quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Crónica de um naufrágio provocado

                   Foto copiada de Tomar na rede, por causa  das adequadas nuvens negras...

Escrevo sobre o Politécnico de Tomar e faço-o com profunda tristeza. Porque gosto muito desta minha terra e porque o Politécnico faz falta para o desenvolvimento local. Mas quê?! De ano para ano avolumam-se os sinais de naufrágio. A recente publicação dos resultados da primeira fase das candidaturas ao ensino superior, revelou o que já se suspeitava: o Politécnico de Tomar é afinal, com os seus 11 cursos em Tomar e 4 em Abrantes, uma mini-escola superior. Uma escolinha de adultos obstinados.

Politécnicos por ordem decrescente de vagas oferecidas em 2016, excluindo Lisboa, Porto e Coimbra

                               Entidade                            Total de cursos             Vagas em 2016


Não há portanto dúvida possível. Estamos mesmo e infelizmente na cauda do pelotão. Temos menos cursos, menos vagas e muito menos candidaturas. Sinal de que a moléstia tende a agravar-se. Porquê?
O capitão e os membros da sua tripulação, vão proclamar onde puderem que não é tanto assim, que a crise é passageira, que as críticas são injustas, que nas fases seguintes...
Esclareço uma vez mais que nunca fui nem sou candidato a qualquer lugar naquela casa, pelo que nada me move contra o triste estado a que aquilo chegou, com a complacência de todos. Estou tão só a tentar alertar. Para que não restem quaisquer dúvidas, aqui têm mais um quadro, antes de passar a outros aspectos da questão:
Não sou portanto só eu, que nem vou ao facebook, a criticar o politécnico tomarense. Os próprios alunos não me parecem assim muito entusiasmados. Em 39 votos, metade mostrou que não gosta. Dito de outro modo e numa só frase, o ensino superior em Tomar tem poucos cursos, poucas vagas, pouca procura, pouca qualidade e uma péssima imagem na Net:

Foi assim que cheguei às votações do Facebook, que não frequento. Limitei-me a abrir a página IPT, no Google.

Vejamos mais em detalhe tão triste situação.
A formação em Turismo ofereceu este ano à escala nacional, (excepto Açores e Madeira), 1028 vagas. Dessas, apenas 27 eram no Politécnico de Tomar. Terminada a 1ª fase de candidaturas, restaram só 79 vagas disponíveis no continente, mas ainda 12 em Tomar. É ou não é alarmante? Além de Tomar, apenas apresentaram vagas em turismo, disponíveis para a 2ª fase, Beja, Idanha a Nova, Guarda e Santarém. Ou seja tudo cidades com fracos recursos turísticos, três delas muito periféricas, com tudo o que isso significa. No extremo oposto, as escolas que preencheram todas as vagas na primeira fase: Algarve, Coimbra, Évora,  Estoril, Peniche, Tràs os Montes e Alto Douro, Viana do Castelo  e Viseu.
Se considerarmos que em Tomar, apesar de apenas ter preenchido pouco mais de metade das vagas oferecidas (15 candidatos para 27 vagas), o curso de Gestão turística e cultural foi mesmo assim o terceiro mais procurado, temos uma ideia da gravidade deste naufrágio provocado.
Falo deliberadamente de naufrágio, porquanto a gestão e o corpo docente do IPT, agarrados aos lugares como lapas às rochas, o que se compreende, pois os lugares bem pagos e pouco exigentes não abundam por esse país fora, parecem ter tendência para considerar que se trata apenas e só de uma tempestade passageira. E portam-se em consequência. Vão estando. Mas nada fazem para alterar o presente e preocupante estado das coisas. Recusam obstinadamente preparar o futuro. Pensam, se calhar, que vai ser apenas a repetição do passado e do presente, mas com mais candidaturas. Acreditam em milagres. São afinal, em termos de mentalidade e modo de estar, muito parecidos com alguns eleitos e funcionários superiores municipais. Influência do clima?
Julgo que estão a ver mal. Deliberadamente ou não. Do que se trata, penso eu, é de um barco médio que mete cada vez mais água, devido a repetidos erros do capitão e da sua equipagem, que foram provocando sucessivos rombos no casco ao longo da rota. É por aí que a água entra, sendo por isso urgente repará-los. Que rombos são esses? Escolha reduzida, cursos pouco apelativos, currículos inadequados, professores nem sempre da melhor qualidade, compadrios vários, fraco entrosamento com a comunidade produtiva, exageros vários de alguns membros da classe docente, cuja imagem é bastante negativa, devido a alguns consumos excessivos, pedagogia a rever quanto antes, avaliações que valem o que valem, imagem fortemente degradada...
Se nada for feito entretanto, quando dentro de algum tempo começarem a afogar-se, (embora alguns, mais cautelosos, já usem colete salva-vidas e saibam para que bote saltar quando for oportuno), lembrem-se que alguém vos alertou em tempo útil.
Porque me parece óbvio que o governo, seja qual for a sua cor  e/ou a sua boa vontade em relação a Tomar, muito dificilmente poderá continuar a manter em funcionamento um estabelecimento cuja frequência definha a olhos vistos de ano para ano. Daí, ou Santarém ou Leiria. Afinal, a Escola Superior de Artes das Caldas, que faz parte do Politécnico de Leiria, anunciou 350 vagas este ano, enquanto a Escola Superior de Desporto de Rio Maior, uma dependência do Politécnico de Santarém apresentou 345 vagas. Por conseguinte, ambas muito parecidas com o IPT em número de vagas. Exagero?! Olhem que não. Subtraindo as 115 vagas de Abrantes, restam ao IPT - Tomar apenas e só 362 vagas. Uma ninharia no contexto nacional. Que ainda por cima apenas conseguiu atrair 44 candidatos na Escola de Gestão = 34,4% e 104 na Escola de tecnologia = 44,35%.
Por tudo isto, pode também suceder que, acossados por Bruxelas e outros credores, os governantes prefiram ou sejam constrangidos, mais prosaicamente, a mandar colocar trancas na porta. de uma vez por todas. Oxalá me engane, ou esteja a ver mal o problema!
Entretanto, ainda estão a tempo. Basta de auto-satisfação e de auto-condescendência. Enxerguem-se! Tenham a coragem de se olhar ao espelho com olhos de ver. E depois ajam em consequência!

ADENDA
Sobre está matéria, recomendo vivamente a leitura de comentários com acusações gravíssimas, que podem ser vistos aqui.

1 comentário:

  1. Acedi aos comentários, que não são nada meigos. Minha nossa!

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