segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Porquê?

António Rebelo
anfrarebelo@gmail.com

Na recente entrevista ao semanário Cidade de Tomar, Luís Ferreira não teve papas na língua: "As pessoas melhor preparadas para exercer funções no município sou eu e o Luís Boavida." Salta aos olhos (aos meus, pelo menos), sendo também norma nos manuais de jornalismo, que semelhante declaração carece de demonstração. Por conseguinte, ao menos duas perguntas eram indispensáveis naquela altura: Porquê? Que funções? Infelizmente não foram formuladas. Só as entrevistadoras saberão porquê. Agora, já de sobreaviso, Ferreira poderia responder sem qualquer dificuldade, articulando meia dúzia de frases bem preparadas. 
Poderia, mas arrisco dizer que não o fará, até para o acicatar a desmentir-me. Primeiro, porque aquele "exercer funções" é deliberadamente ambíguo. Dá para todas as funções, conquanto o entrevistado já tenha esclarecido, noutro passo das suas controversas mas corajosas declarações, que não aspira à máxima magistratura local. Não mesmo? Nem por interposta pessoa? Não seria a primeira vez...
Depois porque, se nos detivermos na análise atenta de todos os mandatos municipais decorridos até agora, incluindo a actual, damo-nos conta de que não é fácil determinar, bem pelo contrário, o que terá levado cada um dos presidentes, (aparentemente pessoas bem formadas e plenas de bom senso), a julgar-se capacitado para o lugar a que concorreu, tendo em vista o que foi depois, ou é, a sua respectiva prestação.
Excepção para António Paiva, engenheiro civil de formação, que terá pensado que uma câmara são sobretudo as grandes obras, no que terá sido influenciado pelos fundos europeus então à tripa forra. O resultado está agora à vista de todos. Ajudado pela manifesta ausência de oposição eficaz, destruiu o estádio, destruiu o sistema de rega tradicional do Mouchão, destruiu as instalações sanitárias do mesmo Mouchão, destruiu o pavilhão municipal, destruiu parcialmente a estrada do Convento, destruiu parcialmente o alambor do Castelo, tentou destruir o Mercado e destruiu o crédito eleitoral do PSD Tomar. Pode assim dizer-se, sem exagero, que foi sobretudo um engenheiro de destruição civil. Apesar de ser extremamente educado e simpático, de ostentar uma boa formação universitária, de ter ganho com amplas maiorias absolutas, e de Relvas dele ter dito que era dos melhores presidentes de câmara do país. Imagine-se se calhava ter sido dos piores...
No que diz respeito a todos os outros, incluindo a actual, o mistério mantém-se, inteiro e impenetrável: Porquê? Que facto ou factos os terão conduzido a envergar uma camisa de onze varas, para cujo porte manifestamente não estavam preparados, como se viu e vê? 
Conforme canta Variações "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga". O pior é que, nestes casos demasiado numerosos de falta de juízo crítico, e de capacidade de auto-avaliação desinibida, nós é que pagamos. E vamos continuar a pagar. É um dos defeitos da democracia. Pagamos todos pelos erros de uma ínfima minoria. A dos que, na política e contra toda a evidência, se julgam mais capazes do que aquilo que na verdade são.
É mais uma especialidade tomarense -candidatos com afigurações.
Pobre gente. Pobre terra.

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