segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

 


Até no Brasil, país dito do 3º mundo, há planeamento e debate público.

Política local - crise - planeamento

A mãe de todas as reformas

A mãe de todas as reformas é a reforma das mentalidades, escrevia a semana passada o cronista Santana Maia Leonardo, n'O Mirante. Em Tomar é do conhecimento geral a situação miserável da informação local, por causa da qual os eleitos  nunca são confrontados seja com o que for. Só dizem o que lhes convém, quando lhes convém. Donde resulta que podem muito bem nem saber de que reformas se fala, quando se escrevem crónicas que eles consideram regra geral agressivas, só porque susbcritas por quem nunca lhes lambeu as botas.
Convém por isso explicar, com exemplos concretos, para que dúvidas não restem. A não ser para os que manifestamente não querem perceber os problemas. Em Tomar, a principal reforma envolve realmente uma mudança de mentalidade. Trata-se de começar a planear, pelo menos a curto e médio prazo. Deixar de vez o improviso permanente, o "vamos andando e vamos vendo, para depois agir em conformidade.".
Outra urgente alteração de mentalidade é a visão económica dos senhores autarcas, tanto da maioria como da oposição. Para esses expoentes da inteligência local, conquanto não o digam ou sequer o admitam, a autarquia deve ser administrada como uma organização de caridade, uma vez que tem meios para tanto e ninguém pede contas. O problema que assim demonstram ignorar é contudo simples. Mesmo que fosse essa a principal vocação da autarquia -distribuir ajudas de toda a ordem, tendo em vista a diferida compra de votos- segue-se que mesmo assim, teria de arranjar maneira de criar riqueza, sob pena de, a dada altura, mais tarde ou mais cedo, não haver mais para distribuir.
É isto que os eleitos que agora temos, ou não querem ou não conseguem entender. Três exemplos, para simplificar o assunto:

A - Festa do tabuleiros
Os custos de realização têm vindo a aumentar de forma sustentada. Em 2019 a autarquia admitiu ter gasto 650 mil euros, sem qualquer retorno directo. Caso a festa fosse organizada de outro modo, como em tempos aconteceu com o carnaval de Tomar, por exemplo, a Câmara recuperaria o seu investimento, mais algum valor acrescentado, que depois poderia ser atribuído a outras realizações, nas mesmas condições. Capital de risco, em vez de esmolas a fundo perdido, faz toda a diferença por esse mundo fora. E em Tomar também faria, se houvesse. Mas a maioria socialista teme perder o controle da festa e por isso prefere manter a comissão respectiva devidamente curvada e de mão estendida.

B - Concertos no Mouchão
Custaram globalmente 300 mil euros, também sem qualquer retorno directo. Disseram ser para promoção turística, o que não passa de uma balela, por dois motivos principais, a saber:
a) - Aquilo, regra geral, não teve categoria, gabarito artístico, para atrair turistas; b) - se turistas houvesse, não seriam admitidos, uma vez que era necessário levantar antes  um bilhete gratuito. e isso os turistas ignoravam, pois não lêem a informação local, e muitos nem sequer entendem português.
Por esse país fora abundam os grandes concertos, com artistas de renome e patrocínios à altura, que facultam valor acrescentado aos organizadores. Temos até entre nós um excelente exemplo -o Bons sons, em  Cem Soldos. Convém por conseguinte começar a encarar a animação, turística ou não,  de outro modo. O tal planeamento, tendo em vista valor acrescentado, criação de riqueza.

C - Turistas e retorno
Daquilo que autarcas locais já declararam, conclui-se que, entre turismo popular  e turismo de luxo, preferem este, por julgarem que faz mais despesa. Para além do equívoco que provém do facto de políticos pensarem que uma autarquia pode ter alguma influência na qualidade dos turistas que a visitam, há outro óbice: dependendo dos recursos disponíveis, não são em geral os turistas "de luxo" que mais gastam em cada visita, de acordo com os estudos disponíveis.
No caso específico de Tomar, longe da capital mas com um monumento Património da humanidade, tanto a estada de cada turista como boa parte das suas despesas dependem em grande parte das estruturas de acolhimento...que por enquanto não existem nem estão planeadas. Continua portanto a acontecer o que calha.
Essa conversa dos turistas de pé descalço ou de posses, mais não foi até agora que uma má argumentação para justificar o injustificável -o encerramento do parque de campismo. Uma aberração em qualquer cidade que pretenda mesmo desenvolver o turismo.
Caso para dizer que fazem o que não devem, mas vão adiando o que deviam fazer. Até quando vão os tomarenses aceitar tal estado de coisas, que só nos prejudica?..

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