Panorama de Xangai
Informação - economia - autarquia
Que raio de ideia foi aquela?!?
Que raio de ideia foi aquela, de publicar uma crónica sobre os funcionários públicos chineses? Boa pergunta, prezado conterrâneo. Assim à primeira vista, nada justifica realmente semelhante decisão, uma vez que a China é lá tão longe. E até deu trabalho, pois não foi só copiar. Houve também a tradução, sempre fácil quando feita pelos outros.
Assim, pensando um pouco melhor, não será sempre útil informar com verdade? Conhecer melhor o mundo que nos rodeia? Tentar compreender como se vive nos outros países? Comparar a nossa situação com a de outros iguais?
A China é um país imenso, com uma população quase duzentas vezes superior à portuguesa, crescimento económico anual superior a 5%, e governada, desde os anos 50 do século passado, pelo Partido Comunista. Com planeamento central e sem oposição interna com real capacidade de expressão, lógico seria que não houvesse dificuldades para assegurar os fins de mês dos numerosos funcionários públicos.
A crónica do Le Monde, escrita por quem vive na capital da China, mostra exactamente o oposto. Há graves dificuldades económicas ao nível dos municípios, das províncias e das regiões, o que vem forçando os autarcas e os governantes a reduzir os vencimentos dos empregados públicos. Situação que o governo de Pequim naturalmente vai desmentir, logo que a notícia seja difundida a nível mundial. O costume.
Mostra mais, o trabalho do jornalista francês. Evidencia que, tal como nos países capitalistas, há municípios e regiões pobres, e outros sem grandes dificuldades. É o caso da rica Xangai, por exemplo, uma das maiores cidades chinesas, porto importante e centro produtivo de primeira grandeza. A mostrar que, seja qual for o regime político, existem sempre dois grandes grupos. Os que sabem viver à custa do Estado, que o mesmo é dizer dos contribuintes, e os que produzem riqueza, mais valia, valor acrescentado, que num segundo tempo permite sustentar os dependentes do Estado. Na China é Xangai, entre outras. Em Portugal é sobretudo o norte. Para se convencer basta reparar na primeira liga de futebol. Quantos clubes são do Norte? Dez clubes, contra apenas quatro em Lisboa. Quantos são do Centro ? Um clube, o Tondela. E do Alentejo? Zero clubes. Houve em tempos o Campomaiorense, financiado pelos cafés Delta.
Se até na China, gigantesco país, na prática sem oposição interna, e com um invejável crescimento económico anual, as coisas estão como estão, em Portugal, nas cidades ditas médias, que não passam afinal de aldeias à escala europeia, vai sendo tempo de mudar de mentalidade. Virar-se para iniciativas rentáveis, geradoras de recursos. Sob pena de um dia destes, mais cedo do que muitos possam pensar, não haver nos cofres municipais dinheiro que chegue para pagar atempadamente aos funcionários. As esmolas europeias não vão durar para sempre e o inevitável aumento a prazo das taxas de juro vai criar problemas para financiar a nossa exagerada dívida pública. Quando tiver grandes dificuldades financeiras, o governo logicamente vai cortar nas transferências para as autarquias, e lá se vai a fartura aparente.
Não se trata de acusar, ou criticar. Apenas de alertar, de deixar escrito, para ser lido quando e onde convier. Porque a mendicidade, nunca foi um modelo de vida aceitável. E com a adesão à Europa, o nosso município (como muitos outros, é certo), tornou-se um especialista em pedinchice. O nosso problema é que, enquanto outros usam os fundos de Bruxelas para se equiparem e desenvolverem, em Tomar é quase só para espatifar em eventos vários, subsídios, ajudas e obras para ornamentar.
Entretanto os residentes em Carvalhos de Figueiredo, por exemplo, esperam em vão, há mais de 30 anos, que melhorem as suas condições elementares de vida, construindo passeios e actualizando o saneamento. Nem o facto do presidente da junta urbana morar lá, lhes resolve o problema. Bem exclamava a saudosa ferreirense Ivone Silva: : -Isto é que vai uma crise!!!
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