quinta-feira, 6 de maio de 2021

 




Cidade de Tomar entrevista candidata do PSD

PROXIMIDADE COM AS PESSOAS
E  COM O PORTUGUÊS ERUDITO

António Rebelo

Ao fim de tantos anos, lá consegui perceber a utilidade de duas radios locais em Tomar. A Rádio Hertz só tem jornalistos e a Rádio Cidade de Tomar só tem jornalistas. Podia ser meio por meio, como nas listas eleitorais. Mas não. É mesmo jornalistos num caso, jornalistas no outro.
Assim sendo, a cabeça de lista laranja às próximas autárquicas, Lurdes Ferromau Fernandes, foi entrevistada pelas jornalistas Ana Felício e Elsa Lourenço, boas profissionais que fizeram um excelente trabalho.
Como sempre, nada pode substituir a leitura atenta de toda a entrevista. O que segue é apenas o ponto de vista de um eleitor que já escrevia nos jornais muito antes do 25 de Abril. Quando era muito difícil, por causa da censura. Agora a censura é de outro tipo, mais camuflada. 
Respondendo a perguntas oportunas e bem articuladas, a candidata Ferromau começou por se situar. Falou da sua infância e juventude em Tomar, numa família monoparental, pois o pai faleceu quando tinha oito meses. Vida modesta, de muito trabalho, acompanhando a mãe de feira em feira, com uma banca de venda de bolos. Estudos secundários em Tomar e superiores na Universidade Nova de Lisboa.
Transparece a ideia de uma candidata de origem humilde, que subiu na vida a pulso, graças a muita vontade e muito trabalho.
Segue-se uma breve resenha política, sempre como militante do PSD, e logo a seguir uma posição inesperada e algo fora do sítio, parece-me a mim. Procurando explicar porque se candidata, Lurdes Fernandes afirmou: "sinto necessidade de dar o meu contributo para mudar o paradigma do que se quer para Tomar." Uma frase elaborada de alto gabarito, que revela bom domínio da língua pátria.
Ficou-me contudo um dúvida. Se a ideia é alardear capacidade de expressão oral e domínio de frases complexas, tudo bem. Conseguiu. Se, pelo contrário, se trata de procurar que o povo compreenda uma política "assente na proximidade com as pessoas", como acrescentou logo mais adiante, então é um lapso grave. A exigir ajuda de um spin doctor especialista em comunicação. Porque os leitores muito dificilmente irão votar naquilo que não entendem, num concelho com perto de 50% de abstenção. E a esmagadora maioria não vai perceber aquela frase. Que podia com vantagem ser substituída por algo do tipo "quero ajudar a construir outro futuro, mais risonho, para Tomar." Para quê complicar?
Além disso, a longa entrevista teve igualmente alguns momentos menos esclarecedores, daqueles "para encher chouriços", como sempre acontece nestas coisas da política. Perguntada sobre as medidas que tenciona adotar para reverter a difícil situação tomarense, Ferromau Fernandes mencionou "Uma estratégia com propostas exequíveis",  o que equivale a dizer depois logo se vê.
Mas houve também alguns momentos fortes. Bem conseguidos, como se costuma dizer. Sobre a actual maioria socialista e o futuro de Tomar, soube ser contundente, sucinta e certeira: "Pergunte a qualquer pessoa o que a governação socialista pretende para Tomar. Ninguém sabe."
Em conclusão, temos presidente? Falta o programa, falta o projeto, falta a campanha eleitoral. E falta a contagem dos votos à saída das urnas.
Tanta coisa ainda.

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