sábado, 8 de maio de 2021

 



Formação turística

CAPACITAR INCAPAZES?

António Rebelo

Parto daquele dito tradicional "quem não se sente não é filho de boa gente", para escrever o que segue. Era mais fácil ficar calado, mesmo correndo o risco de ser apontado por ignorantes por alegadamente "ter metido a viola no saco". Mas para mim o futuro de Tomar está sempre em primeiro lugar. Contra todos, se preciso for.
Numa daquelas decisões menos esperadas, quem está com o pelouro do turismo municipal resolveu lançar, a cinco meses do final do mandato, um programa de anunciada formação turística. Ignoro qual possa vir a ser a qualidade do citado ciclo. Sei contudo e desde já duas coisas: 
1 - O nome escolhido -CAPACITAR- é bastante infeliz, porquanto a regra geral é capacitar incapazes. Em Tomar há incapazes? Nunca me constou. São todos altamente competentes, a começar pela própria vereadora. 
2 - Já no início do século XVI o médico judeu português Garcia da Horta afirmava que "a experiência é a madre das coisas". O que significa, entre outras possibilidades, que o turismo é como a natação ou a cirurgia, por exemplo. Não se aprende à distância, mas praticando. No caso da natação, dentro de água. No caso da cirurgia, com o paciente na mesa operatória. No caso do turismo, em contacto com os clientes.
Pensando um bocadinho mais, tenho a impressão que o dito CAPACITAR tem uma tripla origem. Resulta da recente oferta de um plano local de desenvolvimento turístico, que foi liminarmente recusado,  da necessidade de alguns camaradas ganharem bom dinheiro com cursos ditos de formação profissional, e da urgência em arranjar argumentos para fundamentar a recusa sem discussão prévia do tal plano local. Para mobilar, em suma.
Seja como for, mesmo considerando que, se excluirmos a hotelaria, os agentes turísticos locais são menos de uma dúzia, o referido curso até poderia ser útil se feito de outra forma. Assim como está previsto, entra na condenada categoria das velhas aulas magistrais, que a poucos interessam nos dias que correm. E à distância ainda é pior.
Conversando aqui há tempos com um colega guia intérprete, com mais de 20 anos de profissão, fiquei a saber que tinha uma péssima impressão de Tomar, onde evitava vir trabalhar sempre que possível.
Tudo porque, esclareceu, durante um congresso de guias realizado em Tomar, foram brindados com um "xarope de hora e meia" sobre templários, descobrimentos e tabuleiros, sempre sentados numa plateia. "Em vez de nos levarem pela cidade e explicarem o que mostrar e como mostrar", dizia-me ele, "encafuaram-nos ali e terão ficado muito felizes, mas nós só queríamos era dar à sola."
Claro que mais tarde o sindicato dos profissionais de turismo cumpriu o protocolo. Agradeceu penhoradamente a magnífica hospitalidade oferecida em Tomar.
E assim vamos, de erro em erro, de aselhice em aselhice, até ao descalabro final, mas com uma larga maioria satisfeita, a bater palmas e a comer à custa do orçamento. A atual maioria PS não é culpada seja do que for.
Como exclamou a mãe do Napoleão, quando o filho lhe disse que era imperador: "Se isso for para durar, é bom". Exatamente como no caso da vereação turística e companhia. Mas não há bem que sempre dure, nem mal que não se acabe. Por vezes bem mais depressa que o esperado.
Para aceder ao anúncio promocional do CAPACITAR:
https://radiohertz.pt/tomar-municipio-capacita-agentes-turisticos-locais-para-desenvolver-o-setor/

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