domingo, 30 de maio de 2021

 

Manifestação de funcionários municipais em Tomar...do Geru, Sergipe, Brasil. Observe-se que no Brasil, país federal,  os funcionários são servidores públicos, ou municipais. Tem a sua importância, em termos de mentalidade. Combate a arrogância, por exemplo.

Informação local

NOTICIAR E INFORMAR

António Rebelo

É do domínio público o estado da liberdade de informação em Tomar, que não é bom. De todo. Com as notáveis excepções do Tomar na rede e do Tomar a dianteira 3, todos os outros órgãos locais estão assaz condicionados pelo seu relacionamento com a actual maioria socialista na autarquia. Basta de resto ler e ouvir, para constatar que nenhum deles ousa abordar acontecimentos que possam de algum modo desagradar ao poder instalado. A vida custa a todos.
Perante isto, Tomar na rede vai fazendo o que pode, dentro dos limitados meios de que dispõe, sendo mesmo assim considerado hostil pela actual maioria autárquica. Outro tanto acontece com Tomar a dianteira 3, geralmente acusado, por quem está no poder e respectivos servidores, de ser "só má-língua".
Há contudo uma diferença importante entre o blogue de José Gaio e este que está lendo. O administrador de Tomar na rede é jornalista credenciado, tendo-se licenciado nessa área, num bom estabelecimento de ensino superior.
Pratica em geral o chamado "jornalismo estilo americano", em que basicamente qualquer texto publicado deve referir a fonte e responder às três perguntas clássicas: O que aconteceu? Onde aconteceu? Quando aconteceu? Foi isto mesmo o que fez hoje, ao publicar esta notícia: 
Ao contrário do habitual, que é  o silèncio sepulcral, o leitor José Caldas comentou e foi contundente. Escreveu que Tomar na rede publica notícias, mas não faculta informação, assim denotando ser adepto do jornalismo estilo europeu, em detrimento da "informação americana" do Tomar na rede. O "estilo Correio da Manhã".
Pouco habituados a tais minudências, os leitores perguntarão qual a diferença entre uma e outra. É pouca, mas substantiva. Os adeptos do modelo americano consideram que basta a resposta às já aludidas três perguntas clássicas (O quê? Quando? Onde?). Já os que praticam o modelo europeu acrescentam em geral outras três perguntas: Quem? Como? Porquê?.
O que dá, no caso da notícia sobre os funcionários ao serviço da autarquia, algo como isto:
Segundo elementos colhidos junto dos serviços de pessoal da CMT, o município tomarense tem agora ao seu serviço um total de 616 funcionários, dos quais 568  pertencem aos quadros, 59 são eventuais e  15 são destacados. Este total é o mais alto de sempre, representando um aumento superior a 80 funcionários desde 2013, início da actual maioria. 
616 funcionários municipais, dá a bonita média de um funcionário municipal para 56 eleitores Cabe no entanto informar que o quadro de pessoal do Município de Tomar tem 676 lugares, havendo portanto nesta altura 60 lugares vagos. A tal mania das grandezas.
Em termos de custos,  os 616 representam uma despesa certa e permanente ligeiramente superior a 40% do orçamento municipal, segundo elementos constantes do anuário dos Revisores oficiais de contas, o que coloca o município nabantino entre os dez que a nível nacional mais gastam com vencimentos.
Há números difíceis de explicar, (se esse fosse o estilo da maioria PS), como por exemplo os 6 arquitectos na DGT, ou os 11 engenheiros no DOM, numa terra em que as obras particulares e as municipais têm sido aquilo que está à vista de todos.
De resto, a própria maioria socialista parece já se ter dado conta de que tem falta de pessoal e ao mesmo tempo funcionários a mais. Excesso de sentados, falta de trabalhadores. Embora nunca tenha fornecido informação detalhada sobre esta e outras matérias, é do conhecimento público que já lançou uma oferta generosa de aposentação antecipada, com a possibilidade de qualquer funcionário municipal com um mínimo de 17 anos de serviço poder ir-se embora com uma pensão equivalente a 70% do vencimento, menos o subsídio de almoço e de transporte.
Ao que consta, apesar desse gesto de evidente boa vontade, a aceitação terá sido muito limitada, pelo que o problema se mantém, agravado pelo desmantelamento dos SMAS, cujos funcionários puderam optar pelo quadro do município, mesmo sem funções atribuídas (46 funcionários).
Na verdade, 616 funcionários técnicos e administrativos integram Tomar no grupo de municípios "tipo alentejano", muito semelhante ao que existia nos países do leste europeu, antes da queda do muro de Berlim. O município faculta emprego, mas não pode atribuir tarefas práticas a todos, por nítida falta de disponibilidade. Quase tudo o que em tempos eram atribuições "dos empregados da câmara" -luz, água, esgotos, estradas, lixo, limpeza urbana, jardins, projectos, trabalho jurídico, cobranças diversas- está agora entregue por concessão a outras entidades, que depois as subcontratam a privados. Restam o mercado, a feira e os cemitérios, porque ainda não apareceu a nível nacional qualquer entidade privada para lhes pegar. Mas não tardará muito, pois o Estado paga sempre e paga bem.
Seria portanto assim uma notícia sobre os funcionários municipais tomarenses, em estilo europeu. Muito diferente do estilo americano? Nem tanto. Os grandes jornais, como o New York Times ou o Washington Post, também praticam o jornalismo de investigação. Quando o fazem, são muito semelhantes ao Le Monde, Le Figaro, Le Soir, El Pais,  Corriere della sera ou  o Guardian. No jornalismo como em quase tudo o resto, só pode dar passos largos quem tem as pernas grandes.

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