente radiofónico, os eleitores não terão qualquer dúvida em orientar-se para a sua inclinação natural nos tempos que correm: o PSD moderado de Rui Rio.
Enganei-me nas autárquicas. Não julguei possível a repetição de 2017 em 2021. Esqueci-me que se trata de tomarenses, meus queridos conterrâneos, que por vezes tenho muita dificuldade em compreender.  Carência minha, sem dúvida.
Se agora voltar a acontecer, não hesitarei em reconhecer de novo o erro, e tentarei explicar porquê.  Lá por onde estudei, ensinaram-me que admitir os erros, dar o braço a torcer, é prova de tolerância e de inteligência. Outros ares, outros modos. Por isso, eles avançam e nós vamos ficando cada vez mais para trás. Mas felizes em geral, julgo eu.

domingo, 23 de janeiro de 2022

 

Aspecto de Granada (Espanha), vendo-se a Alhambra (3 milhões de visitantes anuais, contra 290 mil no Convento de Cristo) e a Serra Nevada

Política local - Planeamento - Turismo

Turismo popular ou turismo de luxo?

Correndo uma vez mais o risco de enfastiar os meus queridos conterrâneos, pelo que desde já peço desculpa no caso de,  decidi insistir na abordagem de questões ligadas ao  turismo. Agora a partir do diário espanhol EL PAIS. Caso consiga ler e entender castelhano, faça favor de clicar:
https://elpais.com/economia/2022-01-23/el-uso-de-los-fondos-europeos-reaviva-el-debate-sobre-el-futuro-del-turismo.html
Segundo maior mercado europeu de turismo, Espanha tem milhões de euros de fundos europeus para distribuir nessa área, o que naturalmente provoca rivalidades de vária ordem. Eis uma parte do que relata o periódico espanhol, pela pena do jornalista Hugo Gutiérrez:
"O lobby turístico Exceltur  é um dos mais beligerantes no sentido de se elaborar um plano estratégico para a indústria turística. Sustenta que se deveria dedicar uma parte importante dos fundos europeus à renovação dos destinos maduros do litoral espanhol, que concentram 70% da actividade, e precisam de uma actualização para se manterem fortes a longo prazo. Com o formato actual de repartição dos fundos, afirma a Exceltur, está-se a investir em projectos de pouco potencial, e não nos de maior alcance.
É precisamente neste ponto que se situa a questão de fundo. Em parte sobre a quantidade de fundos a injectar. Mas sobretudo àcerca do que se pretende para o futuro: apostar no turismo de massa -com gastos menores- ou num modelo premium e de alto valor?
Em Tomar, estas e outras questões sobre o nosso futuro colectivo, assemelham-se a discussões teológicas, durante um concílio. Aborrecem os eleitos e não interessam aos eleitores em geral. Mas também, que se pode esperar de um executivo municipal que leva mais de 5 anos anos para requalificar uns simples sanitários públicos?
Em Fortaleza, no Nordeste brasileiro, uma das regiões mais atrasadas do Brasil, um país dito do 3º Mundo, edificam prédios de 30 andares e 240 apartamentos em menos de 3 anos. Mesmo com o Bolsonaro em Brasília.

sábado, 22 de janeiro de 2022

 

