Aspecto de Santarém do Pará
Demografia - emigração
A fingir que não vemos vamos de mal a pior
Corajosamente e quase sem companhia, Tomar na rede continua a publicar notícias que os outros media locais rejeitam, porque incomodam e porque o medo é que guarda a vinha:
https://tomarnarede.pt/sociedade/tomar-perdeu-mais-de-4-mil-habitantes-em-10-anos/
Desta vez trata-se dos resultados provisórios dos censos, que seriam assustadores para os tomarenses, caso eles entendessem o mundo em que vivem, ou se ainda se assustassem com algo. Segundo a notícia, o concelho perdeu mais de quatro mil habitantes nos últimos dez anos, o que corresponde a mais de 10% da população. Por conseguinte, a manter-se o ritmo, dentro de menos de 100 anos, não restará ninguém nas margens do Nabão. Bela perspectiva, não é? A mostrar que a maioria socialista local tem vindo a fazer um trabalho de grande categoria.
Em termos estatísticos, quatro mil pessoas que abandonaram o concelho, é pouco ou nada visível. Apenas um pouco mais de 400 emigrantes anuais. Mas se pensarmos em oito autocarros de gente que abandona Tomar em cada ano, a imagem já é mais impressiva.
Apesar de tão sombria perspectiva, ninguém parece comover-se, nem mesmo entre a Praça da República e a Praceta Raúl Lopes, o eixo da inteligência urbana. Quando questionada sobre o assunto, a srª presidente da câmara acompanha o pequeno coro dos cantores de vacuidades. Diz que é um problema de interioridade. E nem sequer se deve preocupar em saber quais são os concelhos do Médio Tejo com maior perda de população (Abrantes e Tomar) e quais as suas causas. Já custa tentar resolver os problemas existentes, quanto mais agora arranjar outros.
Deixando de lado argumentos de café e do domínio do achismo, temos de concordar que os portugueses foram grandes navegadores e bons povoadores, mas só nos novos territórios. No próprio país tem sido sempre uma desgraça, quando comparado com outras paragens. Dois exemplos: Elvas e Badajoz são dois concelhos peninsulares, um português, outro espanhol. Ambos do interior profundo, banhados pelo Guadiana, ficam a cinco quilómetros um do outro e Badajoz está mais perto de Lisboa que de Madrid, a sua capital. Elvas tem agora 20.733 habitantes, Badajoz, mesmo ao lado, tem 150.702 habitantes. Porquê tal abismo?
Outro caso para pensar é o de duas cidades com o mesmo nome - Santarém. A nossa, a do Ribatejo, tem mais de 800 anos, fica nas margens do Tejo, a 60 quilómetros da capital, e tem 61.752 moradores. A outra Santarém, a do Pará, fica a mais de mil quilómetros da costa brasileira, nas margens do Amazonas, tem apenas três séculos (foi fundada em 1661) e conta com 304.589 habitantes.
Perante tais evidências, compreende-se a atitude de alheamento, tanto dos eleitos como dos eleitores. Aqueles parecem acreditar que quanto menos se saiba, neste como noutros temas, melhor será, pois o conhecimento arrastará com ele situações menos confortáveis para todos. Já o Salazar assim pensava. Estes, os eleitores nabantinos, ensinados a adoptar como grandes objectivos de vida "um empregozinho público, um carrinho e uma casinha", devem pensar para consigo que quanto menos população melhor é, porque mais fica para sacar em subsídios e outras vantagens.
Há quem diga que a ambição cega. Neste caso é a ignorância e a falta de bestunto que não deixam ver e entender a preocupante realidade. Mas nunca é tarde para abrir a janela da testa, para arejar.
Ninguém de boa fé pode sustentar que a actual maioria PS, que lidera o Município desde 2013, é culpada pela sangria populacional, pois não há por enquanto dados disponíveis e fiáveis que permitam apoiar tal hipótese. É no entanto claro e indesmentível que nada fizeram durante os dois mandatos anteriores para procurar pelo menos apurar as causas do problema, de forma a poder depois tomar medidas eficazes. Como eleitos que juraram cumprir com lealdade as funções confiadas, essa era e é uma das suas obrigações. A ignorância não beneficia ninguém.
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