Isto quanto mais muda, mais está na mesma. Reproduzo a mensagem de um leitor, recebida ontem: "Vejo que a situação política em Tomar está "animada". Faz-me recordar os últimos tempos do executivo camarário anterior. Continua a intrigar-me como é que Tomar, com tanto potencial, continua estagnada desde há anos. Será correcta a analogia com aquele tipo de famílias aristocráticas decadentes, que gerações atrás detinham poder, riqueza, prestígio, mas agora vivem só dos louros do passado?"
Muito pertinente este seu curto bilhete, caro leitor. Que denota sem querer aquilo que me parece óbvio: foi escrito por um cidadão que não é tomarense nem vive em Tomar. Se assim não fora, se calhar andaria cego, como quase todos os de cá.
Disse-o Lavoisier, mas afinal sucede o mesmo na política como na química: "As mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos." Não deve por isso surpreender ninguém a similitude entre a triste situação deste executivo e a tragédia que foi o anterior. Também agora estão, ou simulam estar, equivocados. Antes, a culpa fora do Paiva e do Corvêlo, agora o bode expiatório é Luís Ferreira. Que tudo tem feito, é bem verdade, para ser assim crucificado, com a sua excepcional inteligência prática desbaratada em bazófias, arrogância, cabotinismo, manipulações várias...Uma pena. Mas daqui não resulta que o ex-chefe de gabinete tenha sido o único ou sequer o principal factor da grave crise nabantina.
Dizia-me há dias um dos intervenientes activos no presente imbróglio: "Todos os problemas internos e externos da câmara têm origem no Luís." Esta perfeita ilustração do aqui já antes referido complexo de Édipo é extremamente grave, pois esconde o essencial. Luís Ferreira causou imensos problemas mas o fulcral, que afinal condiciona tudo o resto, continua sem ser mencionado ou tido em conta: O município de Tomar arrecada cada vez menos receitas, mas gasta cada vez mais com encargos permanentes. Exactamente como acontece com o governo de Lisboa...e o de Atenas. Por conseguinte, não nos iludamos. Algo terá de mudar mesmo. E quanto mais tarde pior.
Sucede que no actual executivo camarário me parece haver um único eleito que, tal como a seu tempo o Botas de Santa Comba, sabe o que quer e para onde vai. O Botas era de extrema-direita; o dito autarca é do extremo oposto. Mas na política os extremos tocam-se, tal como na física nuclear os átomos iguais se repelem e os contrários se atraem. Isto para dizer que, no meu fraco entendimento, o projecto implícito do dito vereador não tem qualquer viabilidade nos tempos mais próximos. Estamos portanto condenados à permanência na estaca zero, caso insistam em não provocar eleições intercalares.
Sobre a sua alusão às velhas famílias aristocráticas decadentes, caro leitor, julgo útil referir que, no caso de Tomar, há um enorme equívoco quanto à nossa herança sociológica. Apregoamos os Descobrimentos como a grande epopeia do país, quando afinal se tratou apenas e só de um empreendimento levado a cabo primeiro pelo Infante D. Henrique, com os dinheiros da Ordem de Cristo; depois pela própria Ordem, até ao final do reinado de D. Manuel. mestre da Ordem antes de ser rei. Quando a coroa, na pessoa de D. João III, tomou conta da Ordem e dos descobrimentos, sucedeu o mesmo que tem acontecido com as nacionalizações .Foi o descalabro e a multi-secular agonia, que nos trouxe até onde hoje estamos: Pobres, tristes, sem ideias, sem esperança, porém arrogantes e com afigurações. Tanto em Tomar como no país...
A mudança afinal é para quando?!?!
Contacto: anfrarebelo@gmail.com
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