Imagem Tomar na rede, com os nossos agradecimentos

Obras municipais - Sanitários da Várzea grande

Crónica de um ocasional porteiro de retrete

Começo por pedir desculpa aos meus queridos conterrâneos. Vou criticar, e já sei que isso os ofende muito, tanta é a sua tolerância...com os que pensam como eles. Os outros, os que pensam de modo diferente, são naturalmente todos uns malvados. Racismo encapotado? Que ideia!!!
Que fazer, adorados vizinhos de nascença? Cada qual com o seu karma. Uns vão seguindo o rebanho, apoiando os pastores, e são felizes assim. Outros vão criticando e afastando-se cada vez mais, em busca da felicidade perdida ou nunca encontrada.
Durante um circuito de 15 dias na China, nos anos 90 do século passado, até fui forçado pelas circunstâncias a ser porteiro ocasional de uma retrete pública. Foi assim: Lisboa-Londres - Hong-Kong em Boeing 747, daqueles de dois andares. Hong Kong-Macau em heliscafo, aqueles barcos rápidos que deslizam sobre esquis.
Terminada a visita a Macau, onde ainda ondeava a bandeira portuguesa, o guia local avisou, já na Porta do cerco (fronteira): -Agora até Cantão a viagem vai durar cerca de 6 horas. São 200 quilómetros, mas a velocidade máxima autorizada é de 40 à hora. A guia e o motorista só falam cantonês. Alguma necessidade particular durante a viagem, por favor avisem agora.
Apressei-me a lembrar que, de acordo com as normas usuais, as boas práticas, convinha fazer uma paragem após cada duas horas, num local com instalações sanitárias. Ouviu com atenção e foi logo transmitir à guia e ao motorista.
Após cerca de três horas, à velocidade estonteante de 40 quilómetros por hora, numa magnífica auto-estrada novinha em folha, o motorista parou num aparcamento com piso de terra, e a guia apontou para uma construção tradicional baixa, com cobertura de telha e apenas os vãos das portas.
Sairam as primeiras senhoras, para se aliviarem, mas logo regressaram muito alvoraçadas. Aquilo não tem condições nenhumas, diziam. Desci e fui ver. Tinham razão. Eram dois recintos pequenos, com o chão em cimento e uma regadeira profunda, a cerca de 70 cms de uma das paredes. Tudo sem qualquer resguardo.
Voltei ao autocarro, que era dos pequenos, e sugeri: Se estiverem de acordo, faço de porteiro e as senhoras irão aliviar-se uma de cada vez. Precisão a quanto obrigas, todas concordaram, e passado um bom bocado a viagem continuou, sem sequer lavar as mãos, porque não havia. lavatórios, nem torneira disponível.
Entretanto a China progrediu e dispõe agora das melhores estruturas de acolhimento turístico, ao contrário do que acontece em Tomar, por exemplo. Esta introdução serve apenas para mostrar que quem escreve estas linhas já usou milhares de instalações sanitárias. De Pequim às cataratas do Niagara e da Birmânia à Ilha da Páscoa. Ou de Lisboa a Moscovo e de Quito a Macapá, passando por Luanda ou Bombaim.
Foi por isso com alguma surpresa que vi as fotos dos  novos sanitários da Várzea grande, publicadas na Tomar na rede.Ver imagem supra, ou aqui: 
Aparentemente espaçosos, modernos, limpos e funcionais, carecem todavia de ventilação adequada, e têm uma parede com elementos de calcáreo velho à vista, o que não é aceitável de modo algum em instalações sanitárias. Porque o calcáreo absorve, não permite uma limpeza eficaz, acabando por se desfazer pouco a pouco, sob a acção do chamado salitre, provocado pelos produtos de limpeza com cloro ou amoníaco.
Se fosse numa outra cidade, nem sequer haveria licença de funcionamento. O normativo europeu estabelece que todas as paredes dos sanitários devem ser revestidas com cerâmica vidrada. Uma vez que estamos em Tomar, e tratando-se de uma obra camarária, não se prevê qualquer problema. O arquitecto acabará por dizer que está muito orgulhoso do seu trabalho, como já fez em relação à Várzea grande, e as grandes cabeças que chefiam ou tentam gerir o concelho vão insistir na teoria de que os culpados são sempre os outros, lastimando-se com o usual "lá está o gajo outra vez a dizer mal!" Quer dizer, o projecto é excelente e foi muito bem executado. Quem critica é que não vale nada. A tradição local ainda é o que era.
É também por isso que Tomar está cada vez mais decadente.  Os tomarenses continuam a  acreditar em balelas. E os que mandam, todos querem ter razão. Ninguém admite erros, ou dá o braço a torcer. Era só o que faltava!, diria o camarada Costa.
Entretanto, os visitantes e os residentes nos concelhos vizinhos vão continuar a rir-se à custa dos nabantinos, realmente uma comunidade com opções e obras cada vez mais bizarras. Mas como aparentemente são felizes assim... Oxalá não façam parte do exército de consumidores de ansiolíticos, neurolépticos, hipnóticos e outros medicamentos calmantes, que em Portugal têm cada vez mais procura:
https://omirante.pt/nacional/portugueses-estao-a-comparar-28-mil-embalagens-de-anti-depressivos-por-dia/

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

 

Ponte dos suspiros, em Veneza, ligando o palácio dos doges (governo) à prisão. A altura explica-se por razões de segurança, na primeira ponte, e para os gondoleiros de pé poderem operar com a vara, na segunda ponte. Em Tomar, como não há por ali prisão nem gôndolas, para que serve aquela altura?

