sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

 



Política local - cidadania -reclamações

A autocracia é assim

Ocorrência rara, um munícipe, o sr. António Lopes, arranjou coragem para ir a uma reunião do executivo municipal fazer um pedido. Não foi pouca coisa. Por um lado, os tomarenses são mais adeptos de pedir a outros que reclamem por eles. Por outro lado, os eleitos da maioria PS, e os que os apoiam, têm o hábito lamentável de excomungar quem ousa criticar. Não percebem a diferença entre discordantes, adversários e inimigos. É lá com eles.
O corajoso sr. Lopes pediu, cara a cara, que a Câmara mande retirar o açude do Mouchão, que se tornou permanente, com estacas assentes em sapatas de betão, e que no futuro o açude volte a ser feito como antigamente, porque com o actual, a água do rio fica mais alta e com mais corrente no inverno, comendo pouco a pouco as terras que possui na margem do Nabão.
Tem razão o sr. Lopes. No século passado, quando abriu pela primeira vez, o Hotel dos templários implantou uma roda árabe e instalou o indispensável açude, também com estacaria assente em sapatas de betão, que se julgou então ser o futuro de todos os açudes. Durou pouco a experiência.
Constatou-se a dada altura que, retida pelo açude fixo, a água do Nabão tinha minado boa parte dos alicerces da Estalagem de Santa Iria. Retirou-se o açude, a roda deixou de funcionar e ficou apenas a experiência falhada. Tudo coisas anteriores ao nascimento dos actuais senhores vereadores.
Além do inconveniente da erosão, há o perigo das inundações, por definição imprevisíveis. Mas já houve pelo menos duas em que a água atingiu mais de um metro de altura junto à capela de Santa Iria e, do outro lado, frente às agora Estrelas de Tomar. Sem o açude, que era sempre desmontado em Setembro. Agora imagine-se com o actual açude fixo. Se viermos a ter esse azar, (oxalá que não!), até a roda do Mouchão vai na enxurrada.
Desconhecedora do que está para trás, e portanto condenada a repetir os mesmos erros no futuro, a srª presidente foi quase cruel com o munícipe sr. Lopes. Segundo a notícia da página 9 da edição impressa do Cidade de Tomar, limitou-se a informar que o açude não será desmontado, para evitar despesa, trabalhos anuais e para poupar árvores. Ou seja, para aliviar as tarefas dos funcionários do município. Ia a escrever trabalhadores, porém lembrei-me que a autarquia tem muitos funcionários, mas o executivo queixa-se da falta de trabalhadores. Acrescentou ainda a autarca que tem autorização do organismo estatal competente para implantar um açude fixo. Terá. Mas esse consentimento legal também protege contra a erosão das margens e contra as enchentes?
https://radiohertz.pt/tomar-municipe-pede-demolicao-do-acude-do-mouchao-mas-presidente-da-camara-diz-que-estrutura-e-permanente/
Estamos assim perante mais um exemplo de autocracia. De quero, posso e mando, porque eu é que sei e fui eleita. O munícipe sr. Lopes que arranje outra maneira de resolver o seu problema. A Câmara existe para amparar os seus, e só depois para ultrapassar alguns problemas concelhios.  Não peçam o impossível!
Quando se vier a verificar que há também forte erosão nos paredões de contenção do Mouchão e da Várzea pequena ou, pior ainda, que uma enchente foi bastante agravada pela existência do açude agora fixo, a frase já está feita: "Não temos culpa. Ninguém podia prever uma coisa  assim."
Pois não, uma vez que, julgando saber tudo, nunca procuram informar-se com quem saiba. Mas podiam ao menos cumprir a tradição multicentenária dos açudes desmontados em Setembro, em vez de espezinharem um costume local com séculos, alegando poupança de recursos.
Aqui fica a denúncia. Para que conste onde e quando convier.
Quanto ao sr. Lopes, não se deve sentir intimidado, mesmo se foi essa a intenção da resposta  pouco amistosa que obteve. Se lograr convencer pelo menos a maioria dos proprietários ribeirinhos prejudicados a irem protestar e exigir a desmontagem do açude fixo, numa das próximas reunião do executivo, talvez consigam algo. Porque há uma coisa chamada direito consuetudinário ou costumeiro, que lhes dará razão em qualquer tribunal. E o açude terá mesmo de ser desmontado.
O problema é que assim, corajoso mas isolado, será apenas mais um raro  D. Quixote local. Ainda por cima, sem Sancho Pança, nem chupança.

1 comentário:

  1. Não esquecer a habitual reação "não me meto, não é nada comigo"
    Neste caso esperemos para ver o que acontece quando for também com os outros

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