quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

 

Uma cáfila aguardando os turistas junto às pirâmides de Guizé.

Poder local - crise

A confraria do poder

Cidade pequena, provinciana e de gente em geral tacanha, Tomar vai encolhendo, de forma cada vez mais acentuada, mas nem assim os eleitos locais se interessam pela questão, para além de uma intervenção aqui, outra  ali, só para que conste. Quanto a planos, ou simples medidas avulsas, nicles. Nem a maioria avança, nem a oposição obriga a avançar. Alguém há-de resolver!
Tudo começa com o inadequado sistema eleitoral que temos. Uma vez que as listas são feitas por quem manda em cada partido, os candidatos uma vez eleitos só respondem cada um à sua agremiação. Nunca perante os cidadãos eleitores. Daqui resulta a original situação nas pequenas urbes (e se calhar também nas grandes), quase cinco décadas após Abril. Em vez de programas complexos, ou mesmo simples resumos eleitorais, a esmagadora maioria dos eleitores, pelo menos em Tomar, age em relação aos não eleitos de acordo com dois princípios básicos:
A - Quem não pensa como eu, é meu inimigo; B - O meu clube é sempre o melhor do mundo, mesmo quando joga mal.
Chegadas as eleições, vencem sempre os mesmos, salvo raras excepções. Ou o Benfica ou o Sporting, porque para uns o PS é o Benfica e o PSD o Sporting, mas para outros é o inverso. Com eventuais variantes no norte do país, onde o Porto substitui quase sempre o Sporting.
Nestas condições, há um vasto património comum que une todos os eleitos, numa espécie de associação implícita -a confraria do poder. Com os mesmos princípios e as mesmas ideias básicas, todos partilham vastas áreas de consenso. Nunca se agridem mutuamente e se, muito raramente, tal acontece, nunca passa da fase meramente teatral, para entreter a plateia. Ninguém ousa fazer aos outros o que não gostaria que lhe fizessem, e como são todos pouco tolerantes, ninguém gosta de ser criticado, pelo que apoiam os da confraria contra aquilo que consideram a cáfila dos críticos locais. Só não usam o termo cáfila, por em geral ignorarem o que significa.
Esta panelinha de facto já mostrou para onde leva a cidade e o concelho. No caso da Tejo ambiente, por exemplo, embora com a oposição da AM, o executivo acabou por pagar, após endrominar uns e outros com questões de legalidade. O mesmo que acaba de acontecer com o orçamento e plano para 2022, e com tudo o que vier a seguir, ainda que ao arrepio do bom senso.
Enquanto não houver coragem, no executivo e na AM, para aceitar que a oposição não existe só para ornamentar e poupar a maioria, mas pelo contrário, para ser acutilante, indo até.à ruptura se necessário,  Tomar nunca mais vai conseguir sair da cepa torta. Porque os culpados são agora os socialistas maioritários, mas com a colaboração muito eficaz de toda a oposição, contente por fazer parte da confraria do poder. Julgam eles que é um privilégio, quando não passa afinal de uma chatice e das grandes.

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