Política local - parques e jardins

O Mouchão vandalizado pelos novos apóstolos da ecologia

Durante décadas, quando ainda ninguém falava de ecologia, o Mouchão foi a sala  de visitas de Tomar. Mesmo depois da inauguração do estádio, e da subsequente mudança do cine-esplanada, continuou um mimo. Tinha sanitários com guarda, barcos para alugar, uma ponte de madeira desmontável, apoiada no açude,  e um sistema de rega tradicional, aproveitando a água da roda.
Sem que ainda hoje se perceba muito bem porquê, durante os mandatos do eng. Paiva destruíram os sanitários, substituiram o sistema de rega tradicional por um de aspersão, montaram uma ponte totalmente desadequada, com perfil a imitar a dos suspiros, em Veneza, e repararam o piso. Tudo isto praticamente sem um protesto, sem um pio sequer, da parte dos que se consideram defensores de Tomar. Curiosa situação!
A partir de então tem sido um fartar vilanagem. Eventos semanais e bi-semanais para todos os gostos, incluindo até uma missa campal, tudo em cima da massacrada  relva. Dirão os apoiantes dos novos vândalos que antes até houve cinema no Mouchão, o que é verdade. Acontece porém que o recinto do cinema (do lado esquerdo de quem olha para a Estalagem) não tinha relva. Ainda lá está uma parte do rectângulo original, coberto de saibro. 
Quando se esperava que os sucessores tomarenses do nortenho Paiva reparassem o que está mal, é o contrário que tem acontecido. Devido aos sucessivos eventos, a actual relva pouco tem a ver com a anterior ao Paiva. A rega por aspersão vai dando banho a um ou outro visitante incauto, sendo visível a falta de manutenção. E assim se vai gastando água da rede, com a da roda a voltar para o rio, mesmo ao lado.
A nova ponte continua a desfigurar o que já foi muito bonito, no tempo da ponte de madeira. E claro, cesteiro que faz um cesto, faz um cento. Tal como a ponte de madeira foi abandonada para evitar o trabalho anual de montagem e desmontagem, uma maçada para os funcionários camarários, chegou a vez de fazer o mesmo ao açude da roda. Torná-lo fixo e permanente, para evitar os trabalhos anuais dos mesmos sacrificados trabalhadores municipais.  As primeiras reclamações já apareceram. Atirada a tradição para o lixo, o Nabão lá vai comendo as margens pouco a pouco. Aguardemos.
Falta agora conhecer o aspecto definitivo da acrescentada estalagem, bem como o inevitável aumento dos espaços para estacionamento. Vai ser mais uma maravilha, a acrescentar às já existentes. Coitado do Mouchão! Coitados dos tomarenses, que mereciam melhor sorte na altura de votar.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

 




Preconceitos ideológicos?
O exemplo de Alcanena

Alcanena, concelho do distrito de Santarém, mais pequeno que Tomar, acaba de aprovar o seu orçamento e GOP para 2022.
"Na análise feita ao documento, o presidente da câmara Rui Anastácio afirmou que o sector turístico é vital para o desenvolvimento económico do concelho e que é nas serras de Aire e Candeeiros que reside o potencial turístico através da criação de um geo-parque à semelhança do que acontece na Serra do Gerês. O autarca afirmou ainda que vai reforçar a posição do município na Associação de Desenvolvimento das Serras de Aire e Candeeiros (ADSAICA), com o objectivo de fortalecer o sector turístico."
Isto num concelho com apenas 11.733 eleitores, pouco mais de um quarto do eleitorado tomarense, sem grandes monumentos, mas com um orçamento para 2022 de 19 milhões, contra apenas 44 milhões em Tomar.
Entretanto, na orgulhosa capital nabantina, governantes cheios de empáfia mandam o turismo às urtigas, embora vão dizendo umas coisitas a respeito para entreter a malta. A verdade porém é que, além de nada fazerem no domínio do planeamento de estruturas de acolhimento, nem sequer conseguem condições para corrigir um erro evidente, que causa grandes transtornos e cuja solução é barata.
Trata-se da Estrada do Convento, assunto já aqui abordado por diversas vezes, até agora em vão. Durante as obras camarárias para instalação de passeios, houve um erro de cálculo, no projecto ou na subsequente execução, donde resultou que, num pequeno sector, a faixa de rodagem não tem largura suficiente para que dois autocarros possam cruzar-se. O executivo que aprovou o projecto não viu nada, os autores tão pouco, os executantes também não, e a fiscalização deve ter passado o tempo a limpar os óculos de não ver. Há 13 anos que a situação anómala se mantém. Quando confrontados com a asneira, os técnicos municipais avançaram logo com uma solução expedita, evitando reconhecer o erro, imediatamente aprovada pelo executivo: os autocarros só podem subir a Estrada do Convento. Para descer à cidade têm de dar uma volta de quilómetros.
Perante o manifesto desprezo da maioria PS por um problema que ocorre a 50 metros dos Paços do concelho, até parece que afinal o erro foi deliberado, para evitar a descida à cidade dos turistas dos autocarros. Antes porque se calhar tinham pulgas, ou qualquer outro parasita. Agora eventualmente por causa do covid 19, que serve de desculpa para tudo.
E os comerciantes locais, que são os principais prejudicados, porque quem não vem não compra, continuam calados, tal como acontece em relação ao encerramento do parque de campismo, por exemplo, naquela usual atitude de aguardar que outros resolvam o problema. Continuar à mama, como sempre. Pobre terra!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

 

Panorama de Xangai

Informação - economia - autarquia

Que raio de ideia foi aquela?!?

