sexta-feira, 28 de abril de 2017

Quando a paixão contrariada tolda o bom-senso

Tenho na minha frente uma "Moção de reconhecimento", a debater na sessão da Assembleia Municpal de logo à noite, da autoria de Luís Ferreira, eleito pelo PS, ex-chefe de gabinete e ex- companheiro da presidente da câmara. Trata-se, segundo pretende fazer crer o seu autor, de louvar a acção cívica do cidadão Benvindo Baptista, em virtude da qual Anabela Freitas já foi condenada por duas vezes no Tribunal administrativo e fiscal de Leiria, tendo pago multas num montante total superior a 10 mil euros.
Numa circunstância normal, seria de inquietar-se sobre a saúde nervosa de Luís Ferreira, ao propor uma moção de louvor a um cidadão, quando não consta que esteja nas atribuições do parlamento municipal fiscalizar, criticar ou louvar cidadãos enquanto tais. Cabe-lhe isso sim, fiscalizar, criticar, propor medidas alternativas ou louvar o executivo municipal, coisa que não tem feito e aqui se lastima.
Dá-se porém o caso, que é do domínio público, de Luís Ferreira ter um grave contencioso com a cidadã Anabela Freitas, de quem foi companheiro durante 9 anos, e com a presidente da Câmara, de quem foi chefe de gabinete, até por ela ser exonerado. O que explica esta triste iniciativa da "Moção de reconhecimento", pois é bem sabido, pelo menos desde os tempos de Camões, que "O amor é fogo que arde sem se ver", e que as paixões contrariadas toldam o raciocínio mais lúcido.
Exemplo disso mesmo é nomeadamente o 6º parágrafo da 1ª página do documento, que reza assim:


Quem se interessa pela política local sabe bem que nunca fui, nem sou, apoiante da actual presidente da Câmara de Tomar. Pelo contrário. Dito isto, posso garantir que Anabela Freitas está longe de ser tão nula como insinua o documento reproduzido. E recuso-me a acreditar que terá agido deliberadamente para prejudicar o cidadão Benvindo Baptista, ou qualquer outro. Suspeito fundadamente, isso sim, que foi urdida e funciona no seio da administração municipal uma tramóia visando prejudicar gravemente a actual presidente, de forma a que perca as próximas eleições, abrindo assim a via a um responsável máximo "mais da casa".
Perante isto e abreviando, resta lamentar a ocorrência e apelar ao bom-senso de Luís Ferreira, que ainda está a tempo de evitar maiores prejuízos para a sua imagem, retirando o documento. Se tal não acontecer, caberá aos restantes membros da Assembleia Municipal recusar a admissão da moção, por não se enquadrar nas normais competências do órgão. Em último caso, goradas as duas hipóteses anteriores, rejeitar por larga maioria semelhante ultraje ao bom senso e ao bom gosto, em prol da salubridade política local.

Adenda às 21H39 (hora de Brasília) de 28/04/2017

Era previsível. Não tendo havido da parte de Luís Ferreira a ponderação necessária para retirar a proposta em tempo oportuno e assim resguardar a sua imagem, foi votado por maioria da AM um requerimento no sentido de a mesma não ser aceite para discussão. Assistiu-se assim a mais um malogro político do ex-líder do PS tomarense.

Sem comentários:

Enviar um comentário