quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Quantos vieram afinal à Festa dos Tabuleiros ???

Logo a seguir à  mais recente edição da Festa Grande de Tomar, vulgo Festa dos Tabuleiros, a informação local que temos deu largas à habitual megalomania nabantina. Foi noticiado que a festa tinha atraído a Tomar mais de um milhão de visitantes. Leu bem. Mais de um milhão de visitantes. Como não houve bilhetes de entrada para assistir ao cortejo, nem qualquer outra forma de contagem, cada qual disse o que lhe deu na real gana. 
Publica agora Tomar na rede uma peça sobre as entradas anuais nalguns monumentos, que pode ser lida aqui  Conquanto se trate de uma notícia a ler com cautela, é muito útil para tentar aferir o total de visitantes que vieram mesmo assistir aos Tabuleiros.
Trata-se de uma notícia a ler com cautela porque, como quase sempre sucede, comporta algumas ratoeiras. Neste caso e antes de mais, porque se refere apenas aos monumentos explorados pelo IGESPAR, o que exclui, entre outros os palácios e o Castelo de Sintra, o palácio de Queluz, a Sé de Lisboa,  a Capela dos Ossos, em Évora, a Universidade de Coimbra ou o Palácio da Bolsa, no Porto, por exemplo. O que naturalmente torna qualquer comparação bastante problemática.
Depois porque, mesmo no ãmbito dos monumentos geridos pelo IGESPAR, há discrepâncias a ter em conta. Esta, por exemplo, que altera singularmente as estatísticas: Enquanto o Convento de Cristo emite e portanto contabiliza bilhetes pagos e bilhetes gratuitos só para fins estatísticos, Batalha e Alcobaça, por exemplo, só emitem bilhetes pagos, excluindo por conseguinte dos totais anuais os milhares de alunos de todos os graus de ensino, que Tomar inclui. Por isso anuncia mais visitantes do que Alcobaça.
Ainda assim, a notícia de Tomar na rede permite ter uma ideia mais fundamentada sobre o total de visitantes por ocasião da Festa dos Tabuleiros. uma vez que fornece dados verificados e documentados, em vez de meras hipóteses mirobolantes, oriundas de cérebros nem sempre devidamente formatados. 
Sendo certo que, como já escrevi alhures, a grande maioria dos turistas que vêm a Tomar visita o Convento e tendo em conta que em 2015, ano de festa, a antiga sede da Ordem de Cristo registou um acréscimo de 55 mil entradas em relação ao ano anterior, pode-se dizer que isso se deveu aos que vieram para assistir ao Cortejo dos Tabuleiros.
Por conseguinte, se a informação local tivesse noticiado a verdade ao estimar mais de um milhão de visitantes, apenas menos de 5,5 visitantes em cada 100 teriam visitado o Convento. Convenhamos que é manifestamente pouco. Mais razoável será, digo eu,  partir de um elementar cálculo de probabilidades, em que um visitante tanto pode ir ao convento como abster-se. Porque já conhece, porque custa 6 euros ou porque é preciso subir ou porque são só pedras velhas... Teremos então uma hipótese 50/50, o que nos dará à volta de 100 mil visitantes durante toda a festa tomarense. O que já é muito bom. Mas desmente com factos provados os génios locais, que não há meio de conseguirem distinguir e separar a realidade e a fantasia. Por isso estamos como estamos.
Pobre gente. Pobre terra.

anfrarebelo@gmail.com

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