Que raio de ideia foi aquela, de publicar uma crónica sobre os funcionários públicos chineses? Boa pergunta, prezado conterrâneo. Assim  à primeira vista, nada justifica realmente semelhante decisão, uma vez que a China é lá tão longe. E até deu trabalho, pois não foi só copiar. Houve também a tradução, sempre fácil quando feita pelos outros.
Assim,  pensando um pouco melhor, não será sempre útil informar com verdade? Conhecer melhor o mundo que nos rodeia? Tentar compreender como se vive nos outros países? Comparar a nossa situação com a de outros iguais?
A China é um país imenso, com uma população quase duzentas vezes superior à portuguesa, crescimento económico anual superior a 5%, e governada, desde os anos 50 do século passado, pelo Partido Comunista. Com planeamento central e sem oposição interna com real capacidade de expressão, lógico seria que não houvesse dificuldades para assegurar os fins de mês dos numerosos funcionários públicos.
A crónica do Le Monde, escrita por quem vive na capital da China, mostra exactamente o oposto. Há graves dificuldades económicas ao nível dos municípios, das províncias e das regiões, o que vem forçando os autarcas e os governantes a reduzir os vencimentos dos empregados públicos. Situação que o governo de Pequim naturalmente vai desmentir, logo que a notícia seja difundida a nível mundial. O costume.
Mostra mais, o trabalho do jornalista francês. Evidencia que, tal como nos países capitalistas, há municípios e regiões pobres, e outros sem grandes dificuldades. É o caso da rica Xangai, por exemplo, uma das maiores cidades chinesas, porto importante e centro produtivo de primeira grandeza. A mostrar que, seja qual for o regime político, existem sempre dois grandes grupos. Os que sabem  viver à custa do Estado, que o mesmo é dizer dos contribuintes, e os que produzem riqueza, mais valia, valor acrescentado, que num segundo tempo permite sustentar os dependentes do Estado. Na China é Xangai, entre outras. Em Portugal é sobretudo o norte. Para se convencer basta reparar na primeira liga de futebol. Quantos clubes são do Norte? Dez clubes, contra apenas quatro em Lisboa. Quantos são do Centro ?  Um clube, o Tondela. E do Alentejo? Zero clubes. Houve em tempos o Campomaiorense, financiado pelos cafés Delta.
Se até na China, gigantesco país, na prática sem oposição interna, e com um invejável crescimento económico anual, as coisas estão como estão, em Portugal, nas cidades ditas médias, que não passam afinal de aldeias à escala europeia, vai sendo tempo de mudar de mentalidade. Virar-se para iniciativas rentáveis, geradoras de recursos. Sob pena de um dia destes, mais cedo do que muitos possam pensar, não haver nos cofres municipais dinheiro que chegue para pagar atempadamente aos funcionários. As esmolas europeias não vão durar para sempre e o inevitável aumento a prazo das taxas de juro vai criar problemas para financiar a nossa exagerada dívida pública. Quando tiver grandes dificuldades financeiras, o governo logicamente vai cortar nas transferências para as autarquias, e lá se vai a fartura aparente.
Não se trata de acusar, ou criticar. Apenas de alertar, de deixar escrito, para ser lido quando e onde convier. Porque a mendicidade, nunca foi um modelo de vida aceitável. E com a adesão à Europa, o nosso município (como muitos outros, é certo), tornou-se um especialista em pedinchice.  O nosso problema é que, enquanto outros usam os fundos de Bruxelas para se equiparem e desenvolverem, em Tomar é quase só para espatifar em eventos vários, subsídios, ajudas e obras para ornamentar. 
Entretanto os residentes em Carvalhos de Figueiredo, por exemplo, esperam em vão, há mais de 30 anos, que melhorem as suas condições elementares de vida, construindo passeios e actualizando o saneamento. Nem o facto do presidente da junta urbana morar lá, lhes resolve o problema. Bem exclamava a saudosa ferreirense Ivone Silva: : -Isto é que vai uma crise!!!

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

 


Informação internacional/ Funcionários públicos

NAS PROVÍNCIAS CHINESAS OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS APERTAM O CINTO PORQUE NÃO HÁ DINHEIRO

Crónica de Frédéric Lemaître
Correspondente do LE MONDE em Pequim

Publicado em 18/01/2022 às 06h00 de Paris - 3 minutos de leitura

(Tradução de António Rebelo, UParisVIII)

"Neste país no qual o "povo" tem a sorte de estar no poder, mas não a de ter representantes sindicais dignos desse nome, parece ter sido com uma simples mensagem publicada em Dezembro nas redes sociais que tudo começou. Uma funcionária pública da cidade de Hangzhou, no leste do país,  queixava-se abertamente nestes termos: "Ouçam isto. O meu vencimento anual foi amputado de cerca de 25%. São menos 50 mil yuans (6.900 euros). Como é que eu me vou poder governar?"
Apesar de rapidamente censurado, o post provocou múltiplas reacções. Alguns chineses começaram  por deduzir que esta senhora ganhava a interessante soma de 200 mil yuans  por ano, mais do que muitos empregados do sector privado. Mas sobretudo, a conversa alargou-se e as línguas soltaram-se. Hangzhou, que tem o privilégio de abrigar a sede social da ALIBABA, número um mundial do comércio electrónico, não é afinal um caso único. Um polícia de Zhejiang terá tido um corte semelhante no seu vencimento. Nesta província, na de Cantão e no Jiangsu, alguns prémios laborais não terão sido pagos. Em todos os casos, fala-se de redução de vencimentos de 25% a 30%. Na província de Shandong, foi o 13º mês que se evaporou. Questionada por um jornal da província, a Câmara de Suzhou, a "Veneza chinesa", reconheceu ter procedido a um "reajustamento" dos vencimentos dos seus funcionários. Na região de Jiangxi, a cidade de Dexing terá imposto aos professores a devolução dos prémios já recebidos, ou seja 50% dos seus vencimentos.
A retribuição dos funcionários chineses é extremamente opaca. "Os departamentos encarregados do pessoal no seio do governo são, tal como os departamentos encarregados da organização no seio do partido (comunista), estão entre os mais misteriosos", escreveu Alfred Wu, um universitário de Singapura, no seu livro Governing Civil Service Pay in China, (NIas Press, não traduzido), publicado em 2014, mas que continua a ser a referência. Ignora-se até o número total de funcionários públicos. Sabe-se apenas que eram 7,1 milhões (sem contar os professores), no final de 2015. Um número que não inclui os contratados -cerca de 50 milhões de pessoas.
Se uma parte do vencimento dos funcionários é fixa e definida pelo governo central, outra parte, que pode ser equivalente, é variável. Prémios vários, alojamento de função, viatura de serviço, acesso a hospitais e escolas específicas, há de tudo.
Em princípio, a parte variável do vencimento está ligada ao desempenho do funcionário, incluindo bem entendido a lealdade de cada um para com o Partido comunista, mas segundo escreve Wu, a situação financeira do empregador desempenha o papel mais importante. Vale mais ser funcionário público da rica Xangai que da pobre Shenyang.
Como não há IMI -o grande ausente do arsenal fiscal chinês- os municípios dispunham até agora de uma única vaca leiteira: a venda de terrenos para  construção aos promotores imobiliários. O sistema funcionou bem durante 20 anos, mas a recente falência do líder do sector, EVERGRANDE,  ditou o fim do jogo. Ou pelo menos uma interrupção mais ou menos prolongada. Agravando a situação, a política governamental zero Covid obriga os municípios a comprar dezenas de milhões de testes, prevendo o caso de um novo e inesperado surto. São portanto mais despesas.
Em simultâneo, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang, continua a insistir na necessidade de reduzir as taxas e os impostos das PME, o que representa menos receitas fiscais. Conclusão: os municípios não têm dinheiro. Excluindo o município de autónomo de Xangai, todas as províncias apresentavam, em Novembro de 2021, orçamentos deficitários. E 18  das 31 províncias, municípios ou regiões apresentavam défices superiores aos respectivos recursos anuais. À cabeça, o Tibete, com um défice sete vezes superior à s receitas anuais.
Apesar de tudo isto, a função pública continua a atrair os jovens. Em Novembro 2021, 2,1 milhões de jovens apresentaram-se ao concurso de admissão na carreira. Um record que provocou muitas decepções, uma vez que só 1 em cada 68 candidatos acabará por ser admitido. Mas numa  altura em que o sector privado parece fragilizado, e em que os jovens chineses são cada vez menos atraídos pelo sector tecnológico com horários desumanos, a atracção da "gamela pública", o emprego vitalício, continua intacta."